domingo, 29 de maio de 2011

NARCISOS


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Narciso, na mitologia greco-romana, era um herói de Téspias famoso pela sua beleza e orgulho. Muitas versões de seu mito perduraram por todo o mundo. Filho de Cefiso e Liríope, foi vaticinado pelo adivinho Tirésias que teria uma longa vida, desde que jamais contemplasse a própria imagem.
Por conseguinte, narcisismo tem relação direta com as ideias de Narciso, e ambos derivam da palavra grega narke, "entorpecido" de onde também vem a palavra narcótico. Desse modo, para os gregos, essa figura tipificava a vaidade e insensibilidade exageradas, já que Narciso era entorpecido pela sua própria beleza e vaidade. Típico símbolo do individualismo.
Acompanhei com reserva a última edição do Troféu Odette Costa. Ela, jornalista e colunista social das mais afinadas com o tempo, da qual tive o privilégio de publicar o último texto de sua vida, no livro Gol de Letras, certamente também teria o mesmo sentimento.
O fato é que, se prestarmos atenção, ao menos a metade dos indicados para receber o Troféu neste ano de 2011 ou é conselheiro ou tem relação direta com um dos conselheiros que indicaram os ganhadores. E alguns deles, indicados pelo segundo ano consecutivo.
Aí algumas questões são inevitáveis:
1. Araçatuba não produz cultura em suas múltiplas facetas (música, literatura, teatro, dança, pintura...) e em seus mais diversos cantos e por isso a redundância de nomes? (são mais de 180 mil pessoas, dezenas de bairros pela cidade, gente interessantíssima em faculdades, universidades, escolas, centros comunitários etc...);
2. Está havendo cuidado na busca, seleção e indicação dos nomes para o Troféu Odete Costa? Afinal, o prêmio foi instituído por lei e é de dinheiro público que sai toda premiação. Portanto, o povo deveria ser privilegiado e não uma meia dúzia de “sempre Cult”. Sempre são as mesmas personas que escrevem, que pintam, que cantam, que dançam, que interpretam em Araçatuba. (Será?);
3. Se não é ilegal, certamente imoral é que os conselheiros se autoproclamem premiados. Coisas assim não fizeram Napoleão, Hitler e alguns deputados e senadores que trocam comendas e honrarias para encherem suas paredes e prateleiras de certificados, medalhas e troféus?
4. Se é um Troféu dirigido às várias categorias culturais, por que não uma votação aberta, on line, em que os vários personagens públicos, que têm condições, estes sim, sem partidarismos, sem conchavos e questões pessoais, de indicar os nomes que verdadeiramente contribuíram para as artes e cultura da cidade no período analisado?
5. Em edições anteriores do Troféu Odette Costa foi publicada uma lista com os nomes que concorreram a cada uma das categorias deixando, assim, ao menos um parâmetro para a população e agentes culturais os critérios de escolha e tudo o mais, ainda que questionáveis. Este ano, nem isso houve. Não podemos ter parâmetro, se quer, para entender se de fato os vencedores mereceram ou não o prêmio. Evidente que todos que receberam a premiação produzem cultura, não é esta a questão. Mas, por tratar-se de uma “seleção” de nomes, por que razão os indicados não apareceram?
Poderíamos fazer inúmeras outras questões, assim como conseguiríamos citar, ainda que mentalmente e sem nenhuma análise mais profunda, (coisa que deveria ter sido feita pelo Conselho) nomes como Tito Damazo para Literatura, já que publicou, depois de anos, uma coletânea de poemas de qualidade ímpar no livro Contrabaixo ou a União Brasileira de Escritores – UBE, a maior e mais antiga instituição de escritores em atuação no Brasil e que instalou em Araçatuba o seu primeiro Núcleo; para as artes plásticas Márcia Porto, com um projeto belíssimo atrelando arte e moda; Grupo Pregadores do Riso, que fez uma turnê Brasil afora, com premiações mil, inclusive no exterior, entre outros nomes que é só parar e ver. Certamente a metade dos indicados, ou seja, conselheiros, ficariam de fora, caso tivessem bom senso, para dar vez a outros nomes.
Mas essa minha crítica é só um mexer das águas. A imagem pode até ficar difusa, entretanto os Narcisos ainda se terão como foco, isto é, continuarão a enxergar somente a si próprios.
O final, todos nós sabemos.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

sábado, 28 de maio de 2011

SUPER


Roberta Caetano

          Brad Pitt e Angelina Jolie, o famoso casal de astros de Hollywood, procura uma babá para um de seus seis filhos. Na verdade, eles procuram “a babá”. Fato curioso é que o casal anuncia abertamente a todas as interessadas em preencher esta vaga, mas é necessário dotar de alguns requisitos “básicos”...  Disponibilidade em tempo integral; gostar de viajar e possuir duas habilidades específicas: falar no mínimo duas línguas e ser formada em educação. Uau! Como dizem as manchetes: “A família Pitt-Jolie procura uma super Nanny”. Enfim, pretende pagar mensalmente a essa profissional uma quantia de R$19,5mil.
           Olhando para as vantagens, seria maravilhoso receber um salário deste; conhecer lugares interessantes como Califórnia, New Orleans, o sul da França; ver de perto cenas de filmagens dos filmes americanos; alimentar-se muito bem, sem contar no “colírio” diário...  Temo que algumas colegas queiram concorrer a essa vaga tão cobiçada.
No entanto, a exigência quanto ao idioma é que um deles seja o que a criança fala em seu país natal. A questão é que um filho é cambojano, outro é vietnamita e outro é amárito, idioma oficial da Etiópia. O casal se justifica dizendo que querem o melhor para os seus filhos.
Após esta notícia, não sei tudo o que se passou em sua mente. Se você é mãe ou pai, talvez desejou também poder oferecer a seus filhos a companhia de uma super babá, principalmente por causa deste mundo tão turbulento, você se tranquilizaria em deixar seus filhos com uma exímia profissional. Se você é professor (a), talvez pensou o tanto que estuda e adquire diplomas e certificados, preparando-se sempre para oferecer aos seus alunos uma educação de qualidade e como consequência pensou o quanto gostaria de ser melhor remunerado. Se você é solteiro (a), talvez se seduziu com a vida diferente que teria, inebriou-se em imaginar conhecer pessoas famosas e belos lugares.
Ou então, você deve estar pensando: “Para que me serve este assunto em questão?” A resposta realmente está em sua, em nossa própria maneira de visualizar as “coisas” deste mundo. O segredo está muito além do que pensamos, o segredo está em como agimos diante de tudo o que nos acontece.
Não olhe para os fatos com apenas insatisfação, indignação, murmuração, mas aja com sabedoria diante de tudo o que te provoca estes sintomas. Sábias são as palavras de Jesus, que nos diz sim para não nos conformarmos com este mundo, mas, concomitantemente, nos ordena a transformá-lo com o nosso entendimento. Busque o possível e para Deus, deixe-o fazer o impossível. Se você não se conforma com algumas coisas, contribua para que elas se tornem melhores. 
Transformemos os lugares por onde passarmos em momentos melhores de se viver! Por que não tentarmos ser uma super mãe, esposa, filha, irmã, amiga, colega de trabalho, profissional? Embora sabemos que não é fácil, a vida é um constante desafio, não é mesmo? Ser super não é a utopia de ser uma pessoa perfeita. Ser super é tentarmos ser especial! Não desejamos conviver com pessoas super? Que comece em nós o que queremos em nosso próximo.  
Bem, voltando ao assunto, alguém sabe se o casal já encontrou a babá super?

