quarta-feira, 31 de julho de 2013

PRA CADA HISTÓRIA UM FILME...

*Professora universitária e mestre em Mídias Digitais
Assistir a um filme pode ser mais do que apenas diversão, pode provocar reflexões. O cinema e suas super produções nos ajudam a pensar um pouco sobre o mundo, sobre a vida, enfim, sobre nós. Um filme não precisa ter cara de educativo para passar valores importantes, e nem sempre é o campeão de bilheteria que nos leva a refletir. O importante é o nosso momento. Há época em que não estou para assistir filmes que me fazem chorar e, às vezes, preciso deles. Assim é com a comédia, animação, aventura etc. 

Como prometido para essa semana, segue a lista de alguns filmes, já que há muitos, que nos transmitem boas mensagens. Procurei indicar alguns filmes que ainda não comentamos muito sobre eles. Assim, é possível conhecer outros títulos.  Se você já assistiu a algum deles, com certeza vai se lembrar dos melhores momentos e, se ainda não os assistiu, vale escolher alguns e assisti-lo. Espero que gostem e aproveitem o melhor de cada filme.

O SORRISO DE MONALISA

O filme é cativante, simpático e provocativo. Tem como estrela Julia Roberts, que interpreta Katharine Watson, uma professora recém-graduada, que é contratada pelo conceituado colégio Wellesley (que educa suas alunas para serem mulheres do lar), para dar aulas de História da Arte. Incomodada com o conservadorismo da sociedade local, e do próprio colégio, a professora decide lutar contra estas normas e acaba inspirando algumas alunas a enfrentarem os desafios da vida. Katharine consegue fazer com que aquelas jovens amadureçam seus pensamentos e comecem a sonhar com uma carreira profissional, que não necessariamente seja vinculada ao lar. O filme propõe reflexão sobre temas de ensino, estratégias pedagógicas, relações interpessoais, entre outros. A mensagem é belíssima e mostra o professor como alguém que guia seus alunos para um caminho de prosperidade.


VIDA DE INSETO

É uma animação onde Flik é uma formiguinha diferente por possuir muitas invenções e, com isso, quer melhorar a vida de todos no formigueiro. Porém, é ignorado por todos seus colegas, até ele provar que é capaz de fazer muitas coisas, inclusive de enfrentar a grande ameaça deles, os gafanhotos. Este filme propõe, ao longo da história, a reflexão de que, apesar das diferenças, cada pessoa tem seu valor. Ressalta a importância da liderança, comunicação e criatividade.  É um filme leve e bonito, que prende a atenção dentro de sua simplicidade. Moral da história: a união faz a força!


UMA MENTE BRILHANTE

Uma Mente Brilhante é um dos meus filmes preferidos, com um roteiro incrível. O filme conta a história real de John Nash que, aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua genialidade e mudou a economia americana. Diagnosticado como esquizofrênico pelos médicos da época, Nash (Russel Crowe) enfrentou batalhas em sua vida pessoal, lutando para resistir aos efeitos da doença, sempre com sua parceira Alicia (Jennifer Connelly), uma de suas ex-alunas, com quem se casou e teve um filho. Com sua mente brilhante, Nash chegou ao topo ao ganhar o Prêmio Nobel e viveu uma história fascinante de coragem, paixão e triunfo, acima de tudo. É fantástico, já perdi a conta de quantas vezes o assisti...


UM SONHO POSSÍVEL

O filme nos apresenta uma linda história de como é possível ser solidário e ajudar, acima de qualquer preconceito. A história de Michael Oher (Quinton Aaron), um jovem negro vindo de uma família problemática e um lar destruído, que é ajudado por uma família branca, de classe econômica alta, liderada por Leigh Anne (Sandra Bullock), que acredita no potencial de Michael. Com a ajuda do treinador de futebol, de sua escola e de sua nova família, Michael terá que superar diversos desafios. Com isso, ele muda a vida de todos na família que o adotou. O filme faz chorar e ensina muito sobre atitudes do bem, acolhida e relacionamento. Vale muito assistir, mas prepare os lenços.


DESAFIANDO GIGANTES

A moral do filme é bem clara: nunca desistir. Grant Taylor é um treinador de futebol americano e, em seis anos como técnico do time de  uma escola, nunca conseguiu levar o time a uma temporada vitoriosa. E, ao ter que enfrentar crises profissionais e pessoais aparentemente insuperáveis, nunca compartilhou a ideia de desistir. O filme provoca o sentimento da fé, a força da perseverança para vencer. Motivador, a trama prova que acreditar proporciona a habilidade necessária para vencer. Nessa história, o desânimo não tem vez. 


PERFUME DE MULHER

Frank Slade, vivido por Al Pacino, é um ex-coronel do exército cego que leva um jovem estudante para um final de semana em Nova Iorque. Durante a viagem, Frank revela ao jovem seus planos: visitar sua família, comer em bons restaurantes, dormir com uma bela mulher e, depois de tudo, cometer suicídio. Os dois vivem situações emocionantes que os ensinam sobre os relacionamentos e significados da vida. A produção, excelente, apresenta uma sequência onde é possível observar atitudes como: iniciativa, comprometimento, ousadia, persistência, criatividade, planejamento, persuasão, independência e autoconfiança. Competências admiradas no mundo corporativo, social e pessoal. No final, provoca forte reflexão sobre valores e caráter, o filme é memorável!

terça-feira, 30 de julho de 2013

EDUCAÇÃO E ARTE

*Jornalista e escritor
De hoje até o dia primeiro de agosto, o Balé Municipal de Araçatuba fará apresentações no Vívere Eventi, a partir das 20h. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados, em horário comercial, na sede da Secretaria da Cultura, Rua Anita Garibaldi, 75, Centro.

Um projeto que tive oportunidade de conhecer de perto, e estimular, quando cumpri a função de Diretor de Cultura, na segunda gestão do prefeito Maluly Neto. Desde lá, o Balé Municipal já nos orgulhava, com apresentações belíssimas, feitas sempre no final de cada ano, com cenografia, figurinos, prospectos... tudo personalizado. Avançamos, por exemplo, contratando bailarinos renomados para acompanhamento das aulas e criação e execução coreográficas, além de inseri-lo no circuito de festivais da cidade e região, por meio de concursos que tiveram Araçatuba como cidade sede.


