domingo, 26 de junho de 2011

O VALOR DA AMIZADE

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Vamos já começar problematizando o título? Se algo tem valor é porque pode ser mensurado, não é mesmo? Então, quando se chega a um fim, ao esgotamento da discussão, o assunto afunda-se em si mesmo. Fica já com jeitão de página virada, missão cumprida, calmaria...
Quantas pessoas passam pela vida da gente e deixam marcas em nossas vidas... Há pessoas que só passam, não é verdade? Vez ou outra cruzo com alguém na rua ou num supermercado, por exemplo, e aí a pessoa fica me olhando, eu tentando buscar na memória quem seria ela, em que momento teríamos cruzados nossas relações sociais, mas não tem jeito: fica no vazio. Talvez porque não se mostrou importante ou significativa para mim, não fez a diferença em minha vida.
Tem aquelas também que fizeram com que arrancássemos uma plantação de boldo!!! Aff, pra suportar tanto amargor, tanta indigestão... Só ouvir o nome do fulano já nos causa certa azia, não é? Por mais que isso não seja certo, bem sabemos, por mais que tenhamos que “dar a outra face”, mas o sabor do gesto volta. Não tem jeito. Mas aí, não vale a pena lembrar. Deixa isso pra lá.
Agora, coisa boa é gente bacana, que faz a gente crescer, que promove desafios pra gente, que nos instiga como ser humano. Essas pessoas estão cada vez mais raras, mas elas existem, sim. E se de fato existe mesmo o poder da atração, fico feliz com as amizades que tenho atraído para perto de mim.
Você já se relacionou com uma pessoa que, logo de cara, da primeira vez em que a viu, já gostou dela? Sei lá, é algo gratuito, sem muitos dedos, sem mais tempo para isto ou aquilo. Quando a gente vê já está envolvido em amizade, e a sensação que fica depois de uma ou duas semanas é que a gente já se conhecia há anos.
Gosto de conhecer pessoas. Gosto de me aproximar de alguém e ter a oportunidade de absorver pensamentos novos, ideias novas, visões diferentes do mundo. Afinal, somos INDIVÍDUOS e, dessa forma, cada um de nós tem um jeito muito particular de se relacionar com a vida.
Como diz Drummond no poema “Mundo grande”: “por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: preciso de todos.”.  E todos nós precisamos uns dos outros. Todos nós aprendemos uns com os outros. E a vida seria muito mais fácil de ser vivida se cada um de nós olhasse o outro não como concorrente, mas como alguém muito particular e que, por ser diferente da gente, não é concorrente, é cooperador de nossas ideias e ações.
Uma amizade pode ser medida de muitas formas e sob diferentes aspectos. Melhor dizendo: uma amizade, um amigo de verdade não tem valor, porque não pode ser mensurado, não pode ser acabado, nunca é esgotado.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor da União Brasileira de Escritores (UBE).

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Olívia tem dois papais


Por Antonio Luceni

Entrei em contato com este livro a partir de uma garimpagem na Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, em São Paulo.

O título já antecipa o que, de forma poética e encantadora, a autora, Márcia Leite, irá fazer com o texto. Por meio de palavras-chave - que são trazidas entre aspas (" ") no texto, a autora costura todo desenvolvimento da história que trata de uma família diferente, mas cada vez mais presente em nossa sociedade, nos mais diferentes países e culturas do mundo: filhos de casal do mesmo sexo.

A menina, adotiva, tem uma relação com seus dois papais, Luís e Raul, que é das mais abertas e sinceras possíveis. Ainda pequena, sabe de toda sua história de adoção e acolhida por parte dos pais, um casal de homossexuais.

É possível sentir, ainda que nas entrelinhas, que ambos os três - menina e pais - são irmanados por um sentimento comum: a rejeição. A menina, pela condição de abandono a que foi submetida e os pais pela condição biológica ainda pouco assimilada por nossa sociedade, ou seja, a condição de homossexuais.

Mas, para longe de tristeza e queixas, ambas as situações: adoção e homossexualidade, são tratadas de forma muito comovente e natural. Um fato que também me chamou a atenção é que a família do casal de pais também acolhe a menina, e a família como um todo, de forma honesta e fraterna.

É nas perguntas e dúvidas de Olívia que questões importantes são postas para o leitor a fim de que este olhe, como diria Quintana, por uma outra janela temas que, por vezes, e infelizmente, são jogados para "debaixo do tapete".