Moralidade e ética

Algumas ideias do autor sobre moralidade e ética
YVES DE LA TAILLE

Por Maria Lúcia Terra

À luz da abordagem psicológica, Yves de La Taille desenvolve uma análise da moralidade e da ética na sociedade contemporânea e aponta ações educacionais desejáveis para a construção do que ele denomina uma ‘cultura do sentido’ e uma ‘cultura do respeito de si’.
Sua análise crítica acusa que nossa sociedade criou uma cultura do tédio, com a conivência de pais ausentes e sob a chancela de um processo de politização da moral.
Apesar da configuração social atual apresentar, como nunca, um percentual significativo de população adulta e idosa, os mais velhos se ausentam das discussões sobre moral e ética e os mais jovens assumem voz, num cenário em que mensagens sobre tais temáticas são contraditórias, tanto por parte da família quanto pela mídia.
La Taille menciona a instalação de uma situação de analfabetismo moral, na sociedade de maneira geral, atingindo os ambientes escolares: as questões morais não são discutidas ou analisadas
            Ao discorrer sobre o conceito de “cultura do tédio”, o especialista em Psicologia Moral refere-se à falta de sentido para a vida e para a própria existência, um mal muito presente na contemporaneidade.  Para o autor, vive-se hoje num mundo fragmentado, de pequenas urgências e eventos isolados, onde a falta de objetivos têm estreita ligação com o alto índice de casos de depressão, de uso de drogas e de suicídios.  Neste cenário, o tédio é a incapacidade de conseguir dar sentido ao tempo, o que motivaria a enorme indústria do divertimento e a fuga para prazeres fugazes.
           
            Sobre a “visibilidade do silêncio”, La Taille lembra que grande temor da atualidade relaciona-se ao medo de ser “perdedor”. Para ele, este temor motiva a violência dos indivíduos que buscam, em comportamentos violentos, uma alternativa para se auto afirmarem. Para um garoto pobre, por exemplo, ter visibilidade social, ele tem que causar medo. Neste sentido, o problema não é pregar o conceito de moral para uma pessoa dessas, mas analisar que, para ele, não há a construção do conceito de uma vida boa, não há uma compreensão de que o projeto de vida boa é ético e supõe cooperação e generosidade. Ao contrário, em nossa sociedade, vida boa implica a eliminação do outro, uma postura contra o outro e fora da justiça. O conceito de vida boa, neste contexto, deve ser entendido não como uma vida relacionada à obtenção de vantagens e privilégios, mas em relação a uma perspectiva ética, ou seja, esta vida boa implica na capacidade de distinguir que atitudes serão positivas para si e para o outro. Se essa compreensão estiver presente para o sujeito, ele experimentará o sentimento de dever; do contrário, a motivação para a ação moral será inexistente ou fraca.

           A análise crítica da configuração social contemporânea e a assunção do compromisso com sua transformação requer uma postura de indignação por parte das famílias e dos educadores. No entanto, La Taille lembra que os adultos estão muito quietos, muito parados, muito silenciosos e ausentes diante deste cenário, e quem domina o mundo são os jovens. Na opinião do especialista, este posicionamento é extremamente letal e muito perigoso para a educação moral e ética de uma criança.


            Bem, pessoal, espero ter contribuído para que vocês retomem as ideias de La Taille e reflitam sobre a urgência de as famílias e os educadores em geral assumirem suas responsabilidades no trato de questões de ordem moral e ética para a formação das crianças e dos jovens.

            Abraço a todos.

            Maria Lúcia 

terça-feira, 24 de maio de 2011

QUER GANHAR O LIVRO ABAIXO?


O livro é um romance a partir da história de dois gatos chamados Romeu e Nicolau. Segunda a autora, "foi uma surpresa, não sabíamos que gatos eram tão divertidos até que arriscamos com o primeiro, depois veio o segundo. Se dependesse de mim, teríamos muito mais."

Quer ganhar o livro e conhecer as histórias de Romeu e Nicolau? Deixe um comentário bem legal sobre sua relação com algum bicho de estimação. O melhor post levará o livro. Domingo o vencedor ou vencedora será anunciado. Boa sorte.

APROVEITE E SIGA ESTE BLOG. Não é preciso ter blog. Clique sobre "seguir" (logo acima das fotografias à direita) e faça o que se pede.

