quinta-feira, 31 de março de 2011

GANHADORES DOS LIVROS

PARABÉNS A TODOS QUE PARTICIPARAM DA PROMOÇÃO "INDIQUE AMIGOS E GANHE LIVROS" DESTA SEMANA. CONTINUEM VISITANDO O BLOG E SEMEANDO LEITURA E LIVROS...

OS GANHADORES SÃO:

1. THAÍSA SOARES
2. LÍVIA JACOB
3. MARIA LÚCIA TERRA
4. FERNANDA AMARAL
5. INÊS RAMOS DOS SANTOS

PARTICIPEM E DIVULGUEM ESTE BLOG PARA SEUS CONTATOS.

ANTONIO LUCENI

quarta-feira, 30 de março de 2011

COLETÂNEA "TANTAS PALAVRAS" - ADESÕES PRORROGADAS

A ADESÃO PARA PARTICIPAÇÃO DA COLETÂNEA DE CONTOS E CRÔNICAS "TANTAS PALAVRAS" FOI PRORROGADA PARA O DIA 30 DE ABRIL DE 2010.

SE VOCÊ QUER PARTICIPAR, AINDA HÁ TEMPO. AJUDE DIVULGANDO PARA SEUS CONTATOS.

REGULAMENTO EM

domingo, 27 de março de 2011

QUEM TEM MEDO DE FICHA LIMPA?

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Venho acompanhando, nas últimas semanas, as discussões em torno da lei do Ficha Limpa. Para quem não se recorda do que se trata, vale à pena lembrar: uma lei que impede que qualquer político ou pessoa interessada em um cargo público eletivo possa exercer mandato caso haja qualquer pendenga comprovada, desde compra de votos até esconder dinheiro público na cueca (disso você se lembra, não é mesmo?!).
Bom, retomadas as lembranças do fato, vamos então para vias dele:
1.   Por que a demora, então, na “aprovação” e aplicação da referida lei? Em tese, deveria ser a coisa mais natural do mundo, ou seja, ser honesto, transparente e técnico no uso e gestão do dinheiro público é a praxe de qualquer político (ou não?!);
2.   Por que essa história de retroatividade ou postergação na aplicação da lei? O que interessa se ela vale pra já ou se (talvez!) valerá para 2012? Por acaso quem será honesto em 2012 não pode ser honesto agora?
3.   Por que ignoram as mais de 2 milhões de assinaturas e as outras tantas milhões via internet no percurso de aprovação da lei?
4.   Quais os interesses de ministros, juízes, advogados, desse ou daquele deputado ou senador em criar brechas e mecanismos que cristalizem as ações práticas de aplicação da lei?
5.   Por que sempre as mesmas caras, os mesmos nomes, as mesmas desculpas esfarrapadas de políticos que já sugaram e continuam a onerar a máquina pública?
6.   Por que nós, brasileiros, cidadãos de bem, pagadores de impostos (e põe impostos nisso) continuamos parados, de braços cruzados, como medusa a contemplar ante o espelho a própria destruição?
7.   Por que vivemos submetidos a sistemas ditatoriais, extremistas, travestidos de democráticos e equitativos e não nos indignamos com as mazelas e arapucas a que somos submetidos diariamente?
8.   Por que não seguimos os exemplos de países que estão há décadas (tais como nós) sob os cabrestos de ferro de ditadores que querem a nossa carne, o nosso sangue, os nossos ossos, a nossa alma?
Retomando Chaplin, na voz de “O grande ditador”, nós somos homens, não somos máquinas. Temos que retomar nossa capacidade de pensar. Temos que retomar nossa capacidade de indignação. Não podemos nos conformar com a exploração, com o cabresto.
Responder às perguntas acima é mais que uma tarefa de casa: é uma responsabilidade da vida. É a partir de reflexões como estas que vamos retomando nosso processo de humanização, de nos colocarmos de pé de novo. Abrir mão da comodidade do “pão e circo” e começar a comer “bagaço” se for necessário. Se necessário for, aguentar a flecha no peito, o tiro no olho, a martelada no pé.
Se preciso for, suportar o “pau-de-arara” de novo, ser exilado, viver sob a treva, nas frestas dos muros, mudar de nome, trocar de sexo, qualquer coisa que abra uma janela pra gente respirar.
Pra sair do sufoco é preciso se mexer, porque se não, fica assim, do jeito que está.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

quarta-feira, 23 de março de 2011

AINDA HÁ LIVROS

AINDA HÁ QUATRO EXEMPLARES DE "A ARTE DA GUERRA E DA DIALÉTICA" DO ESCRITOR JORDEMO ZANELI JÚNIOR PARA SEREM PRESENTEADOS.

