segunda-feira, 30 de setembro de 2013

CARTOLA

*Professora de música e regente de coral, formada pelo Instituto de Tatuí
Olá amigos, aqui estamos novamente.

Essa semana quero conversar com vocês sobre Cartola. Desejo também compartilhar um artigo sobre Cartola, escrito por um músico que admiro muito: Gladir Cabral. Ele escreveu um texto sobre a obra desse maravilhoso sambista brasileiro, ressaltando suas expressões musicais e a beleza da coerência entre escrita e melodia em suas composições. Gladir Cabral é músico, professor de Letras da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC e pastor; é o autor desse artigo que compartilho com vocês ao final de nossa conversa.  

Angenor de Oliveira, o “Cartola”, nasceu no Rio de Janeiro em 11 de outubro de 1908 – ele completaria 105 anos agora em outubro. Faleceu em 30 de novembro de 1980, na mesma cidade. Foi um dos músicos mais importantes para a história do samba. Ele era cantor, compositor e violonista. Aprendeu, ainda menino, com seu pai, a tocar violão e cavaquinho.

Aos 15 anos, após a morte de sua mãe, Cartola abandonou os estudos, terminando apenas o primário. Conseguiu um emprego como servente de obra e passou a usar um chapéu-coco – vindo daí o seu apelido. 

Ele compôs o primeiro samba para a “Estação Primeira de Mangueira”: “Chega de Demanda”. Seus sambas eram muito populares e muitos cantores renomados interpretaram suas belíssimas composições: Francisco Alves, Carmen Miranda, Silvio Caldas, Mário Reis e Araci de Almeida. 

Durante um período, Cartola ficou desaparecido, foi inclusive dado como morto. Especula-se que tenha ficado muito abatido com a morte de sua esposa: Deolinda. Também cogitou-se que tenha contraído meningite. Ele foi reencontrado pelo jornalista Stanislaw Ponte Preta em 1956. Cartola estava trabalhando como lavador de carros em Ipanema. A partir daí, o sambista voltou a cantar e foi redescoberto por outros intérpretes. 

Em 1964, casou-se com Dona Zica e, juntos, abriram um restaurante chamdo “Zicartola”.  Nele, promoviam encontros de samba com boa comida e reunia a juventude carioca da época e os sambistas do morro. Após um tempo, o restaurante fechou as portas, o compositor continuou com seu emprego público e compondo sambas. 

Cartola e D. Zica, sua esposa.
Quando Cartola completou 66 anos, gravou seu primeiro LP. Nesse disco estavam as inesquecíveis canções: “As rosas não falam” e “O mundo é um moinho”. 

As rosas não falam – interpretada por Emílio Santiago:

O mundo é um moinho – interpretada pelo próprio Cartola, e com um depoimento interessante:

Ao final da década de 1970, Cartola mudou-se para Jacarepaguá, onde morou até a sua morte.

Artigo de Gladir Cabral sobre a obra de Cartola: “A fé cartólica” - [texto publicado na Revista Ultimato de janeiro/fevereiro 2013, ano XLVI, n. 340]:



Ótima semana para vocês, um abraço e até a próxima segunda. 

domingo, 29 de setembro de 2013

Bosco: da forneria à cucina

*Professor universitário e mestre em Turismo e Hotelaria

O parceiro da Donna Oliva, a pizzaria apresentada a você, leitor, no domingo passado, é o “Bosco - forneria e cucina”. O restaurante foi inaugurado em dezembro de 2007 com a proposta de oferecer a Araçatuba uma “gastronomia italiana em sua forma mais artesanal, com ingredientes selecionados e de qualidade superior. Vasta opção de vinhos, com rótulos de inúmeros países e para todo tipo de paladar”.

A cozinha internacional sempre encanta os bons gourmands e, neste lugar de excelente comida e bebida de muito bom gosto, não é diferente.

O ambiente é requintado e o atendimento de primeiríssima qualidade, tanto no serviço de bebidas quanto nas especialidades do restaurante.

A casa dispõe de dois ambientes: uma grande varanda semiaberta à volta de um destacado e bem iluminado bar, e um outro mais privativo e próximo a um grande forno rústico de tijolos aparentes, a “forneria”, com mesas são grandes e cadeiras confortáveis, que condizem ao local.

O lugar é bem localizado, com segurança na entrada do estabelecimento e um garçom que nos recebe e nos acompanha até a mesa, são detalhes que já enriquecem o local, demostrando acolhimento e hospitalidade. Estes pequenos gestos de polidez e civilidade são diferenciais em qualquer estabelecimento de restauração e muitos empresários do ramo não os atendem considerando-os supérfluos.

No Bosco, o cardápio é bastante extenso e representativo da culinária italianíssima, divide-se nas seguintes sessões: antepastos; bar da cozinha; bar do forno à lenha; saladas; gnocchi; massas frescas recheadas; massas do bosco; risotos; especialidades; grelhados e sobremesas.

Antepastos: Pão de folhas do Bosco (massa finíssima e crocante, assada em forno à lenha coberta com parmesão e limão Siciliano ou gorgonzola e azeitonas); porção de pão da casa.

Com o lema “uma grande especialidade faz parte da nossa história”, o bar da cozinha contempla as seguintes porções: polenta frita (aromatizada ao alho e alecrim); bolinho de bacalhau (acompanhado de molho picante de pimentão); cumbuca de calabresa (puxada no azeite com cebolas roxas, azeitonas pretas, vinho tinto, tomates frescos acompanhadas de pão italiano); camarão da adega (exclusividade Bosco) gratinado no forno à lenha ao azeite e ervas; crocante de filé mignon (à milanesa servido aperitivo com três molhos: mostarda, gorgonzola e quarto queijos); Dorata (iscas de filé gratinadas em forno à lenha); e os clássicos: carpaccio e canapés de carpaccio.

