domingo, 26 de dezembro de 2010

SURTO DE BONDADE

Antonio Luceni


 
Minha sobrinha Letícia vivenciou de verdade pela primeira vez um Natal. Ganhou vários presentes, mas um deles foi responsável por tirar-lhe o fôlego: uma boneca, de meu irmão Lúcio.
Segurou a caixa, ainda envolta pela embalagem, rasgou-a o mais depressa e da melhor maneira que pôde (ela ainda tem um ano e meio) e a emoção indisfarçável: os olhos brilhando, o ventre murcho por um suspiro, e o sorriso largo na boca. Ficou com a boneca o dia inteiro para lá e para cá.
Esta cena me fez pensar um pouco sobre o que as coisas podem fazer conosco, o poder que aquilo que ganhamos tem sobre nossas ações, nossas atitudes.
Tem muita gente que ganha, que recebe um bem ou um dom para ser melhor para ele e para os outros. Por exemplo, um médico que dedica sua vida a tratar de gente e que, além das consultas cobradas, também se submete à compaixão em oferecer seus serviços, o dom que recebeu, para os que não podem pagá-lo.
Outro exemplo? Alguém que, mesmo vivendo em glória, em riquezas, em honrarias, deixa o seu trono e vem morar ao lado da pobreza, dos mais necessitados, dos famintos e desprezados.
E não estou falando necessariamente de riqueza material – apesar de nos dois exemplos dados isso estar presente. A riqueza aqui apresentada é metafórica. Há muita gente pobre financeiramente que é tão mesquinha quanto muito rico esnobe. (Lembro-me, por exemplo, de Dora, personagem de Fernanda Montenegro, em Central do Brasil, que era tão pobre quanto mesquinha).
É uma máxima, acho que de Maquiavel, que para se conhecer alguém basta dar-lhe poder. Pois é, devo concordar um pouco com isso. Muitos usam dos poderes que têm (políticos, religiosos, financeiros etc.) para subjugar o outro, para tirar-lhe o mínimo que tem, para ignorá-lo em sua insignificância a que a vida já o destinou.
Outros, entretanto, procuram fazer uso dos dons que receberam, que ganharam, como algo bom para todos, para uma sociedade mais justa, mais inclusiva, mais equitativa.
É comum no final de cada ano – em virtude das festas de natal e ano novo – acontecerem surtos de bondade, de fraternidade, de compaixão (e isso não é ruim de tudo: garante o pão daqueles dias para os que não têm o que comer o ano todo). Mas não resolve os problemas. A preocupação com o semelhante deve perdurar os 365 dias do ano, a prontidão e o sempre-alerta precisam ser algo constante. (Não há tanta barriga que caiba tantas doações de uma só vez, nem tão pouco são osso para que seja enterrado e procurado em outros momentos de necessidade).

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e Diretor do Núcleo UBE Araçatuba e Região.

domingo, 19 de dezembro de 2010

2000 e Dez!

“Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso, estamos alegres.” Sl. 126.3

Sempre que algo é iniciado em nossas vidas muitas expectativas são criadas, várias projeções são feitas, e uma vontade danada de que tudo dê certo. Cada ação é pensada no sentido de contribuir para essa busca do acerto, do sucesso.
Quando este ano começou também fiquei na expectativa de muitas coisas. Foi uma mudança brusca em minha vida. Um ciclo de ações havia se encerrado e um novo momento se esboçava em minha frente.
Já integrando a equipe da Secretaria Municipal da Educação, a convite da Secretária Beatriz Soares Nogueira, tinha o desafio de dinamizar os projetos e proposta de leitura e literatura relacionadas à Rede Municipal.
Hoje, essa realidade no campo da leitura e do livro já está bem diferente – e é voz unânime, para melhor – a partir da implantação de grupos de estudo em leitura, das sondagens das bibliotecas e espaços de leitura, da distribuição e atualização de acervos literários, do seminário da leitura e literatura voltado especialmente para questões da infância, de concursos de texto dirigidos para professores, gestores e alunos, da adesão de 100% da Rede na Olimpíada de Língua Portuguesa (MEC/CENPEC), entre outras tantas ações cotidianas que não cabem ser elencadas nesse momento.
Também, neste ano, fui convidado, por meio da diretoria da União Brasileira de Escritores – UBE, a assumir o Núcleo Regional da instituição, continuando o legado das mais de cinco décadas de atuação da UBE no Brasil. Missão penosa, mas que resolvi encarar. E, para isso, convidei as amigas e escritoras Marilurdes Martins Campezi, Wanilda Costa Borghi e Duxtei Vinhas Ítavo.
Os primeiros frutos já surgiram pouco mais de três meses de nossa posse – em agosto, na 21ª Bienal Internacional do Livro, em São Paulo –, com a realização do 1º Encontro de Escritores Independentes de Araçatuba e Região – ENESIAR, ocorrido no último sábado, no auditório do SENAC, grandemente prestigiado por vários escritores de nossa região, com as dignas presenças de nosso Presidente Nacional, escritor Joaquim Maria Botelho, e de nosso Diretor de Integração Nacional, escritor Menalton Braff, além de convidados especiais.
Foi voz corrente o sucesso do evento e a satisfação de seus participantes.
Estas coisas precisam ser registradas para que, mais para frente, quando outros continuarem estas ações ou resolverem ampliá-las e melhorá-las (sim, porque não devemos nos considerar insubstituíveis, nem tão pouco donos da razão – de imortal, somente o nome), poderem se apoiar num caminho já trilhado, em veredas já abertas, em alicerces construídos... Assim colaboramos com as gerações futuras: facilitando o caminho. (Já reparou quanta gente gosta de atrapalhar a caminhada dos outros?).
Foi neste ano que também o pequeno Miguel, meu sobrinho mais novo, veio ao mundo, deixando nossa família mais feliz com a presença dele. (As crianças são anjos disfarçados, e ficam entre a gente para nos ajudar a vencer batalhas. Nosso Miguel é um anjo vencedor desde o nascimento).
Muitas coisas fez o Senhor por nós, por esse motivo estamos muito alegres.
2000 e 10 foi dez!

