Antonio Luceni dos Santos
Mestre em Letras – UFMS
Coordenador Regional da UBE Araçatuba e região
e-mail: aluceni@hotmail.com
Resumo
O presente trabalho pretende refletir sobre a relação que nós mantemos com a palavras em nosso cotidiano, sobretudo trazendo para discussão e prática uma relação mais harmônica e profícua com ela. Nesse sentido, buscaremos retomar vivências tanto de professores quanto de alunos como forma de (re)direcionar nossas leituras, a saber, com textos estéticos. Por meio das questões/provocações pretendemos, neste artigo, pensar nossas experiências com o texto literário como um dos elementos de alívio das tensões do cotidiano escolar.
Palavras-chave: Palavras, literatura, antologia, cotidiano, provocações.
1 INTRODUÇÃO
Tudo que pensamos, imaginamos, projetamos e fazemos é por meio da palavra. Nosso pensamento não é feito de uma substância mágica que de modo também sobrenatural é encaminhado. Não. Antes, tudo que realizamos é por meio da palavra.
Quando falamos (palavras): “Como é fulano?”, obtemos como resposta (palavras), por exemplo: “Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.”2
Se quisermos retomar o passado e vivenciar este ou aquele momento de nossa vida iremos fazê-lo por meio da palavra: “Oh! que saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!"3.
Do mesmo modo, todos nossos planos futuros estão sob o domínio da palavra: “Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei”4.
As grandes e pequenas histórias da humanidade estão registradas por meio da palavra: O Pentateuco, atribuído a Moisés; Ilíada e Odisseia, de Homero; Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões e Macunaíma, de Mário de Andrade são alguns exemplos de (auto)identificação do povo por meio de seu repertório escrito e, especificamente nos casos ilustrados acima, estéticos, de ficção.
Tendo em vista o exposto antes e acreditando que nossa autoimagem é constituída, em partes, pela relação que mantemos com as palavras, algumas questões são necessárias. A primeira e mais óbvia é: a) Quais palavras fazem parte de nosso repertório enquanto educadores? Depois, fazendo um recorte para sala de aula: b) Quais palavras fazem parte do repertório de nossos alunos? E, por último, (mas não a última): c) Quais provocações a escola pode fazer para que tanto professores quanto alunos sejam “formados” por um melhor repertório de palavras? Fiquemos nestas questões.
2 Quais palavras fazem parte do nosso repertório?
Quando nos referimos a “nosso repertório” estamos pensando na perspectiva de educadores e de adultos que somos. Nesse sentido, também gostaríamos que as reflexões proposta aqui caminhassem nesta perspectiva: a de educadores e adultos.
Educadores retomando a nossa própria formação, as experiências que tivemos com leitura e com o livro, os autores e obras que conhecemos, os livros de que mais gostamos, aqueles que mexeram conosco, que nos pegaram no primeiro parágrafo...
Educadores a partir de nossas leituras diárias, as palavras com as quais nos identificamos diariamente, quais elegemos para fazerem parte de nosso vocabulário, do nosso “falar difícil” em reuniões pedagógicas, em palestras e aulas ministradas etc.
Educadores e nossa formação continuada, nos grupos de estudos que frequentamos, nos cursos de especialização, mestrado, doutorado etc. que temos feito ou com pretensão de fazer.
Educadores que têm um repertório de vida e de palavras mais amadurecido, mais adequado para cada uma das situações e que fazem uso da linguagem (principalmente da verbal oral e escrita e em Língua Portuguesa) de forma consciente, intencional...
Trazemos, nesse momento, a reflexão de Jorge Larrosa Bondía, quando diz:
As palavras produzem sentido, criam realidade e (...) funcionam como potentes mecanismos de subjetivação. Eu creio no poder das palavras, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e, também, que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “racionar” ou “calcular” ou “argumentar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece. E isto, o sentido ou o sem-sentido é algo que tem a ver com nossas palavras. E, portanto, também tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos diante de nós mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos. E o modo como agimos em relação a tudo isso. BONDÍA, (1999).