Ficha técnica:
Resgatos - histórias de um gato maloqueiro
Romance
Editora Nova Letra
144 páginas - 2011
R$ 27,00 (já com frete)
pedidos neste blog pelo e-mail: aluceni@hotmail.com

Autora: Maria Cecília S. M. Costa Quideroli - é professora de alemão, formada pela USP, natural de Araçatuba/SP. Abraçou a causa animal há alguns anos, quando começou a retirar da rua e dar abrigo temporário para cães e gatos. Desde 2008 vive em Santa Catarina, com seu marido Fábio, os cães Nikita, Batuta e Zico e os gatos Romeu e Nicolau.

OBRIGADO A TODOS PELOS COMENTÁRIOS FEITOS E PELA PARTICIPAÇÃO. CONTINUEM ACESSANDO O BLOG DIARIAMENTE E INDICANDO-O PARA SEUS CONTATOS.

A GANHADORA DO LIVRO É:

JÉSSICA AIRES
MANDE UM E-MAIL PARA
aluceni@hotmail.com
e saiba como retirar o exemplar.

domingo, 22 de maio de 2011

UM POUCO DA VIDA DO PROFESSOR BRASILEIRO

TESSITURA

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com


Um laranja meio ocre queimado iní- laranja num tom meio avermelhado nas pontas, meio puxado para o vermelho, com cio de leves tons de ocres espalhados pelas bordas, numa continuação revigorante que do ro- iniciou logo no início de iní- bai- iní- xo e que se estendeu até em cima. Do fundo laran- xo que ja brotam outras três cio cores cio do, isto é, se considerarmos o preto como num cor, aí então teremos as do a- as preto, três cores. Uma cor vibrante, na verdade resulta- tom que – do da mistura entre van o assim co o amarelo e o vermelho. Recebe essa cor próximo para que com sua comple Go- quase uma mentar se sobressaia no plano primeiro das de e depois dialogue com o gh ama cortand relo. Um laranja quase uniforme que se uvas estende por todo plano e gos con preto pret tinua assim como se a colorir toda página madu deste tecido de palavras tava a preto preto pré té finalizar tudo. Laranja laranja laranja roxo ro- laranja laranja laranja la amare la preto pre p laranja laranja laranja laranja laranja roxo ro laranja laranja laranja amarelo la preto preto p laranja laranja laranja laranja laranja roxo ro laranja laranja laranja amarelo la preto preto p laranja laranja laranja laranja laranja roxo rox laranja laranja laranja amarelo la preto preto laranja laranja laranja laranja laranja roxo roxo laranja laranja laran amarelo la preto preto pre laranja laranja laranja laranja laranja roxo roxo laranja laranja laran amarelo am la preto pre laranja laranja laranja laranja laranja laroxo ro laranja laranja laran amarelo ama la preto pre laranja laranja laranja laranja laranja roxo roxo laranja laranja lara amarelo ama la preto pre laranja laranja laranja laranja laranja roxo roxo laranja laranja lara amarelo amar preto pre laranja laranja laranja laranja laranja la roxo ro laranja laranja lara amarelo amare la preto laranja laranja laranja laranja laranja la roxo ro laranja laranja lara amarelo amarela preto laranja laranja laranja laranja laranja la roxo ro laranja laranja lar amarelo amare la preto laranja laranja laranja laranja laranja roxo roxo laranja laranja lar amarelo amarel la preto la ranja laranja laranja laranja laranja roxo rox laranja laranja lara amarelo amarel la preto  laranja roxo rox laranja laranja lar amarelo amarelo la preto laranja laranja laranja laranja laranja roxo rox laranja laranja lar amarelo amarelo preto p laranja laranja laranja laranja laranja roxo rox laranja laranja la amarelo amarelo preto p laranja laranja laranja laranja laranja roxo rox laranja laranja la amarelo amarelo preto p laranja laranja laranja laranja laran roxo roxo laranja laranja la amarelo amarelo preto pr laranja laranja laranja laranja lara roxo roxo ro laranja laranja amarelo amar la preto preto laranja laranja preto p laranja la roxo roxo roxo laranja laranj amarelo ama la preto preto p laranja lara laranja preto pré laranja roxo roxo rox laranja laranja amarelo a preto preto preto p laranja laranja preto p laranja roxo roxo roxo r laranja laranja amare preto preto preto preto laranja laranja laranja laranja roxo roxo roxo ro laranja laran a preto preto preto preto preto laranja laranja laranja laranja roxo roxo roxo laranja laran preto preto preto preto preto preto laranja laranja laranja laranja roxo roxo roxo laranja laran preto preto preto preto preto pret laranja laranja laranja laranja roxo roxo roxo laranja laranja la a laran preto preto preto pret laranja lara laranja laranja la roxo roxo roxo laranja laranja laranja laranja la preto preto p laranja laranja laranja laranj roxo roxo rox laranja laranja laranja laranja laranja preto p laranja laranja laranja laranja laranj roxo roxo ro laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranj roxo roxo ro laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja laranja.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

Acho que nunca um texto meu deu tanta polêmica quanto esse! E eu adorei!!! Leiam um pouco da polêmica em http://www.luizberto.com/palavrar-antonio-luceni/tessitura#comments

NÃO VOU PINTAR TUDO. ACHO QUE JÁ DEU PRA ENTENDER, NÉ? O PROBLEMA É QUE TIVE QUE EXPLICAR A "PIADA" PARA ALGUNS ENTENDEREM. AFF!!!