Era muito agradável e emocionante, no final, ver criancinhas que, mal saídas das fraldas, executavam passos do balé clássico, e também adolescentes, já praticamente jovens, com gestos e bailados precisos e profissionais. 

Não deixava nada a desejar em relação às demais escolas particulares da cidade.

Entretanto, é inegável que, de lá para cá, o Balé Municipal cresceu, e muito.

Desde o número de crianças e adolescentes atendidos, saltou de 100 para, salvo engano, 700 atendimentos, com salas de balé espalhadas por vários cantos da cidade. O que é melhor para o munícipe, já que não tem maiores gastos com condução, e também por ficar transitando no próprio bairro, com pessoas da mesma relação, além de ganhar tempo no percurso. 

Outro avanço de que tenho notícia, é que todo uniforme e figurino das apresentações são fornecidos pela prefeitura, cabendo às famílias e bailarinos apenas se dedicarem à arte de dançar.

Eu, que sou ligado às artes e à educação, aplaudo de pé tais iniciativas porque entendo que estes são dois caminhos viáveis e que dão resultado: educação e cultura. Já escrevi por estas linhas várias vezes sobre isso e, sempre que tenho oportunidade, faço questão de reiterar.

Fico feliz quando grandes centros de cultura são construídos; causa-me emoção ver uma construção de biblioteca, de um museu, de uma galeria de arte; a cada nova escola estabelecida, bem equipada e cuidada tenho verdadeiros surtos de alegria. Sabe por quê? Porque desses espaços sairão meninos e meninas, jovens, homens e mulheres, idosos do bem, que corroborarão para uma sociedade mais justa, harmônica e solidária.

Não gosto de passar defronte a presídios, e me entristece vê-los sendo edificados. Ao menos se também funcionassem para educar, já sentiria certa atração. Mas há um outro tipo de “escola” nesses espaços que não faz bem algum para nós.

Vamos, portanto, ao longo desses três dias de festival de balé, celebrar a educação, a cultura, as artes de modo geral. Que, ao mesmo tempo em que Araçatuba esteja em festa com as apresentações de dança clássica, nos esforcemos todos para que outros modelos de arte e educação tenham igual êxito e atenção em nossa cidade.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

JOSÉ DOMINGOS DE MORAIS - SUA SANFONA E SEU TALENTO

*Professora de música e regente de coral formada pelo Conservatório de Tatuí
Essa semana, faremos uma pausa em nossa conversa sobre Musicais e Ópera para falar de um músico brasileiro, instrumentista, cantor e compositor de talento inquestionável, reconhecido no Brasil e no exterior: José Domingos de Morais. Para nós, o Dominguinhos.

Desde o final de 2012 ele apresentava problemas de arritmia cardíaca e respiratórios. Travava uma batalha contra um câncer de pulmão havia seis anos.

Foi internado no Recife, mas transferido posteriormente para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde entrou em coma. Chegou a ter uma melhora, saindo da UTI e ficando com seu quadro clínico estável, mas em 23 de julho desse ano, semana passada, ele faleceu, deixando seu talento e brilhantismo gravados na história da Música Popular Brasileira.

Sua humildade ressaltava ainda mais seu talento, sendo admirado por seus amigos e companheiros de trabalho. Nas palavras de seu filho, Mauro da Silva Moraes, numa entrevista dada ao UOL, ele diz o seguinte sobre seu pai: “Meu pai não tinha defeito, não! Eu só guardarei coisa boa dele; era generoso demais”. 

Ele nasceu em Pernambuco, na cidade de Garanhuns, em fevereiro de 1941. Seu pai, o mestre Chicão, era um sanfoneiro requisitado por sanfoneiros por seu talento como afinador de sanfonas. 

Desde cedo, Dominguinhos se interessou por música e, com a influência de seu pai, aos seis anos de idade começou a aprender sanfona.  Apresentava-se em feiras livres e portas de hotéis, e assim conseguia ganhar algum dinheiro, juntamente com seus dois irmãos, para ajudar a família, muito humilde.

Dominguinhos e o mestre Gonzagão

Era muito estudioso e dedicava-se ao instrumento aplicadamente e, com isso, tornou-se músico profissional ainda garoto. Aos nove anos de idade conheceu Luiz Gonzaga, que ficou impressionado com sua destreza na sanfona.

Aos treze anos de idade ele partiu para o Rio de Janeiro com seu pai e seus dois irmãos, a convite de Luiz Gonzaga. Quando chegou no Rio, estabeleceu-se em Nilópolis. Assim que encontrou Luiz Gonzaga ganhou dele uma sanfona e um emprego. Estabelecia ali o início de sua carreira como músico integrante à equipe de Luiz Gonzaga.

A partir desse momento, com integração à equipe de Luiz Gonzaga, ele ganha reputação e, como músico arranjador, traça novas amizades e aproxima-se do movimento Bossa Nova. Fez trabalhos com músicos renomados como Gilberto Gil, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Toquinho e muitos outros.

Dominguinhos teve três casamentos. Mauro, o que concedeu a entrevista ao UOL, é seu primogênito, filho de seu primeiro casamento. Seu segundo casamento foi com a cantora de forró Anastácia, com quem estabeleceu uma parceria artística de onze anos. Guadalupe Mendonça, outra cantora, foi seu terceiro casamento, do qual nasceu sua filha Liv. Eles se separaram, mas Guadalupe e Dominguinhos mantiveram a amizade até sua morte. 

O talento de Dominguinhos ultrapassou as fronteiras dos estilos musicais. Sua criatividade englobou gêneros musicais diversos, passando pela Bossa Nova, jazz e pop, além, é claro, de seu forte reconhecimento como músico do forró e baião. 

