segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Araçatuba chora seus filhos


Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente.” João 11. 25 e 26

Lembro-me de uma situação da infância que até hoje é muito marcante para mim. Final de tarde, minha mãe sentada à sala, fazendo alguma coisa com as mãos (se não me falha a memória, remendando alguma roupa velha para o trabalho diário) quando respondeu ao meu irmão mais velho: ─ Já vou. E, ao chegar no portão, não havia ninguém.
Naquele exato momento o Lúcio tinha caído de uma mangueira muito alta e estava sendo hospitalizado para ficar por lá, em estado grave, durante algum tempo. Foi um momento difícil para todos nós e, particularmente, para minha mãe. Ela já antecipava o ocorrido com seus ouvidos de mãe, antenados e 24 horas por dia ligados aos filhos e à família de modo geral.
Há tempos esperamos pela chuva. Estávamos numa situação difícil: crianças e idosos com graves dificuldades respiratórias, a boca seca, nos bairros sem asfalto aquela poeira danada entupindo e sujando tudo.
Quando a chuva veio, ficamos aliviados, respiramos melhor e até foi mais gostoso para dormir e comer.
Mas não foi uma chuva comum, não. A primeira chuva depois da longa seca a que estávamos submetidos foram lágrimas antecipadas de Araçatuba pela perda de seus filhos na Castelo Branco. Como mãe que é de todos nós, antecipava a triste notícia que nos cobriu de luto e que, certamente, ficará gravada em nossa memória.
Assim como minha mãe ouviu o grito de meu irmão antes mesmo que alguém desse a notícia, também Araçatuba já chorava seus filhos assim que a triste história se consumava.
Tal qual minha mãe, apreensiva e angustiada em saber notícias, também nossa cidade ficou inquieta em querer saber o que aconteceu, como foi que o acidente se deu, acolher os familiares, estar solidariamente presente...
Agradecemos a Deus (e Araçatuba fica feliz) pelos sobreviventes, pela catástrofe não ter sido maior ainda. Mas não deixaremos de chorar nossos mortos e não serão substituídos jamais.
Vão com Deus, descansem em paz!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e Diretor do Núcleo UBE Araçatuba e Região.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Olimpíada de Língua Portuguesa - Premiação Municipal


O período da tarde de quinta-feira (23) foi muito especial para 26 alunos das escolas municipais de Ensino Fundamental de Araçatuba. Afinal, não é todo dia que estudantes são premiados em uma olimpíada que não exige esforço físico, mas que aprofunda conhecimentos sobre a Língua Portuguesa. A olimpíada teve como público alunos da 4ª série, em que o desafio foi escrever poesias com o tema “O lugar onde eu vivo”.

Os alunos surpreenderam, pois muitos falaram com orgulho do bairro onde moram e descreveram Araçatuba como uma cidade maravilhosa para se viver. Dentre os assuntos citados nas poesias, eles destacaram o Rio Tietê, a produção da cana, a exposição agropecuária e o título de “Terra do Boi Gordo”, devido à força da pecuária na cidade. Os vencedores receberam a premiação no Teatro Municipal Paulo Alcides Jorge e os professores também foram homenageados.

O objetivo da premiação foi prestigiar o trabalho realizado nas escolas municipais durante os últimos meses, explica o coordenador da olimpíada Antônio Luceni. “Nós gostaríamos de homenagear as crianças pelo belíssimo trabalho, as professoras pelo apoio que deram aos alunos e as diretoras e coordenadoras por confiarem no nosso trabalho e apoiarem a ideia. Araçatuba foi uma das poucas cidades que aderiu em cem por cento. A nossa cidade foi citada como exemplo, o que nos enche de orgulho”, diz o professor.

A Olimpíada de Língua Portuguesa acontece em quatro fases (escolar, municipal, estadual e regional). Na fase nacional, 120 textos de todo o Brasil concorrerão. Em Araçatuba, quatro alunas foram classificadas para a fase estadual: Juliana Gonçalves Coluce, da EMEB Professor Lauro Bittencourt; Jéssica Gabriela da Rocha Vicente, da EMEB Fernando Gomes de Castro; Nikole dos Santos Garcia, da EMEB Professor Joaquim Dibo; e Paula Emanuelle Paixão Ferrarri, da EMEB Floriano Camargo Brasil.