A exclusividade do Bosco é o bar do forno à lenha e nele você poderá apreciar a brandade de bacalhau (desfiado com bacon, creme de babatas e ervas finas gratinado); berinjela ao forno (berinjela e abobrinha marinada em azeite extra virgem, alho e hortelã, cobertas com muçarela, salpicadas com parmesão e assadas); Panzotti de queijo e carioca (travesseiros de massa da casa recheados e assados no forno à lenha); e as bruschettas: pomodorini, affumicata (berinjela marinada em azeite e ricota defumada), mozzarella e funghi, Donna Oliva (com presunto defumado, catupiry e muçarela), paulistana (com tomate cereja, muçarela, azeitonas pretas, manjericão).

Saladas: Bosco (alface, rúcula, tomate, palmito, prejunto cru, azeitonas, parmesão e manjericão); americana (alface americana, frango em cubos grelhados, palmito pupunha, tomate seco, lascas de parmesão, croutons e molho especial de mostarda francesa); Bacalhau (alface americana, lascas de bacalhau marinado em azeite extra virgem, cebola roxa, tomate seco, palmito pupunha e molho pesto).



Como boa casa italiana, as massas frescas e recheadas são de fabricação própria, exceto o penne que é grano duro importado. Do rol das massas frescas recheadas, cito: o parpesto (ravióli de muçarela ao molho pesto, presunto parma e parmesão); ravióli da casa (recheados com camarão e abobora ao molho de tomate fresco e manjericão); lasagne (recheada com carne assada e desfiada, muçarela, parmesão e creme de queijo gruyére) seve duas a três pessoas. Das massas frescas (tagliolini, fettuccine e penne) você poderá escolher o molho de sua preferência: camberi (camarão), baccalà (bacalhau), provençal (com camarão), quatro queijos, pomodoro, piccata (filé ao poivre), napolitana, carbonara (com polpetinhas), calábria (linguiça calabresa picante), siciliano (salmão confitado ao creme de alho poró e limão siciliano) e alla Norma (berinjela, ricota picante e azeitonas). Os gnocchis: paulista (de batata); zucca (de abobora); de camarão e à moda do Bosco.

Com um bom arbóreo se faz muitos risotos: de parma e aspargos; camberi; rosso (com frutos do mar); quatro queijos ao piccata e cogumelos; Bosco (com bacalhau); tricolore (com muçarela de búfala, tomatinhos confitados e rúcula); português (com linguiça paio deglaçado com vinho cabernet sauvignon); e funghi.

Entre as especialidades, temos no cardápio: arroz cremoso, filé parmagiano, bacalhau do Bosco, e saudade do verdadeiro strogonoff; e os acompanhamentos especiais para acompanhar os grelhados: batatas assadas acompanhadas de molho branco, fettuccine na manteiga, risoto ao tomate e parmesão, legumes grelhados ou brócolis com palmito fresco.


Grelhados: filé ao poivre, mostarda, gorgonzola suave; trio de filé (escalopes com os três molhos citados); prime rib premium (corte especial da bisteca padrão norteamericano); bife ancho e bife de vacio (cortes argentinos); carré de cordeiro ao molho de hortelã; filé de frango; salmão; robalo e camarão.

Para a criançada, o cardápio apresenta o bosquinho filé e o bosquinho fettuccine com polpetinhas de carne. 

As sobremesas são de dar água na boca nos adultos e nas crianças: tortinha beliscão (tortinha de goiabada com calda de requeijão e sorvete); crepe de doce de leite; gosto de infância (porção de minichurros); petit gâteau de chocolate com sorvete de creme; abacaxi na lenha com sorvete e crocante e taças simples de sorvete.

Estando em Araçatuba ou recebendo um visitante, esta será uma ótima opção e experiência gastronômica do forno à cozinha! Venha conferir e, quem sabe, nos encontraremos por lá, ou em algum outro restaurante que apresentaremos na próxima semana.

SERVIÇO: Segunda a Sábado das 18h às 24h e aos Domingos das 12h às 16h. Delivery somente aos domingos das 11h30 as 15h30. Fone: (18) 3608-1718. Facebook page.

sábado, 28 de setembro de 2013

São nossas viagens de leitura que nos constituem!

*Professora efetiva da Educação Básica e mestranda em Educação pela Unesp

Prezado leitor,
Olá!

Caminhamos até aqui refletindo um pouco sobre a oralidade, a leitura e a escrita, adentramos às temáticas “práticas de leitura” e “contação de histórias” e perpassamos pela literatura infantil apresentada às crianças de educação infantil.

Também refletimos sobre o trabalho educativo desenvolvido pelos professores e demais profissionais da educação que atuam junto às crianças de 0 a 5-6 anos de idade e que se fazem significar na formação destes pequenos leitores.

Bem, hoje não quero falar especialmente àqueles que se dedicam ao ensino, mas desejo falar a todos que separaram alguns minutos do seu tempo para ler e refletir comigo o assunto apontado aqui neste texto.

Para isso, algumas indagações são necessárias para você relembrar a sua formação leitora:

Gosta de ler, ouvir histórias e/ou escrever? Quem são as pessoas e os lugares que contribuíram com a sua formação leitora? Quais os portadores de texto a que você teve e procura ter acesso? Quais os gêneros textuais a que mais lhe agradam? Enfim, diga: Qual é a sua história? Que leitor é você?

Todos nós temos uma história de leitura, de escrita, que faz parte da nossa vida!

Não há uma história melhor ou pior que a outra. Já comentei isto outro dia.

Podemos ter tido uma história de leitura e escrita repleta de dissabores, no entanto, se acreditamos que cada leitura feita, cada pesquisa realizada, cada aprendizagem compartilhada, tudo contribuirá para continuarmos a constituir nossa história, a verdade é que sempre devemos buscar novos conhecimentos que podem ser obtidos das muitas “viagens” que fazemos por meio de nossas leituras!

Comecemos agora. Há textos diversificados e significativos para ler.

Convido a você, leitor assíduo ou efêmero deste blog, a compartilhar suas experiências de leitura com todos ao seu redor e assim escrever a sua história!