Antonio Luceni é escritor e professor universitário. Coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e Região.

sábado, 18 de dezembro de 2010

DISCURSO DE POSSE DO NÚCLEO UBE ARAÇATUBA E REGIÃO



Bom dia nosso Presidente Nacional da União Brasileira de Escritores – UBE, escritor e jornalista Joaquim Maria Botelho; bom dia ao nosso Secretário de Integração Nacional, Menalton Braff; bom dia ao senhor prefeito Aparecido Sério da Silva e demais autoridades presentes; bom dia a todos os escritores presentes; bom dia aos amantes da leitura literatura; bom dia a todos.
Gostaria de iniciar este meu discurso AGRADECENDO.
Primeiramente a Deus, por ter nos concedido vida e oportunidade de estar aqui, refletindo sobre leitura, sobre literatura, sobre a nossa própria condição humana. Afinal, como afirma Antonio Candido, no seu livro Direito a Literatura:
“Por isso a luta pelos direitos humanos pressupõe a consideração de tais problemas e chegando mais perto do tema (literatura), eu lembraria que são bens incompressíveis não os que asseguram sobrevivência física em níveis decentes, mas os que garantem a integridade espiritual. São incompressíveis certamente a alimentação, a moradia, o vestuário, a instrução, a saúde, a liberdade individual, o amparo da justiça pública, a resistência à opressão etc.; e também o direito à crença, à opinião, ao lazer e, por que não, à arte e à literatura?”
Gostaria de agradecer também à instituição a que pertenço desde 2007, a mais antiga e das mais atuantes no Brasil, União Brasileira de Escritores – UBE, na pessoa de nosso Presidente, Joaquim Maria, e pelo convite para assumir o 1º Núcleo da UBE no estado de São Paulo, hoje já com seis espalhados por todo Brasil. Ao mesmo tempo, parabenizar a atual administração pela iniciativa de descentralizar as ações da UBE e estimular a atuação da Instituição, por meio de seus associados, nos vários cantos do Brasil, possibilitando-nos vez e voz, às várias nuanças de escritores, às particularidades de cada região do País etc.
Gostaria de agradecer às minhas parceiras, bandeirantes do Núcleo UBE em nossa região, as escritoras: Marilurdes Martins Campezi (Lula), Duxtei Vinhas Ítavo e Wanilda Maria Meira Costa Borghi, que aceitaram o convite e o desafio de implantarmos o Núcleo por estas terras e de dar vida às várias ações que sonhamos no campo da literatura e do livro, tendo este encontro como primeira delas.
Gostaria de agradecer aos parceiros deste evento, sem os quais não poderíamos realizá-lo: ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, por meio de seu gerente, Sr. Emmanuel Flores de Andrade; à Secretaria Municipal de Educação, por meio da secretária Profa. Beatriz Soares Nogueira; à Secretaria Municipal de Cultura, pelo apoio na divulgação; à Câmara Municipal de Araçatuba, na pessoa da vereadora Durvalina Gomes Garcia; à Academia Araçatubense de Letras, nesta mesa representada pelo acadêmico Francisco Antonio Ferreira Tito Damzao; ao jornal Folha da Região, em nome de Ana Elisa Lemos Senche e da editora-chefe, Maria Antonia Dario; ao Unicolégio Objetivo, em nome de seu Diretor Geral, meu amigo, Prof. Joaribes Juca Torquato; ao cartunista Walmir Orlandeli pela comunicação visual do encontro e criação da logomarca do Núcleo; à Livraria Educação e Cultura – MEC, por meio das parceiras Simone e Denise; à Gráfica Araçatubense, pelo material impresso do evento, em nome de Seu Ferreira; a todas as diretoras, professores e funcionários do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba, pelo engajamento; a todos os estudantes universitários presentes e a todos que contribuíram divulgando, estimulando, fazendo suas inscrições. Não gostaria de dizer nomes para não ser injusto com ninguém.
MUITO OBRIGADO A TODOS.

Falar em literatura e livro para mim é sempre um grande prazer. Se no princípio era o Verbo, isto é, a PALAVRA e se a PALAVRA se fez carne e habitou entre nós, somos carne da mesma carne, ou seja, somos PALAVRAS.
A literatura e livro fazem parte da minha vida, estão entranhados em mim. Levanto, trabalho, cochilo e durmo com as palavras orbitando em minha vida.
O curso de Letras foi escolhido de propósito, assim que saí do magistério. Lá tive oportunidade de me aprofundar em algo que há muito me seduzia, me fascinava, me fazia enxergar o mundo sob várias óticas (de escritores, de teóricos, de poetas, de pessoas simples do povo, como Patativa do Assaré e Cora Coralina).
Foi lá, também, que conheci figuras interessantíssimas, como o professor e poeta Tito Damazo, o querido Valdir Mendonça, a entusiasmada Ester Mian, entre outros. A pós-graduação em Literatura Infantil e o mestrado em Poesia contribuíram para que cada vez mais eu fosse cheio de boas palavras...
Ai palavras, ai palavras... que estranha potência, a vossa!
Foi nos corredores da Faculdade de Letras da Toledo que também conheci um certo professor de Literatura Portuguesa, com o qual acabei depois me apegando,  escritor de mão cheia e grande mentor da Academia Araçatubense de Letras, Célio Pinheiro.
As palavras que por muito tempo foram suas amigas e, com ele, ajudaram construir cabeças de tantos outros alunos no curso de Letras, hoje, o traem na memória, que virou flashs de lembrança. Entretanto, ele nunca as abandonou.
Gostaria de dedicar este encontro a ele.

EU SOU PALAVRAS...
Falo a partir de mim menos por vaidade e mais por verdade, já que é a pessoa que suponho conhecer melhor, portanto com mais condições de criticar, de validar ou não as ações.
E um garoto que só teve oportunidade de se aproximar dos livros aos 7, 8 anos de idade a partir de uma cartilha, “Caminho Suave”. Vejam que nem é um livro tão interessante assim.
Quero trazer meu exemplo aqui, aproveitando de tão seleto público – secretários municipais, vereadores, escritores, professores, estudantes, e comunidade em geral – para discutirmos e pensarmos literatura, leitura na sociedade como algo IMPRESCINDÍVEL para nossa formação, para nosso engajamento enquanto cidadãos, para manutenção de nossa saúde mental – a fantasia é necessária para o ser humano, entre outras coisas, porque o livra da loucura.
Quem pensa no livro, na literatura, na leitura como produto de alienação ou como “perfumaria”, pensa pequeno.