     
Tanto em parceria com músicos cantores, quanto com instrumentistas, teceu sua carreira entre os mais renomados nomes da música popular brasileira. Em 2008, Dominguinhos lança em parceria com o violonista Yamandu Costa o seu último álbum: “Yamandu + Dominguinhos”.



Sua carreira está repleta de prêmios, entre eles: o prêmio Grammy Latino, com o álbum "Chegando de Mansinho" (2002. Em 2006, ele levou o Prêmio Tim como Melhor Cantor Regional e, em 2010, ganhou o Prêmio Shell de música.

Perdemos esse mês, aos 72 anos de idade, mais uma joia de rara beleza em nossa história musical brasileira, mas que deixa ensinamentos de novos horizontes e possibilidades na criação musical como legado aos novos músicos. Certamente suas canções serão ouvidas em todo o futuro que temos pela frente e essa é mais uma dentre tantas belas histórias de trabalho e dedicação de nossos talentosos músicos brasileiros.

Dominguinhos soube apreciar e valorizar nossas raízes e nosso jeito de ver e sentir nossa terra, e traduziu isso dignamente para sua obra. 


Vou compartilhar com vocês uma música dele, em parceria com Nando Cordel, que faz parte das minhas músicas favoritas. Impressiona-me a delicadeza da letra e música e a descrição exata dos sentimentos que temos em nós, em saudades e reencontros. 


"De volta pro meu aconchego" - Música e letra de Dominguinhos e Nando Cordel

Até a próxima semana!

domingo, 28 de julho de 2013

DE BAURU PARA O MUNDO

*Professor universitário e mestre em Turismo e Hotelaria
Esta semana teremos festa! No primeiro dia do mês de agosto comemoramos o aniversário da cidade de Bauru e o seu famoso sanduíche: quele que propagou o nome da cidade para o mundo. E isto não é mero esnobismo, não; é fruto de uma história e adaptações que percorreram o território nacional, alcançando até mesmo outros países.
Para contextualizar a história do sanduíche, primeiramente devemos conhecer o seu criador: o Sr. Casimiro Pinto Neto (1914-1983). Nasceu em Bauru e mudou-se para São Paulo, logo ganhou de seus amigos o apelido de “Bauru”. Em 1931 ingressou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, participou da Revolução Constitucionalista de 1932, trabalhou como repórter da Rádio e TV Record ,concomitante com a titularidade de um Cartório herdado de seus pais. Casou-se e teve duas filhas.

Ponto Chic: reduto da boemia paulistana.
Era frequentador assíduo do “Ponto Chic” reduto da boemia paulistana, no Largo Paiçandu, juntamente com seus colegas de faculdade e outros intelectuais da época. Neste ambiente descontraído, numa noite em 1934, surge a genial ideia: procurou o cozinheiro do restaurante e "ditou" a receita do sanduíche: pão francês sem miolo, uma porção de queijo derretido em água, fatias de roastbeef, rodelas de tomate e pepino em conserva (picles). Quando estava comendo o seu lanche, "Quico" (Antônio Boccini Jr.), um amigo muito guloso, pegou de sua mão um pedaço do sanduíche e gostou muito. Aí, pediu ao garçom: "Me vê um desse igual do 'Bauru'". Na mesma noite, outros clientes pediram o novo sanduíche. Nascia, então, um dos mais famosos lanches do Brasil, hoje, conhecido até em outros países.


Olha ele aí! O apetitoso sanduíche bauru, o tradicional - como preferimos denominá-lo, pois ao chamar de “original” ou “verdadeiro” estaríamos preterindo as demais adaptações, apesar de terem sido importantes para a divulgação do nome do sanduíche, e do município, claro. A mais comum adaptação é a com presunto, queijo e tomate. Aliás, tudo o que leva estes três ingredientes (torta, pastel, pizza, rissoles etc.) é chamado de sabor bauru.

Diz a lenda que a receita inclui os elementos básicos de um lanche equilibrado em albumina, proteína e vitamina, conforme Casimiro havia lido em um livreto de alimentação para crianças, da Secretaria de Educação e Saúde do estado de São Paulo. Outras questões são quanto ao pepino em conserva e os tipos de queijos derretidos. Não se sabe ao certo se o pepino foi incluído no ato da criação do sanduíche ou posteriormente (na década de 1950). No Ponto Chic você consome o sanduíche com uma mistura de queijos fundidos, em outros estabelecimentos apenas o queijo muçarela, por ser um queijo muito utilizado naquela época.

É bem verdade que o sanduíche foi criado na cidade de São Paulo por um bauruense, no entanto, em Bauru, o sanduíche foi divulgado por José Francisco Júnior, "Zé do Skinão", que conheceu Casimiro em meados 1957. Transformou sua lanchonete (O Bar do Skinão) no principal ponto bauruense de divulgação do sanduíche. Algumas ações de preservação deste patrimônio foram realizadas na cidade. Na minha gestão, enquanto presidente do Conselho Municipal de Bauru – COMTUR, foi criado em 2006 o programa de certificação do Tradicional Sanduíche Bauru, que confere ao estabelecimento que produz o bauru de forma tradicional, um selo qualificador. Do ponto de vista turístico, não que o lanche por si só seja responsável pelo deslocamento voluntário de pessoas à cidade de Bauru, mas que costumeiramente é servido aos visitantes e turistas em sua versão histórica.



Outra importante ação municipal é a Festa do Sanduíche Bauru que, a cada ano, supera a marca de vendas do lanche, cuja arrecadação é revertida às entidades assistenciais da cidade. A festa ocorre no Parque Vitória Régia como parte da programação das comemorações do aniversário da cidade. O sanduíche também representa a região no Festival Gastronômico Sabor de São Paulo, promovido pela Secretaria de Turismo do estado.

Sempre quando viajo, dou uma espiadinha nos cardápios das lanchonetes para saber como é preparado o bauru do local. Já vi cada versão estranha... A mais inusitada foi uma do room service de um hotel no Rio de Janeiro, que leva filé mignon, queijo, presunto e ovo frito.

Você conhece alguma outra? Registre aqui nos comentários do Blog as versões que você já comeu ou encontrou por aí.

