Bom dia nosso Presidente Nacional da União Brasileira de Escritores – UBE, escritor e jornalista Joaquim Maria Botelho; bom dia ao nosso Secretário de Integração Nacional, Menalton Braff; bom dia ao senhor prefeito Aparecido Sério da Silva e demais autoridades presentes; bom dia a todos os escritores presentes; bom dia aos amantes da leitura literatura; bom dia a todos.
Gostaria de iniciar este meu discurso AGRADECENDO.
Primeiramente a Deus, por ter nos concedido vida e oportunidade de estar aqui, refletindo sobre leitura, sobre literatura, sobre a nossa própria condição humana. Afinal, como afirma Antonio Candido, no seu livro Direito a Literatura:
“Por isso a luta pelos direitos humanos pressupõe a consideração de tais problemas e chegando mais perto do tema (literatura), eu lembraria que são bens incompressíveis não os que asseguram sobrevivência física em níveis decentes, mas os que garantem a integridade espiritual. São incompressíveis certamente a alimentação, a moradia, o vestuário, a instrução, a saúde, a liberdade individual, o amparo da justiça pública, a resistência à opressão etc.; e também o direito à crença, à opinião, ao lazer e, por que não, à arte e à literatura?”
Gostaria de agradecer também à instituição a que pertenço desde 2007, a mais antiga e das mais atuantes no Brasil, União Brasileira de Escritores – UBE, na pessoa de nosso Presidente, Joaquim Maria, e pelo convite para assumir o 1º Núcleo da UBE no estado de São Paulo, hoje já com seis espalhados por todo Brasil. Ao mesmo tempo, parabenizar a atual administração pela iniciativa de descentralizar as ações da UBE e estimular a atuação da Instituição, por meio de seus associados, nos vários cantos do Brasil, possibilitando-nos vez e voz, às várias nuanças de escritores, às particularidades de cada região do País etc.
Gostaria de agradecer às minhas parceiras, bandeirantes do Núcleo UBE em nossa região, as escritoras: Marilurdes Martins Campezi (Lula), Duxtei Vinhas Ítavo e Wanilda Maria Meira Costa Borghi, que aceitaram o convite e o desafio de implantarmos o Núcleo por estas terras e de dar vida às várias ações que sonhamos no campo da literatura e do livro, tendo este encontro como primeira delas.
Gostaria de agradecer aos parceiros deste evento, sem os quais não poderíamos realizá-lo: ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, por meio de seu gerente, Sr. Emmanuel Flores de Andrade; à Secretaria Municipal de Educação, por meio da secretária Profa. Beatriz Soares Nogueira; à Secretaria Municipal de Cultura, pelo apoio na divulgação; à Câmara Municipal de Araçatuba, na pessoa da vereadora Durvalina Gomes Garcia; à Academia Araçatubense de Letras, nesta mesa representada pelo acadêmico Francisco Antonio Ferreira Tito Damzao; ao jornal Folha da Região, em nome de Ana Elisa Lemos Senche e da editora-chefe, Maria Antonia Dario; ao Unicolégio Objetivo, em nome de seu Diretor Geral, meu amigo, Prof. Joaribes Juca Torquato; ao cartunista Walmir Orlandeli pela comunicação visual do encontro e criação da logomarca do Núcleo; à Livraria Educação e Cultura – MEC, por meio das parceiras Simone e Denise; à Gráfica Araçatubense, pelo material impresso do evento, em nome de Seu Ferreira; a todas as diretoras, professores e funcionários do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba, pelo engajamento; a todos os estudantes universitários presentes e a todos que contribuíram divulgando, estimulando, fazendo suas inscrições. Não gostaria de dizer nomes para não ser injusto com ninguém.
MUITO OBRIGADO A TODOS.
Falar em literatura e livro para mim é sempre um grande prazer. Se no princípio era o Verbo, isto é, a PALAVRA e se a PALAVRA se fez carne e habitou entre nós, somos carne da mesma carne, ou seja, somos PALAVRAS.
A literatura e livro fazem parte da minha vida, estão entranhados em mim. Levanto, trabalho, cochilo e durmo com as palavras orbitando em minha vida.