As ilustrações, bem poucas, comparadas a outros livros infantis, aparecem no texto pontualmente para, junto a ele, fazer com que o leitor se detenha neste ou naquele aspecto da narrativa, funcionando como "pausas reflexivas" no olhar do leitor.

A autora foi corajosa, em minha opinião, ao abordar tal tema de maneira tão direta e aberta. É verdade que outros textos também já abordaram a questão do homossexualismo e adoção na vida das crianças, mas, por ene questões, de forma tangencial, velada, difusa...

Se houve coragem por parte da autora e da editora em publicar tão significativo e belo livro, resta pensar que também outros tantos adultos - responsáveis diretos pelo encaminhamento e formação de nossas crianças - tenham a mesma ousadia em adotar o livro em suas escolas infantis, faculdades de educação, grupos de estudo ou mesmo individualmente para seus filhos e netos.

Seguindo igual linha de proposta, fico na esperança de que também a temática da homossexualidade seja abordada na literatura infantil - aí sim um grande passo de ousadia -em que crianças homossexuais sejam personagens principais e protagonistas de questões tão significativas e reflexivas sobre si mesmas, sobre sua condição biológica, social, cultural, religiosa...

E para os que acham isso uma "blasfêmia", um ultraje à "moral e aos bons costumes" da família é preciso que encarem essa realidade de frente, porque de fato a questão está posta e é realidade que precisa ser encarada, discutida, debatida, respeitada.

Ou vão querer, assim como alguns ditadores totalitaristas, exterminar com o diferente e prevalecer uma "raça pura" e "sem erros"? Queimar na "fogueira santa" ou impedir a chegada de "kits gays" na vida de nossas crianças, jovens e adultos? Independente da resposta, não podemos admitir que, em pleno século 21, retrocedamos como humanidade e caiamos nos mesmos erros e ditames do passado que, hoje, só nos envergonham e, para os conscientes é claro, causam dor de cabeça e da consciência.

Olívia tem dois papais
Autora: Márcia Leite
Editora: Companhia das Letrinhas
Valor: R$ 26,10
Onde comprar: http://www.submarino.com.br/busca?q=olivia+tem+dois+papais&dep=1

terça-feira, 21 de junho de 2011

Uma breve reflexão sobre o conceito "professor reflexivo"

Maria Lúcia Terra

Olá, pessoal! Estou de volta, depois de uma semana de ausência e hoje convido todos a pensar um pouquinho sobre a recepção do conceito de “professor reflexivo”, tão amplamente veiculado nos meios educacionais, na atualidade. Tomo como embasamento para essa abordagem, essencialmente, as ideias de Selma Garrido Pimenta, Evandro Ghedin e José Carlos Libâneo, nomes de relevância nessa discussão.

Pimenta e Ghedin (2002) referem-se à apropriação acrítica desse termo, no Brasil, propondo um questionamento em torno da insuficiência da reflexão para melhorar a atuação docente e assegurar as condições necessárias à aprendizagem de alunos e professores: a reflexão, por si somente, seria o bastante para a efetivação de uma educação de qualidade para todos?

Pimenta propõe uma nova abordagem para a questão da postura reflexiva do professor, no sentido de que ela avance para a prática. Para a autora, é preciso ir além da reflexão, estabelecendo uma conexão entre o refletir e a prática social, com vistas ao favorecimento da emancipação do sujeito, da capacidade crítica, da participação e da diminuição das desigualdades.

Ghedin critica a abordagem original do conceito, proposta por Shön, apontando sua restrição a aspectos técnicos e racionais. Sugere uma expansão da ação reflexiva para além da sala de aula, abrangendo a escola e o âmbito em que ela está inserida.

Libâneo (2002) explica a reflexibilidade como sendo a relação entre o pensar e o agir e estabelece uma diferenciação entre os conceitos de “professor reflexivo” e “professor crítico-reflexivo”, situando o embasamento do primeiro na racionalidade técnica de cunho neoliberal.

Fazendo uma breve conclusão sobre as ideias dos autores mencionados, penso que os três são unânimes em apontar a necessidade de a ação reflexiva no campo da atuação docente revestir-se de uma consciência clara, por parte do professor, da importância de seu comprometimento com a prática social. Ou seja, essa reflexão não pode se restringir à análise de seu desempenho técnico na esfera de sala de aula, mas deve contemplar sua atuação como cidadão comprometido com a transformação social.