QUER GANHAR UM?

INDIQUE UM AMIGO PARA SEGUIR ESTE BLOG E, DEPOIS QUE ELE O ESTIVER SEGUINDO, PEÇA PARA QUE ENCAMINHE UM E-MAIL PARA aluceni@hotmail.com DIZENDO QUE VOCÊ O INDICOU.

MAS SEJA RÁPIDO. HÁ SOMENTE QUATRO EXEMPLARES.

INDIQUE AMIGOS E GANHE LIVROS.

UMA CAMPANHA DE ESTÍMULO À LEITURA

ANTONIO LUCENI

domingo, 20 de março de 2011

SAY HELLO, MR. OBAMA!

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Sou muito honesto em dizer que sempre tive uma pulga atrás da orelha quando ouvia falar nos Estados Unidos. Também meu aprendizado em inglês em muito ficou prejudicado desde o começo porque não me interessava muito pela língua; lógico que isso era extensivo ao que pensava do principal (vejam só!) país falante do tal vernáculo.
Isso porque a terra do Tio San esteve – e até hoje ainda é um pouco assim – para mim como algo antipático, prepotente e alienador. Sempre enxerguei os norte-americanos, de modo geral, como um pessoal que se achava dono “da cocada preta” (ou seria da “branca”?), a “última bolacha do pacote”, “best of de best”.
Essa aversão toda ficou ainda mais intensa para mim quando o inclassificável George W. Bush assumiu a Casa Branca. Nunca vi um cara tão ordinário e irresponsável (para ficarmos nos termos mais leves) como esse. (Talvez fique empatado com outros como Hugo Chávez, Muammar Kadhafi, Mahmond Ahmadinejad, entre outros).
Comecei a olhar com certo otimismo, assim como tanta gente no mundo, quando da última eleição a vitória de Barak Obama. Pela primeira vez um negro no poder, de origem simples, também com certa simplicidade no jeito de falar e tratar aos demais. Acredito, um tanto quanto mais centrado, aberto aos demais países e, como nós brasileiros, um mestiço, um misturado.
É verdade que ainda terá um longo caminho para aproximar as outras nações dos Estados Unidos. O percurso é grande para que coloque a própria vida dos norte-americanos em ordem e que, de modo viável, intercambie como outros povos para recolocar o país num patamar mais aceitável para uma nação democrática e do chamado primeiro mundo.
What about to learn anythings with us? For exemple:
1.      Nós aqui vivemos com pouco (a maioria de nós, é claro), com um salário para lá de apertado. Corremos duro o dia inteiro (e a noite também) para no final do mês mantermos as contas em dia e sobrar alguma merreca para gastar;
2.      Somos um povo passivo (e a passividade é até certo ponto um problema em dadas ocasiões, mas...) e esse negócio de guerra, de que tanto gostam, não é nossa praia, não;
3.      Nossas florestas, Mr. Obama, são nossas, incluindo a amazônica. Não adianta colocar olho gordo que a gente pinga colírio diet!
Say Hello, Mr. Obama and we’ll say good bay!

Antonio Luceni é mestre em Letras e Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

sexta-feira, 18 de março de 2011

WORKSHOP "BLOGANDO ESCOLAS", TURMA DO ENSINO FUNDAMENTAL

O segundo dia de formação com educadores do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba, com o workshop "Blogando escolas", assim como o primeiro, foi realmente muito enriquecedor. Diretoras, coordenadoras pedagógicas, professores e estagiários interagiram de forma muito intensa e o saldo no final do dia foi 100% de nossas escolas blogadas. Todos saíram de lá com o compromisso de inserir essa ferramenta tecnológica tão plural e útil em seus locais de trabalho. Agora, é só esperar para outros tutoriais sobre o tema.
Obrigado a todos os colegas da Rede Municipal de Ensino que se envolveram tão inteligentemente nesse processo.

quinta-feira, 17 de março de 2011

WORKSHOP "BLOGANDO ESCOLAS"