O curso de Letras foi escolhido de propósito, assim que saí do magistério. Lá tive oportunidade de me aprofundar em algo que há muito me seduzia, me fascinava, me fazia enxergar o mundo sob várias óticas (de escritores, de teóricos, de poetas, de pessoas simples do povo, como Patativa do Assaré e Cora Coralina).
Foi lá, também, que conheci figuras interessantíssimas, como o professor e poeta Tito Damazo, o querido Valdir Mendonça, a entusiasmada Ester Mian, entre outros. A pós-graduação em Literatura Infantil e o mestrado em Poesia contribuíram para que cada vez mais eu fosse cheio de boas palavras...
Ai palavras, ai palavras... que estranha potência, a vossa!
Foi nos corredores da Faculdade de Letras da Toledo que também conheci um certo professor de Literatura Portuguesa, com o qual acabei depois me apegando, escritor de mão cheia e grande mentor da Academia Araçatubense de Letras, Célio Pinheiro.
As palavras que por muito tempo foram suas amigas e, com ele, ajudaram construir cabeças de tantos outros alunos no curso de Letras, hoje, o traem na memória, que virou flashs de lembrança. Entretanto, ele nunca as abandonou.
Gostaria de dedicar este encontro a ele.
EU SOU PALAVRAS...
Falo a partir de mim menos por vaidade e mais por verdade, já que é a pessoa que suponho conhecer melhor, portanto com mais condições de criticar, de validar ou não as ações.
E um garoto que só teve oportunidade de se aproximar dos livros aos 7, 8 anos de idade a partir de uma cartilha, “Caminho Suave”. Vejam que nem é um livro tão interessante assim.
Quero trazer meu exemplo aqui, aproveitando de tão seleto público – secretários municipais, vereadores, escritores, professores, estudantes, e comunidade em geral – para discutirmos e pensarmos literatura, leitura na sociedade como algo IMPRESCINDÍVEL para nossa formação, para nosso engajamento enquanto cidadãos, para manutenção de nossa saúde mental – a fantasia é necessária para o ser humano, entre outras coisas, porque o livra da loucura.
Quem pensa no livro, na literatura, na leitura como produto de alienação ou como “perfumaria”, pensa pequeno.
EU FUI SALVO PELA PALAVRA.
A vida toda morei em periferia e estudei em escola pública. Sempre tivemos, eu e minha família, privações em nossa vida material e financeira. Passamos duros bocados com o alimento singular sobre a mesa (e isso não é nenhuma metáfora), com uma chinela havaiana (no tempo em que havaiana era coisa de pobre) de uma cor em um pé e de outra noutro, com roupas apertadas feitas pelas mãos calejadas de minha mãe, numa velha máquina Singer.
O jeito que eu encontrava para respirar um pouco e sair, ainda que mentalmente, daquele contexto ruim era lendo.
Lia coisas de Monteiro Lobato, os textos de Júlio Verne, os romances de Machado, de José de Alencar, as novelas de Jorge Amado, muitos contos (meu gênero predileto) de Dalton Trevisan, Luiz Vilela, João Gilberto Nol... Poesia? Drummond, Mário Quintana, Manoel de Barros, o Bandeira, Maria Angela Alvim... E tudo isso me salvou.
AS PALAVRAS ME SALVARAM.
Como todo garoto de periferia, tive oportunidade de ir para o crime, para as drogas, para o conformismo (aliás, as letras me salvaram do inconformismo também: não é porque tinha aquela vida que estava fadado a morrer daquele jeito). Pelo contrário, cada vez que saía de um livro (e até hoje é assim) percebia que podia ser diferente, que podia fazer diferente, que podia pensar diferente.
LITERATURA, leitura não são coisas para poucos iluminados, privilegiados, não. Ela é para quem a quer. Não faz distinção se é preto, se é branco, se é azul ou colorido; se tem grana ou se é um durango kid, se homem ou mulher, se jovem ou criança, não importa. ELA ACOLHE A TODOS.