O NOVO PACTO EDUCATIVO


TEDESCO, Juan Carlos. O novo pacto educativo.
Por Maria Lúcia Terra

Trata-se de um livro constituído a partir de pesquisas bibliográficas e opiniões do autor sobre as transformações de ordem política, social e econômica vividas na atualidade e seus reflexos para o contexto educacional. Juan Carlos Tedesco desenvolve uma reflexão sobre o que entende como uma mudança no papel da escola, a qual, além de responsabilizar-se pela formação do núcleo básico de desenvolvimento cognitivo, hoje encara ainda a tarefa de formar também a personalidade dos jovens. Neste sentido, o autor desenvolve uma discussão sobre as ações a serem encaradas pela escola contemporânea, com foco nas adequações necessárias para atender as novas demandas sociais. Para Tedesco, a crise da educação atual não provém unicamente da forma precária como se perseguem os objetivos educacionais, mas sim do fato de que de fato não se sabe claramente qual seria a real finalidade da escola e tampouco como desenvolver ações para cumprir com essa finalidade.
            Ao discorrer sobre o que ele denomina como a “revolução” contemporânea, o autor, a partir da abordagem de três áreas: o modo de produção, as tecnologias da comunicação e a democracia política. No que se refere à primeira área, o pesquisador entende que as novas condições de produção, baseadas no uso intensivo de conhecimentos, têm um potencial de exclusão muito significativo, só podendo assegurar condições de plena realização a uma minoria de trabalhadores. Quanto às novas tecnologias da informação, Tedesco entende que essas têm um impacto não só na produção de bens e serviços, mas também no conjunto das relações sociais. Por fim, as mudanças provocadas no processo produtivo e nas relações sociais pelo uso das tecnologias da informação têm impacto direto sobre a vida política.
            Ao analisar a educação diante dessa nova realidade social, o autor assinala que o que há de novo (e que precisa ser considerado nos processos educacionais) é o papel que desempenham o conhecimento e a informação, tanto na própria produção como no consumo, uma vez que, a educação, entendida como a atividade por meio da qual se produz e se distribui o conhecimento, assume uma importância inédita. Entretanto, os desdobramentos reflexivos desenvolvidos pelo autor nos permitem concluir que, num cenário social, econômico e político em constante e acelerada transformação, o acesso isolado aos conhecimentos não são suficientes; a sociedade do futuro deverá também ser dotada de instituições capazes de “manejar a incerteza”, e exercitar a reflexão filosófica.
            Somente para aguçá-los a uma leitura mais cuidadosa desta obra que, no meu entender constitui-se tarefa essencial a todo educador, menciono aqui algumas temáticas desenvolvidas pelo autor, todas de relevante cunho para aqueles que desejam munir-se de maiores instrumentos para a análise da realidade educacional atual. São elas: fatores de condicionamento da organização da atividade educativa, a crise do sistema escolar tradicional, a educação como processo de socialização, o processo de evolução da individualismo no século XX, competição e cidadania, novas tecnologias, construção da identidade, ambigüidades do campo da educação, o conceito de escola total, o papel do docente nos novos tempos, entre outras questões.
            Boa leitura a todos!
            Abraços carinhosos.

            Maria Lúcia

sexta-feira, 20 de maio de 2011

NOSSOS NÓS DE CADA DIA

Capa do livro

No último dia 18 de maio ocorreu o lançamento do livro "Nossos nós de cada dia". O livro foi resultado de um workshop feito desde fevereiro deste ano com alunos da Escola Municipal Prof. Fernando Gomes de Castro, no bairro Água Limpa.


Os alunos foram os grandes protagonistas de todo o projeto. Da elaboração do texto, criação das ilustrações até a apresentação do evento a forte presença dos discentes. Na imagem acima a aluna Izabele como mestre de cerimôncia do evento.


(e/d): Diretora Nara, escritora Marly Garcia, escritora e esposa do patrono da EMEB, Zezé Bedran de Castro, prefeito Cido Sério, profa. Carlinda, responsável pelo projeto e a secretária da educação, Beatriz Soares Nogueira.

A iniciativa foi da Diretora Nara e da Profa. Carlinda que, ao refletirem com os alunos sobre os vários agentes presentes na publicação de um livro, trouxeram à baila a contribuição dos ilustradores nas obras literárias.

Os alunos escritores e autoridades e responsáveis pelo projeto.

Como tenho algumas participações como ilustrador em livros infantis e adultos, fui convidado pelas profissionais da referida escola para discutir e trabalhar os aspectos das ilustrações nas peças literárias, especialmente nas infantis.


(e/d): Secretária da Educação, Beatriz Nogueira, Coordenador dos projetos de leitura e literatura da Rede, Antonio Luceni, prefeito Cido Sério, escritora Marly Garcia, Diretora Nara Franco e Professora Carlinda.

Aluna Izabela autografando livro para mãe Cíntia.

A ideia foi ampliada e propusemos que fosse feito um livro, o que aconteceu.


Alguns dos exemplares que foram distribuídos aos presentes.

Nas imagens que aparecem neste post a presença marcante de autoridades municipais, pais de alunos e os próprios alunos com suas apresentações e autografando os livros para suas famílias e convidados.


Além do lançamento do livro, ocorreram diversas apresentações culturais. Na imagem acima, apresentação do coral da escola que entoou belas músicas do cancioneiro popular.

Parabéns a todos que participaram de tão importante ação: diretora, professores, funcionários, pais de alunos e alunos. Ao prefeito Cido Sério, exímio leitor, e à Secretária da Educação, Beatriz Soares Nogueira que tem dado todo apoio a iniciativas como essa.


É com gestos e posturas desse tipo que, sem dúvida, formaremos uma Araçatuba Leitora.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

INTERVENÇÃO POÉTICA


Mais uma intervenção poética. Desta vez, um céu de poemas. Foram selecionados vários poemas de poetas diversos também, entre os quais Luiz Gonçaga (Olha pro céu, meu amor), Paulo Leminski (A lua no cinema) e Fernando Pessoa (Eu vi a estrela polar). Fragmentos dos poemas foram impressos em folha de papel sulfite. Estrelas e luas recortadas em cartolina dupla face em várias cores e penduradas feito móbiles.
A proposta é justamente fazer coisas simples, que gastem pouco tempo de preparo e execução, mas que o resultado seja uma SURPRESA AGRADÁVEL DE LEITURA.
Um céu colorido e atrativo de leitura para todos que, obrigatoriamente, passavam pelo local. E não tinha jeito: tinha que "olhar pro céu".
SÃO VÁRIAS AS FORMAS DE MOTIVAR LEITURA. INVENTE A SUA. FUJA DO TRIVIAL. SURPREENDA!
Quando fizer a sua experiência, fotografe-a e encaminhe-a para o e-mail aluceni@hotmail.com que a publicaremos neste blog.