Concordamos inteiramente com ele porque também acreditamos no poder transformador da palavra. E não estamos tratando de nenhuma seita ou conceito transcendental, não. Estamos tratando aqui do sentido prático da linguagem. Daquela carga semântica que é atribuída a cada uma das palavras conforme a relação que cada falando, de cada povo e cultura, depositou nela através dos séculos e séculos. Por essa razão quando dizemos para alguém “Eu te amo” isso deve estar cheio de sentido de verdade; quando falamos “Deus o abençoe” que seja tudo isso que entendemos e desejamos por “Deus” e “benção”; assim como quando pensarmos em “desgraçado” ou “amaldiçoado” compreendamos, antes, que sentimentos e sensações estas palavras despertarão no atingido por elas.
O que é mais gostoso ouvir?:
“Amor: 1. afeição profunda; 2. objeto dessa afeição; 3. Conjuntos de fenômenos cerebrais e afetivos que constituem o instinto sexual; 4. Coisa ou pessoa bonita, preciosa; 5. Afeto a pessoa ou coisa; 6. Relação amorosa; 7. Entusiasmo, paixão; 8. Inclinação sexual forte por outra pessoa; 9. A pessoa amada; 10. Cobiça; 11. Veneração; 12. Caridade.” (RIOS, 1999).
Ou:
“Amor é fogo que arde sem se ver,/ é ferida que dói, e não se sente;/ é um contentamento descontente,/ é dor que desatina sem doer./ É um não querer mais que bem querer;/ é um andar solitário / entre a gente;/ é nunca contentar-se de contente;/ é um cuidar que ganha em se perder./ É querer estar preso por vontade;/ é servir a quem vence, o vencedor;/ é ter com quem nos mata, lealdade./ Mas como causar pode seu favor/ nos corações humanos amizade,/ se tão contrário a si é o mesmo Amor?” ?(CAMÕES, 2004).
Não gostaríamos de direcionar as respostas, mas certamente o segundo texto é muito mais atrativo. E o interessante é que em ambos os casos o objeto de discussão é o AMOR. É bem verdade que necessitamos dos dois textos. Não cabe aqui excluir um e deixar com que o outro “reine soberanamente” em nossas mentes ou de nossas crianças e adolescentes. Por isso mesmo, o contrário também vale. Por vezes aplicamos uma “overdose” de textos técnicos em nossas salas de aula e o texto estético, de ficção, a poesia... aparecem como “perfumaria”, “pano-de-fundo” para uma “grandeloquente estrela”, personagem principal.
Então, quais palavras fazem parte de seu repertório? Como você se relaciona com as palavras diariamente? Seu vocabulário é um “quase-robô” (com palavras “secas”, mecânicas, pobres de significados...) ou é um solo fértil em que há possibilidades de sensações e significados? Precisamos “engravidar”5 as palavras...
2 Quais palavras fazem parte do repertório de nossos alunos?
É a outra ponta, não é mesmo? A sala de aula é feita, principalmente, por esta alquimia: professor e aluno. É dessa relação que as coisas acontecem (para o bem ou para o mal). É para esta relação que está dedicada a maior parte da carga horária dos 200 dias letivos, das pontes e feriados (ou você não corrige provas e prepara atividades nesses dias?!), das comemorações e festas escolares... Então, é esta relação de pessoas-palavras que merece as atenções, as leituras, as palavras...
É lógico que não devemos generalizar. Também não temos nenhuma base científica para afirmar categoricamente o que vamos dizer. Mas partindo da experiência que temos em sala de aula e também de depoimentos que ouvimos, lemos e vemos diariamente por meio de jornais, revistas, blogs, televisão, escolas etc. não é difícil concluir que muito, infelizmente, do que é dito, escrito e pensado por nossos alunos (e estamos falando de crianças, adolescentes e jovens) é atravessado de maledicência, de aspereza, de truculência e de depreciação para ficar nos adjetivos mais comportados.
No tratamento que dispensam, em grande parte, uns para com os outros, na maneira como muitos respondem (às vezes agridem) professores, coordenadores e diretores, nas palavras que registram em carteiras, cadeiras, portas e paredes, muros e fachadas, cadernos e livros... fica claro que universo de palavras os constituem. Um cenário bastante ruim, em minha opinião.