Até a próxima!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

AS CASAS DOS ANOS 1990

* Graduando em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie
Com saudade de vocês depois do hiato de semana passada. Mas enfim, vamos continuar nosso papo sobre casas. Depois de um longo período da estética modernista e de um “espirro” do movimento pós-moderno na segunda metade do século passado, a década de 1990 começa a mostrar o equilíbrio entre as elucubrações filosóficas e a construtibilidade arquitetônica. A ideia-chave do modernismo permaneceu, mas as postulações e reflexões dos pós-modernos amadureceram e saíram do lugar da filosofia e passam para o lugar de arquitetura.

Equilibradamente, as casas da década de 1990 carregam um respeito à tradição moderna, mas não deixam de explorar os detalhes. Não é mais uma discussão sobre a forma, tampouco sobre a função. Agora, discute-se a textura, a temperatura, a luz, o cheiro e todas as sensações, de modo que os critérios pós-modernos são incorporados numa estética moderna.

Na Casa Gerassi, o brutalista Mendes da Rocha transparece sua maior característica: o concreto aparente. O desenho é simples mas bastante sofisticado. Na segunda obra, uma casa com a planta em formato de Y, Steven Holl reveste todas as paredes exteriores com chapas metálicas na cor vermelha, e deixa as extremidades, que são varandas, vedadas com vidro. Na última casa, o escritório SANAA traz para a década de 1990 a tradição japonesa a partir de um ambiente mais minimalista e visualmente limpo. 

No próximo artigo, falaremos sobre as casas de 2010. Será o último artigo da série sobre Casas.










quinta-feira, 26 de setembro de 2013

*Contadora de Histórias e Artista Plástica

Esta semana falaremos do artista plástico Henry Mascarós. Ele tem formação acadêmica na área do Direito, mas não exerce a profissão de advogado; o que tem paixão por realizar mesmo é seu trabalho com artes plásticas, o que o motivou a desenvolver uma formação livre como autodidata. Dedica a  sua vida ao ensino, produção e aprendizagem em arte, por meio de cursos e similares voltados, principalmente, na utilização de materiais e técnicas. Ele é desenhista, pintor e escultor. Henry gosta muito dos grandes mestres, como Picasso, Salvador Dali, Klimt, Van Gogh, Portinari, entre tantos, mas enfatiza um fotógrafo, longe da zona de conforto, Joel Peter Witk

Participou de muitas mostras,  algumas individuais e outras coletivas, mas só para citar algumas, esteve presente na mostra do Centenário de Araçatuba, Olhar Arte, Mapa Cultural e Culturaça.

Henry, hoje, exerce a função de Diretor de Cultura de Araçatuba, tomando praticamente todo o seu tempo; por isso, os projetos pessoais estão mais voltados para a gestão. Na produção artística, o que acontece quando não se cobra muito tempo é que ele rabisca muitos projetos que serão desenvolvidos em uma outra ocasião, como por exemplo: planeja ilustrar alguns textos que têm, e também está projetando um espaço para um atelier.

Para Henry, arte, fazendo uma analogia, é como quando um grão de areia que entra numa ostra e causa muito desconforto, então ela o encapsula e o trabalha até que ele se torne uma pérola. A arte é a perola. Em nossa vida, todas as nossas percepções do mundo, aquilo que nos atinge, seja de forma boa ou ruim, é processado, digerido e depois destinado. Em alguns casos, isso vira "assassinato em série", em outros vira tumor, e em alguns casos se transforma em Arte. 

Henry percebe que, "se formos avaliar o potencial que as Artes Plásticas têm no papel transformador, assim como outros segmentos artísticos, creio que somente uma pequena fração está sendo utilizada, ou subutilizada de maneira bacana. O restante, a maioria, é apenas oportunismo. As Artes Plásticas estão em um momento difícil, onde tem-se a impressão de que tudo já foi feito, mas, ao mesmo tempo, com o surgimento e avanço tecnológico, novas técnicas e possibilidades abrem caminho para novos horizontes". 

Segundo Henry, o Brasil é uma potência artística, temos uma arte espiritual presente, somos gigantes, porém desperdiçamos todo esse potencial por falta de estrutura, falta da devida valorização da Arte, do artista e do fomento artístico, desde o fazedor até o consumidor. No dia que a Arte for ensinada nas escolas, inserida na grade com mesmo valor que a alfabetização, no dia que ensinarem o nome e a história dos artistas juntamente com o dos heróis nacionais, aí sim estaremos no caminho certo.

Henry tem um misto de sentimentos quando pensa nas Artes em Araçatuba. Primeiro tem um profundo pesar, uma tristeza enorme em presenciar décadas de ostracismo artístico e cultural, onde apenas alguns grupos isolados produziam de forma quixotesca. Ao mesmo tempo, se sente feliz, a seu ver, com o fim desse período, iniciando, recentemente, uma etapa de resgate e reconstrução das artes. Pessoas novas estão surgindo, políticas de apoio voltaram a figurar no cenário das Artes, estruturas estão sendo criadas, é só um começo ainda há muito a se fazer, na opinião dele.

Para Henry, as pessoas precisam entender primeiro o valor da Arte, o valor transformador da Arte, humanizador... Somente a partir daí é que "podemos pleitear alguma atitude realmente séria e eficaz para mudança de cenário".  

Segundo Henry, sem Arte não seríamos humanos. Vê a Arte como o grande fator que nos tira da animalidade, nos humaniza. Quanto mais Arte, mais cultura, mais humanos ficamos.

Henry tentou por muito tempo buscar essa espinha dorsal, algo que fosse a linha condutora, muitas vezes se fixou em alguns dogmas para produzir seu trabalho, mas hoje vê essa ideia somente como uma fase de aprendizado. Buscou isso somente para perceber que não lhe serve. Se aparecer alguma regra, algo do tipo que seja forte o suficiente para que ele se atenha a ela, então o fará, senão continuará experimentando e criando com liberdade. 

Henry é artista, antes de qualquer outra coisa, nasceu artista, morrerá artista, não é um hobby, não é terapia ocupacional, não é atividade paralela. Em alguns momentos se sustentou satisfatoriamente com a Arte, em outros não conseguiu, depende do momento, do lugar, da ocasião... Ele é autodidata, está sempre aprendendo, pesquisando, estudando, fazendo Arte. Outras coisas vêm e vão, outras profissões surgiram no caminho, como a faculdade de Direito, por exemplo, mas isso sim é circunstancial, a Arte é permanente.