A tarde do dia 17 de março foi um tanto quanto agitada com a presença de Diretoras, Coordenadoras e Professoras do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba/SP. Sob a orientação do professor Antonio Luceni, todas as profissionais criaram um blog para as respectivas escolas representadas no Workshop "Blogando Escolas". A euforia tomou conta da moçada que ora chorava, ora reclamava, ora ria, ora (muita ora) conversava, deixando o monitor de cabelos em pé... Vou ter que fazer gargarejo de água com romã para ministrar o curso com a turma de amanhã!!!! ahahahahahahahhahah!!!!! Mas valeu a pena, como diria Pessoa "Tudo a vale a pena se a alma não é pequena!".

quarta-feira, 16 de março de 2011

INDIQUE UM AMIGO E GANHE UM LIVRO


O escritor Jordemo Zaneli Júnior fez uma doação de 05 exemplares de seu livro "A arte da guerra e a dialética" que, segundo a própria indicação constante no livro "... uma introdução da filosofia no mundo dos negócios, humanizando as relações, para o alívio dos conflitos e contradições do cotidiano...".

QUER GANHAR UM EXEMPLAR?

Simples: convide um amigo para seguir este blog. Depois, peça que ele encaminhe um e-mail para aluceni@hotmail.com dizendo que você o indicou. Pronto! Um exemplar é seu.

Mas corra, só são 05 exemplares!

Indique amigos e ganhe livros!
Promovendo a leitura e a literatura!

Antonio Luceni

domingo, 13 de março de 2011

UM LEVE AMARGO NO FINAL

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Desejava-lhe há muito. De longe a observava fazia alguns dias. Não tinha coragem de se aproximar dela. Não. Talvez fosse mais cuidado e prevenção do que falta de coragem. Na verdade tinha medo que outros a estivessem pretendendo também. Então, naquele momento o mais correto seria aquilo mesmo. O olhar distante, o cuidado pastoreiro, como se a livrá-la dos lobos de plantão.
Você já deve ter desejado uma assim também. Deve ter dormido e pensado nela. O receio de que alguém se apossasse dela antes de você deve ter-lhe causado insônia, talvez. Todo mundo já ficou com uma coisa assim na cabeça, com uma pulga atrás da orelha. Não venha me dizer que não...
No outro dia, mal lavado o rosto, a busca:
- Que linda! Que sedutora! Vamos ser honestos: Que gostosa!
Gostosa era apelido. Talvez não existisse uma como ela num raio de quilômetros dali. Cada qual tinha seus pensamentos sobre a gostosona. Uns a queriam despir devagarinho, como uma odalisca na dança dos véus. Outros a queriam amassar, pressioná-la em dedos por toda parte e, depois de derretida, chupá-la inteira. (Não vamos fazer mais descrições por estas linhas para não ultrapassarmos os limites dos bons modos.)
Dia a dia, semana após semana, uma espera incansável.
- Mas quando será que estará pronta, meu Deus?! Eu não aguento mais de desejo.
Certamente este seria o comentário mais recorrente na cabeça dos que a desejavam. Talvez passassem outros. Talvez mais comportados. Talvez mais atrevidos. Mas a verdade era uma só: quem não a estava querendo comer? (Meu Deus! Tinha jurado a mim mesmo que não chegaria a esta situação. O cúmulo do despojamento, do desapego, do moral... O que é que um homem não faz por uma gostosa. Perde a razão, o controle das coisas, entre as quais, de si mesmo).
- Mas que se dane. Tô a fim dela mesmo. Vou chegar rasgando o verbo. Vou partir pra cima. Doa a quem doer. E se alguém ousar entrar em meu caminho não sei do que serei capaz.
O coitado já tinha perdido a razão mesmo. Estava dominado pelo instinto. Um instinto primitivo, dos mais primitivos primatas. O de saciar sua fome. O de refestelar-se com o pecado da gula. E não se conteve. Partiu pra cima mesmo.
Uns tentaram impedi-lo mas, como prometido, não os respeitou. Outros, de longe, tentaram pela última vez persuadi-lo, dizendo que não era tempo, que esperasse mais um pouco. Mas ele não quis saber.
De pau na mão foi logo agindo sem entremeios: bateu com força na frondosa mangueira e a derrubou.
Poft! O estalo seco produzido com a queda logo indicava a sua condição: ainda de-vez. Não se importou, rasgou-lhe a casca com a boca mesmo e deu a tão desejada mordida.
Ao invés de doce, um leve amargo no final.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor de Integração Regional da União Brasileira de Escritores – UBE.