É por isso que cada um que está aqui é importante. Não importa se é escritor conceituado ou anônimo, se escreve em papel ou na internet, se é professor, diretor ou agente de serviços gerais... vocês não estão fazendo VOLUME aqui. Cada um que aqui está é importante. Cada um que está aqui pode fazer a diferença utilizando-se da LEITURA E DA LITERATURA em suas vidas e na vida de cada um que está à sua volta.
Aí me perguntaram: Por que INDEPENDENTES? Ora, e não somos não?
Não somos nós que corremos para lá e para cá para poder publicar? Depois não somos nós que ou corremos atrás de um patrocínio ou tiramos dinheiro do bolso para pagar um coquetelzinho com vinho de segunda classe e salgadinhos frios para a noite do lançamento? Não somos nós que de porta em porta batemos para que este ou aquele amigo (e às vezes até inimigo) venha nos prestigiar e comprar nosso livro?
Não somos nós que, com o dinheiro do nosso bolso, ficamos para baixo e para cima lançando livro, participando de eventos de literatura, de leitura etc?
Agora, é lógico que a dependência institucional e das parcerias todos nós temos. Não somos uma ilha, precisamos uns dos outros. TODOS nós estamos ligados a um “cordão umbilical” do universo, dependentes de alguma coisa, que a gente nem sabe explicar, para continuarmos vivos.
Então? Não somos INDEPENDENTES?
SOMOS DEPENDENTES, também, já que cabe a cada um de nós estimular a leitura. A LEITURA E A LITERATURA são de responsabilidade de TODOS.
Se estão presentes aqui representações das mais diferentes esferas sociais é porque entendemos a leitura e a literatura como um bem inalienável de todos nós. E aí, como iremos fazer aqui nesta manhã, cada um pensar como pode atuar para que isso aconteça: O LEGISLATIVO: De que forma pode pensar em leis ou indicações de leis e projetos para privilegiar a presença do livro e da literatura nos municípios de nossa região, no estímulo e apoio ao escritor? O EXECUTIVO: O que pode fazer para que o maior número de pessoas (crianças, jovens e adultos) possa ler? Acesso gratuito à internet? bilbiotecas públicas nos bairros e em todas as escolas? projetos nas praças aos finais de semana? O que pode ser feito? A SOCIEDADE CIVIL: Como se mobilizar para provocar a leitura dentro de cada residência, em cada bairro com bibliotecas comunitárias, com saraus de poesia etc? AS ASSOCIAÇÕES LIGADAS AO LIVRO E À LITERATURA: Organizando concursos? ministrando oficinas de leitura e de criação literária junto à comunidade? distribuindo livros? promovendo encontros, debates, palestras, mesas de discussão, chats temáticos? aproximando as pessoas do livro? do computador? etc.
TODOS nós PODEMOS FAZER alguma coisa. TODOS nós SOMOS BENEFICIADOS quando fazemos alguma coisa. Mas todo esforço exige energia, disposição, sair do lugar. Com isso, o cansaço vem, o desgaste também, mas vem também a alegria de ver pessoas envolvidas com cultura, com arte, com leitura, com literatura e longe de tantas outras coisas que corroem a sociedade como um câncer.
Estamos muito felizes, eu e minhas parceiras Lula, Duxtei e Wanilda, com a instalação da UBE em nossa região. Mas, ao mesmo tempo, imbuídos de forte responsabilidade por levar adiante o trabalho sério e significativo de tão importante e conceituada Instituição que é a União Brasileira de Escritores. O legado deixado por escritores como Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Paulo Duarte, Afonso Schmidt, Fábio Lucas e, atualmente, pelos confrades Lygia Fagundes Telles, Frei Beto, Lia Luft, Antonio Candido, entre tantos outros precisa ser extensivo em nossa região, e isto não é tarefa fácil, mas estamos dispostos a cumpri-la.
Gostaria de encerrar a minha fala raptando um verso de Drummond no poema Infância:
"E eu nem sabia que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé!"
SEJAM TODOS BEM-VINDOS AO PRIMEIRO ENCONTRO DE ESCRITORES INDEPENDENTES DE ARAÇATUBA E REGIÃO.