Quando possível, Henry usa todos instrumentos, sem restrições: tem blog, flickr, está preparando um site, usa facebook, enfim tudo que pode para divulgar seu trabalho. Considera extremamente importante a comunicação, mesmo que ela seja somente através das exposições, da obra em si, toda maneira de comunicação é vital; afinal, a obra nada mais é que uma das maneiras de o artista se comunicar com o mundo.

Para Henry, a obra “Criança Morta", de Portinari, é a melhor. Considera Portinari ainda melhor que Picasso; essa obra é muito comovente, sem falar na técnica; cada centímetro da tela parece esculpido com a força que emana dos personagens e uma tristeza pungente.

Algumas obras do artista:










quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O IMPORTANTE É CINEMAR...

*Professora universitária e mestre em Mídia Digitais
Durante muito tempo no Brasil, assistir a um filme estrangeiro significava se preparar para uma longa sessão de leitura, pois os filmes eram legendados. Com exceção dos filmes infantis e algumas produções de desenhos animados, os filmes dublados só eram encontrados na televisão aberta. Porém, nos últimos anos, a prática começou a mudar.

A estreia de alguns sucessos na tela mostra essa nova realidade, como Os Vingadores (2012), que teve mais de 1.150 cópias lançadas no Brasil e, destas, aproximadamente 673 eram dubladas. O filme foi um sucesso e superou as expectativas nas telas brasileiras. A superprodução da saga para adolescentes, Crepúsculo: Amanhecer Parte 1 (2011), também seguiu a estratégia para conseguir conquistar o público, e quase dois terços das cópias lançadas eram dubladas; e pasmem, elas faturaram mais que as legendadas.

Por esse motivo, e para atrair um público maior, o cinema tem investido muito nas sessões dubladas, e já está ficando difícil encontrar uma sessão de filme legendado.


Só para se ter uma ideia, no filme Os Vingadores, há muitas cenas de violência e pouca conversa; mesmo assim contém em torno de 50 mil caracteres de legenda; equivalente a 30 páginas de um livro. O público brasileiro, que não está acostumado, acha muita leitura para duas horas de filme; imagine os filmes que contém mais cenas de diálogos... preferem nem assistir.

Nessa nova fase do cinema, a voz triunfa sobre a escrita (legenda) e já reflete uma nova demanda de espectadores, aonde, segundo pesquisas do Instituto Datafolha, 56% do público preferem os filmes dublados. 

Talvez a justificativa seja o novo perfil da classe média, que passou a frequentar mais o cinema e traz junto com ela o hábito de assistir a filmes dublados na tevê aberta. Outra forte justificativa é que, sem ter que prestar atenção na leitura, o espectador consegue observar mais detalhes durante o filme, como a expressão corporal e facial do personagem, o figurino, a fotografia, o cenário e até consegue se identificar mais com a trilha sonora; isso porque, ao assistir a um filme, é preciso se concentrar em todos os elementos que a produção oferece.

Em alguns países como Alemanha e Itália, prevalece a dublagem nos filmes e, na Espanha, a escolha pela dublagem foi decisão política para defender o idioma; a lei caiu, mas o hábito ficou.

A produção brasileira de dublagem ajuda. Ao contrário dos hispânicos, que carregam no drama latino na interpretação dos personagens, os brasileiros procuram interpretar com naturalidade, e isso é um grande diferencial quando chega aos nossos ouvidos. As novas tecnologias também ajudam muito, pois hoje é possível apenas substituir a faixa da voz,  o som ambiente permanece o mesmo, antigamente se perdia muito do som do filme de maneira geral. A preferência também cegou aos canais de tevê por assinatura, mas com uma vantagem: a disponibilidade da opção de legenda pelo controle remoto.

Como tudo tem os dois lados, os amantes dos filmes legendados não estão felizes com essa tendência e já começam a reclamar. Por esse motivo, as produtoras precisam ter muito cuidado ao selecionar um dublador, pois não é nada fácil dublar Mery Streep, Sean Penn ou Al Pacino sem causar prejuízo à sua interpretação. 

O cuidado deve ser o mesmo também na seleção de artistas famosos para a dublagem, porque ninguém merece ouvir um personagem e imaginar outro. A voz muito conhecida no meio artístico pode trazer um enorme prejuízo para a dublagem.


Mas não tem jeito, a necessidade de mudar está aí e não tem como passar batido. O público pede, e cabe à indústria cinematográfica se profissionalizar para oferecer o melhor serviço de dublagem possível e tomar o máximo de cuidado para que a dublagem inadequada e sem qualidade  não espante o público das salas.

Como nem tudo está perdido, a opção para quem prefere os filmes legendados em pouco tempo, será as salas longe dos shoppings e com o foco de atender a esse público que, em breve, será específico. Não vamos esquecer, com voz ou com legenda, tanto faz, o importante é cinemar...

Boas escolhas e até a próxima semana!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

LIVROS DO PROFESSOR E VALE-CULTURA

*Jornalista e escritor

Na semana passada, comecei uma discussão sobre a presença de bibliotecas e livrarias nos municípios, externando um pouco do meu desconforto em relação ao discurso de uma parcela de profissionais que reclama da ausência desses equipamentos públicos nas cidades, mas que participa muito pouco do que é oferecido nessa área. Há, por exemplo, os que não se importam em pagar 200 ou 300 reais numa peça de roupa, mas que não tiram 20 ou 30 reais do bolso para comprar um livro por mês. Isso em se tratando de literatura, sem mencionar outras artes, como concertos, peças teatrais, obras de arte etc...

E se for de graça? Você acha que, ainda assim, a “criatura” aceita o livro? E se eu disser que “não”? Vai achar exagero? Pois bem, recentemente passei por uma experiência assim e fiquei “de cara”. A Secretaria de Estado da Educação tem um programa muito legal que envia livros de literatura e poesia para todos os estudantes e professores da Rede Estadual de Ensino.

