segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Banana-nanica ou banana-maçã?

Antonio Luceni

Eu e minha família já passamos cada perrengue na vida, minha gente, que não foi brincadeira, não. E, infelizmente, não foi (e não é) exclusividade nossa. Por isso mesmo, quando vemos hoje um Brasil mais dinâmico, mais estável, financeiramente falando, devemos ficar felizes. E isso tudo é fruto de um processo longo, que foi iniciado desde a aprovação de nossa Constituição Federação e que se arrasta até os dias de hoje.

Certa feita, por motivo de um de meus irmãos – que agora me foge o nome – estar doente, minha mãe pediu para que eu fosse comprar meia dúzia de bananas. (Lá em casa era assim: algo mais diferente um pouco – uma fruta, um iogurte, um doce ou algo do gênero – só aparecia no comecinho do mês, quando saía o pagamento, ou quando um dos filhos estava doente, como uma forma de agradar o moribundo.

Acontece que minha mãe tinha pedido pra eu comprar banana-maçã e eu comprei banana-nanica. Isso porque já havia rodado duas ou três vendas no bairro – e imagine que a mais próxima ficava uns dois quilômetros de casa – e não tinha encontrado o raio da banana-maçã.

Quando cheguei em casa... hum! Aquela bronca.

- Não disse que era banana-maçã? Vá já trocar as bananas.

- Ah, eu não vou, não. Não vou, mesmo.

- Você vai, sim e é agora.

- Mas mãe, com que cara que eu vou entrar no mercado e pedir pra trocar banana?

- Com a mesma que você entrou e comprou estas.

O pior não era caminhar a via crucis tudo de novo, não. O pior não era enfrentar o sol “rachando coco” de Araçatuba por mais quatro quilômetros. O ruim mesmo era ter que encarar toda aquela gente (caixa, proprietário, ou fosse lá quem fosse) e pedir para... trocar banana! Muito humilhante, não acha? Meia dúzia de bananas? Quanto custa meia dúzia de bananas hoje? Por que não ficou com as bananas-nanicas e comprou as bananas-maçã? A resposta é óbvia: porque não tínhamos dinheiro.

Hoje, quando como banana os sentimentos dessa história são rememorados. Fico pensando “mas meu Deus, como é que não se tinha dois ou três reais para se comprar ‘bananas’?”. Fico imaginando quantos, como eu, têm que andar quilômetros ou, às vezes, até mais para comprar banana, farinha, feijão, arroz ou coisa do gênero para matar um desejo de algo que deveria ser normal e corriqueiro para o ser humano: comer.

Mas o pior de tudo, sabe minha gente, não é ter que andar tanto, nem ter que comer tão pouco e mal. Isso qualquer pobre o faz com maestria. Faz parte da rotina dele. O pior mesmo, a meu ver, é ter que ser humilhado por causa de um bocado e se expor como um ser incapaz, sem condições nem para comprar bananas.

 

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Membro e diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

2 comentários:

  1. Essa sua história me fez refletir o quão básico e necessário é o fato de muitas vezes não agradecermos a Deus a fartura que temos hoje.Comigo também era assim: danones,bolachas, doces...só no início do mês, depois acabou, acabou!! E hoje nos poupamos dessas delícias pelo maldito regime, pela dieta..arght!!
    bjão - Deise Machado

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  2. Pois é, Deise... comida para mim e minha família sempre foi (e continua sendo) algo sagrado. Comemos, hoje, com fartura, mas abominamos o desperdício.

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