sexta-feira, 11 de março de 2011

A CHUVA EM TELHADOS ANTIGOS

Em tempos de chuvas, resolvi dividir com vocês esse conto do escritor mineiro, Luiz Vilela, um dos meus favoritos (contista e conto!). Vejam se gostam... Há, inclusive, um curta metragem feito a partir dele, de Rafael Conde. Você poderá conferir um trecho no link: http://www.rafaelconde.art.br/filmografia.htm


Luiz Vilela



─ Que estranho... – ela disse. ─ Mas como você me descobriu aqui, Wilson?
─ Isso é um segredo; eu contratei um detetive particular...
Ela riu.
─ Você vê que não adianta esconder – disse ele; ─ mesmo que fosse a cidade mais longe do mundo, eu ainda te encontraria...
─ É – ela tornou a rir, ─ eu estou vendo...
Ele pegou o maço de cigarros. Ofereceu-lhe: ela agradeceu.
─ Você parou de fumar?... – ele estranhou.
─ Parei; o Olímpio não gosta.
─ Nem dentro de casa?
─ Não – ela respondeu, e se levantou: ─ deixe-me pegar um cinzeiro...
Ela foi pegar o cinzeiro em cima de um móvel, e ele aproveitou para observá-la com mais liberdade. Ela continuava bonita; mas, claro, não era mais aquela menina graciosa, de olhos melancólicos, que ele conhecera tempos atrás: era uma mulher, e tinha mesmo aquele ar negligente de uma mulher com dois anos de casada.
─ Detetive... – ela pôs o cinzeiro à sua frente e voltou a sentar-se. ─ Mas me conte, Wilson, quê que você fez durante esse tempo, por onde você andou...
─ Fiz muita coisa, Tânia; andei por muitos lugares; pintei muito...
─ Fiquei sabendo de uma exposição sua há pouco tempo.
─ Uma no Rio?
─ Acho que é. Eu li num jornal. Sei que o sujeito lá te fazia os maiores elogios, te chamava de um dos grandes talentos novos da pintura brasileira... Está vendo?
─ É, não posso me queixar quanto à minha carreira; tenho tido bons êxitos. Com os quadros já deu até para eu ir à Europa.
─ Eu soube mesmo que você foi. Que tal?...
─ Ótimo; gostei muito. Andei bastante por lá; fiquei uns tempos em Paris...
─ Paris... – ela disse.
─ Você lembra?...
Ela sacudiu a cabeça.
─ Quantos planos, hem?... – ele lembrou.
─ É... E nenhum deu certo... Bom, pelo menos, você foi a Paris...
─ Fui, mas não como estava naquele plano...
─ É assim mesmo: as coisas nunca são exatamente como a gente deseja.
Ela olhou na direção da janela, como se procurasse ver algo longe, na memória.
─ De vez em quando eu me lembrava lá de você – ele disse; - de você, de nossos planos... Era o último dia de aula, você lembra? O último dia de aula e seu último ano no colégio. Você disse: “Hoje é a última vez na vida que eu visto esse uniforme odiento.”
Ela riu: estava surpresa de vê-lo lembrar-se daquele detalhe que ela própria não fixara. E no entanto fora isso, exatamente, o que dissera.
─ Não foi o que você disse? – ele ainda perguntou, para confirmar.
─ Foi; exatamente... Puxa, como você foi guardar uma coisa dessas, Wilson? Eu nem lembrava mais.
─ Pois é... Você vê que eu não esqueço nada...
Ela baixou os olhos, como se houvesse, naquela frase, uma velada acusação.
─ Engraçado é sabe o quê? – ele continuou. ─ Que você estava achando bom não vestir o uniforme, e eu achando ruim.
─ Ruim? Você? Por quê?...
─ Porque foi com ele que eu te conheci, e então eu pensei que eu nunca mais te veria como naquele primeiro dia. E isso era como se... como se eu começasse a te perder...
Ela tornou a baixar os olhos.
─ Quê que você fez dele?
─ Dele? – ela ergueu os olhos de novo.
─ Do uniforme.
─ Ah; nem lembro mais, nem sei quê que eu fiz.
─ Claro – ele disse; - que bobagem...
Os dois riram sem-graça.
─ É... – ele disse; - muita água passou...
─ Por que você não me telefonou aquela vez, Wilson?
─ Aquela vez?
─ Eu te pedi que telefonasse, não pedi?
─ Pediu, você pediu...
─ Por que você não telefonou?
─ Não sei; eu fiquei na dúvida. Eu não sabia se você queria mesmo que eu telefonasse...
─ Sempre duvidando das coisas, hem?... – ela repreendeu com um terno sorriso.
─ Sempre, eu não digo; mas aquela vez... Foi uma fase difícil para mim, Tãnia; eu estava com uma porção de problemas, sem emprego... E o pior é que eu não sabia se continuava com a pintura, tinha dúvidas sobre minha vocação...
Ela o olhava, escutando com atenção.
─ Depois, com muita dificuldade, as coisas começaram a se estabilizar e aí eu fiquei mais seguro do que queria; fiquei mais tranquilo.
─ A gente nota isso.