EU FUI SALVO PELA PALAVRA.
A vida toda morei em periferia e estudei em escola pública. Sempre tivemos, eu e minha família, privações em nossa vida material e financeira. Passamos duros bocados com o alimento singular sobre a mesa (e isso não é nenhuma metáfora), com uma chinela havaiana (no tempo em que havaiana era coisa de pobre) de uma cor em um pé e de outra noutro, com roupas apertadas feitas pelas mãos calejadas de minha mãe, numa velha máquina Singer.
O jeito que eu encontrava para respirar um pouco e sair, ainda que mentalmente, daquele contexto ruim era lendo.
Lia coisas de Monteiro Lobato, os textos de Júlio Verne, os romances de Machado, de José de Alencar, as novelas de Jorge Amado, muitos contos (meu gênero predileto) de Dalton Trevisan, Luiz Vilela, João Gilberto Nol... Poesia? Drummond, Mário Quintana, Manoel de Barros, o Bandeira, Maria Angela Alvim... E tudo isso me salvou.

AS PALAVRAS ME SALVARAM.
Como todo garoto de periferia, tive oportunidade de ir para o crime, para as drogas, para o conformismo (aliás, as letras me salvaram do inconformismo também: não é porque tinha aquela vida que estava fadado a morrer daquele jeito). Pelo contrário, cada vez que saía de um livro (e até hoje é assim) percebia que podia ser diferente, que podia fazer diferente, que podia pensar diferente.
LITERATURA, leitura não são coisas para poucos iluminados, privilegiados, não. Ela é para quem a quer. Não faz distinção se é preto, se é branco, se é azul ou colorido; se tem grana ou se é um durango kid, se homem ou mulher, se jovem ou criança, não importa. ELA ACOLHE A TODOS.
É por isso que cada um que está aqui é importante. Não importa se é escritor conceituado ou anônimo, se escreve em papel ou na internet, se é professor, diretor ou agente de serviços gerais... vocês não estão fazendo VOLUME aqui. Cada um que aqui está é importante. Cada um que está aqui pode fazer a diferença utilizando-se da LEITURA E DA LITERATURA em suas vidas e na vida de cada um que está à sua volta.
Aí me perguntaram: Por que INDEPENDENTES? Ora, e não somos não?
Não somos nós que corremos para lá e para cá para poder publicar? Depois não somos nós que ou corremos atrás de um patrocínio ou tiramos dinheiro do bolso para pagar um coquetelzinho com vinho de segunda classe e salgadinhos frios para a noite do lançamento? Não somos nós que de porta em porta batemos para que este ou aquele amigo (e às vezes até inimigo) venha nos prestigiar e comprar nosso livro?
Não somos nós que, com o dinheiro do nosso bolso, ficamos para baixo e para cima lançando livro, participando de eventos de literatura, de leitura etc?
Agora, é lógico que a dependência institucional e das parcerias todos nós temos. Não somos uma ilha, precisamos uns dos outros. TODOS nós estamos ligados a um “cordão umbilical” do universo, dependentes de alguma coisa, que a gente nem sabe explicar, para continuarmos vivos.
Então? Não somos INDEPENDENTES?

SOMOS DEPENDENTES, também, já que cabe a cada um de nós estimular a leitura. A LEITURA E A LITERATURA são de responsabilidade de TODOS.
Se estão presentes aqui representações das mais diferentes esferas sociais é porque entendemos a leitura e a literatura como um bem inalienável de todos nós. E aí, como iremos fazer aqui nesta manhã, cada um pensar como pode atuar para que isso aconteça: O LEGISLATIVO: De que forma pode pensar em leis ou indicações de leis e projetos para privilegiar a presença do livro e da literatura nos municípios de nossa região, no estímulo e apoio ao escritor? O EXECUTIVO: O que pode fazer para que o maior número de pessoas (crianças, jovens e adultos) possa ler? Acesso gratuito à internet? bilbiotecas públicas nos bairros e em todas as escolas? projetos nas praças aos finais de semana? O que pode ser feito? A SOCIEDADE CIVIL: Como se mobilizar para provocar a leitura dentro de cada residência, em cada bairro com bibliotecas comunitárias, com saraus de poesia etc? AS ASSOCIAÇÕES LIGADAS AO LIVRO E À LITERATURA: Organizando concursos? ministrando oficinas de leitura e de criação literária junto à comunidade? distribuindo livros? promovendo encontros, debates, palestras, mesas de discussão, chats temáticos? aproximando as pessoas do livro? do computador? etc.
TODOS nós PODEMOS FAZER alguma coisa. TODOS nós SOMOS BENEFICIADOS quando fazemos alguma coisa. Mas todo esforço exige energia, disposição, sair do lugar. Com isso, o cansaço vem, o desgaste também, mas vem também a alegria de ver pessoas envolvidas com cultura, com arte, com leitura, com literatura e longe de tantas outras coisas que corroem a sociedade como um câncer.
Estamos muito felizes, eu e minhas parceiras Lula, Duxtei e Wanilda, com a instalação da UBE em nossa região. Mas, ao mesmo tempo, imbuídos de forte responsabilidade por levar adiante o trabalho sério e significativo de tão importante e conceituada Instituição que é a União Brasileira de Escritores. O legado deixado por escritores como Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Paulo Duarte, Afonso Schmidt, Fábio Lucas e, atualmente, pelos confrades Lygia Fagundes Telles, Frei Beto, Lia Luft, Antonio Candido, entre tantos outros precisa ser extensivo em nossa região, e isto não é tarefa fácil, mas estamos dispostos a cumpri-la.
Gostaria de encerrar a minha fala raptando um verso de Drummond no poema Infância:
"E eu nem sabia que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé!"

SEJAM TODOS BEM-VINDOS AO PRIMEIRO ENCONTRO DE ESCRITORES INDEPENDENTES DE ARAÇATUBA E REGIÃO.

1º ENCONTRO DE ESCRITORES EM ARAÇATUBA GRANDEMENTE PRESTIGIADO



O auditório do SENAC ficou cheio de pessoas que prestigiaram o 1º Encontro de Escritores Independentes de Araçatuba e Região – ENESIAR, ocorrido na manhã chuvosa de sábado do dia 18 de dezembro de 2010 e promovido pelo Núcleo da União Brasileira de Escritores – UBE Araçatuba e Região.
Na plateia estavam diferentes representantes da sociedade: escritores, jornalistas, blogueiros, diretoras de escola, coordenadoras pedagógicas, estudantes universitários, e comunidade em geral de mais de dez municípios da região de Araçatuba.
Como convidados de honra estavam os escritores Joaquim Maria Botelho, Presidente Nacional da UBE, e o Diretor de Integração Nacional, escritor Menalton Braff, que também lançou o romance “Bolero de Ravel”, Editora Global.
Para o Presidente da União Brasileira de Escritores, Joaquim Maria Botelho, a abertura do Núcleo na região de Araçatuba é motivo de grande alegria.