“Nós precisamos comemorar, pois nossas crianças estão provando que são capazes. Nosso próximo passo é chegar à etapa nacional e nós acreditamos em nossos alunos”, afirma a secretária municipal de Educação Beatriz Soares Nogueira, que representou o prefeito Cido Sério. Além dela, estiveram presentes a secretária municipal de Esporte, Lazer e Recreação Cláudia Crepaldi; a chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação Patrícia Cardoso; a diretora do Departamento de Educação Municipal Ana Cláudia Vasconcellos; a diretora Ana Cláudia Marangon Donatoni, representando as diretoras da Rede Municipal; a coordenadora Marisa Matos, representante das coordenadoras; e a aluna Paula Emanuelle Paixão Ferrari, que representou os alunos participantes.


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Secretaria Municipal de Comunicação Social (SMCS)
Prefeitura Municipal de Araçatuba
(18) 3607-6603
www.aracatuba.sp.gov.br

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

60 anos da tevê aberta brasileira



Este ano a tevê aberta brasileira completa 60 anos. Tenho metade da idade dela, mas nesses últimos trinta anos já deu pra conhecê-la um pouquinho.
Nossa primeira televisão (no singular mesmo, porque só tínhamos uma) foi uma Philips preto e branco, acho que pouco mais de vinte polegadas. Imaginem só, uma família de sete pessoas defronte a uma tevê de vinte e poucas polegadas. Sentia-me como se fosse uma vaca (dizem que os bovinos enxergam em preto e branco). Anos depois, apareceu um vendedor daqueles que passam de casa em casa vendendo quinquilharias e meu pai comprou uma tela de acrílico em que tinha três cores: na parte superior o vermelho, na parte inferior o verde e, entre estas duas cores, uma faixa amarela que se fundia e sugeria o alaranjado em alguns momentos. Ficávamos com a “sensação” de víamos as imagens coloridas (tal qual eram realmente).
A disputa para ver esse ou aquele programa era outra comédia em casa. Os desenhos animados eram dirigidos para nós, crianças; já a hora das novelas era para minha mãe, e disso ela não abria mão. Tentávamos convencê-la de tudo quanto era forma para deixar no “Sítio do Picapau Amarelo”, mas nada. Por isso acabamos assistindo a “Roque Santeiro”, “Sassaricando”, “Amor com amor se paga”, entre outras das décadas de 1980 e 90.
É verdade que em todos os momentos da trajetória de nossa tevê aberta existiram programas idiotas e inúteis. Também é verdadeiro que nunca tivemos maiores opções de cultura, de educação, de entretenimento nas tevês públicas do Brasil, mas como hoje em dia, acho difícil.
Quanta baboseira, quanta bunda, meu Deus!, quanto sangue e violência nos programas de hoje. Salvam-se alguns poucos canais (bem poucos, acho que um ou dois) que têm em sua programação documentários interessantes, programas jornalísticos apartidários, programas infantis não-infantilizados, entrevistas e debates que fazem a gente crescer no final deles.
As tevês públicas são concessões que deveriam exigir logo de cara qualidade em suas produções. O brasileiro já é privado de tanta coisa que ao menos os programas televisivos – um dos poucos momentos de lazer a que o pobre tem acesso – deveriam ser de qualidade, voltados para esclarecer, instruir, orientar e divertir as pessoas de forma digna.
Do jeito que está aí não vale a pena nem gastar energia elétrica com o que passa na tevê. De pão e circo já estamos cheio. Queremos coisa mais encorpada, coisa mais saudável, coisa que valha a pena digerir.
É isso!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.