─ Você nota?
─ Noto; noto que você ficou mais adulto.
─ Bom, mas, também, já era tempo, né?...
─ E eu? – ela perguntou. – Você acha que eu mudei?
─ Mudou; mudou muito. Você era uma menina àquela época; agora é uma mulher. Mas continua tão linda quanto antes.
Ela sorriu. Ficaram os dois por alguns segundos em silêncio.
─ Você toma um licor, Wilson? – ela perguntou.
─ Licor? De quê?
─ Murici.
─ Murici? Faz anos que eu não vejo murici.
─ Você gosta?
─ Muito.
─ Da fruta e do licor também?
─ Ambos os três.
Ela riu.
─ Vou trazer pra nós.
Levantou-se e desapareceu no corredor.
Ele chegou até a janela. A chuva, miúda, continuava a cair sobre as casas de telhados antigos. Um pouco mais longe estava o rio, de águas barrentas, com bananeiras à margem. O céu encoberto, o dia escuro, ninguém passando na rua. Era uma paisagem triste, e ela o fazia recordar-se de outras, antigas, que ele não sabia de quando nem de onde mas que estavam bem lá no fundo de sua memória, na parte mais solitária de seu ser. E ele então sentiu de novo o que tantas vezes sentira: aquele gosto antecipado de perda, a inutilidade dos esforços, o irremediável das coisas. Tudo já estava há muito tempo traçado, e qualquer tentativa de mudança terminava sempre em fracasso.
Ela chegou com o licor.
─ Estava olhando a chuva... – ele disse.
─ Há três dias que chove assim.
Os dois sentaram-se. Ele tomou um gole de licor.
─ Você que fez?
─ É.
─ Está ótimo; meus parabéns.
Ela sorriu.
No silêncio, ouviam o ruído apagado da chuva.
─ Quê que vocês fazem aqui, Tânia? Para se distrair...
─ Tem um cinema aí, é a única diversão. De vez em quando a gente também reúne a turma de engenheiros e faz uma festa; é uma turminha boa.
─ Você não sente falta daquela vida que a gente levava? Cinema, teatros, bares...
─ As vezes sinto, não vou dizer que não sinto; mas a gente se acostuma.
─ Eu acho que eu não me acostumaria.
─ Olha, quando chegamos aqui, no primeiro dia eu pensei: “Não aguento ficar nessa cidade nem mais um dia.” Agora já estou aqui há dois anos.
─ É... – ele disse, tomando mais um gole de licor.
─ É assim.
─ E em casa, quê que você faz para passar o tempo?
─ Adivinha...
─ Não sei...
─ Você vai rir.
─ O quê?
─ Tricô.
─ É?...
Ele de fato riu.
─ É, pelo que vejo, você está mesmo uma autêntica dona de casa, hem?
─ Tinha de ser, né?
─ Claro...
Tomou mais um gole.
─ E o Olímpio, ele fica a tarde inteira fora?
─ Fica.
─ Você não tem medo de aparecer algum tarado aqui? Ou essa cidade não tem tarado?
─ Tem a empregada.
─ A empregada é tarada?
─ Você, Wilson... Acho que você não mudou foi nada...
─ Ela fica com você, a empregada tarada?
Tornaram a rir.
─ Sabe, Tânia, eu não me conformo: você aqui nessa cidade, esse tipo de vida... Sinceramente, eu não acredito que você possa se acostumar com isso.
Ela sorriu apenas.
─ E algum herdeiro, já vem por aí?
─ Por enquanto, não...
Ficaram de novo calados.
Ele tomou mais um gole de licor.
Olhou as horas:
─ Cinco e cinco... O trem passa às seis...
Olhou pra ela:
─ Será que a gente se verá de novo, Tânia?...
Ela mexeu a cabeça, sem dizer nada.
─ Pode ser que a gente nunca mais se veja – ele disse.
Ele ficou olhando para o cálice de licor.
─ Você me perguntou o que eu vim fazer aqui; sabe, eu não vim fazer nada: eu vim aqui só para te ver. A saudade era muita. Eu queria te ver, queria falar com você, saber como você estava, ter a certeza de que você continuava viva...
Riu e olhou para ela:
─ Besta, né?...
Ela não disse nada; continuava olhando para o cálice de licor.
─ Você tem razão, Tânia; eu talvez não tenha mudado nada mesmo...
Foi até a janela e ficou algum tempo olhando a chuva. Começava a escurecer.
Tornou a olhar o relógio.
─ É, já é hora de eu ir andando...
Ela se levantou e veio também até a janela.
─ Você volta?... – ela perguntou, olhando para fora.
─ Você quer que eu volte?...
Ela mexeu a cabeça de modo indefinido.
─ Não sei, Wilson... Não sei...
Ele observou-a, depois ficou um instante olhando para fora.
Respirou mais forte:
─ Não – disse, - eu não voltarei.
Estava decidido.
Segurou de leve o rosto dela; lágrimas desciam mansamente.
─ Tiau, Tânia.
Ela não respondeu.
Viu-o ainda, pela janela, caminhando, sob a chuva, para a estação, que ficava no fim daquela mesma rua comprida. Ele ia a passos firmes, e nem uma vez se voltou para trás.