Certa vez estava saindo de uma das escolas municipais de Araçatuba e, ao entrar no carro, ouvi a seguinte frase de uma criança para outra: “Para com isso, sua desgraça.”. Fiquei chocado com aquilo porque nunca gostei desta palavra: DESGRAÇA. Sempre que a ouvia me incomodava. Não gostava de pronunciar e nem de ouvi-la. Parei o carro ao lado dos dois meninos e disse para que não repetissem mais aquilo.
Comentei num grupo de estudo no outro dia e minha amiga, diretora da Rede Municipal, Elis Avelhaneda, conseguiu me acalmar: “Antonio, pense em DEZ GRAÇAS!”. Ela nem sabe, mas me salvou! Arrumou um jeito de eu me relacionar com essa palavra. Hoje, sempre que a ouço penso em DEZ graças.
O exemplo é simples, por isso convidamos você a pensar nas palavras que tem ouvido e lido de seus alunos, quais palavras que os constituem, qual carga (se positiva ou negativa) predomina na formação dessas crianças.
É lógico que outras questões orbitam nessa, como a que formação estas crianças estão submetidas, a que condições sociais vivem cada uma delas, a que oportunidades tiveram acesso de leitura, de saberes, de palavras... É por isso que antecipamos no começo deste artigo que não seriam somente três perguntas que resolveriam o problema. Mas não cabem aqui serem discutidas. Não temos tempo para isso. A provocação é no sentido de constatação. Ou seja, precisamos oferecer um novo repertório de palavras para nossas crianças diferente dos que elas já têm.
Aí passamos para terceira (mas não última!) pergunta.
3. Quais provocações a escola pode fazer para que tanto professores quanto alunos sejam “formados” por um melhor repertório de palavras?
Na primeira pergunta deste artigo propusemos um primeiro olhar para a própria formação do professor, seu cotidiano com a leitura, com as palavras, o modus operandi utilizado por ele para se relacionar com os textos, principalmente os estéticos. Na segunda questão buscamos pensar um pouco sobre o universo da palavra no universo da escola, da vida do aluno e, a partir desses universos, estabelecer a relação entre eles. Nesta terceira questão estamos propondo uma PROVOCAÇÃO. Sim, porque entendemos que muito do que é bem feito nas escolas e salas de aula brasileiras é resultado de uma provocação, de um desafio.
Como diria Monteiro Lobato, “Livro é sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês.”. E o que é por “debaixo do nariz” se não uma provocação? Neste ponto envolvemos os vários personagens-participantes da escola: diretor, coordenador, professor, funcionários, gestores, pais de alunos, comunidade com um todo... no sentido de serem PROVOCADORES. Quais provocações temos feito com relação à palavra, à leitura?
O professor pode provocar o aluno com a palavra selecionando um livro, um poema ou qualquer outro texto (de preferência literário/estético/poético) para iniciar e/ou terminar a aula. Pode selecionar um dos dias da semana para fazer um “pique-nique literário” ou uma discussão a partir de textos de que alunos mais gostaram de ler durante o mês.
O coordenador pedagógico pode provocar professor e alunos discutindo projetos e propostas para o uso de cantos de leitura nas salas de aula, no uso da biblioteca, numa olimpíada de leitura ou no convite de avós ou pessoas da comunidade ao entorno da unidade escolar para contarem histórias para as turmas ou até mesmo alunos mais velhos contando histórias para os mais novos.
O diretor pode ser um grande provocador de leitura e de palavras ao comprar bons livros mensalmente a partir de lista apresentada por professores e alunos, na solicitação de verbas para construção, ampliação ou adequação de bibliotecas, salas de leitura, treinamento de pessoal, adequação de mobiliário etc. etc. etc. Pode, também, com coordenadores, professores e comunidade em geral, traçar ações e propor metas para a apreensão de habilidades e competências leitoras nos Planos Políticos Pedagógicos, nos Planos de Cursos, Planos de Aula e Semanários, nas discussões que fazem parte das HTPCs (Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo) e HTPPs (Horas de Trabalho no desenvolvimento de Projetos e Pequisas), ou seja, PENSAR e PLANEJAR ações de leitura que tenham vazão a curto, médio e longo prazo e que tenham METAS e PROPÓSITOS distintos para cada uma das séries que compõem a Educação Infantil e Ensino Fundamental contempladas em nosso Sistema Municipal de Ensino.