Forte abraço,

Antonio Luceni

domingo, 15 de maio de 2011

TALVEZ



Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com




Por que cada um não cuida da sua vida e todos, juntos, cuidam para que a vida seja algo melhor? Por que a diferença incomoda tanta gente e precisemos falar por meio de metáforas aquilo que deveria ser dito abertamente? Por que não nos preocupamos com coisas mais importantes e deixamos as menos relevantes para uma hora em que tudo de mais urgente é passado?
Volto a ouvir, ver e a sentir os rumores dos intolerantes, das mentes desgastadas pelo ranço da hipocrisia, da individualidade, do egocentrismo. Talvez se fosse uma questão que de fato merecesse tanta polêmica, talvez se fosse algo que atingisse a “honra” e a integridade da instituição família (mesmo que houvesse somente um tipo dela), talvez, quem sabe, justificasse tamanha latrina.
Mas não... algo de foro íntimo, da individualidade de cada um. Ou por acaso alguém quer saber o que se passa entre seu pai e sua mãe na noite anterior, dentro de quatro paredes? Penso que não... Então, por que querer saber ou se meter na vida de quem quer que seja?
Aí vai um deputado, um tal de Bolsonaro, e uma cambada de hipócritas, como autoproclamados senhores da razão e estandartes sociais, senhores ilibados – os mesmos que traem suas esposas e ofendem, aí sim, a moral familiar – querendo apontar dedos e mais dedos pra gente que, nada mais, só quer ser feliz.
Essa discussão sobre aceitar ou não aceitar a homossexualidade é coisa ultrapassada. Ninguém tem que aceitar nada, ela existe, os gays existem, estão por aí, ao entorno de nós – muitas vezes somos nós mesmos – servindo-nos das mais diferentes formas: cortando cabelos, fazendo roupas, construindo casas, selecionando cores e formas para nós, cortando cana, cuidando de doentes, pilotando aviões... Ué, achou estranho? Por quê? É isso mesmo, gay é gente. E assim como tem hétero que presta e os que não prestam, assim também com gays: há os que valem a pena e os que não valem também.
Aí que está toda diferença: todos somos seres humanos. Todos merecemos respeito. Por aquilo que somos. E o fato é esse: ninguém escolhe ser gay, assim como ninguém escolhe ser hétero. Nós somos o que somos, com nossas virtudes e defeitos, com nossas potencialidades.
Há que se dizer BASTA para toda e qualquer intolerância. Já não há mais espaço em nossa sociedade para a hipocrisia. Aliás, taí uma “moda” que deveria chegar logo: a moda contra a intolerância. Deveríamos começar, o quanto antes possível, torcer o nariz para a intolerância, seja ela qual for: religiosa, racial, social, sexual...
Parece que a gente só se compadece com algum problema quando passamos por ele. Será que só daremos atenção para as dificuldades das crianças e pessoas com necessidades especiais quando tivermos uma dentro de casa? Será que só iremos olhar para o mais necessitado quando formos destratados num aeroporto ou restaurante chique por ser preterido por alguém mais rico? Será que só nos importaremos com a angústia por que passa um adolescente ou jovem gay quando tivermos um na família?
Basta à intolerância. Basta à hipocrisia. Basta a tudo quanto faz com que o ser humano seja diminuído, humilhado, menosprezado. Gente é pra viver, gente é pra ser feliz.
Talvez quando encararmos as coisas de frente, sem preconceito, elas se tornem mais fáceis. Talvez quando gays forem aceitos em suas famílias como seres humanos (que são, não nos esqueçamos disso), talvez quando as pessoas forem medidas pelo seu caráter, por aquilo que são, o mundo seja melhor, as famílias, de fato, sejam famílias. Talvez quando a diferença for aplaudida e não hostilizada tenhamos um mundo melhor para todos e não somente para uma meia dúzia de hipócritas.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

CLIP "TALVEZ" RICK MARTIN

sábado, 14 de maio de 2011

PEDAGOGIA DA AUTONOMIA

Olá, pessoal! Para quem está se preparando para o processo seletivo do curso de pós-graduação da UNESP, campus de Presidente Prudente, segue uma síntese da obra Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire.
Abraço a todos.

PAULO FREIRE
PEDAGOGIA DA AUTONOMIA
Por Maria Lúcia Terra*

A obra tem com eixo central a questão da formação docente, a partir de uma reflexão sobre a prática pedagógica, com foco na ética e na construção da autonomia dos alunos. Paulo Freire discorre sobre o que ele considera como saberes necessários ao ofício do professor, considerado aqui não somente como profissional da educação, mas como agente político transformador. O texto de Freire vem permeado por um viés político, voltado para a crítica ao neoliberalismo e à desigualdade social.
            Para Freire, a tarefa educativa requer, antes de mais nada, responsabilidade ética. Educar implica comprometer-se com a luta pela justiça social, e esta postura ética deve ser vivida na prática, testemunhada em ações.
            Discorrendo sobre o exercício da docência, o autor estabelece uma intrinsica relação entre as atividades de ensinar e aprender (“não há docência sem discência), e ensinar vai muito além do que meramente transmitir informações, envolvendo a responsabilidade de se criar possibilidades para a construção e produção do conhecimento, a partir de uma postura ativa, curiosa, investigativa, reflexiva e criadora. Neste sentido, a curiosidade epistemológica é considerada condição essencial para a construção do conhecimento e o gosto  pela rebeldia é o instrumento para a superação do autoritarismo e do “bancarismo”.
            Freire elenca uma série de saberes que considera essenciais à prática educativo-critica ou progressista, saberes esses que aqui atrevo-me a sintetizar em algumas idéias que entendo estruturais do pensamento deste estudioso. São elas:
* a ética, permeando todos os momentos dos processos educativos: a atividade educativa não pode se limitar à técnica, mas  deve estender-se à dimensão humana;
* o valor do conhecimento cientifico para a construção da capacidade critica: a aproximação dos objetos do conhecimento não deve se limitar ao tratamento superficial deste objeto, mas devem contemplar sua análise crítica, e essa tarefa exige: curiosidade, pesquisa, humildade e persistência;
* o compromisso político-social, de forma indissociada à tarefa de educar: os conteúdos ministrados na escola devem apresentar relação com a realidade do aluno, seus problemas e necessidades;
* o caráter histórico-político-social da educação: não se pode negar o caráter ideológico da educação, nem tampouco ignorar seu potencial transformador;
* o respeito ao educando e a proposta de uma postura dialógica e afetuosa: é preciso considerar a bagagem cultural dos alunos e, a partir de uma relação dialógica, propor situações que possibilitem avanço no seu processo de construção de conhecimentos;
* a construção de uma identidade profissional docente, comprometida,  consciente e reflexiva: o professor não pode esquivar-se do compromisso político e social, e deve, constantemente, refletir criticamente sobre sua prática pedagógica, buscando aprimoramento profissional;
* a coragem para conservar a alegria na profissão e o equilíbrio nas atitudes:   Freire lembra que cabe ao professor construir um clima de alegria no espaço pedagógico. O autor chama a atenção também  para a importância de conservar o bom senso e a coerência nas atitudes.