“Estamos certos de que o Núcleo da UBE na região de Araçatuba trará uma grande contribuição no campo da literatura e da formação de leitores. Precisamos de gente nova, de sangue novo para fazer com que as ações de nossa Instituição penetrem na sociedade. Nesse sentido cremos que o Núcleo atende às nossas expectativas. Começa aqui uma forte história da UBE com a região noroeste paulista”, finalizou.

Já para o Coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e Região, o escritor Antonio Luceni, a implantação do Núcleo, além de alegria, traz também uma forte responsabilidade: a de dar continuidade ao trabalho realizado pela UBE nacional há mais de 50 anos.


“Estamos muito felizes, eu e minhas parceiras Lula, Duxtei e Wanilda, com a instalação da UBE em nossa região. Mas ao mesmo tempo, imbuídos de forte responsabilidade por levar adiante o trabalho sério e significativo de tão importante e conceituada instituição que é a União Brasileira de Escritores. O legado deixado por escritores como Mário de Andrade, Sérgio Milliet Paulo Duarte, Afonso Schmidt, Fábio Lucas e, atualmente, pelos confrades Lygia Fagundes Telles, Frei Beto, Lia Luft, Antonio Candido, entre tantos outros precisa ser extensivo em nossa região, e isto não é tarefa fácil, mas que estamos dispostos a cumpri-la”, enfatiza o escritor.

Pela relevância da Instituição e sensibilidade das autoridades locais para com o Encontro, não faltaram personalidades de destaque na cidade. Entre as quais o prefeito de Araçatuba, Aparecido Sério da Silva.




“Araçatuba recebe a partir de hoje mais uma forte colaboradora no incentivo e divulgação do livro, da literatura e da leitura: a União Brasileira de Escritores. Estamos certos de que a atuação da UBE, por meio de seu Núcleo, será das mais promissoras em nossa cidade e região e fará, somara esforços, sem dúvida alguma, para ajudar-nos a construir uma cidade leitora. Sejam muito bem-vindos e contem conosco para o que precisarem”, destacou o prefeito.

O legislativo municipal foi representado por meio da Vereadora Durvalina Garcia que destacou o papel dos vereadores na criação e indicação de projetos e leis de incentivo ao escritor e ao livro.


“Nós já temos em nossa cidade (Araçatuba), uma lei que beneficia as gráficas na compra de papel, com dedução de impostos. Mas isso é pouco, precisamos beneficiar toda cadeia produtiva do livro, desde sua concepção até a sua publicação e distribuição. Para isso, nos comprometemos, na Câmara, e já estamos fazendo isso, em sondar leis existentes em outros municípios e até em esferas superiores à nossa, de forma a trazer essas experiências para nossa cidade e região. A UBE pode contar conosco para aquilo que pudermos realizar e que estiver ao alcance do legislativo”, comprometeu-se a vereadora.

Grande parceiro do Encontro desde o início, o jornal Folha da Região marcou presença em um dos momentos dos trabalhos, por meio da Gráfica e Editora Somos. Para a Editora-Chefe do jornal, Maria Antonia Dario, é muito bom ter a UBE em nossa região.


“A Folha da Região tem o compromisso de qualidade com a informação e com a palavra escrita. Por essa razão, sentimo-nos duplamente honrados da parceria que fizemos com o Núcleo UBE Araçatuba e Região desde o começo, pois acreditamos que é com ações sérias e voltadas para formação de leitores competentes e críticos que podemos formar uma sociedade mais justa e fraterna. Tanto a Folha quanto a UBE têm por meta formar esse cidadão. Não poderíamos ficar de fora desse momento singular na história de nossa região”, destacou.

E também deu uma notícia que pegou todos os presentes de surpresa.

“Gostaríamos de presentear o Núcleo UBE Araçatuba e Região e todos seus associados, com um espaço permanente no Caderno Vida, numa coluna semanal, para que publiquem seus textos, sob coordenação do Antonio Luceni”.

O Presidente da UBE, Joaquim Maria Botelho fez questão de se levantar e abraçar a representante da Folha, como forma de gratidão pelo gesto na cessão do espaço no jornal.

Por último, a chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação, Patrícia Cardoso Soares, representante da Secretária Beatriz Soares Nogueira, marcou presença no Encontro.


“Essa administração municipal tem uma forte preocupação pelo livro e pela leitura. Exemplo disso foi a distribuição gratuita de livros para todas as quinze mil crianças de nosso Sistema Municipal de Ensino. A presença da UBE em nosso município e região só vem contribuir com nosso desejo de formar uma sociedade leitora. O Antonio Luceni é nosso parceiro e responsável na Rede pelos projetos de Leitura. Temos certeza de que todo o dinamismo e profissionalismo que ele exerce em nossas escolas será extensivo, agora, em sua atuação junto ao Núcleo Regional da UBE”.

Na mesma ocasião foi dada posse aos membros fundadores do Núcleo UBE Araçatuba e região.


Na imagem acima, da esquerda para direita, Antonio Luceni (Coordenador do Núcleo), Joaquim Maria Botelho (Presidente Nacional da UBE), Menalton Braff (Diretor de Integração Nacional), Wanilda Maria Meira Costa Borghi, Marilurdes Martins Campezi (Lula) e Duxtei Vinhas Ítavo, responsáveis pelo Núcleo.

 A manhã foi curta para uma programação tão rica nas áreas da literatura, da leitura e do livro. Na imagem abaixo, momento de descontração e divulgação das publicações da Editora Somos/Folha da Região. (Da esquerda para direita): Arnon Gomes (Folha), Antonio Luceni (UBE) e Flávio Borges (Somos):



Gostaríamos de agradecer vivamente todos que se empenharam para que o Encontro tivesse o sucesso que teve e, ao mesmo tempo, convidar os escritores interessados em se filiarem à União Nacional de Escritores – UBE que o façam por meio do site: ww.ube.org.br, e contribuam e se engajem nas ações do Núcleo UBE Araçatuba e Região.