Bem, amigos, o que fiz aqui foi apenas instigá-los para uma leitura mais aprofundada sobre o tema e para que vocês procedam às suas próprias reflexões. Mas não se esqueçam de socializá-las. Compartilhar nossas ideias e opiniões é sempre muito produtivo.

Abraço a todos.

Maria Lúcia

Maria Lúcia Terra é professora de Língua Portuguesa e Diretora do Departamento de Supervisão e Ensino da Secretaria Municipal da Educação de Araçatuba/SP.

domingo, 19 de junho de 2011

VIVER A VIDA

Antonio Luceni

Quantas coisas são necessárias para que percebamos a vida por inteiro? Aliás, seria isso possível? Se não, como vivê-la intensamente, então?
Há muitas respostas para estas perguntas. Algumas mais simples, outras tão complexas quanto as próprias questões. Algumas podem ser respondidas por um vizinho nosso, amigo mais próximo, pastor, padre, monge... Mas há as que não serão respondidas nunca e, por mais que nos queiram convencer de algo, a dúvida vai permanecer.
Nossa! Mas esse assunto está estranho, não é mesmo? Um tanto quanto subjetivo, arenoso, até desagradável em certo ponto... Vamos pra algo mais prático, então!
O que estou tentando dizer, entre outras coisas, é que mantemos uma relação com a vida, com a nossa rotina que, por vezes, está longe daquilo que imaginamos como viver a vida. Tem gente que fica numa ação insana de fazer sucesso, de ser bem sucedido com o que quer que seja, a todo custo, aparecer, se destacar. Aí vêm as frustrações, as decepções pessoais, os despropósitos... Sabe por quê? Porque essa coisa de sucesso, de ser bem sucedido é um movimento interno, num primeiro momento, para, depois, tornar-se visível. É a habilidade de se bem resolver, de se coordenar a si mesmo (aristotélico, não é?) que desencadeia tudo.
Tem gente que acha que viver a vida da melhor maneira é vivê-la racionalmente o tempo todo, ser técnico demais (alguns até confundem isso com o chamado “profissionalismo”), antenado em tudo que acontece, às últimas novidades do mercado etc., etc., etc... Esquecem-se de que também o caos e a desordem são elementos necessários para a criatividade, para a imaginação, para a novidade.
Há os que pensam que literatura, teatro, cinema, pintura, artesanato etc... são coisas para se “passar o tempo”, coisa de “gente que não tem o que fazer”, atividade “recreativa”. Não conseguem enxergar (coitados!), na ignorância que os cega, o quanto estas atividades imateriais, subjetivas são importantes para esse processo de autoconhecimento, de complementariedade.
É lógico que não há receitas para uma vida feliz. Também é óbvio que seria um tédio “viver feliz para sempre”. Tudo na vida é feito de bem e mal (os elétrons e prótons são negativos e positivos, não é?), de erros e acertos, dia e noite, quente e frio... E a gente só percebe um e outro por conta desse contraste.
Portanto, minha gente, viver a vida é percebê-la (e há que se ter olhos pra ver e ouvidos pra ouvir) sob seus mais múltiplos aspectos. É ambicionar, sim, coisas grandes e grandeloquentes, mas também é sorvê-la em seus momentos mais simples, mais delicados e pessoais, dando a devida importância a eles.
Nesse sentido, é preciso que se lembre: não é um “favor” dedicar um tempo para brincar com um filho, almoçar com a família, falar besteira com os amigos. Tão importante quanto construir pontes monumentais, fazer uma cirurgia complicada, realizar uma operação perigosa é abraçar, é amar, é partilhar das dores do seu irmão ao lado.
Cada qual deve identificar a sua receita de viver a vida. Mas em todas elas um ingrediente é imprescindível: não desprezar nada.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ótimo texto!


O PROFESSOR ESTÁ SEMPRE ERRADO
Jô Soares

O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
 É jovem, não tem experiência.
 É velho, está superado.
 Não tem automóvel, é um pobre coitado.
 Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.

Fala em voz alta, vive gritando.
 Fala em tom normal, ninguém escuta.
 Não falta ao colégio, é um 'Caxias'.
 Precisa faltar, é um 'turista'.
 Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.

Não conversa, é um desligado.
 Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
 Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
 Brinca com a turma, é metido a engraçado.
 Não brinca com a turma, é um chato.
 Chama a atenção, é um grosso.