Por hoje é só pessoal. Caso queiram apreciar o tradicional sanduíche bauru, estão convidados para a festa! Até mais...

sábado, 27 de julho de 2013

TEMPO DE LEITURA

*Professora de Língua Portuguesa e escritora
Ler requer tempo, além do gosto pelo ato da leitura. Que fazer se não temos esse tempo? Ou será que não estamos muito a fim de tê-lo... Você é daqueles que costumam inventar mil desculpas por não terem acabado de ler o livro emprestado por alguém? Ou daqueles que se angustiam porque não conseguem espaço para uma leitura tranquila?

Não se culpe. Na vida atual, tão dinâmica e informatizada, é natural que nos angustiemos por aquilo a que chamamos incorretamente de falta de disciplina. Qual seria então a solução do problema? Se você gosta mesmo de ler, o caminho é concentrar-se na busca das oportunidades que o dia lhe oferece.

Para você, aqui vão algumas dicas: procure ter à mão um livro em cada lugar onde você permanece no seu dia a dia: local de trabalho, sala de TV, quarto, banheiro etc. Se isso não for possível, procure ter como companhia assídua, um livro de pequeno porte (muitas boas obras foram publicadas em edições de bolso), fácil de ser levado em pastas ou em bolsas.

Como o assunto é leitura, optei por ficar mais tempo escrevendo sobre livros tradicionais, ou seja, feitos de folhas de papel, impressos em gráficas. Deixarei mais para o final as demais formas de livros, por causa da preferência particular em ter o livro impresso como algo palpável, aconchegante, transmissor de uma energia própria de cada história, de cada texto, que eu poso retomar a qualquer hora, em qualquer lugar. 

Voltando às ações facilitadoras de leitura, há locais que também podem contribuir como oportunidades de abrir e ler um livro que nos interesse: consultórios; salas de espera em variadas situações; ônibus ou metrô e até restaurantes após o almoço, enquanto não chega a hora de retornarmos ao trabalho.

Além de tudo, estou certa de que você é muito mais capaz do que eu de encontrar o tempo certo para começar ou continuar uma leitura. O fato único é que o tempo existe, pois estamos vivendo o momento. Sabemos também que a marcação deste tempo depende exclusivamente de nós.

Quanto aos outros veículos de leituras como as eletrônicas, dependem do gosto e estilo de vida do leitor. Sempre haverá quem prefira ficar diante de uma tela folheando a página virtual hoje disseminada pela internet. Essa leitura talvez permita o maior acesso de leitores que não se enquadram entre os que primam pelo manuseio de uma edição impressa em papel.

De qualquer forma, o importante é aproveitarmos tudo aquilo que um bom livro nos oferece, seja para conhecimento, seja para entretenimento ou para experiências indicadas pelos olhos de outros, sensibilização ou demais vantagens para aquele que lê. 

Na verdade, você deve ter percebido que meu desejo é que cada leitor desta crônica recupere a vontade de deliciar-se com um bom livro (bom para você), numa leitura dentro de seu próprio ritmo, da maneira que mais lhe agrade, mas que nunca, nunca deixe de ler porque  que é a vida senão uma leitura contínua do que nos cerca?

sexta-feira, 26 de julho de 2013

MEDIANERAS

*Graduando em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie
Depois de tanto falar dos problemas das cidades, este é o último post sobre o tema. Se nem eu mais aguento falar desse tema de que tanto gosto, imagino que os leitores já o tenham abandonado há semanas! Por isso, este artigo encerra a discussão, e prometo me afundar em silêncio profundo sobre isso!

Para finalizar a sequencia de artigos que aqui foram publicados com a intenção de discutir sobre os problemas das cidades brasileiras, este post não vai tratar de textos escritos por urbanistas, arquitetos, antropólogos ou cientistas sociais. Neste último texto da série, veremos como as cidades são descritas por meio do filme “Medianeras – Buenos Aires na Era do amor virtual”. Dirigido por Gustavo Taretto, o longa argentino mostra de maneira engraçada e leve a dura realidade de um casal numa metrópole subdesenvolvida. Como esta coluna não é dedicada às discussões cinematográficas, este artigo não pretende fazer uma crítica ao filme. O intuito aqui é extrair do texto somente aquilo que foi falado sobre Buenos Aires.

Para os mais atentos, que já estão se perguntando qual o motivo de ver uma descrição de Buenos Aires, já que esta série trata de cidades brasileiras, eu adianto a resposta: o processo de urbanização das cidades latino-americanas foi muito similar, principalmente nas grandes metrópoles. Isso gerou características e problemas parecidos, de forma geral, em muitas capitais e grandes cidades. Essa premissa nos autoriza a fazer comparações, de forma que as interpretações podem ser bastante semelhantes. São avaliações mais poéticas, mas, como sempre, muito válidas.

Portanto, aqui escrevo trechos do filme. Entretanto, nada melhor que assisti-lo para que as imagens reforcem os argumentos.


MEDIANERAS

Buenos Aires cresce descontrolada e imperfeita. É uma cidade superpovoada num país deserto. Uma cidade onde se erguem milhares e milhares de prédios sem nenhum critério. Ao lado de um muito alto, tem um muito baixo; ao lado de um racionalista, tem um irracional; ao lado de um em estilo francês tem um sem nenhum estilo. Provavelmente essas irregularidades nos refletem perfeitamente. Irregularidades estéticas e éticas.

Esses edifícios que se sucedem sem nenhuma lógica, demostram total falta de planejamento. Exatamente assim é a nossa vida que construímos sem saber como queremos que fique. Vivemos como que está de passagem por Buenos Aires. Somos criadores da cultura do inquilino.

Os apartamentos se medem por cômodos. Vão daqueles excepcionais com sacada, sala de recreação, quarto de empregada e depósito, até a quitinete “caixa de sapato”.

Os prédios, como muitas coisas pensadas pelos homens, servem para diferenciar uns dos outros. Existe a frente e existe o fundo; andares altos e andares baixos. Vistas e claridades são promessas que poucas vezes se concretizam. O que se pode esperar de uma cidade que dá as costas para o seu rio?