In: Contos, Luiz Vilela, Nankin, 2002.

terça-feira, 8 de março de 2011

EU SOU FELIZ COM AS MULHERES QUE TENHO



Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Gostava, quando criança, de assistir àqueles filmes e desenhos que abordavam cenas mágicas em que o passado, presente e futuro eram (re)visitados através de portais mágicos, feito “A caverna do dragão”, “De volta para o futuro” e, hoje, como os filmes do menino-mago, Harry Potter.
Sei lá, talvez fosse a mesma sensação que levou Manuel Bandeira a escrever o “Vou-me embora para Pasárgada” ou Gonçalves Dias com sua “Canção do Exílio”. Um sentimento de escapismo, de um lugar mais suportável para vivermos nossas angústias e prazeres, sem muitas regras ou formalidades... “Um índio”, como cantou Caetano.
Mas essas coisas não existem, não é mesmo?
Não é mesmo.
Esses portais são as mulheres; o único portal vivo e real capaz de transportar um ser de um outro plano, lugar, sei lá que nome é... (todos são provisórios até que se encontre um melhor) para esse nosso mundo. (É bem verdade que não é maravilhoso de todo, mas na dúvida, que bom estarmos aqui... Vá lá saber como estávamos lá do outro lado! Será que não estávamos à mercê de “O Vingador”? Será que não estávamos a menos de um palmo de nos esborracharmos no chão? Será que não íamos acabar sendo devorados por um peixe ou monstro de sete cabeças?! Sei lá, tudo isso é um mistério, mas que bom que este portal nos trouxe aqui.
A minha estreia neste mundo (não é só baiano que estreia, não!) aconteceu no dia 03 de março, há exatos 34 anos, num circuito que até hoje é objeto de minha investigação: Mulungú, pelos braços de Dona Mocinha; Pitombeira, lugar para onde fui levado; Mombaça, município no qual fui registrado. Mas o certo: cearense.
O portal da minha vida foi a D. Maria Pinheiro dos Santos. Uma nordestina porreta, filha de pais igualmente batalhadores, todos eles já descritos neste blog por mais de uma ocasião.
Falar em mulher em minha vida (e penso que nas dos demais também) é falar da própria vida. Afinal, elas ainda são o grande instrumento de Deus para que a espécie continue, para que a vida não se acabe, para que outros tantos seres maravilhosos (mesmo que os ruins também apareçam) passem a existir, a coexistir conosco.
Quando essas datas todas vêm celebrar, por vezes, futilidades (a mulher-fruta, a mulher-esnobe, a mulher-artificial, cheia de botox, de silicones, de plásticas que mais as deixam parecidas com plático), apego-me às referências que tenho sobre cada uma delas (as datas), nesse caso, as mulheres que fazem parte de minha vida e que, também, ma concederam: Maria Pinheiro dos Santos, minha mãe; Joana Rodrigues de Lima e Júlia Alves dos Santos, minhas avós; Francisca Lindalva dos Santos, minha irmã; Júlia e Letícia, minhas sobrinhas.
Celebrar o feminino não é nenhum pouco difícil pra mim. Celebrar o belo, o sensível, o sublime já faz parte da minha vida faz um tempão, nem sei precisar quanto. Conviver com gente que me anima, que me faz dar uma risada do tamanho do mundo, que me enche os olhos de emoção por um simples gesto, por qualquer conquista que seja, pelo o simples fato de existir em minha vida, plenas, soberanas, únicas mulheres... é bom demais.
É um privilégio para nós, homens, termos tanta capacidade, tanta sensibilidade à nossa volta. Eu sou feliz com as mulheres que tenho.