Não chama a atenção, não sabe se impor.
 A prova é longa, não dá tempo.
 A prova é curta, tira as chances do aluno.
 Escreve muito, não explica.
 Explica muito, o caderno não tem nada.
 Fala corretamente, ninguém entende.

Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
 Exige, é rude.
 Elogia, é debochado.
 O aluno é reprovado, é perseguição.
 O aluno é aprovado, deu 'mole'.


É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui,
 agradeça a ele!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

por Antonio Luceni










































PALAVRE-SE













































terça-feira, 7 de junho de 2011

PRIMAVERA


Antonio Luceni



Há um tipo de primavera, aquela flor bastante popular que encontramos nas casas de ricos e pobres, enfeitando caramanchões luxuosos e pequenas latadas (é assim como são conhecidos em áreas pobres) que, não sei por que nem para que, causa-me emoção ao vê-la.

Aí, caí na besteira de partilhar dessa impressão com um amigo, o Fernando Batalha. Ele se esborrachou de rir. “Onde já se viu, ficar emocionado com uma planta?”. Na hora, ri junto com ele e, agora, toda vez que passo diante de uma primavera, lembro-me da situação. (Assim como os campos de trigo de “O Pequeno Príncipe”, a mim me são as primaveras).

Depois, fiquei matutando sobre a situação. As emoções, sentimentos e sensações estão à nossa volta o tempo todo e não os percebemos. Também, parece, que há que se sentir e ver determinadas coisas e ficar com elas guardadas, no processo de ruminação a que nós, animais racionais, não estamos acostumados.

Uma outra ideia me veio à mente: a de que o que pode parecer significativo para mim, não o é para todos (grande descoberta, não é mesmo?!). Pode até ser óbvio demais, mas na prática, não é assim que funciona. Por vezes queremos impor uma estética ou um padrão de cultura, de literatura, de cinema, de música, de dança, de teatro e de outras tantas expressões que, por mais bem-intencionadas que sejam, às vezes não correspondem às expectativas do fruidor.

Desse modo, quem sabe, há que se ter em mente, então, que o “cardápio estético” deve ser variado, que os “sabores” postos à mesa devem ter lá seus amargos e doces, azedos e ácidos, traventos e gelatinosos para poderem satisfazer aos mais diferentes e exigentes paladares. (Por mais que queiram fazer-nos descer goela abaixo temperos indigestos).

Um pássaro voando, uma criança dormindo, um mendigo sob o sol ou frio castigador, pitanga chupada no pé, (jabuticaba, quem sabe?), pisar sobre gramado verde, sentir cheiro de terra em começo de chuva, arroz queimadinho no fundo da panela, uma risada gostosa... quantas coisas são possíveis de provocar nossa sensibilidade? Quantas ações são deixadas cotidianamente e que, certamente, causariam impacto em nossas vidas, fazendo-nos perceber o mundo melhor e contribuir com ele, com nossos semelhantes, com a vida, então?

Fico assim, como gato a perceber a presa. De olhos fitados no mundo, querendo absorver tudo, preciso de todos! E quantas coisas me emocionam. Quantas coisas também, por mais sutis que fossem, me fizeram sair do lugar, pegar num telefone, mandar um e-mail, dizer “eu te amo”, “tô com saudades de você”, “você é importante pra mim”.

É isso, então: vamos educar o olhar, educar o ouvido, educar o paladar, o tato, todos os sentidos. Quanto mais estivermos sensíveis para as coisas do mundo – por mais bobas que elas pareçam ser – também mais produtivos estaremos em nossa relação com o outro, com o meio, com tudo que está ao nosso entorno.

E tudo isso porque uma primavera me emocionou.

* Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.
** Texto publicado originalmente no Jornal Folha da Região, 07/06//11, Caderno Vida, C2.