Estou convencido que as separações e os divórcios, a violência familiar e o excesso de canais a cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, os suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, a tensão muscular, a insegurança, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são culpa dos arquitetos e incorporadores.

[As ervas daninhas] brotam nos cimentos, crescem onde não deveriam. Com paciência e vontade exemplares, erguem-se com dignidade. Sem estirpe, selvagens, inclassificáveis para a Botânica. Uma estranha beleza cambaleante, absurda, que enfeita os cantos mais cinzentos. Elas não têm nada e nada as detém. Uma metáfora de vida irrefreável, que paradoxalmente, me faz ver a minha fraqueza.

 Todos os prédios, todos mesmo, têm um lado inútil. Não serve para nada. Não dá para frente nem para o fundo. A medianera (em português, a empena). Superfícies enormes que nos dividem e lembram a passagem do tempo, a poluição e a sujeira da cidade. As medianeras nos mostram nosso lado mais miserável. Refletem as inconstâncias, as rachaduras e as soluções provisórias. É a sujeira que escondemos embaixo do tapete. Só nos lembramos dela as vezes, quando submetidas ao rigos do tempo, elas aparecem sob anúncios. Viraram mais um meio de publicidade que em raras exceções conseguiu embelezá-las. Em geral, são indicações dos minutos que nos separam das lanchonetes e dos supermercados. Anúncios de loterias que prometem muito em troca de quase nada.

Para a opressão de viver em apartamentos minúsculos, existe uma saída. Uma rota de fuga.Ilegal, como toda rota de fuga. Em clara desobediência às normas do planejamento urbano, abrem-se minúsculas, irregulares e irresponsáveis janelas, que permitem que alguns milagrosos raios de luz iluminem a escuridão em que vivemos.

Quando vamos ser uma cidade sem fios? Que gênios esconderam o rio com prédios e o céu com cabos? Tantos quilômetros de cabos servem para nos unir ou para manter-nos afastados, cada um em seu lugar? A telefonia celular invadiu o mundo prometendo conexão sempre. Mensagem de texto: uma nova linguagem adaptada para 10 teclas que reduz uma das mais belas línguas a um vocabulário primitiva, limitado e gutural. “O futuro está na fibra ótica” dizem os visionários. Do trabalho, você vai poder aumentar a temperatura da sua casa, mas claro, ninguém estará te esperando com a casa quentinha. Bem-vindos à era das relações virtuais.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

JUÇARA FRANÇA

*Artista plástica e contadora de histórias
Juçara França
Olá pessoal, alegria em estar aqui com vocês novamente. Dando continuidade à série que estamos vendo de artistas araçatubenses, gostaria de apresentar a vocês esta que é das mais atuantes em nosso município: Juçara França.

Juçara é formada em Música pela UNAERP/Ribeirão Preto e em Artes Plásticas pela Fundação Educacional de Penápolis. Fez cursos livres, entre os quais com Sérgio Fingermann, artista e crítico de arte reconhecido nacionalmente. Participou de várias exposições, entre elas Panorâmica Arte no Interior – SESC Rio Preto 1999; XXVI e XXVII Salão de Arte Contemporânea – Santo André 1998 e 1999; Exposição de Arte Contemporânea – Araçatuba 2002 e Coletiva Sudameris 2004.

Como artista que é, tem vários projetos em mente, mas um que já pode compartilhar conosco é o de uma exposição de suas obras em seu próprio ateliê, dirigida pessoas de Araçatuba e região, no segundo semestre de 2013.

Para Juçara, “a arte é um pacto com a ilusão. Uma imagem sugere realidades em nosso espírito; o artista dialoga com aquilo que tem de sensível e de sua intelectualidade; o espectador se apoia no que tem de mais ou menos trabalhado em seu espírito”, pondera a artista.

Juçara acredita que o mundo está descobrindo que a humanidade pode ser salva pela arte porque ela nos sensibiliza, age em nosso espírito, nos faz meditar. Em muitos países as pessoas perceberam que não precisam ter dinheiro ou ser intelectuais para exercitar a sensibilidade. A busca pode ser mais simples. Um passeio pelo parque, ouvir música e ler textos são usados para agir no espírito.

Para Juçara, “encher-se de imagens, de imaginação e de sensibilidade é um caminho para compreender arte”. É claro que quem possui conhecimentos terá em seu interior uma maior associação de ideias e sentimentos e perceberá melhor as provocações dos artistas e do mundo.

Juçara vê muito pouco esforço no Brasil para fazer com que a arte atue na sensibilidade das pessoas. “Estamos tendo grandes exposições, alguns musicais e movimentos intelectuais, mas o impacto ainda é pequeno”, sugere a artista.

Os órgãos competentes, na visão da artista, precisam oferecer condições para que as pessoas se sensibilizem. Este deve ser o caminho. Andar em um lugar limpo e seguro e, de repente, ouvir uma música ou ler uma mensagem inteligente, para se sensibilizar. Um toque de luz ou um encontro com a sombra, e até mesmo as trevas nos ajudam criar.     Até um ato de patriotismo, como cantar o hino nacional, pode tocar nas emoções. Arrepiar-se com o que é visto e ouvido. O Brasil precisa crer que a arte existe e independe de partidos e de atos ou acordos políticos.

Juçara vê a arte em Araçatuba muito atrelada à política, atendendo a vaidades. As oportunidades oferecidas são ocasionais, e nem sempre criteriosas. Para ela, “há uma tendência de agradar ou obter algo em troca. Há um espírito de revanche”.

“O artista precisa trabalhar, e muito. Ter a experiência de criar. O artista não tem que procurar nenhum grupo em particular. Precisa se concentrar e se esforçar para conseguir uma obra verdadeira e profunda”.

Acredita que cargos devem ser oferecidos a pessoas que tenham conhecimento sobre o que vão exercer. Políticos precisam fazer um esforço para saber Português, Geografia e História, além de ética, política e, principalmente, ouvir os anseios do povo. A população precisa ser estimulada na meditação e na imaginação.