Antonio Luceni é Mestre em Letras e escritor, Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

domingo, 6 de março de 2011

NO PAÍS DO CARNAVAL

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com


Sobravam reis na festa. Cada qual com sua coroa mais elaborada, mais enfeitada, mais cheia de disque-dique, uma com mais brilho que a outra em lantejoulas, paetês e gliter. Cada qual com o seu manto mais enorme, com metros e mais metros de tecido de veludo, com babados e flu-flus, com pares e mais pares de vassalos a segurá-lo na extensão da festa (um ficava esbarrando no outro e gabando cada qual sua real realeza). Cada qual com seu cetro real, peça fálica do repertório que lhes garantia macheza, impavidez, tanto grossos quanto compridos, de tal modo que se entrecruzavam no vão alto do pé-direito do salão.
Sobravam rainhas na festa. Cada qual com suas tangas, minúsculas tangas que mais pareciam cordões de pendurar lambaris e caranguejos. Em cada cordão dez, mas se der uma choradinha, só paga nove. E os trancos dos quadris eram tão surpreendentes que quase iam de um lado ao outro do salão esbarrando em outros tantos foliões e chegavam a incomodar alguns. (Mas tudo era folia, tudo era alegria no país do carnaval...).
E onde estavam os súditos? Para onde foi Todo-mundo? Os súditos estavam ocupados (os poucos que restaram) a segurar os mantos reais. Todo-mundo estava de olho nas buzanfas das rainhas, nos minúsculos fios que se pretendiam cobrir-lhes o sexo. “Busquem água para real realeza!!!”, “Troquem o manto da real realeza!!”, “Limpem o suor da real realeza!”... E a garganta continuava seca, matavam a sede na saliva. O manto cada vez mais ensopado e no rosto as gotas de sal líquido embaçavam as vistas...
Os fios foram arrebentados, para a alegria da moçada. E aí que o samba no pé aumentou. Mantos devidamente ignorados, agora já eram estorvo. Os cetros já estavam pesando o dobro do que pesavam no início do baile e ninguém mais sabia o que fazer com eles. Uns sugeriam: “Enfiem naquele lugar!!!”, outros diziam: “Batam com eles em vossas cabeças!!”, “Ficaria bem se saíssem voando para bem longe daqui, como nos contos de fadas!”... A real realeza tinha sucumbido na festa e todos davam lugar aos parvos e arlequins...
Desfeitas as realezas. Rompidas as formais aparências, cada qual se portava como aquilo que era de fato. Alguns começaram a encher a cara, soltaram a franga (então solicitaram imediatamente uma farda de penosa para continuarem na festa). Outros começaram a rastejar e a comer restos e sobras de comidas, bebidas, confetes e serpentinas caídas pelo salão (foi inevitável a vestimenta de porco para contentar-lhes no baile). Para uns o bacanal foi a única solução: aliviar a tensão que tanto seguraram de uma vida “correta” e cheia de dedos, das formalidades reais, dos compromissos protocolares e cheios de firula. (Tudo era festa no país do carnaval!).
Tinha rei demais, o que conferia ao gesto festivo certa notoriedade e os flashes eram infindáveis. As rainhas também em número grande, mas como vestidos lhes faltavam (e as nádegas lhes sobravam) só dava cirurgião deixando cartão, de mão em mão, e representantes vários de reality shows e programas sensacionalistas querendo uma boquinha para o dia seguinte, depois da festa, quando o reino voltaria ao “normal”.
Aí os súditos apareceriam, com vassoura e rodo na mão, no país do Carnaval. 

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor de Integração Regional da União Brasileira de Escritores – UBE.