domingo, 5 de junho de 2011

ORIENTE-SE


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Sou um curioso nato. Sempre fui e nunca o deixarei de ser. E não é esse o segredo, segundo especialistas: a curiosidade sempre deve fazer parte do nosso cotidiano? A busca pelo novo, o querer fazer, mesmo que para isso tenha que errar.
Talvez por isso sempre as culturas, pessoas diferentes, línguas estrangeiras me interessaram. Uma das coisas que me atrai em cidades grandes é justamente isso: a diversidade. Como é bom estar numa fila de cinema ou teatro, à espera de um metrô ou na fila de embarque no aeroporto e ouvir pessoas falando francês, espanhol, italiano, inglês e outras línguas que a gente nem sabe de onde é.
Uma cultura que muito me chamou a atenção foi a japonesa. Sei lá, o silêncio, a concisão, a delicadeza nos detalhes, a busca da perfeição em tudo que fazem. Que coisa maravilhosa é saber que uma ilha, como é o Japão, consegue se sustentar com uma das potências mais antigas do mundo.
Sempre que tenho oportunidade, estou pela Liberdade, em São Paulo. Gosto de entrar nas lojas e ficar bisbilhotando louças, roupas, objetos decorativos e, é claro, comer das delícias que são servidas na famosa feirinha.
No último dia 02 de junho aconteceu o desfile-performance “Oriente-se”, realizado pelo curso de Moda do Unitoledo, sob orientação da Profa. Márcia Porto. O curso de Arquitetura e Urbanismo, do qual faço parte, foi convidado a projetar e executar a cenografia do referido desfile.
O time da Arquitetura foi composto por mim, pelo Fernando Batalha, Camila Colaferro, Tatiane Marques Teixeira, Carla Prando, Annanda Novaes de Souza e Amauri Júnior. Um trabalho árduo, cheio de criações e muito suor, mas que também nos causou imenso prazer e integração.
Como estamos no início do curso, o projeto serviu para fortalecer o grupo, indicar potenciais, estreitar os laços de amizade e oportunizar que demonstrássemos nossos talentos na prática. Também fomos privilegiados com o intercâmbio entre os vários cursos envolvidos: Moda, Design de Interiores, Publicidade e Propaganda e Arquitetura e Urbanismo.
A Márcia Porto foi a grande responsável por isso. Com seu jeitinho doce e delicado e, lógico, carismático e competente, encaminhou os grupos de trabalho de forma bastante dinâmica e adequada.
O Grupo Taiko, da Associação Nipo-brasileira, foi um espetáculo à parte. Quanta energia daquela meninada, quanta disposição e, ao mesmo tempo, quanta delicadeza e grandeza na arte que executam. Não houve quem não se emocionou com o impacto dos tambores do grupo.
Enfim, foram quatro longas semanas que antecederam o evento da mais dura e gostosa jornada. Todos os envolvidos estão de parabéns. Certamente a noite do último dia 02 de junho ficará em nossa memória e corações de forma bastante positiva para cada um dos que estiveram ali presentes.
Quer ver as fotos e vídeos do evento? Acesse www.arquiteturadobem.blogspot.com – deixe seu comentário por lá.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

Mauríce Tardif

Olá, pessoal. A intenção do texto de hoje foi tentar aproximá-los das concepções de Maurice Tardif sobre formação e trabalho docente. As referências são as que se seguem abaixo.
Abraço a todos.

Maria Lúcia


MAURÍCE TARDIF
SOBRE O AUTOR E SUAS IDEIAS SOBRE FORMAÇÃO DOCENTE
Por Maria Lúcia Terra

Maurice Tardif é professor universitário no Canadá e já desenvolveu diversas pesquisas na área da educação em diferentes países, inclusive no Brasil, onde ministrou palestras e realizou encontros com professores. Na linha de Paulo Freire, vê o professor como agente de mudanças e intelectual engajado.
Para Tardif (2007), o saber docente, assim como outros saberes, “é um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerentes de saberes oriundos da formação profissional e de saberes curriculares, disciplinares e experenciais” (p. 36). Ou seja, o saber não se reduz a processos mentais, mas é também um saber social, que se manifesta nas relações entre professores e alunos. Cabe ao professor dominar, integrar e mobilizar esses saberes. Tal mobilização implica na ideia de movimento e renovação continuada, de construção e valorização dos diferentes saberes e não apenas dos relacionados a aspectos congnitivos. O saber docente tem como objeto a formação de seres humanos e envolve várias instâncias como a família, a escola, a cultura pessoal, os pares, a formação continuada; esse saber é plural, heterogêneo, temporal, pois se constrói durante a vida e o percurso da carreira. Essa concepção de formação do professor é importante para entender sua atuação profissional. Os saberes da experiência são aqueles provenientes da história de vida pessoal de cada professor e também são saberes produzidos pela sua prática cotidiana. Dessa forma, o professor não deve ser entendido como um mero transmissor de informações, mas como sujeito atuante na construção do conhecimento, colaborador dessa construção. Tardif contextualiza a prática docente com a cultura local, abrindo possibilidades de entendimento de como os saberes docentes são construídos. Para o autor, o saber também é um “constructo social, produzido pela racionalidade concreta dos atores, por suas deliberações, racionalizações e motivações que constituem a fonte de seus julgamentos, escolhas e decisões” (p. 223). A partir dessa concepção de saber, construída socialmente, o autor lança base para entendermos o que seria e o que se espera de um professor prático reflexivo. Para ele, as competências dos professores, entendidas como competências profissionais, estão diretamente relacionadas à capacidade de racionalizar sua prática, de criticá-la, de revisá-la, de objetivá-la, fundamentando-a em motivos reais de sua existência.