Para Juçara, nosso mundo está cheio de técnicas e estamos preocupados, excessivamente, com o nosso conforto material. Procuramos coisas artificiais e quase sempre falsas. Nos esquecemos dos nossos instintos e nos tornamos escravos de coisas inúteis para nossa alma. “A arte pode nos colocar num estado de percepção do que realmente somos. Um estado emocional que nos tira da alienação”, sentencia.

Juçara trabalha com o pensamento contemporâneo. Educou o seu olhar para feitura de imagens que sugerem verdades. Tem uma linha, uma pista. Segue pegadas.  Trabalha o pictórico e cria imagens que se fazem e se desfazem no olhar.  Não se prende a técnicas. Pelo contrário, quer esquecê-las. Está sempre buscando, questionando e errando. Sua obra se dá no erro, na busca.

Acredita que a criatividade se dá por meio do desconhecimento, na ausência do desejo. Enriquece-se com as obras de outros artistas de agora e do passado, usando a cor e o desfazer dela, para criar uma imagem que se desfaz no olhar. Usa perspectiva que apenas sugere.

Juçara não vive de arte.  Não conseguiria viver do seu trabalho. A venda acontece como um reconhecimento para ela. Acredita que isso pode impedir alguém ser artista. Ser artista e se preocupar com vendas nos faz desviar. Sair da trilha. Isso é ruim. As obras apoiam-se umas às outras. Um trabalho paralelo deve ser pensado em casos de necessidade. Melhor seria um trabalho que se possa exercitar a criatividade e a sensibilidade. Para isso, segundo ela, a leitura e os filmes a ajudaram bastante.

Acha importante dialogar com o público, e não entende porque isso é difícil para alguns artistas. E confidencia que gostaria de receber mais pessoas em seu estúdio. Pessoas que apenas passassem por lá e olhassem as obras.

Por sentir falta de segurança, não deixa portas abertas e nem sempre pessoas usam a campainha para saber se está trabalhando. “O público deve saber que olhar uma obra de arte exige um ato solene, um respeito pelo que se está vendo”, orienta. Neste aspecto, fazer uma exposição em uma entidade séria, reconhecida, é o desejo de todo artista. Que se criem entidades culturais que sensibilizem as pessoas e despertem em todos um sentimento maior.


Na época de faculdade, teve um olhar na pintura de Giotto, que a emocionou profundamente. Afrescos com naturalismo e profundidade. Na obra "Lamentação", os anjos flutuam e mostram uma dor realmente humana. Hoje, reconhece o quanto ele era moderno. Ainda estudante, também se emocionou com o azul e as formas alongadas de El Greco; Cézanne, pela ausência dos contornos e pela composição; pelos azuis e verdes sombreados, pelos ocres e laranjas e pela sensação de profundidade de Matisse, que não cansa de ver, os azuis e vermelhos com pretos ou brancos das tapeçarias nas telas; Paul Klee, o uso da linha; Richard Diebenkorn, que a inspira pelo desequilíbrio da perspectiva; Anselm Kiefer, pela desordem humana, entre tantos outros nomes em sua mente… Mas vai ficar com estes nesta conversa.

ALGUMAS OBRAS DA ARTISTA:






Espero que tenham gostado. Um abraço e até a próxima semana!



quarta-feira, 24 de julho de 2013

DA TELONA AO QUADRO NEGRO

*Professora universitária e mestre em Mídias Digitais
Dentro do tema Cinema, já falamos sobre as diversas nuances, seja sobre seu formato, linguagem, estética, envolvimento com o emocional, enfim, foram diversos aspectos que nos levaram a conhecer um pouco mais sobre a sétima arte. O Cinema, hoje, pode ser considerado uma nova linguagem e, diante desse olhar, a proposta para os próximos textos será a participação do cinema em diversos contextos, tais como: emocional, racional, social, religioso etc... Para hoje, vamos falar do cinema como viés "educacional”.

Se considerarmos o Cinema como um instrumento que transmite conhecimento, são muitas as possibilidades em utilizá-lo como recurso. Como o assunto é Cinema e Educação, vamos falar sobre o cinema/filme utilizado como recurso na escola. É recente a utilização de filmes no contexto educacional, mas já sabemos que os resultados são os melhores, quando bem trabalhados pelo professor.

E, como todo professor carrega pedra enquanto descansa, embora ainda em férias, a dica é que no planejamento de suas aulas, os professores incluam atividades com filmes.  A proposta é que sejam utilizados filmes que não foram produzidos diretamente para o uso didático em sala de aula, mas os comerciais, produzidos para a sala de projeção. Por isso vale tentar recriar o ambiente do cinema e, nisso, o projetor ajuda bastante a produzir o ambiente ideal para a projeção das películas. Caso não tenha a disponibilidade do equipamento, vale o uso da tevê e vídeo, pufes, pipocas... O importante é a atividade. 

Trabalhar com o cinema, durante uma aula, é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema  é um campo que consegue sintetizar valores, como os sociais, o lazer, as formas e as ideologias.

O importante é que o professor queira trabalhar com o cinema e se perguntar: qual o possível uso deste filme? A que faixa etária escolar ele seria adequado? Como abordar o filme dentro da disciplina? Qual a cultura cinematográfica dos alunos? Enfim, estas e outras perguntas ajudam o professor no uso do cinema na sala de aula.

Uma dos maiores motivos para o uso dos filmes em aulas é a ideia de que o filme ilustra e motiva alunos ao mundo do conhecimento. Assim, o uso do filme torna algo agradável, e isso atrai o aluno.

O cinema na Educação Escolar atua como uma Mídia Moderna e, portanto, o filme que encantou o professor há dez anos, provavelmente não empolgará seu aluno hoje. Portanto, abuse dos novos títulos e busque aproveitar o melhor de cada história. E, vamos combinar, que, a variedade é tanta que dá pra trabalhar qualquer assunto baseado em algum filme.

Um grande obstáculo encontrado pela maioria dos professores é a inadequação da sala de aula para exibição de filmes, seja pelo tamanho da sala, pelo equipamento, luminosidade e barulho externo, que pode atrapalhar a concentração durante o filme.  Mas o importante é conhecer os limites e a possibilidades, planejar e colocar em prática o desejo e ensinar com os filmes.