Por enquanto é isso, pessoal. Espero ter colaborado para arejar suas mentes em relação às ideias deste grande educador.
Abraço a todos.

Maria Lúcia Terra é graduada em Letras e Diretora de Supervisão e Ensino da Secretaria Municipal da Educação de Araçatuba/SP.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Dinâmica da vida

Dinâmica da vida
Simone Caravanti


A vida em sua volubilidade nos move... remove ...comove.

Move os caminhos e, nesse ato constante, cheio de inconstâncias, impulsiona sonhos ao seu apogeu, castelos de areia que, na dinâmica do viver, refazem-se ao pôr do sol. Muitas vezes, sonhos conquistados tendem a ser desfeitos para que, assim, outros possam ser construídos. É o épico renascer das cinzas. Uma nova Fênix em busca de novos voos.

Remove obstáculos, impondo-nos desafios difíceis, porém possíveis. Aceitá-los representa abdicação de nosso estado atual, renúncia da zona de conforto que nos enleia a cada decisão.

E, por fim, comove... simplesmente assim, em seu ir e vir, renovando esperanças, pois sonhar integra a alma humana em uma reminiscência que nos move... remove... comove...

Simone Caravanti é graduada em Letras e professora efetiva do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba/SP.

ABALOU VOCÊ?

ABALOU VOCÊ?
Roberta Caetano


Acontecimentos importantes ocorreram de uns dias para cá. Fatos que abalaram o mundo. Dois deles chamaram bastante à atenção. Incontáveis pessoas queriam acompanhar o casamento real do príncipe William e de Kate Middleton. Havia um milhão de pessoas nas ruas de Londres e dois bilhões de telespectadores para presenciarem a união que promete revitalizar a monarquia britânica.

Carruagem, palácio, conversível, desfile de celebridades e membros da realeza fizeram parte deste cenário luxuoso. Réplicas do anel de Lady Catherine foram reproduzidas e serão vendidas por um preço irrisório. Como sempre, a moda ditando as atitudes das pessoas. O clima contagiante retoma nas mulheres o desejo de se tornarem ou, pelo menos, de se sentirem verdadeiras princesas. Até mesmos os comentários e bate papos no facebook retomam a temática: Sapo ou príncipe?

Porém, em meio a pompas e holofotes, estoura a bomba, ou melhor, desta vez a notícia e da década: Bin Laden Morreu. A morte do líder terrorista da rede Al-Qaeda transfere o foco dos meios de comunicação. Curiosamente, dez anos e dez dias após a catástrofe das Torres gêmeas, é encontrado morto com um tiro na cabeça e outro no peito, aquele que é tido como o maior inimigo dos americanos, os quais festejam nas ruas de diversas partes do país, não o casamento real, mas o sepultamento de Osama Bin Laden no mar da Arábia.

Enquanto os ingleses comemoram a popularidade da agora duquesa de Cambridge, cresce no mundo a popularidade do presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Por favor, não confunda, Osama com Obama, nem Lady Kate com Lady Gaga, ops... Qual é mesmo o nome daquela personagem do programa humorístico Zorra total?

Enfim, enquanto isso, no país do futebol, após o frêmito do requintado casamento e o estrondo da morte almejada, brasileiros voltam a se concentrar nos resultados finais dos campeonatos futebolísticos, mas, deixarei isso para outra ocasião, pois afinal, o meu “novo encantado” não surgiu, Bin Laden morreu e o meu time perdeu.
Afffff.
 
Roberta Caetano é professora de Língua Portuguesa e Coordenadora junto à Secretaria Municipal da Educação de Araçatuba/SP. Colaboradora deste blog.



quarta-feira, 11 de maio de 2011

VIAGEM PARA UBATUBA/SP E PARATI/RJ

UBATUBA/SP E PARATI/SP

Saída: 06/07/2011 (Araçatuba)
Retorno: 10/07/2011
Valor: R$ 580,00 (6x 97,00), por pessoa
Valor Casal: R$ 1190,00 (6x 198,00)

INCLUI: hospedagem, café e jantar, transporte de van para FLIP (FESTIVAL LITERÁRIO DE PARATI/RJ), Projeto Tamar e Aquário de Ubatuba

INFORMAÇÕES:
VERA'S TUR (18) 3621 9041 ou (18) 9781 7952
(Vera Lúcia)



terça-feira, 10 de maio de 2011

ENTREVISTA COM O ILUSTRADOR ORLANDELI

Walmir Américo Orlandeli

Por Antonio Luceni

 
“Minha faculdade foi a vida.”. É assim que o desenhista, ilustrador, cartunista e escritor Walmir Americo Orlandeli define o caminhar no universo das ilustrações brasileiras. Casado, pai de um filho e residente na cidade de São José do Rio Preto, é formado em Publicidade e Propaganda – profissão que exerceu por um curto espaço de tempo de sua vida, dedicando-se, na última década, exclusivamente à ilustração e aos quadrinhos. Tive o privilégio de ter um de meus livros, Com quantos chapéus se faz um Chapeuzinho, ilustrado por ele. Lógico, pelo encantamento, poeticidade e qualidade que o trabalho dele tem. Por e-mail, concedeu a entrevista que se segue.
 