Imagine receber obras de Clarice Lispector, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Dalton Trevisan, João Ubaldo Ribeiro, Luis da Câmara Cascudo, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Luis Borges, Lygia Fagundes Teles, Cecília Meireles, entre tantos outros nomes importantes e enriquecedores do panteão nacional e universal e, algumas delas, ir para o... lixo. Isso mesmo. Para o lixo.

Muitos alunos chegam pra gente e oferecem: “Quer pro senhor, professor?”, mesmo a gente insistindo para que eles fiquem com o livro, falando sobre a importância de se ler obras em casa, dividir daquele saber com a família e tal. Aí, talvez para não nos contrariar, de pronto, ficam; mas é só dar um giro em volta da escola, ou olhar sob carteiras em sala, que lá tem um exemplar novinho, com o vinco da capa ainda por ser dobrado.

Ficou assustado, prezado leitor? Então é melhor você se sentar para não cair no chão: não é só aluno que faz isso, não. Já vi professor preterindo livro “porque não gosta de poesia”, “porque não é um livro ou autor que me interesse”. Há alguma coisa que justifique abandonar um livro? A meu ver, não. Sobre o mesmo assunto, ouvi uma colega dizer, certa vez, que preferia a parte dela em dinheiro a receber livros do governo. Certamente, caso recebesse em dinheiro, não seria usado para comprar livros.

Recentemente, foi aprovado pelo Ministério da Cultura o “vale-livro”. Várias empresas já aderiram ao sistema que consiste na emissão de um cartão magnético que poderá ser utilizado para compra de livros, CDs, DVDs, peças de artesanato, entradas em shows, peças de teatro e outros. Do mesmo modo que no caso citado antes com os livros, acontecerá de alguns o recusarem ou doarem para alguém que “goste de cultura”.

Apesar disso tudo, creio que esse ainda é um caminho razoável para quem quer consumir cultura, mas não tem “coragem de gastar” seu dinheiro com “algo secundário".

Não adianta – insisto nisso – ficar reclamando pelos cantos que o governo não faz isso, que a gente precisa daquilo, que essa cidade não tem nada e tantas outras “carranquices” que não contribuem efetivamente na melhoria do quadro.

Nesta terça-feira (24), teremos mais uma oportunidade de cultura com qualidade em nossa cidade, Araçatuba. Um quarteto de cordas fará apresentações, por meio do Projeto Instrumental Clássico do Estado de São Paulo, a partir das 20h, no Teatro Municipal Castro Alves. Os ingressos serão trocados por um quilo de alimento não-perecível.

Não perca!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

WILHEM RICHARD WAGNER

*Professora de música e regente de coral, formada pelo Instituto de Tatuí

Em 2013 comemoramos vários aniversários importantes do mundo musical. Na semana passada falamos sobre o bicentenário de nascimento de Verdi e hoje, conversamos sobre o bicentenário do nascimento de Richard Wagner. 

Ele nasceu na cidade de Leipizig – Alemanha, no dia 22 de miao de 1813. Viveu em Dresden a maior parte de sua infância. Entre 1843 e 1849 foi o diretor do coro da capela real. Ali ele também estreou suas óperas “Rienzi”, “Der Fliegende Hollander” e “Tannhauser” e compôs parte da sua ópera “Lohengrin”. 

Richard Wagner – compositor alemão (1813-1883)

Vamos começar ouvindo a Die Walküre de Wagner - "Der Ring des Nibelungen" (O Anel do Nibelungo) – é um ciclo de quatro óperas épicas.   A maior, mais grandiosa, drama musical de suas composições operísticas. 


The Ride of the Valkyries from Wagner's Ring Cycle at the Met

Wagner foi, sem dúvida, um dos músicos mais influentes da história da música. Grandes compositores, escritores, artistas foram de alguma maneira influenciados por ele, tanto os que declaradamente o admiravam como os que o odiavam, como Claude Debussy. Até mesmo o grande rival de Wagner, Verdi, foi influenciado, podemos observar isso em sua obra, escrita após a morte de Wagner: Ópera Otello. 

A obra de Wagner não foi de pronto aceita. Ela trazia em sua sonoridade as nuances de sua determinação e ambição. Ambição constatada na construção, em vida, de um teatro para a apresentação de suas obras, tendo em vista que nenhum teatro comportava a montagem de suas operas.


A personalidade marcante de Wagner e sua ambição fazia-o ser amado e odiado. Nietzsche, que no início o endeusava, tornou-se seu inimigo ao descobrir que Wagner implorava favores ao rei da Baviera Ludwing II.  Wagner também era escritor - ele mesmo escreveu os libretos de todas as suas operas. 

É interessante conhecer sua obra em prosa a fim de conhecermos melhor a mente desse brilhante compositor. Ele escreve sobre diversos assuntos. Escreve sobre o vegetarianismo, a valorização da mulher, a maneira como a arte deve ser encarada, e até sobre judaísmo, aliás, escrever sobre esse assunto lhe valeu até hoje a proibição da execução de suas obras em Israel. Mesmo com essa proibição vale a pena lembrar que Wagner escolheu um maestro judeu para reger a estréia de sua ultima ópera: Parsifal (1882). Esse maestro era Hermann Levi. 

Há uma discussão em torno da obra e vida de Wagner com relação ao nazismo, já que seus descendentes e sua viúva eram declaradamente apoiadores do racismo. Sua mulher, Cosima, que era filha de outro importante compositor: Franz Liszt era declaradamente apoiadora de Hitler. Sua nora Winifried que se casou com o filho de Wagner para disfarçar seu homossexualismo, promoveu definitivamente a “nazificação” da obra de Wagner, levando inclusive papel para que Adolf Hitler escrevesse na prisão sua obra fundamental “Minha Luta” (Mein Kampf). 

É importante que consideremos a profunda beleza de sua obra a despeito do envolvimento de seus descendentes com o nazismo. Como já dissemos, ele era o autor dos próprios libretos de suas óperas e segundo Nietsche, as óperas de Wagner mostram o renascimento da tragédia grega em pleno século XIX.