Como sugestão, segue pontos importantes que podem ser trabalhados com os alunos. Claro que de acordo com cada nível escolar.

Sobre MÚSICA:
A trilha sonora e a música como expressão de sentimentos;
Cantar as músicas do filme;
Compreender a relação entre a música, ritmo e o movimento da imagem.

Sobre a ARTES VISUAIS:
As cores que predominam no filme;
Conhecer as animações e os efeitos;
Desenhar cartazes com base no filme;
Aprofundar a representação das coisas observadas.

E, para finalizar, discutir as opiniões sobre o filme, conhecer lendas e mitos de outras culturas, conversar com pessoas que assistiram ao filme e ampliar as opiniões, perceber a visão histórica da história contada. Não importa a forma, o importante é realizar a atividade e extrair o melhor de cada momento, de cada história. Ah, e quando acabar a atividade confira com os alunos se gostaram, assim da para verificar o pode ser mudado.

Na próxima semana, vou passar sugestões de filmes e enfoques possíveis que eles permitem. Claro, dentro de minha visão sobre eles.

Desejo que os professores recarreguem suas energias, seus propósitos e planejem suas aulas com muito carinho e, sim, não se esqueçam de incluir filmes em suas atividades escolares.

Até a próxima semana.

terça-feira, 23 de julho de 2013

LETRAS E COMPANHIA

*Jornalista e escritor
Desde o início deste mês venho tratando sobre atividades culturais presentes em Araçatuba e região, como forma de sugerir uma “movimentação” no cérebro ao longo deste período de férias.

Biblioteca Municipal Rubens do Amaral
Na semana passada, sugeri um roteiro de visitas pelos museus de Araçatuba. Hoje, gostaria de tratar um pouco sobre os espaços de literatura de nossa cidade. Vamos começar pela Biblioteca Municipal “Rubens do Amaral”, um de meus espaços prediletos. Lá, a gente pode encontrar um acervo bem bacana composto por exemplares da literatura universal – brasileira e estrangeira, livros didáticos, histórias em quadrinhos e outros. Há, inclusive, uma seção dedicada exclusivamente às crianças e adolescentes, com espaço ambientado por cenários e móveis coloridos que atraem ainda mais o leitor para os livros. Ela funciona de segunda a sexta, das oito às dezessete horas e aos sábados das oito ao meio dia. Mais informações pelo telefone: (18) 3622 5559.

Academia Araçatubense de Letras
Um outro espaço bastante bacana, dedicado à divulgação das letras e da literatura no município de Araçatuba é a Academia Araçatubense de Letras – AAL. O diálogo com o público em geral acontece de diferentes formas, entre os quais com a promoção de concursos literários – como o Concurso de Poesia Osmair Zanardi, o Concurso Estudantil de Poesia, o Concurso de Literatura Infantil “Adriana Guimarães” e outros, além de palestras e encontros com interessados em leitura e escrita, por meio do Grupo Experimental. Aliás, está por vir aí um sarau muito bacana, homenageando o poeta Manuel Bandeira, com entrada franca, no teatro Castro Alves, no dia 9 de agosto. Quem se interessar pode obter mais informações pelo telefone: (18) 3624 7638.


Ainda recente em Araçatuba, mas das mais antigas no Brasil, está a União Brasileira de Escritores – UBE. O Núcleo da UBE para Araçatuba e região foi implantado pouco mais de dois anos e participa ativamente de atividades e ações no município, incluindo palestras, encontros entre escritores associados, organização de livros, além de promover, desde sua fundação, o Encontro Regional de Escritores, com lançamentos de livros, palestras, workshops, entre outros. Para mais informações entre em contato via e-mail: aluceni@hotmail.com.

Gostaria de citar, ainda, a presença das livrarias que, apesar de não estarem exclusivamente ligadas ao comércio de livros, não deixam de ser também espaços que viabilizam nosso acesso a eles. Aí nós temos várias, entre as quais a Livraria Educação e Cultura – MEC (18-3621 0472), Livraria Nobel (18-3301 4053), Claudilivros (18-36231460), Livraria dos Amigos (18-3623 1246), Livraria Novos Papéis (18-3608 5060), entre outras.

Bom, é isso. Boa leitura e até a próxima, pessoal!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O TEATRO MUSICAL

*Professora de música e regente de coral, formada pelo Conservatório de Tatuí/SP
Tem acontecido em nosso país uma busca assídua por esse tipo de espetáculo e muito tem sido falado sobre essas produções. Um público com faixa etária diversificada tem elogiado as produções brasileiras e tem buscado saber da história e das novidades acerca desse gênero. 

Adolescentes e jovens têm sido atraídos pelos Musicais ou Teatro Musical, e é sobre ele que falaremos hoje. Vamos fazer uma introdução sobre o assunto, definindo o que vem a ser esse gênero, destacando os principais momentos na história do Teatro Musical no Brasil. 

Em outra oportunidade, conversaremos mais sobre as questões técnicas (musicais e artísticas) que são necessárias para o ingresso nessa arte.


O Teatro Musical

É uma forma de teatro que combina música, canções, dança e diálogos falados. Está delimitado de um lado pela sua correlação com a ópera e, por outro, pelo cabaré. Os dois apresentam estilos diferentes, mas suas linhas delimitantes, muitas vezes, são difíceis de conceituar. 

O musical, ou teatro musical, é feito de três componentes: música, interpretação teatral e o enredo. A música e a letra formam o escopo do musical, a interpretação teatral está relacionada às performances de dança, encenação, o canto e o enredo referem-se à parte falada da peça. Entretanto, pode também se referir à parte dramática do espetáculo. 

As letras e o enredo são impressos para a plateia em um libreto, como o da ópera. Podemos ver, frequentemente, trabalhos que tenham obtido sucesso sendo usados no cinema ou adaptados para a televisão. 

Um musical pode durar, em média, de duas a duas horas e meia, tendo intervalos de quinze minutos entre um ato e outro. 

