Violência e educação
Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com
Mais uma vez, as escolas públicas estaduais de
Araçatuba são objeto de manchetes na imprensa de nossa cidade e região, em
razão da violência e desrespeito provocados por alunos. E o pior: não é algo
exclusivo de nosso município. As ocorrências fazem parte de escolas do Brasil
inteiro, nas mais diferentes faixas etárias, das mais diversas classes sociais,
variando apenas em intensidade.
As causas são muitas e todas elas complexas demais
para encontrarmos soluções rápidas e simplistas. É o resultado de décadas de
descaso para com a educação, má formação docente, alienação de gestores
escolares, políticas assistencialistas e eleitoreiras por parte de governantes,
desestrutura família, criminalidade, violência, drogas e presença do crime
organizado nas várias esferas sociais.
O produto deste amálgama social desemboca na escola
como uma verdadeira “bomba de urano enriquecido”, prestes a explodir, atingindo
todos que estão no entorno. E as consequências desse desastre não são nada boas:
aluno desrespeitando aluno, com agressões verbais e físicas; alunos agredindo
professores e gestores escolares, chegando a situações extremas, como lesões
físicas sérias e assassinatos; alunos destruindo patrimônio público, depredando
prédios e móveis, ateando fogo nas dependências escolares etc., etc., etc...
Professores estressados, sem condições de trabalho, com atestados e mais
atestados de depressão profunda, problemas ligados à voz, síndromes das mais
diversas, e por aí vai.
São crianças, adolescentes e jovens que, na ausência
de modelos nos quais possam se espelhar, sem parâmetros sérios de limites no
falar, no agir, no se relacionar, sem rotinas organizacionais que estimulem
hábitos saudáveis de estudo, de pesquisa etc... passam a vivenciar e praticar
padrões mais fáceis de serem reproduzidos, que dialogam com o desrespeito, a
arrogância, a altivez, a banalização, e tantos outros valores podres de uma
sociedade fútil e alienada como a nossa.
É preciso que nos indignemos diante
disso. É preciso que não entendamos e aceitemos isso tudo como normal, porque o
desrespeito não é normal. É preciso que cada um de nós, adultos, educadores,
agentes transformadores da sociedade retomemos o controle e coloquemos os
pingos nos “is”. Que, juntos, busquemos mecanismos diários que inibam a
mentira, o desrespeito, a violência, seja ela de que forma for. É preciso que
educadores, famílias, promotorias da infância e da juventude, secretarias de
educação, organizações e redes de proteção ao menor etc. se posicionem de forma
assertiva, firme e eficaz frente aos problemas elencados antes, dando condições
de trabalho para os profissionais da educação, e não os demonizando, como
costumeiramente acontece.
O discurso da “educação como
prioridade” precisa sair, urgentemente, dos palanques e papéis e apresentar-se
como algo viável, prático e duradouro. Como política de governo e não somente
como ações estanques e paliativas.
Um País como o Brasil, que
desponta à quinta nação mais importante do mundo, não pode ostentar um índice
tão grave de desrespeito para com a educação, com tantas barbaridades como a
que estamos vendo diariamente estampadas nos noticiários de tevê, rádio,
internet e jornal. Os professores – principalmente eles – não podem ser vítimas
de um sistema tão cruel quanto ao que estamos submetidos em nosso País.