Antonio Luceni: Desde quando começou a se interessar pelo desenho?
Orlandeli: Desde criança, mesmo. Sempre gostei de histórias em quadrinhos. Não me lembro de nenhuma época em que não desenhasse compulsivamente.

Antonio Luceni: Quando, de fato, percebeu que sua vida profissional poderia ser encaminhada a partir do desenho, da ilustração?
Orlandeli: Ainda moleque isso era muito claro em minha cabeça: trabalhar com quadrinhos e desenhos. Mas, claro, as dificuldades em ter desenho como principal fonte de renda sempre existiram. Então trabalhava em outras áreas e paralelo a isso ia fazendo minhas histórias em quadrinhos, fanzines, jornal independente... A coisa começou a tomar um rumo mais profissional quando passei a publicar as tiras no jornal, isso em 1995. De lá pra cá fui conseguindo mais espaço até que consegui largar as outras atividades e viver apenas de quadrinhos e ilustração.
 
Antonio Luceni: Quais os problemas que você enfrentou ou enfrenta no ramo da ilustração?
Orlandeli: Os problemas são vários, como em qualquer profissão. Vai desde amadurecer o trabalho a fim de que consiga suprir as necessidades do cliente (jornal, revista etc. etc.) até conseguir espaço no competitivo mercado de ilustrações. Não adianta apenas saber desenhar, tem que se profissionalizar em todos os sentidos, saber cobrar, avaliar contratos, negociar...
 
Antonio Luceni: Quem foram ou são seus mestres motivadores? O que deles conserva ou busca demonstrar em seu trabalho?
Orlandeli: Ah, são vários. Cada um teve sua importância em determinada fase. O Maurício de Sousa foi responsável por eu gostar de quadrinhos. Passei a infância toda colecionando e tentando desenhar os personagens da Turma da Mônica. Já um pouco mais velho entrei na onda dos quadrinhos undergrouunds da turma do Chiclete com banana: Angeli, Laerte, Glauco... Com esse pessoal decidi que queria ser cartunista. Nessa época também conheci o trabalho do Henfil, um dos que mais me influenciaram na parte gráfica em início de carreira. Já com vontade de contar histórias mais longas, passei a me inspirar no trabalho do Will Eisner, Frank Miller... O resultado é uma mistura de tudo isso e mais um pouco. Tudo o que a gente consome, de uma forma ou de outra, acaba te influenciando. Conheci recentemente o trabalho do Christophe Blain, que tem uma narrativa gráfica sensacional, é outro que já pode entrar na lista de influências.
Cartunista Henfil - um dos grandes nomes nacinais.

 
Isaac - O Pirata, de Christophe Blain - Conrad Editor


Antonio Luceni: É muito comum no ramo da ilustração o trabalho em parceria com vários profissionais: escritores, editores, cenógrafos etc... Quais são as parcerias mais frequentes em seu ofício e qual delas mais entusiasma você?
Orlandeli: No meu caso, em específico, as principais parcerias são com escritores e editores. A satisfação vem quando te respeitam como autor e não um mero lápis a serviço do cliente. Qualquer parceria é válida quando te dão a liberdade de criar e sugerir soluções que não estavam previstas. Aliás, se não for assim nem pode ser considerado parceria. Mas, infelizmente, algumas vezes acontece do ilustrador ser mera ferramenta, em que lhe é passado detalhadamente o que é para ser ilustrado, sem espaço para se expressar de forma mais autoral. Em alguns casos nem vale a pena pegar o trabalho.
 
Antonio Luceni: Dos trabalhos que fez, qual foi o mais desafiador? Por quê?
Orlandeli: Creio que a participação no livro MSP50, em homenagem ao Maurício de Sousa. Foi um dos mais desafiadores, sem sombra de dúvidas. Essa é uma obra história, os principais cartunistas do Brasil estão nela para homenagear o pai da Turma da Mônica. Não é pouca coisa... Não queria simplesmente fazer uma homenagem do tipo "valeu Maurício". A ideia sempre foi fazer uma HQ, de preferência uma BOA HQ, com algum personagem usando o meu traço. Para mim, essa seria a melhor homenagem. Porém, o trabalho do Maurício é infantil, e o meu, de infantil não tem nada. Queria um história que fosse honesta tanto com a obra original quanto com o meu estilo de desenhar e narrar. Foi quando pintou a ideia de usar o "Capitão Feio", um personagem que mora no esgoto junto da sua horda de criaturas de sujeira. Parecia o cenário ideal para unir os dois universos, o meu e o do Maurício. No final, gostei bastante do resultado.


Publicação em homenagem a Maurício de Souza
em que Orlandeli participou.
 
Antonio Luceni: De que forma surgiu o convite e como foi trabalhar com a Maurício de Souza Produções?
Orlandeli: Quem fez o convite foi o Sidney Gusman, que cuida dos projetos especiais da MSP. Fiquei simplesmente honrado e feliz em poder deixar registrado uma homenagem ao artista que me ensinou a gostar de quadrinhos. Durante o processo não cheguei a ter contato direto com o Maurício, mas a parte boa é que a liberdade dada ao autor foi total. Sequer precisei enviar o roteiro para aprovação. Passei o número de páginas, o personagem que iria trabalhar e depois entreguei a HQ pronta. Participar de um livro desses dessa forma foi um presente.
 
Antonio Luceni: Você já fez algum trabalho de ilustração do qual tenha se arrependido e não gostaria de tornar a fazê-lo? Por quê?
Orlandeli: Já houve trabalhos que no meio do caminho pensei "puts, onde amarrei meu bode?", rsrs. Geralmente não é culpa do trabalho, mas do cliente. Isso acontece quando a pessoa é desinformada e acha que se você é "desenhista" então "desenha de tudo e do jeito que ela quer". Não é assim que funciona. Se uma pessoa me procura para um trabalho, é de se imaginar que ela já conheça o meu estilo de desenho. Mesmo assim sempre passo o endereço do site ou blog para a pessoa se familiarizar e ver se é isso que está procurando. Mas já aconteceu de no meio do trabalho a pessoa passar uma referência que em nada tem a ver com o meu estilo. Aí, paro na hora. Hoje, já estou mais vacinado com essas coisas. Antes de começar já deixo claro o estilo que será trabalhado e o valor de cada etapa, do esboço à arte final.
 