TARDIF e LESSARD (2005) ressaltam o papel da docência como sendo uma atividade onde o trabalhador se dedica ao seu “objeto” de trabalho, que é justamente um outro ser humano, no mundo fundamental da interação humana.    

TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: Elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 8ªed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

Maria Lúcia Terra é Diretora do Departamento de Supervisão do Sistema Municipal de Ensino e professora de Língua Portuguesa.

sábado, 4 de junho de 2011

ORIENTE-SE

Como todos já devem estar sabendo, estou fazendo mais uma graduação: Arquitetura e Urbanismo.
Nesta última quinta-feira, 02/06, ocorreu nas dependências do Unitoledo/Araçatuba o Desfile-perfromance ORIENTE-SE. Nós, da Arquitetura, ficamos responsável pelo cenário do desfile. MAIS INFORMAÇÕES E FOTOS em: www.arquiteturadobem.blogspot.com


Acima, parte do grupo responsável pelo projeto cenográfico: Camila, Antonio, Márcia Porto (coordenadora do projeto), Annanda, Tatiane e Fernando.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

LITERATURA EM DESTAQUE

Projeto de Literatura Infantil é destaque em noticiário regional
Por Antonio Luceni

Um projeto de literatura infantil desenvolvido com alunos da escola rural EMEB Prof. Fernando Gomes de Castro é destaque na mídia regional.

O projeto, coordenado pela diretora e professora Nara Leda Franco e Carlinda Alves de Oliveira, respectivamente, teve o apoio e orientação de Antonio Luceni, responsável pelos Projetos de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil do Sistema Municipal de Ensino.

Na imagem acima, capa do Caderno Nossa Vez!, Jornal Folha da Região, edição nº 33, do dia 01/06/11. Vale a pena ler a matéria.

Parabéns a todos os alunos que se envolveram tão profundamente com o trabalho. Vamos, juntos, trabalhar para que a segunda etapa seja tão rica quanto foi a primeira.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

RUM RUM


Tito Damazo


Um tiro torto fora do alvo da mira. A bola perdida estatelou-o no chão. Chapéu ao vento, longe. Quinquilharia de saco em nódoas impregnando o chão. Tufo de barba empapada de ar. A calva avermelhada contrastando com o todo de um corpo cobre. No campo, muita risada.

Mas foi um lampejo. Súbito, as pernas inchadas e trôpegas tropeçaram em direção à bola aninhada numa touceira.

Agredido e agressora. O campo ainda uma pura expectativa acompanhou Rum Rum. Ele olhou. Viu-se o centro das atenções. Apanhou a bola com as duas mãos e soergueu-a como quem a ofertasse aos espectadores. Riu estragado, roufenho. Uma gargalhada de boca de dentes roídos.

Um impaciente gritou que ele devolvesse logo a bola. Rum Rum sorriu. O inchaço direito arqueou preparando-se. Largada, a bola veio ao seu encontro. O pé surpreendentemente ágil movimentou-se como se fosse desfechar um chute de volta.

Mas não. Tocou-a apenas. E por segundos o campo, em estupefato silêncio, acompanhou as embaixadas de Rum Rum que a bola tocava feito um craque. Depois, desferiu arrojado chute ao meio do campo.

Entusiasmado, rapidamente reensacou sua casa esparramada, depô-la ao pé de uma mamoneira, dobrou as barras das calças e entrou batendo palmas pedindo que lhe passassem a bola. Enxotaram-no. Ele começava a atrapalhar o treino. Rum Rum, no entanto, não se dava conta disso.

Mediante aquilo, e como a tardezinha era mínimas réstias de sol, o treino foi encerrado. Mas Rum Rum ainda era o espetáculo. A testa de jambo lisa batia na bola com certa elegância e graça. E a bola ia da cabeça aos pés, dos pés à cabeça.