Conversamos hoje de forma sucinta sobre esse brilhante compositor que faz aniversario nesse ano, mas deixo uma dica aos queridos leitores: vale a pena pesquisar sobre a vida e obra de Richard Wagner. Tenho certeza que conquistarão não só conhecimentos musicais, mas descobertas históricas relevantes, inclusive para entendermos melhor suas composições e a influência de sua obra em músicos, artistas, pensadores transformando o formato musical da musica erudita, especialmente a opera.

Termino nossa conversa de hoje compartilhando mais duas belíssimas composições de Wagner para coro: 

A primeira é da ópera “Tannhäuser” – Coro dos Peregrinos:


A segunda é da ópera “Lohengrin” – Marcha nupcial:


Até a próxima semana. Abraço. 

domingo, 22 de setembro de 2013

Dona Oliva: pizzaria gourmet

*Professor universitário e mestre em Turismo e Hotelaria
Discordando do dito popular “tudo acaba em pizza”; o artigo deste domingo reinicia a temática “Serviços de alimentação – restaurantes”. Apresento a você, leitor, a pizzaria Donna Oliva de Araçatuba (SP). Confesso que foi um dos primeiros lugares que conheci quando cheguei aqui, no ano de 2005, em terra de Araçás para trabalhar no curso de Turismo do Centro Universitário Toledo. Após a reunião pedagógica do início daquele ano letivo fui convidado para comer uma pizza e, assim, conhecer melhor os colegas de trabalho e a cidade.


A casa está localizada na avenida da Saudade, 1225  - uma das principais vias da cidade, no jardim Nova Iorque, um bairro residencial de alto padrão. A fachada do local logo chama a atenção pela singularidade “um galpão de tijolos rústicos à vista” lembrando aqueles das antigas propriedades rurais do interior paulista, porém com um ambiente interno bem ornamentado e aconchegante, o teto retrátil favorece a ventilação tornando a climatização do ambiente muito agradável mesmo com as noites quentes desta região do estado. 

Fundada em 6 de outubro de 2004 com a missão de “preparar incomparáveis pizzas tradicionais com ingredientes de qualidade, selecionados com cuidado, ambiente agradável e atendimento que faz você se sentir em casa”, a pizzaria está sempre aberta a esperá-lo. Isso mesmo, ela funciona todos os dias da semana, das 18h às 24h, com o lema “um brinde à pizzaria que une e reúne amigos, amores, família e negócios”.

O atendimento é cortês e ágil, “difícil encontrar atendimento como este por aí”; os garçons atendem com muita simpatia e, sem sombra de dúvidas, o chope é o melhor da cidade! A pizzaria também dispõe de uma excelente carta de vinhos, dos bons nacionais aos de renome importados que caem muito bem com a divinal massa servida na casa.

O cardápio traz como sugestão de entrada o "carioca", que são mini calzones recheados com camarão, catupiry e palmito, acompanhados de rúcula e tomate seco; do boteco: salame italiano, copa artesanal, provolone e lascas de parmesão acompanhado de massinha assada em forno à lenha; berinjela ao forno, que surpreende os paladares mais exigentes (berinjela e abobrinha marinada em azeite extra virgem, alho e hortelã, cobertas com muçarela, salpicadas com parmesão e assadas em forno à lenha); e outras opções, tais como: calabresa ao forno, provoleta, carpaccio etc.

Outras sessões do cardápio são a de saladas, cornecciones e bruschettas; entre elas destacam-se a tradicional salada caprese: rúcula, tomate caqui, muçarela de búfala, pesto de azeitonas pretas e manjericão; a do Bosco, com alface, rúcula, tomate, palmito, presunto cru, azeitonas, parmesão e manjericão; o corneccione Donna Oliva: massa fina de pizza assada em forno à lenha com azeite extra virgem, tempero especial de limão, pimenta e parmesão; corneccione do branco com azeite extra virgem, sal grosso e alecrim. A bruschetta tradicional é claro, a "pomodoro" tomate em cubos, azeite, manjericão e parmesão; e a Moóca com gorgonzola, rúcula, parmesão e presunto tipo parma.


As seleções de pizzas tradicionais e especiais são de muito bom gosto e você pode optar por massa na espessura fina ou tradicional e com borda simples ou recheada com catupiry ou queijo cheddar nos tamanhos grande com oito pedações ou média com seis pedaços. Os ingredientes usados na preparação são de ótima qualidade. As pizzas tradicionais são: muçarela, marguerita, napolitana, alho e óleo, presunto e queijo, calabresa, atum, romana, catupiry, frango ao catupiry, escarola, portuguesa e quatro queijos. 


São vinte e nove tipos de pizzas especiais; apenas citarei aqui as que mais aprecio, mas fica a dica – vale a pena conferir o rol completo! Caprese: molho de tomate pelati, muçarela, tomate caqui, muçarela de búfala, pesto de azeitonas pretas e manjericão gigante; primo basílico: molho de tomate pelati, muçarela especial, tomate caqui e presunto tipo parma; Donna Oliva: molho de tomate pelati, muçarela especial, presunto defumado tipo alemão e catupiry; fiorentina: molho de tomate pelati, muçarela de búfala, picanha defumada artesanal, cebola roxa e pesto rústico de manjericão; parma e funghi: muçarela especial, shitake marinado em azeite e alho, presunto parma e salsa; Don Corleone: molho de tomate pelati, muçarela especial, bacon artesanal, catupiry, tomate em cubos e parmesão; e a do Bráz: molho de tomate pelati, abobrinha fatiada marinada em alho e óleo, muçarela especial e parmesão.


Nada como um bom azeite para regar as redondas... além do puro extra virgem a casa oferece azeites aromatizados com alho e pimenta malagueta que conferem um sabor adicional inigualável.

Na página de sobremesas, não poderia faltar a banana ao forno caramelada servida na própria casca assada em forno à lenha acompanhada de sorvete com calda de chocolate e farofa; petit gâteau de chocolate e de doce de leite e a taça americana com duas bolas do sorvete de sua preferência.