domingo, 12 de setembro de 2010

Mandinga pra chuva chegar


Sabe aquela história do “poder da atração”, da “conspiração a favor”, do “chama que vem”? Pois é, fiquei pensando nisso esse final de semana e resolvi fazer a “mandinga pra chuva chegar”.
O negócio é simples: a gente vai mentalizar algumas coisas que lembrem a chuva ou que a tenham como tema e repeti-las como um mantra? Não sabe o que é mantra? Não tem importância, fique pensando no barulho da chuva, cante músicas de chuva, faça a famosa dança da chuva... tudo isso repetidamente. Quem sabe não funcione? Porque o negócio tá brabo, não é mesmo? Que tempinho ruim! Como diria Maria Bethania: “Tinha que respirar, todo dia”.
Pra te dar uma ajudinha, aí vão algumas dicas:
Um clássico: “Chuva de prata que cai sem parar...”
Outro clássico (dá pra confundir com “jurássico” também!): “Chuva traga o meu benzinho...”.
Um gospel: “Faz chover a chuva serôdia sobre nós, faz chover a chuva temporã...”.
Outro gospel: “A chuva desce lá do céu como se fosse véu, de água corre o chão...”.
Vai de axé: “Quando a chuva passar...”.
Vai de romântica: “Cai a chuva que molha o meu amor...”.
Mais um amorzinho aí: “O amor não é como paixão que vai e vem feito chuva de verão...”.
Tem até pra criançada ajudar: “Chove, mas como chove: chuva, chuvisco, chuvarada, por que chove tanto assim?”.
E para os mais ligadinhos, tem até internacionais:
“I’m only happy when it rains...”.
“Singing in the rain…”.
“Rainy days and Mondays…”.
“I only want to see you laughing in the purple rain…”.
“Rain! Feet it on my finges tips, hear it on my window pane…”.
“If the rain comes theys run and hide thein heads…”
E: “It’s raining men, alleluia!...” Ops! Esta não tem muito a ver, não, mas não resisti!
Bom, é isso! Escolha uma e fique repetindo-a como se fosse um mantra, pensando positivo e, quem sabe, a chuva não vem e acaba com essa nossa agonia.
Mas, se de tudo, der errado, pegue uma mangueira e tome uma ducha... Assim, certamente, refrescará o seu calor!
Eu vou, mas semana que vem eu volto!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região.

domingo, 5 de setembro de 2010

Pátria amada...


Mais um 7 de setembro. Data festiva?
É verdade que o Brasil é privilegiado sob muitos aspectos. Vivemos num País continental que “em se plantando tudo dá”. Mas também, como disse o outro, há “pouca saúde e muita saúva".
É verdade que não temos guerras – ao menos do ponto de vista genérico, porque temos também nossos mortos diários em guerras que acontecem nas ruas, nos morros e favelas, na violência que corrói famílias inteiras por meio das drogas.
É verdade, também, que a natureza foi generosa conosco: não temos furacões, terremotos, tornados, vulcões e tantas outras catástrofes que acabam por assolar várias partes do mundo.
É verdade que por conta da nossa miscigenação somos mais receptivos e solidários. Nossa fama de hospitaleiros não é por acaso – apesar de, internamente, não tolerarmos as várias “espécies” humanas.
Mas precisamos de outras independências.
Independência financeira: não é possível que num País como o nosso, com as mais altas taxas de juros e arrecadações bilionárias, professores, policiais, servidores públicos (principalmente municipais e estaduais) sobrevivam – depois de três turnos de trabalho – com um salário que qualquer cidadão na informalidade e sem nenhum preparo em nível superior produz.
Independência da auto-estima: não dá pra sorrir feliz faltando dentes na boca, não é possível voltar para casa alegre e de bem com a vida depois de um dia de trabalho sob o sol, com as mãos calejadas e com um ovo (quando é possível tê-lo) na marmita (enquanto outros ociosos estão numa cela com cardápio cuidado por uma nutricionista e sempre variado durante a semana. Verdadeira inversão de valores).
Independência escolar: Por que as universidades públicas estão cheias de ricos abastados? Por que um pobre tem que ralar a vida toda numa escola pública, com ventiladores quebrados, sol atravessando as janelas e “rachando o coco” de crianças e adolescentes e, quando chega a hora de cursar uma universidade pública, não há vagas para eles?
Independência intelectual: Por que todos acham que a agente necessita de migalhas, esmolas e assistencialismo? Por que somos submetidos diariamente a quereres e a vontades escusas? Por que riem da nossa cara e acham que estão nos convencendo sobre isso ou aquilo?
Independência civil: Estamos em pleno movimento eleitoral, por que somos obrigados a votar se vivemos num País livre e democrático? Por que as propagandas eleitorais não são uniformes, afinal de contas, iremos escolher pessoas importantes para representarem nossas vidas em nível de estado e federação?
Ó Pátria amada, tão castigada, salve-nos, salve-nos?
Ó Brasil, celeiro da América, entre outras mil é a ti que amamos!
Independência? Morte!
Independência! Morte!
Independência.
Morte a tudo que não é para o crescimento do Brasil!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e Coodenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.