Rum Rum fora craque, a conclusão geral rolou. E a atmosfera passou de zombaria a silente respeito, que Rum Rum, risonho, candidamente brincando com a bola sequer suspeitara. Naqueles minutos era ele e a bola. Brincava com a bola como uma criança dona de seu mundo. Tudo, naquele instante, lhe era grato. Às perguntas, às sutis ironias e zombarias, a tudo respondia com um gutural “rum rum”.

Daí, vez em quando, em treinos ou jogos, surgia. De onde vinha? Onde morava? Ninguém sabia. Intuíam que viesse de lugar nenhum. Não ia para lugar nenhum. De certo tampouco morava. Era mais um andarilho que ali aparecera e reaparecia, porque foi bem acolhido e não evitado, ignorado e rechaçado como devia ser seu cotidiano. Em vez de prováveis latidos de cães bravios tratados a ração, banho e tosa. Em vez de caras fechadas e olhares desdenhosos (“a gente dessas, se se der as mãos, querem logo os pés”). Em vez de “não”, viu, para ele!, rostos cheios de risos; ouviu, para ele!, palavras de incentivos; ouviu palmas!

Reaparecia. Ganhava atenção, brincava, fazia embaixadas, ganhava novos aplausos, assistia com os demais ao jogo. Depois ia, daqui a pouco retornaria.

Como chamá-lo? Não falava, somente tartamudeava: rum rum. Então ficou sendo Rum Rum.


Tito Damazo é Doutor em Letras, poeta e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras (AAL) e da União Brasileira de Escritores (UBE).

AQUILO ERA O MAR

Menalton Braff

 
Nascido no interior; era a primeira vez que eu via o porto. Andava aí por meus quatro anos, alguém, provavelmente um de meus irmãos mais velhos, puxava-me pela mão. Na minha lembrança eu era muito pequeno e imagino que tenha sido pequena também a emoção sentida no momento de olhar lá pra baixo e ver o mar, que os demais apontavam com alegria. Enfim, era a emoção possível em uma criança daquela idade, uma emoção que mais parecia um susto: aquela água movendo-se.

Estávamos em cima de uma plataforma de cimento, uma plataforma muito alta, até hoje me parece que era altíssima, o que me enchia de terror. Acredito que fosse bem mais alta do que eu. A água, àquela hora do entardecer, vinha mansa até o pé de cimento da plataforma, correndo por cima de uma areia preta, misturada com todo tipo de dejetos da cidade. E a espuma, que navegava no dorso das ondas, não era branca como a neve. A impressão que me causou, logo depois do primeiro entusiasmo, foi horrível. Quatro anos de idade não é uma época da vida apropriada para sofrerem-se decepções, e lá estava o menino, olhando o fundo daquele mar ali, um mar vizinho, inteiramente decepcionado com aquele lodo asqueroso e com o cheiro intenso, talvez repugnante. .

A cidade de Rio Grande, onde se deu esse encontro, pode ser a cidade mais úmida do Brasil, mas não é mais suja do que qualquer outra cidade portuária, e estávamos no porto novo, por pressuposto um porto limpo. Bem perto de onde estávamos, um prédio escuro de sete andares vinha aos poucos sendo tragado pelas areias da praia. Mas isso fiquei sabendo depois, bem depois, quando já sabia o que eram decepções e as plataformas já não me pareciam tão altas assim.

Não sei como se deu o milagre, não me lembro. Nem me lembro do que era, mas deve ter sido um milagre, pois, de repente, surgiu daquele lodo alguma coisa de cor muito viva. Uma forma que brilhava lá no fundo. Minha memória inventa um azul intenso, com listras amarelas e vermelhas. O que era? Não há como saber. Podia ser um peixe ou apenas uma latinha de pomada ou de salsicha. Do que me lembro, e com que intensidade!, é do meu deslumbramento. Aquela coisa, aquele ser, me encantou. Nada de prático, nenhuma idéia de utilidade ou de significação me restou. O que ficou grudado em meus neurônios encarregados por minha memória, o que nunca mais vou esquecer, é a emoção que então experimentei. Essa vou carregar comigo enquanto viver.

Menalton Braff é escritor, Jabuti 2004. Diretor de Integração Nacional da União Brasileira de Escritores – UBE.