O seu formato tem cerca de vinte a trinta canções de vários tamanhos, incluindo uma reprise e adaptação para coral entre as cenas com diálogos. Alguns musicais, entretanto, têm canções entrelaçadas e não têm diálogos. 

O Teatro Musical no Brasil

O teatro musical no Brasil teve sua origem por volta de 1859, por meio da fundação do Alcazar Lírico por artistas franceses, no Teatro Ginásio do Rio de Janeiro. As peças teatrais foram inovadas e transformadas em operetas com ações curtas, todas de caráter satírico, de inspiração francesa. O teatro musicado tornou mais acessível o teatro ao grande público. 

Composto de diversas influências, especialmente a francesa, nascia assim o Teatro de Revista Brasileiro – gênero de espetáculo característico do Rio de Janeiro. 

Uma das grandes compositoras do teatro de revista foi Chiquinha Gonzaga. A partir de suas composições para o teatro de revista, que conquistou um público maior, reconhecimento como compositora e retorno financeiro seguro. 

Outro importante escritor do teatro de revista foi Arthur Azevedo. O Rio, sua primeira peça, em 1877, retratava de forma humorística os principais acontecimentos políticos e sociais no Brasil daquela época.

Carlos Gomes também musicou peças e revistas teatrais. 

Nesta primeira fase, o Teatro de Revista não exigia uma linha narrativa. O casal de cantores e bailarinos devia seguir a regra de ela ser obrigatoriamente elegante e bonita, e ele alegre e malandro, colocando o tom de sátira em suas frases e na sequência do espetáculo. 

O Teatro de Revista brasileiro caracterizou-se como veículo de difusão de modos e costumes, sendo um retrato sociológico da época. Fazia isso com peças alegres, falas irônicas e de duplo sentido, com canções apimentadas e cheio de versos alegóricos. 

Nessa fase, gerido por Walter Pinto, passa a apostar na produção de grandes espetáculos, em elenco formado por numerosos artistas que se revezavam em cada temporada. A companhia investe na ênfase à fantasia, por meio do luxo, de grandes coreografias, cenários e figurinos suntuosos. Todo o maquinário, luzes e efeitos se igualam ao interprete em importância. 

Aos poucos, começa a apelar de maneira mais intensa para o escracho, usando o corpo, muitas vezes nu, em detrimento de um de seus principais alicerces iniciais: a comicidade. Nesse momento surgem as vedetes do Teatro de Revista Brasileiro.

Como dissemos, o caráter cômico do Teatro de Revista foi substituído pelo escracho e, gradativamente, entrou em decadência, quando foi substituído pelos musicais importados da Broadway, em meados dos anos 1960, como Minha Querida Lady (primeira adaptação da Broadway no Brasil de My Fair Lady), protagonizados por Bibi Ferreira e  Paulo Autran.   

A partir dessa época, abrem-se espaços para musicais com temas políticos como Roda Viva, Ópera do Malandro e Gota d’Água – todos de Chico Buarque. Nesse cenário, a história do teatro musical brasileiro ganha um novo horizonte, crescendo o incentivo ao estudo técnico para as especificidades que os musicais requerem. Dentro desse gênero musical, o ator não necessita somente de atributos interpretativos, mas é essencial que se dedique ao estudo do canto e a dança a fim de desempenhar seu papel de forma mais técnica possível. 

Anualmente vemos grandes musicais sendo produzidos no Brasil e eles têm ganhado elogios não só do público, mas da crítica. Tem ocorrido um “boom” no mercado nacional nesse estilo cultural.  

Uma observação importante a ser feita refere-se à idade do público interessado. Há um número considerável de adolescentes e jovens atentos a essas novas produções. Talvez todo esse despertamento tenha sido incentivado por causa de filmes como Mudança de Hábito e também como o seriado Glee, que carregam em seu contexto a dança, a interpretação e a música (itens dos musicais).

Enfim, o Brasil está em alta nesse gênero e é esse o momento que acontecem reflexões a respeito de ser essa a hora de investimentos em criações nacionais. Não só em criações para músicas já conhecidas, mas em musicais inéditos, feitos a partir de histórias inéditas, sem serem baseadas em pessoas ou fatos reais. Muitos críticos e produtores têm se referido a Orfeu, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, ao colocarem em pauta tal ideia. 

Recentemente tivemos a produção do musical Tim Maia – Vale tudo. Outro que foi anunciado para esse ano é o Nada será como antes – Milton nascimento

Bem, há muito para se falar a respeito da história dos musicais tanto em sua origem estrangeira quanto a respeito das produções brasileiras, mas acredito que voltaremos a esse assunto em outra oportunidade, inclusive quando falarmos das óperas. Há semelhanças entre Musical e Ópera e também diferenças técnicas e estruturais a serem destacadas. 

Vou deixar aqui um dueto muito conhecido, frequentemente cantado em casamentos, e que faz parte do musical The Phantom of The Opera (O Fantasma da Ópera). Aliás, peço perdão para quem discordar de minha opinião, mas a versão em português para essa música, intitulada Tudo o que se quer, não consegue expressar, para mim, a beleza de sua letra original em inglês. 

"All I Ask of You" from The Phantom of the Opera:



The Phantom Of The Opera é um musical adaptado para a Broadway por Andrew Lloyd Webber, Charles Harte e Richard Stilgoe. Ele foi baseado no romance francês Le Fantôme de l’Opéra, escrito por Gaston Leroux, inspirado no livro Trilby, de George du Mauner. Publicado inúmeras vezes, sendo adaptado para o cinema e para o teatro, mas seu auge foi com a adaptação para a Broadway por Webber. 

O espetáculo bateu recorde de permanência em cartaz, superando Cat’s e continua em palco até hoje, desde sua estreia em 1986. É o musical mais visto no mundo. Já foi visto por milhões de pessoas, e também é a produção de entretenimento com mais sucesso que alguma vez existiu. 

Bom, espero que tenham gostado. Você já foi a algum musical? Que impressão teve? Comente por aqui. Até a próxima semana.