Como podemos observar, as provocações podem ser muitas e feitas pelas várias personas que (inter)agem com e na escola.
3.1 Algumas provocações literárias...
Como forma de dar o exemplo, sugiromos abaixo algumas obras e seus respectivos autores. São sugestões de gêneros variados e para os mais diferentes gostos (quem quiser provar de tudo, fique à vontade!). Claro que é somente uma provocação... Quão difícil para um leitor voraz sugerir títulos, autores, textos... Mas certamente aí vão algumas leituras que, sem dúvida, de algum modo irão seduzir quem quer que entre em contato com elas. Como deixa José Paulo Paes no subtítulo do livro É isso ali6, (outra provocação!) textos adulto-infanto-juvenis.
Pegue cada um deles. Leia-os saborosamente. Deguste cada uma de suas palavras, misture os sabores delas, forme novos sabores, coloque mais este ou aquele tempero, deixe gelar por um tempo (tem palavras e textos que precisam ficar um tempo “na geladeira” para serem saboreado de forma mais gostosa). Faça a sua sobremesa, coma-a, partilhe-a, coloque-a debaixo de muitos narizes!
Título/Autor/Editora
O menino que descobriu as palavras/ Cineas Santos/ Ática
Guilherme Augusto de Araújo Fernandes/ Mem Fox/ Brinque Book
É isso ali/ José Paulo Paes/ Salamandra
19 poemas desengonçados/ Ricardo Azevedo/ Ática
Dona Baratinha/ Ana Maria Machado/ FTD
Menina bonita do laço de fita/ Ana Maria Machado/ Ática
Uni, duni, tê/ Ângela Lago/ Moderna
O pequeno príncipe/ Antoine de Saint-Exupéry/ Agir
A casa sonolenta/ Audrey Wood/ Ática
Coração não toma sol/ Bartolomeu Campos de Queirós/ FTD
As palavras voam/ Cecília Meireles/ Moderna
A vida íntima de Laura/ Clarice Lispector/ Rocco
O tesouro na rua/ Cristovam Buarque/ Rosa dos tempos
Nós/ Eva Furnari/ Global
A fada que tinha ideias/ Fernanda Lopes de Almeida/ Ática
Um gato chamado gatinho/ Ferreira Gullar/ Salamandra
A terra dos meninos pelados/ Graciliano Ramos/ Record
O menino poeta/ Henriqueta Lisboa/ Global
Pode me beijar se quiser/ Ivan Ângelo/ Ática
Alice no País das Maravilhas/ Lewis Carroll/ Summus
A bolsa amarela/ Lygia Bojunga Nunes/ Casa Lygia Bojunga
O fazedor de amanhecer/ Manoel de Barros/ Salamandra
A moça tecelã/ Marina Colasanti/ Global
O homem que soltava pum /Mário Prata/ Caramelo
O batalhão das letras/ Mário Quintana/ Global
Cacho de histórias/ Eliardo França/ Mary e Eliardo França
O menino do dedo verde/ Maurice Druon/ José Olympio
Nó na garganta/ Mirna Pinsky/ Brasiliense
Reinações de Narizinho/ Monteiro Lobato/ Brasiliense
O fantástico mistério de Feiurinha/ Pedro Bandeira/ FTD
Viva a diferença/ Roberto Caldas/ Paulus
A galinha xadrez/ Rogério Trezza/ Brinque Book
Classificados poéticos/ Roseana Murray/ Nacional
O menino que quase virou cachorro/ Ruth Rocha/ Melhoramentos
33 ciberpoemas e uma fábula virtual/ Sérgio Caparelli/ L&PM Editores
O peru de peruca/ Sônia Junqueira/ Ática
Chora não...!/ Sylvia Orthof/ Atual
Cançãozinha e outros sons/ Tatiana Belinky/ Paulinas
Layla Terezinha/ Alvarenga/ Miguilim
A arca de Noé/ Vinicius de Moraes/ Companhia das Letras
A cortina da tia Bá/ Virginia Woolf/ Ática
Flicts/ Ziraldo/ Melhoramentos
É lógico que você precisará de algum tempo para ler todos estes livros. Mas, com certeza, você já provou de alguns deles, não é mesmo? Que sabor teve? Como foi a experiência? Você o partilhou com seus alunos ou com outros colegas da escola, da família, da sua relação de amizades? Como é dividir palavras gostosas? Palavras que fazem bem tanto para quem fala quanto para quem as ouve? Será que as crianças, adolescentes e jovens gostariam de ouvi-las? Será que depois também não irão partilhá-las? Dividi-las com suas famílias e amigos, com as pessoas de seu bairro? Será que quando precisarem resgatar e oferecer alguma palavra terão repertório para isso? Pensamos que sim.