Antonio Luceni: Você mantém uma rotina de trabalho, com horários rígidos e clientela fechado, ou prefere distribuir seu tempo conforme a motivação que tem para fazer sua arte?
Orlandeli: Meus horários de trabalho variam de acordo com a demanda de serviços. Me dou bem com a pressão do relógio, consigo adequar minha arte de acordo com o tempo disponível, o resultado sempre é bem satisfatório. Já virei até meio que um "apagador de incêndios" de alguns jornais e revistas quando precisam de uma ilustra "pra ontem". (rsrs)

Antonio Luceni: Existe algum trabalho que você fez e que considere exótico ou pouco comum no ramo da ilustração?
Orlandeli: Creio que não. Tudo que fiz é meio que de praxe nessa área. Uma vez me pediram para desenhar um vestido de casamento. Falei que não era estilista e sim cartunista. A noiva disse que era por isso mesmo, que adorava meus quadrinhos e queria que eu fizesse algo naquele estilo. No final, o casal acabou se separando e não rolou... Sorte dela. (rsrs)
 
Antonio Luceni: Além de ilustrar, você também escreve. Como você enxerga esse diálogo entre escrita e ilustração? Que distinção procura manter entre o trabalho de escritor e o de ilustrador, ou não há diferença para você?
Orlandeli: Tanto um como outro são formas de se contar uma história. Cada um com suas características que, em determinados momentos, até se misturam um pouco. O SIC tem muito disso, uma mistura da linguagem literária com a narrativa gráfica. Não tenho preocupação em manter distinção entre uma forma e outra, ou sequer de misturá-las. Meu foco sempre é na história, em conseguir que a narrativa funcione, que o leitor consiga assimilar as sensações da narrativa. Uso o que, em minha opinião, funciona melhor para cada história.
 
Antonio Luceni: Recentemente você “virou” papai. Pensa em desenvolver alguma série de ilustração ou textos voltada para o público infantil?
Orlandeli: Livro infantil é muito bacana. Recentemente quase rolou de eu ilustrar um livro de uma autora estrangeira, mas, por contrato, a editora teve de usar as ilustrações da obra original. Mas é uma coisa que provavelmente vai rolar. Escrever livro infantil já me passou pela cabeça, mas não consegui uma linha narrativa que me agradasse. Pode ser que uma hora role também, mas por enquanto só as ilustras.
 
Antonio Luceni: Você é um ilustrador reconhecido nacionalmente pela excelente qualidade do seu trabalho. Aonde você ainda quer chegar com suas ilustrações?
Orlandeli: Quero continuar desenhando e contando minhas histórias. Tem muita coisa ainda para ser feita, mas isso vai aparecendo aos poucos e a gente vai administrando, vendo se gosta, se vale a pena ir mais fundo... Uma coisa que não muda é desenvolver um trabalho autoral.
 
Antonio Luceni: Uma das coisas mais difíceis para um ilustrador é fazer nascer e viver uma personagem. Quais dos personagens que você já criou e que poderia apontar como já ter “vida própria”?
Orlandeli: Dos personagens criados, sem sombra de dúvidas, o que mais se destaca é o Grump. Junto com o seu cachorro Vândalo, são figuras com personalidade definidas. Fazer uma tira com o Grump é até simples: cria uma situação qualquer, aí joga ele nela, pronto!A piada vem na hora.


Personagens Grump e Vândalo.

 
Antonio Luceni: Em seu trabalho como ilustrador, você mistura técnicas de pintura, do desenho e de programas digitais. Você procura seguir uma linha de ilustrações ou está aberto para as várias possibilidades de criação?
Orlandeli: Sou fiel ao meu estilo de desenhar. Faço qualquer coisa, desde que no meu estilo. Particularmente trabalho com dois tipos de traço, um é meio sujo, feito à mão, parece pincel, uso basicamente para os quadrinhos. O outro tem uma cara mais digital, parece vetor, que aparece bastante nas ilustrações editoriais. Mesmo com a finalização diferente, dá para notar uma semelhança entre os dois.
 
Antonio Luceni: Dos nomes de ontem e de hoje na ilustração nacional e mundial, quais são mais significativos para você e qual o diferencial deles?
Orlandeli: Ah, tem vários... Com certeza vou ficar devendo o nome de um monte de gente importante, mas vamos aos que eu gosto e lembro nesse momento, misturando ilustração e quadrinhos: J. Carlos, Nássara, Benício, Will Eisner, Norman Rockwell e muitos outros mais antigos. Alguns mais atuais que também admiro: Samuel Casal, Daniel Bueno, Fábio Moon, Gabriel Bá, Grampá, Christophe Blain, Alberto Cerriteño... e muitos, muitos outros. Cada um com sua particularidade.
 
Antonio Luceni: Quais dicas você pode dar para alguém que está pensando em seguir carreira ou iniciá-la como ilustrador? Por onde começar? Quem procurar?
Orlandeli: Dedicação e empenho acima de tudo. Espírito crítico para saber avaliar antes de qualquer outro a qualidade do seu trabalho. Procurar desenvolver um estilo próprio e sair para a rua, enviar seu trabalho para revistas, jornais... Se o trabalho tiver qualidade, aos poucos as portas vão se abrindo.
 
Antonio Luceni: O que constitui o Orlandeli como ser humano, como pai de família e como profissional? Há diferença entre as várias atuações ou está tudo misturado?
Orlandeli: Tudo meio misturado. Amo a minha família acima de qualquer coisa.

Para entrevista, o artista fez essa charge. Olha como vou ficar no futuro!!! Valeu, Orlandeli.
Você sabe que sou seu fã de carteirinha.