Mas não se assuste se em um dado momento da refeição você ouvir uma bandeja cair no chão, seguido de um sonoro “parabéns a você” em ritmos de jazz e blues! Tornou-se a marca registrada da casa a comemoração de aniversários distintos, nos quais os garçons fazem a festa, acompanhando os parabéns, o que chama a atenção de todos do recinto.

O sucesso da casa em Araçatuba foi tão promissor que o empresário franqueou a pizzaria para as cidades de Presidente Prudente e Marília. E, ainda, diversificou os negócios abrindo um outro restaurante na cidade, este parceiro de Donna Oliva é o restaurante “Bosco – forneria e cucina”, mas isto é “cena do próximo artigo”.

Bem, hoje ficamos por aqui saboreando uma excelente pizza para coroar o domingo. Aprecie você também!

SERVIÇO: Todos os dias, das 18h às 24h. Delivery: (18) 3621-4881 (não cobram a entrega e levam a máquina para pagamento à cartão). Home page: www.donnaoliva.com.br. Facebook page.

sábado, 21 de setembro de 2013

REESCREVER SEMPRE É BOM

*Professora de Língua Portuguesa e escritora

Reli o conto “A CHINELA TURCA”, de Machado de Assis, editado, pela primeira vez, em 1875. Temos ali um bom enredo e de fim inesperado, como os contos desse mestre na arte de narrar histórias e no uso perfeito da Língua Portuguesa.

Embora não seja a análise do conto o mais importante para este texto que escrevo para vocês, posso resumi-lo em poucas palavras: Duarte, um bacharel, estava apaixonado por uma bela moça e ia a uma festa para dançar com ela. Uma visita inesperada impediu-o de ir. Era o major Lopo Alves, que intimou o rapaz a ouvir uma composição literária que fizera para teatro, de cento e oitenta páginas. Ao ouvi-lo, Duarte adormeceu e teve um sonho, mas isso só é revelado ao leitor no final do conto.

A história é muito interessante, mas os detalhes de sua composição o são mais ainda. Machado de Assis o compõe de falas do romantismo quebradas pelo realismo da narrativa e de "deixas" que derrubam qualquer vestígio de “melosidade” dos escritores românticos.

O trecho que vai nos interessar mais é a descrição da moça pela qual nosso herói está apaixonado. Vejam: 

Duarte estremeceu, e tinha duas razões para isso. A primeira era ser o Major, em qualquer ocasião, um dos mais enfadonhos sujeitos do tempo. A segunda é que ele preparava-se justamente para ir ver, em um baile, os mais finos cabelos louros, e os mais pensativos olhos azuis, que este nosso clima, tão avaro deles, produzira. Datava de uma semana aquele namoro. Seu coração, deixando-se prender entre duas valsas, confiou aos olhos, que eram castanhos, uma declaração em regra, que eles, pontualmente,  transmitiram `a moça, dez minutos antes da ceia, recebendo favorável resposta logo depois do chocolate.  Três dias depois, estava a caminho a primeira carta, e pelo jeito que levavam as cousas, não era de admirar que, antes do fim do ano, estivessem ambos a caminho da igreja.

A visão romântica da moça, de seus cabelos louros, seus raros olhos azuis já diferem muito de qualquer descrição atual que um apaixonado faz de sua amada, se você estiver atento aos valores de beleza exigidos para as mulheres de hoje. 

O processo da conquista também está muito longe do utilizado em nossos dias (talvez a única coisa com imagem atualizada seja o período que os dois levaram para se apaixonarem).

Quanto à comunicação, olhares e cartas, hoje só permanece a primeira, embora de jeito diferente; a comunicação via internet também se diferencia da via usada pelo nosso herói.

Finalmente, o vocabulário, com palavras não mais utilizadas no dia a dia de nosso povo, merece especial atenção do leitor: cousas, louros... 

E daí? A que chegamos?  A minha proposta: vamos reescrever esse texto machadiano com se fosse uma história dos dias de hoje? Eis o desafio. Envie-nos seu texto. Prometo que no próximo artigo exponho o meu.

Um abraço,  Marilurdes.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

As lições que vêm da natureza

Hoje, por motivo de força maior, o Márcio Fontão não escreve por aqui. Desse modo, divido com vocês uma de minhas crônicas, publicadas na Revista Dhecore deste mês, na coluna Arquitetando. Forte abraço e boa leitura.

As lições que vêm da natureza
Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Assisti, certa vez, a uma palestra de um arquiteto que falava sobre cores. Logo de cara, projetou um slide com a imagem de um pássaro lindo, todo colorido, dez, doze cores diferentes, e perguntou: “Querem acertar na escolha das cores em seus projetos? Observem a natureza”.

E coexistiam cores naquele pássaro que, talvez, a maior parte dos arquitetos e designers não utilizaria em seus projetos. Cores vibrantes e intensas, que se relacionavam perfeitamente em suas complementaridades.

Outra vez, entrevistando Ruy Ohtake, ele me alertou: “O arquiteto brasileiro tem medo da cor. O Brasil é um país tropical, mas tem medo da cor; usa a cor timidamente”. Modismos, ausência de identidade própria, ou ainda repetição de padrões europeus ou norte-americanos como forma de “ser chique”; isso e mais um pouco desviam arquitetos, designers e paisagistas brasileiros de uma arte mais nossa, de um projetar mais tupiniquim.

Só que o Brasil “está na moda”! É hora de rever conceitos. O mundo está nos paparicando.

A bola da vez, em arquitetura, são as construções sustentáveis. É um tipo de discurso que, saindo do discurso, irá fazer muito bem para todos nós. E aí está algo que é contraditório na arquitetura contemporânea: atender ao individualismo e ao narcisismo exacerbado e, ao mesmo tempo, beneficiar um todo social. Como fazer com que os projetos, ainda que pessoais, façam bem para coletividade? Que, mesmo atendendo a questões de “personalizações”, de “bem exclusivo”, ainda assim deixem um saldo positivo para os que não têm acesso a ele? Talvez uma das respostas seja mesmo a sustentabilidade. O não agredir tanto à natureza, o facilitar a circulação de pedestres, o ir e vir etc. constitui-se em grande ajuda.