4. Considerações finais
Quando tomamos consciência de que nossa relação com a palavra é algo corriqueiro e constante, também nos apropriamos da importância de se relacionar com ela (ou com as várias palavras que compõem nosso cotidiano) de forma mais profícua e corroborativa.
Pensar no espaço escolar (também) como um espaço privilegiado para o tratamento e uso de palavras a partir de textos que circulam nos bancos, pátios e outros ambientes escolares é dar condições para que os vários agentes educativos (gestores, professores, alunos, familiares etc.) se revistam de um repertório que ajude o outro, que o estimule à reflexão, que sensibilize para temas importantes a partir de universos distintos, de expectativas particulares, de experiências significativas etc.
Relacionar-se com a palavra sob múltiplas maneiras é também atender às necessidades comunicativas da própria língua: para cada situação um uso, para cada intenção uma seleção específica. Se possível, os textos de ficção e poesia, já que, a nosso ver, há pouco espaço (apesar dos avanços) ainda para eles e porque são os que mais dão espaço ao poder das palavras.
Dito de outro modo, propusemos ao longo deste artigo pensar na relação que mantemos com as palavras, inclusive e, até certo ponto, principalmente na escola, visto ser um dos poucos (e para alguns único) locais em que há oportunidade de se tratar deste tema, as possibilidades de uso da palavra.
Esperamos que as reflexões aqui levantadas sirvam, como indicado no começo, para provocar outras, para ampliar repertórios, para propiciar o diálogo (ou os diálogos) referentes ao tema e que, de forma muito prática e objetiva, partamos para AÇÃO.
5. Bibliografia
RIOS, Dermival Ribeiro. Minidicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: DCL, 1999.
CAMÕES, Luis Vaz de. Sonetos de Luis de Camoes. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004.
BONDÍA, Jorge Larrosa. Pedagogia profana. Belo Horizonte/MG: Autêntica, 1999.
Referências:
1 Título baseado em verso do poema Romance LIII ou Das palavras aéreas, de Cecília Meireles, in: Romanceiro da Inconfidência, 1ª edição, Ed. Nova Fronteira, 2005.
2 Trecho do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, 1ª edição, LP&M Editores, 1997.
3 Versos do poema Meus oito anos, de Casimiro de Abreu, in: Casimiro de Abreu – obra completa, 1ª edição, Ed. G. Ermakoff, 2010.
4 Versos de Manuel Bandeira, do poema Vou-me embora pra Pasárgada, in: Manuel Bandeira – Poesia Completa e Prosa, 1ª edição, Ed. Nova Aguilar, 2009.
5 Referência a um termo cunhado pelo educador Paulo Freire quando dizia que as palavras deveriam ser semeadas pelo mundo, “mas não quaisquer palavras, mas as grávidas de mundo”, presente no livro Dicionário Paulo Freire – Danilo R. Streck (org.), 2ª Edição, Ed. Autêntica, 2008.
6 É isso ali, José Paulo Paes, 2ª edição, Ed. Salamandra, 2005.