Obrigado ao Presidente, Joaquim Maria Botelho, e ao Diretor de Integração Nacional, Menalton Braff, pela doação de seu tempo e agenda, no lançamento do Núcleo UBE em nossa região.





FILIE-SE À UBE: www.ube.org.br. VAMOS, JUNTOS, CONSTRUIR UMA REGIÃO LEITORA.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

FOLHA DA REGIÃO APOIA ENCONTRO DE ESCRITORES


Matéria publicada no Caderno Vida de 10/12/2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

VAMOS ACORDAR, MINHA GENTE!

Antonio Luceni


Nero é que tinha essa mania de querer botar fogo em todo mundo. Diz a história que os jardins de seu palácio eram iluminados com cristãos pegando fogo, presos em colunas. Coisa triste de se pensar e, sobretudo, vivenciar. Ficou famoso por atear fogo em Roma.
Na semana passada escrevi nestas linhas justamente sobre intolerância. Nesta semana voltamos a vivenciar – agora mais de perto – outro caso de desrespeito: um cidadão (até encontrarem nome mais adequado e que possa ser utilizado em jornal de família) que por conta de quereres e vaidades pessoais (qualquer “motivo” irá soar como desculpa, mesmo, não tem jeito) fez a ex-mulher como refém por quase vinte e quatro horas na semana passada, em Araçatuba.
Agora, imaginem a situação: Uma pessoa trabalhando, de repente entra um louco com um revólver, manda todos saírem da sala, joga gasolina sobre a ex e fica por mais de vinte horas torturando-a psicologicamente e ameaçando-a fisicamente.
Vem polícia, vem família, vem juiz e delegada, vem até grupo especial de São Paulo e o cara nada. Ventilou-se uma conversa de que havia alugado um filme para inspirar a ação, cortado cabelo e feito a barba, tudo como manda o “figurino” para realizar a ação.
Em que mundo estamos? Aonde é que vamos parar? Sobre estas coisas que estou questionando. Num momento é intolerância porque a pessoa é negra, noutro porque é homossexual, naquele porque é nordestino, neste “porque”... Há razões para a violência? Há motivos, por mais “honestos e válidos” que sejam para que alguém se dê o direito de sair matando, estuprando, violentando o que quer que seja.
Se ao menos isso acontecesse (e isso pode parecer chocante ou mesmo politicamente incorreto) com quem merece, ou seja, traficante, estuprador, político corrupto, assassino, ladrão, vá lá, mas com gente de bem, trabalhadora, ah, não! Como diria o outro, assim não pode, assim não dá.
Até quando vamos ficar apenas como espectadores assistindo a essas e outras barbáries que acabam virando rotina em nosso meio? Qual é o prazo para que nos indignemos e nos coloquemos às ruas reclamando e exigindo ações mais enérgicas por parte das autoridades, de nossos legisladores, do Estado como um todo para que o cidadão de bem – o que os Direitos Humanos deveriam zelar – possa caminhar em paz pelas ruas, no horário que quisesse voltar para sua casa? Até quando...?
Ainda sou daqueles otimistas que acreditam num final melhor, que unidos podemos mais, que o que vale a pena deve ser validado e estimulado e o que não é tão legal assim não merece ter espaço em nosso meio.
Vamos acordar, minha gente.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e Diretor do Núcleo UBE Araçatuba e Região.

domingo, 28 de novembro de 2010

INTOLERÂNCIA


Antonio Luceni

Três episódios chamaram minha atenção nas duas últimas semanas. O primeiro foi o caso dos jovens agredidos em plena luz do dia por membros de gangues na Avenida Paulista, em São Paulo. O segundo da menina morta pelos próprios pais porque estava namorando numa praça. E o terceiro, a guerra que foi instalada no Rio de Janeiro. Nos três casos a palavra-chave é INTOLERÂNCIA.
No primeiro episódio, algo que acontece de montão nos diferentes municípios brasileiros e que não tem tanta repercussão na mídia: a intolerância contra homossexuais. E o “motivo” foi esse: os adolescentes agredidos eram gays. Até quando a sociedade vai querer fazer vistas grossas para este tema e, guardadas as proporções, assim como Hitler, querer acabar com o diferente, com aquilo que não é considerado viável por alguns. Ainda por cima tive que ouvir a mãe de um dos agressores dizendo que fizeram aquilo porque “eram crianças”. Brincadeira de criança mimada e mal educada.
O segundo episódio é algo ainda mais chocante, em minha opinião. E por dois motivos: primeiro porque os agressores eram pais da vítima, ou seja, aqueles que tinham missão de protegê-la foram seus algozes; segundo, e mais grave, porque resultou na morte da adolescente.
Nos dois casos anteriores intolerância perversa, má, repugnante... Em pleno século 21, com todo o avanço que tivemos na ciência, na educação, na tecnologia ainda assistimos atônitos episódios que nos envergonham como seres humanos, já que nem os chamados animais irracionais cometem tais crueldades contra seus pares se não for para autodefesa. O sexo ainda é um tabu que precisa ser superado. E isso tem que acontecer dentro da família, na escola, na igreja e onde quer que haja aglomeração humana.
Entretanto, houve também uma intolerância boa: a da luta contra as drogas, começada no Rio de Janeiro. Não quero aqui ficar como criança vislumbrada quando acaba de ganhar um doce. Mas é bem verdade que o primeiro passo foi dado.
É preciso, sim, que a caminhada continue agora. Que sejam revistas as questões de fronteiras por onde entram a maior quantidade de drogas e armas que movimentam o crime organizado, é preciso rever os valores familiares e o live revivals do uso indiscriminado de drogas e tudo o mais... (boa parte de quem sobe os morros ou arranca os espelhos dos banheiros de festas são jovens da classe média e ricos), além de equipar e pagar adequadamente os profissionais que arriscam suas vidas por nós.
Mais tolerância para quem precisa de tolerância: livre expressão, às raças, às religiões, às orientações sexuais... Intolerância zero para o tráfico, para o preconceito, para o desrespeito de qualquer natureza, para os que promovem a discórdia e agridem seus semelhantes.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.

sábado, 20 de novembro de 2010

OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA


Questão de opinião
Antonio Luceni


Na última semana estive envolvido no processo de seleção das produções de texto da 2ª Edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, promovida pelo Ministério da Educação em parceria com o CENPEC e o Instituto Itaú Social.
Foram dias de intenso trabalho e de alegria também.
Trabalho porque realizamos muitas leituras que eram iniciadas às oito da manhã e só concluídas no final da tarde, com curto espaço de tempo para o almoço, o que gerava certo desgaste físico e mental. Alegria porque foi emocionante ler e ouvir tantas experiências das cinco regiões brasileiras e de tantos colegas que dedicam suas vidas à causa da Educação.
Também era muito prazeroso ver adolescentes e jovens no Hotel Transamérica - um dos mais belos de São Paulo - encantados com tudo aquilo. Certamente sempre que se referirem mais adiante aos seus percursos escolares aquele momento será citado como um dos mais importantes. E tudo isso por causa de um texto!
Pois é, desde cedo estes alunos estão percebendo e vivenciando o poder das palavras. Desde cedo podem usufruir um pouco do que o pensamento crítico e reflexivo (uma vez que trabalharam com o gênero Artigo de Opinião) nos proporciona. O quanto interagir de forma engajadora com o meio em que vivemos é importante, o quanto não se deixar manipular pelo o que quer que seja é vigoroso: antes, tomar decisões a partir de razões favoráveis à coletividade.
E tudo era muito mágico: os cafés da manhã e almoços, os passeios pela cidade de São Paulo, as gravações e entrevistas para programas da internet e televisivos, como para o canal Futura, até a premiação no SESC Pinheiros, teatro Paulo Autran.
Ao tomar o elevador num dos dias ouvi o seguinte comentário de uma das alunas presentes: "Está tudo tão gostoso que não queria voltar pra aquela terra cheia de poeira e para uma casa tão feia.". É, muita coisa precisa ser mudada nesse Brasil brasileiro. E a partir da escrita já é um bom começo!
Gostaria de parabenizar a todos os envolvidos no processo (MEC, CENPEC, ITAÚ SOCIAL e demais colaboradores) e agradecer ao pessoal do CENPEC pela possibilidade que me possibilitaram no convite para integrar a Comissão Julgadora de textos e às colegas de trabalho: Ana Cláudia (Tocantins), Rozeli, Zezé e Estela (São Paulo) e à amiga Maria Lúcia Terra que, comigo, contribuiram na seleção dos textos.
A próxima fase, a final, será em Brasília/DF, ocasião em que serão anunciados os finalistas e em que receberão das mãos do Presidente Lula e do Ministro Fernando Haddad a premiação final. Certamente será outro momento emocionante para tantas crianças, adolescentes e adultos.
E que bom que os alunos e professores estejam sempre envolvidos e entusiasmados com as coisas da Educação. E que bom que ações como essa não sejam privilégio de um ou de outro, mas que a rotina em nossas escolas em todo o Brasil seja sempre cheia de boas e significativas experiências.
E que venham as próximas edições.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e Coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e Região.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ENESIAR


PARTICIPE E AJUDE NA DIVULGAÇAO.
O CARTAZ E A LOGOMARCA DA UBE ARAÇATUBA E REGIAO FORAM FEITOS PELO TALENTOSO CARTUNISTA ORLANDELI, DE RIO PRETO.

sábado, 13 de novembro de 2010

ABAIXO A DITADURA


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com


Há algumas semanas acompanho uma polêmica criada em Araçatuba a partir de algo bastante simples, no meu modo de pensar: uma pintura em grafite num dos muros do I.E. (Instituto Educacional Manoel Bento da Cruz).
Tomei conhecimento das discussões por meio do jornal que dedicou vasto espaço em suas páginas a fim de problematizar o irrelevante. E foi acompanhado por promotor, professores, artistas e tudo o mais.
Uns se posicionaram contra: “Onde já se viu, pintar um muro com folhas de maconha?”, “Isso não deveria estar pintado no muro de uma escola, onde é que nós vamos parar?”...
Outros refutaram a polêmica: “Todos temos direito de dizer, tocar, dançar e pintar o que quer que seja, estamos em um país livre”, “Querem nos fazer calar, mas não vão conseguir.”...
E os próprios grafiteiros, depois de terem sua obra violada, não deixaram por menos: “O graffiti nasceu sem algemas, não é você quem irá colocá-las”, respondendo ao promotor de justiça que agora acompanha o caso.
Dias depois conversava com um diretor de uma outra escola estadual da cidade e não entramos num acordo com relação ao acontecido. Ele insistia que a pintura não deveria estar num muro de escola porque era forte propaganda e incitação para os jovens. Tentei argumentar dizendo que todos os assuntos e temas são, por natureza, de interesse da escola. Afinal, se não tivermos liberdade de pensamento e reflexão na escola, onde mais os teremos?
Achei adequada a preocupação do promotor e da direção da escola de quererem privar a integridade dos adolescentes e jovens daquela instituição. É verdade que isso deve ser a meta de todos que se relacionam com a infância e a juventude... com o ser humano. Mas fiquei pensando numa frase proferida pelo grande artista Pablo Picasso quando foi interpelado por um General em uma de suas exposições em que o conhecido painel “Guernica” era exibido. Com tom de desdém o general lhe perguntou, referindo-se à obra: “Quem fez isso?”, e na mesma intensidade de ironia Picasso respondeu: “Vocês!”.
E não estava respondendo a verdade? Picasso não fez guerra nenhuma. Não tinha autonomia para iniciá-la. O que ele fez foi simplesmente retratá-la e, a partir do momento em que a obra ficou pronta, provocando ideias tantas a despeito dos horrores que a guerra provoca e tudo mais.
Quando os grafiteiros – ou quaisquer outros artistas – colocam em suas obras os horrores sociais (entre os quais as drogas) será que estão produzindo-os ou apenas REproduzindo-os? A discussão do uso e do estímulo ao uso das drogas atravessam outras questões bem mais intensas e nocivas do que uma linda e provocativa pintura: entram questões de controle de fronteiras, por onde as drogas entram; pela questão de segurança social, equipando, treinando e pagando policiais para que prestem um serviço de qualidade; pelo controle do capitalismo desenfreado, uma vez que a indústria do álcool e do tabagismo ainda impera em nosso meio levando adolescentes, jovens e adultos cada vez mais cedo para o vício de tais drogas; passa pelo exemplo – certamente alguns dos que criticaram e apagaram o grafite feito no muro da escola fumam e bebem na frente de filhos e alunos: será que isso não é estímulo pior e mais direto?
Se há problemas com a falta de exemplo nas escolas brasileiras, há que se começar dentro dos muros e depois ir para fora deles. Se há preocupação verdadeira com adolescentes e jovens araçatubenses, então que se revejam sua presença nos faróis da cidade (que a cada dia estão mais cheios), no alto da Avenida Brasília, com adolescentes e jovens se prostituindo, nas bocadas de muitos bairros periféricos de nossas cidades que intoxicam crianças, adolescentes e jovens no percurso de casa para a escola, chegando drogados nas instituições para que o professor “se vire” com eles.
Vamos cuidar da raiz do problema, para que a árvore possa dar frutos.


Antonio Luceni é escritor e professor. Diretor de Cultura de Araçatuba entre os anos 2005 e 2008.

domingo, 7 de novembro de 2010

Monteiro Lobato: um provocador


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Monteiro Lobato sempre foi um grande provocador, e no melhor dos sentidos. De personalidade forte, não media palavras quando tinha que expor aquilo que pensava ou achava do que quer que fosse.
Sempre com posturas arrojadas, foi pioneiro em dizer sobre a presença de petróleo em terras brasileiras, em combater o militarismo, em propor a independência de pensamento, de ideais, da conquista do humanismo contra a coisificação de massas e do capitalismo desenfreado. Pagou preço caro por isso.
Há algumas semanas, discutíamos num grupo de estudo em leitura sobre a presença de racismo em sua obra, inclusive sendo citados trechos de um de seus livros em que fazia uso de palavras fortes ao se referir ao negro, por um dos participantes.
Propus a reflexão:
Quem, das personagens lobateanas, representa o próprio Lobato? Emília, é claro. Quem foi que fez a Emília? Tia Nastácia. Uma negra, não é mesmo? Pois é, Monteiro Lobato escolhe uma negra para que crie a personagem a partir da qual irá ser sua porta-voz. E onde está o preconceito, então?
Além da Tia Nastácia há outros tantos personagens negros em suas histórias: Tio Barnabé e o Saci, por exemplo. Aliás, este último foi objeto de um grande concurso e pesquisa promovidos por ele à frente de um grande jornal da época.
Nesta semana publicou-se uma série de matérias sobre a possível censura de um de seus livros por acharem elementos de preconceito racial nele. Não se deram conta de que quando fala por meio de seus personagens não é o próprio Lobato quem está falando. Também não foi levado em consideração que, ao dar a voz a uma personagem – sobretudo à Emília, subversiva e reacionária, – está, de certo modo, nos provocando. Afinal, será que o preconceito racial, entre tantos outros, ainda não sobrevive em nosso meio, ainda que de forma velada?
Pois é, o que Monteiro Lobato faz é colocar na boca de Emília aquilo que nós (e coloco no plural como forma de representar um pensamento coletivo e não por concordar com isso) gostaríamos de falar e, por hipocrisia, não falamos. Sendo assim, mesmo em também ele não comungando com tais ideias, lança luzes sobre o tema e nos provoca a discussão. Até nisso foi visionário. Enxerga “petróleo” onde ninguém acha que tem, mas existe, sob quilômetros de profundidade, mas é só escavar pra ver.
Se haverá censura para Lobato, então que peguemos todos os livros, incluindo os mais sagrados e queridos, e verifiquemos se há neles preconceito contra mulheres, contra crianças, contra os negros, contra os homossexuais, contra os judeus, os evangélicos, os umbandistas, contra o que quer que seja e saiamos a colocar tarjas sobre eles: PROIBIDO, RESTRITO A..., INADEQUADO PARA...
E ainda dizem que vivemos num País democrático.


Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e Diretor do Núcleo UBE Araçatuba e Região.

MIGUEL, UM FORTE GUERREIRO


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Miguel é mencionado na Bíblia como um arcanjo, líder de exércitos de anjos. No livro de Judas, no versículo 9, luta contra o próprio diabo, vencendo-o. Não à toa o significado de Miguel é “igual a Deus”.
Nós também temos nosso Miguel em nossa família. Assim como o bíblico é um forte guerreiro. Apressado como muitos na família, veio ao mundo dois meses antes do previsto e, por isso, teve que ficar lutando pela vida por mais de um mês. E venceu.
Quem olha para ele nem acha que nasceu prematuro. Pelo contrário, forte como muitas crianças de período certo é vivo, de olhos cativantes e um grito que pode ser ouvido a metros de distância.
Veio fazer companhia para a irmãzinha Júlia que, do ciúme inicial, é a cuidadora do caçula.
Com Miguel, agora somam seis sobrinhos lindos. A primeira leva já moços: Rafael, Daniel e Felipe. Nessa última, os bebês da família: Júlia, Letícia e Miguel.
Se as crianças são o reino do céu, nossa casa já está praticamente o Paraíso!
Aí me veio o acróstico:


Muitas bênçãos para você, meu sobrinho.
Iluminado desde o nascimento, veio para dar mais alegria a todos nós.
Grandes coisas o Senhor tem para sua vida e de sua família.
Um caminho lindo está por vir para você.
Estejamos todos prontos para abençoar sua vida e acolhê-lo.
Lindalva, Marcelo e Júlia: cuidem bem de nosso Miguel.

sábado, 30 de outubro de 2010

AMIGA DAS ALMAS


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

E vagava triste pelo mundo... Já estava enfadada, quase enjoada mesmo, no convívio com
aquela carcaça que lhe prendia. Na infância era mais gostoso. Sim, porque vivia para lá e para cá, como filha do vento. Subia em mangueiras e goiabeiras, fazia guerra de lama quando a chuva acabava, dormia e se esquecia dos problemas da vida... Aliás, os problemas não a incomodavam. Se a barriga estivesse cheia e houvesse um canto quente para se deitar, os problemas não existiam.
Na juventude também corria para lá e para cá, mas era uma corrida estranha, sem muita lógica, com horários pré-determinados pra tudo. Na verdade, esse tipo de corrida não tinha muita graça. A barriga quase sempre estava vazia (o almoço muitas vezes era substituído por um lanche rápido ao pé da mesa do trabalho ou num canto qualquer de um barzinho) e dormir era um luxo permitido somente em feriados prolongados ou aos domingos (isso quando não tinha que concluir trabalhos em casa).
A velhice chegou. As companhias costumeiras já não eram tão constantes assim. Ao contrário, passou a se relacionar diariamente com pessoas com as quais nunca tinha convivido e, certamente, não teria tempo para conviver. A barriga agora era cheia, não de comidas – até porque lhes tinham proibido quase tudo –, mas de remédios; se fosse seguir a dieta do médico tinha que comer vento e beber água de sobremesa.
Começou a flertar com ela. Começou a se relacionar transversalmente com ela porque não tinha coragem de lhe encarar no rosto, de lhe fitar nos olhos... Como dois namorados tímidos, trocaram insinuações, desejos proibidos, murmúrios solitários... E todos à sua volta percebendo algo estranho: “Pare com essas conversas bobas, mamãe... onde já se viu falar uma coisa dessas?”.
E a velha nem aí. Fazia-se de doida – a idade já lhe permitia dessas mazelas – e esboçava um quase-sorriso no canto da boca, olhando para o nada, para o vazio... (ou a estaria flertando novamente?).
Certa noite, combinaram algo: dormiriam juntinhas, uma afagando a outra. Trocariam segredos, diriam coisas tolas, as últimas palavras. Não fariam escândalo para não chamar a atenção de ninguém e assim também não dariam vazão para que interferissem nesse plano. Quando todos acordassem pela manhã, tudo já teria acontecido. Tudo estaria consumado.
Desse jeito foi feito. Passaram a noite se divertindo, uma despedida de solteiro (é certo que seria uma despedida; de solteiro, talvez não, mas até acharmos um nome adequado para o fato seria delongado demais... quem ficar por aqui que se dê o trabalho de achar um; há coisas mais importantes para fazer agora).
Não precisou amanhecer o dia para que a viagem acontecesse. Numa fração de segundo lá estava ela: solta, livre, correndo para cá e para lá novamente. Deixou para trás a armadura pesada e enferrujada que a prendia e estava a correr de novo pelos campos, a trepar em árvores, a chupar mangas e jabuticabas, a colher flores pelo caminho. Já não tinha mais preocupações, problemas não existiam, conseguira novamente ser quem realmente era.
No final do dia (o dia não acaba nunca lá!) estava de barriga cheia e até tinha um cantinho quente caso quisesse dormir, mas não queria. Queria mesmo era continuar brincando e correndo para lá e para cá, com o vento penteando os pelos de sua face.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região.

ENTREVISTA CONCEDIDA PARA FOLHA DA REGIÃO

domingo, 24 de outubro de 2010

O seminário de leitura foi um sucesso


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Na semana passada anunciei nesta coluna o cronograma de palestras do 1º Seminário de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil “Araçatuba Leitora”.
Hoje, deixo resumo das atividades da semana, a saber:
Dia 19/10, à tarde: O primeiro momento foi uma visita do escritor e palestrante de abertura do evento, Ricardo Azevedo, à EMEB Fausto Perri, no bairro Umuarama.
Havia meses os alunos daquela escola, sob orientação da diretora Maísa Bichir e seus colaboradores, estavam lendo e desenvolvendo atividades a partir das obras do escritor.
A culminância aconteceu com a visita dele, momento em que os alunos apresentaram pecinhas de teatro, declamaram poemas, teatro de fantoches e muito mais. Também tiveram oportunidade de ouvir, direto da fonte, algumas histórias e a própria história do escritor Ricardo Azevedo.
Dia 19/10, à noite: O escritor procurou estabelecer um contraste entre os textos técnicos (que disse terem a devida importância) e o texto estético, privilegiando o segundo como forte instrumento e HUMANIZAÇÃO. Buscou ainda, discutir sobre a falta de espaço que há nas escolas brasileiras para os textos de ficção e poesia. Problematizou o fato de cada vez mais os textos técnicos e pedagógicos terem espaço nos bancos escolares, COISIFICANDO o ser humano, justamente por serem (os textos técnicos e pedagógicos) dogmáticos, buscarem uma única e voz comum, por terem um fim específico etc. Propos que reolhássemos os textos literários e suas contribuições como elemento do inexplicável, da imaginação, da fantasia, do universal, da democracia e pluralidade de vozes etc.
Dia 20/10: Mesa de discussão com integrantes do Grupo de Estudo em leitura e literatura infantil e juvenil da Secretaria Municipal da Educação. Cada um dos membros da mesa fez uma abordagem de um aspecto diferente da leitura e da literatura, sendo: Maria Lúcia Terra, Patrícia Cardoso Soares, Nara Leda Franco, Cristiane Magalhães Bissaco e Marister Vasques Falleiros.
Dia 21/10: Cantando, contando, discorrendo sobre projetos que implantou por esse Brasil a fora, Francisco Gregório Filho agradou gregos e troianos! Coisa difícil de acontecer, mas foi exatamente isso. Os comentários foram dos mais diversos, mas todos eles convergindo num ponto: o encontro foi apaixonante. Gregório demonstrou na prática o que significa se relacionar com literatura e poesia.
Dia 22/10: Numa sexta-feira, sete e meia da noite, Ezequiel Theodoro da Silva seduziu a todos com suas piadas, suas canções e, principalmente, com o seu saber com sabor. Foi um momento bastante rico em que foram retomadas desde a importância da presença do professor na sala de aula como alguém com sentimento, com vida, com emoções e que, por esse motivo, também precisa trabalhar (e só um ser humano faz isso) com a diversidade presente em nossas escolas.
Dia 23/10: O quinto e último dia do Seminário contou com dois importantes momentos: A palestra da professora doutora Renata Junqueira de Souza da Unesp de Presidente Prudente e com as Oficinas Pedagógicas, ministradas pelos profissionais do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba. Em ambos os casos os participantes teceram muitos elogios pelas abordagens feitas e pelo encaminhamento dos mesmos.
Gostaria de agradecer vivamente todo apoio dado pelo prefeito Cido Sério e pela Secretária da Educação, Beatriz Soares Nogueira. Agradeço também a todos os membros da Comissão Organizadora, bem como os demais colaboradores da Secretaria que contribuíram para o sucesso deste evento. A ausência de nomes é na tentativa de não ser injusto com ninguém. Portanto, todos se considerem abraçados por mim.
E que venha o próximo Seminário de Leitura!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região, Coordenador Geral do 1º Seminário de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil “Araçatuba Leitora”.