Os índios nos ensinam isso há séculos, mesmo antes de aportarmos por aqui. Construções para uso coletivo, sem “suítes martes”, sem “espaços gourmets”, sem “platôs”, piscinas particulares e tantos outros componentes-símbolo de ostentação e segregação. Dormem em redes, conversando e rindo até que todos peguem no sono. Comem num grande círculo, com alimentos cultivados, colhidos e preparados por eles próprios; o dividir do pão é algo sagrado e não se limita a um fastfood, com horários corridos e desencontros familiares. Banham-se em rios e cachoeiras e, sobre vales e chapadões, miram o mundo no final do dia, encerrado com um pôr do sol.

Olhemos os lírios dos campos, observemos o joão-de-barro... quão harmoniosas e eficazes são suas edificações. E os condomínios construídos por abelhas e maribondos? As formas escolhidas, as simetrias multiplicadas, formam rendas arquitetônicas de causar inveja a muitos construtores.

Calatrava se inspira na natureza. Gaudí se inspirou na natureza. Niemeyer encheu de natureza as curvas de suas edificações.

Antonio Luceni é mestre em Letras, jornalista e escritor. Graduando em Arquitetura e Urbanismo e pós-graduando em Arquitetura e Cidade.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

MARILEIDE DOSSI

*Contadora de Histórias e Artista Plástica
Olá pessoal, tudo bem? Gostaria de apresentar esta semana para vocês a artista Marileide Dossi, que tem formação acadêmica em estudos sociais pelo Centro Universitário Unitoledo.  Fez vários cursos  livres na área de Artes Plásticas, a saber: 1993 a 2002 com Márcia Porto; 1997 Nu Feminino, com Silvia Matos; 2001 Desenho com modelo vivo, com Arnaldo Aparecido filho; 2002 Arte Contemporânea, com Márcio Gianotti.

Marileide tem como preferidos os artistas renomados Leonardo da Vinci, Rembrandt e Lucian Freud.

Mostras das quais participou: 
1995 – Onze + 1 Espaço Cultural Audi/Colaferro; 
1996 – Teatro Municipal Floriano Camargo Arruda Brasil;
1997 – “Mulher Arte” – Fare Arte;
1998/99 – Araçatuba Shopping center;
2000 – Teatro Municipal Floriano Camargo Arruda Brasil e Newton’s Pizzaria;
2002 – 9º Salão de Arte Contemporânea São Bernardo do Campo (Catalogada);
2002 – “O cotidiano de uma mulher”  - Araçatuba Shopping Center e Biblioteca Municipal;
2003 – banco Real
2008 – “Araçatuba 100 anos – Retratos”.

Marileide tem como projeto pessoal continuar pintando em casa; talvez em algum outro espaço, fazer exposição individual ou com outro artista retratista, seu tema preferido.

Para Marileide, Arte é algo que todos têm internamente desenvolvidos, mas alguns têm a felicidade de desenvolver o potencial que, quando trabalhado, leva à realização da alma. Arte é deixar fluir o líquido da sensibilidade da alma humana.

Marileide vê o tratamento dado à Arte no mundo por parte: acredita que as Artes Plásticas são mais valorizadas na Europa, Estados Unidos e na Ásia. 

No Brasil, poucos se destacam porque, infelizmente, se dá mais valor para o produto de fora; o que é nosso sempre deixado de lado. Dificilmente um artista brasileiro se destaca no mundo das Artes Plásticas aqui no Brasil.

Em Araçatuba e Região, a área de Artes deixa muito a desejar. Não vê grandes incentivos, não percebe motivação nem interesse por parte dos responsáveis nessa área da cidade, por isso mesmo há muita desunião na categoria dos artistas. Sente necessidade de Araçatuba ter pessoas ligadas às Artes que se interessassem em fazer na cidade e região, algum espaço para que os artistas pudessem participar de workshops, exposições para iniciantes, adiantados, todos, enfim. Para ela, as Artes Plásticas são tão boas que atingem  desde os mais inexperientes até pessoas com deficiências. 

Para Marileide, o mundo precisa de Arte porque com esse dia a dia doido em que vivemos, uns querendo muito e passando despercebido pela vida, na correria, a vida muito ligada em tecnologia pura, muitas vezes se esquecendo de viver em grupo, se isolam nos seus celulares, computadores etc. A Arte seria um bem se colocada na vida destas pessoas. Se intercalando com a tecnologia, dividindo espaço com ela.

A “espinha dorsal” do trabalho de Marileide é o retrato. Gosta muito de retratar pessoas, animais e aves. Não sabe explicar essa vocação, mas, para ela, a realização completa é atingir a perfeição de detalhes numa obra. No instante em que está com o retratado, (que pode ser através de fotografia) e a tela ela se desliga de problemas externos. Tudo se resume entre ela e o modelo. Ela “conversa com a obra”.

Marileide nunca pensou em viver de seu trabalho artístico, mesmo quando teve um atelier no centro da cidade. Ela ama o que faz, se realiza através do trabalho. É um hobby carregado de prazer.

Para divulgar seu trabalho, Marileide aproveitou as exposições de que participou. Com o advento da internet, acredita ser necessário a quem quer expor melhor, dialogar com o público. Isso hoje é muito importante. 

Quando esteve na França, foi ao Louvre e viu a tela “Monalisa”; sentiu algo inexplicável. Também esteve no Reina Sofia em Madrid e viu uma tela que, até então, não a tinha emocionado porque só via em livros, mas ao vivo foi emocionante: “Guernica” de Pablo Picasso. Marileide achou interessante que a “Monalisa” não tem nada a ver com “Guernica”. São telas de artistas que viveram épocas e estilos diferentes. Um renascentista, outro cubista, mas a emoção foi muito forte em ambas. Viu trabalhos de Kandinsky e Salvador Dali, não sentiu nada especial. Diante da “Monalisa” e de” Guernica”, no entanto, ela chorou de emoção.

Bom, é isso. Até semana que vem.

Abaixo, algumas das obras da artista: