Antonio Luceni
Três episódios chamaram minha atenção nas duas últimas semanas. O primeiro foi o caso dos jovens agredidos em plena luz do dia por membros de gangues na Avenida Paulista, em São Paulo. O segundo da menina morta pelos próprios pais porque estava namorando numa praça. E o terceiro, a guerra que foi instalada no Rio de Janeiro. Nos três casos a palavra-chave é INTOLERÂNCIA.
No primeiro episódio, algo que acontece de montão nos diferentes municípios brasileiros e que não tem tanta repercussão na mídia: a intolerância contra homossexuais. E o “motivo” foi esse: os adolescentes agredidos eram gays. Até quando a sociedade vai querer fazer vistas grossas para este tema e, guardadas as proporções, assim como Hitler, querer acabar com o diferente, com aquilo que não é considerado viável por alguns. Ainda por cima tive que ouvir a mãe de um dos agressores dizendo que fizeram aquilo porque “eram crianças”. Brincadeira de criança mimada e mal educada.
O segundo episódio é algo ainda mais chocante, em minha opinião. E por dois motivos: primeiro porque os agressores eram pais da vítima, ou seja, aqueles que tinham missão de protegê-la foram seus algozes; segundo, e mais grave, porque resultou na morte da adolescente.
Nos dois casos anteriores intolerância perversa, má, repugnante... Em pleno século 21, com todo o avanço que tivemos na ciência, na educação, na tecnologia ainda assistimos atônitos episódios que nos envergonham como seres humanos, já que nem os chamados animais irracionais cometem tais crueldades contra seus pares se não for para autodefesa. O sexo ainda é um tabu que precisa ser superado. E isso tem que acontecer dentro da família, na escola, na igreja e onde quer que haja aglomeração humana.
Entretanto, houve também uma intolerância boa: a da luta contra as drogas, começada no Rio de Janeiro. Não quero aqui ficar como criança vislumbrada quando acaba de ganhar um doce. Mas é bem verdade que o primeiro passo foi dado.
É preciso, sim, que a caminhada continue agora. Que sejam revistas as questões de fronteiras por onde entram a maior quantidade de drogas e armas que movimentam o crime organizado, é preciso rever os valores familiares e o live revivals do uso indiscriminado de drogas e tudo o mais... (boa parte de quem sobe os morros ou arranca os espelhos dos banheiros de festas são jovens da classe média e ricos), além de equipar e pagar adequadamente os profissionais que arriscam suas vidas por nós.
Mais tolerância para quem precisa de tolerância: livre expressão, às raças, às religiões, às orientações sexuais... Intolerância zero para o tráfico, para o preconceito, para o desrespeito de qualquer natureza, para os que promovem a discórdia e agridem seus semelhantes.
Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.