domingo, 27 de março de 2011

QUEM TEM MEDO DE FICHA LIMPA?

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Venho acompanhando, nas últimas semanas, as discussões em torno da lei do Ficha Limpa. Para quem não se recorda do que se trata, vale à pena lembrar: uma lei que impede que qualquer político ou pessoa interessada em um cargo público eletivo possa exercer mandato caso haja qualquer pendenga comprovada, desde compra de votos até esconder dinheiro público na cueca (disso você se lembra, não é mesmo?!).
Bom, retomadas as lembranças do fato, vamos então para vias dele:
1.   Por que a demora, então, na “aprovação” e aplicação da referida lei? Em tese, deveria ser a coisa mais natural do mundo, ou seja, ser honesto, transparente e técnico no uso e gestão do dinheiro público é a praxe de qualquer político (ou não?!);
2.   Por que essa história de retroatividade ou postergação na aplicação da lei? O que interessa se ela vale pra já ou se (talvez!) valerá para 2012? Por acaso quem será honesto em 2012 não pode ser honesto agora?
3.   Por que ignoram as mais de 2 milhões de assinaturas e as outras tantas milhões via internet no percurso de aprovação da lei?
4.   Quais os interesses de ministros, juízes, advogados, desse ou daquele deputado ou senador em criar brechas e mecanismos que cristalizem as ações práticas de aplicação da lei?
5.   Por que sempre as mesmas caras, os mesmos nomes, as mesmas desculpas esfarrapadas de políticos que já sugaram e continuam a onerar a máquina pública?
6.   Por que nós, brasileiros, cidadãos de bem, pagadores de impostos (e põe impostos nisso) continuamos parados, de braços cruzados, como medusa a contemplar ante o espelho a própria destruição?
7.   Por que vivemos submetidos a sistemas ditatoriais, extremistas, travestidos de democráticos e equitativos e não nos indignamos com as mazelas e arapucas a que somos submetidos diariamente?
8.   Por que não seguimos os exemplos de países que estão há décadas (tais como nós) sob os cabrestos de ferro de ditadores que querem a nossa carne, o nosso sangue, os nossos ossos, a nossa alma?
Retomando Chaplin, na voz de “O grande ditador”, nós somos homens, não somos máquinas. Temos que retomar nossa capacidade de pensar. Temos que retomar nossa capacidade de indignação. Não podemos nos conformar com a exploração, com o cabresto.
Responder às perguntas acima é mais que uma tarefa de casa: é uma responsabilidade da vida. É a partir de reflexões como estas que vamos retomando nosso processo de humanização, de nos colocarmos de pé de novo. Abrir mão da comodidade do “pão e circo” e começar a comer “bagaço” se for necessário. Se necessário for, aguentar a flecha no peito, o tiro no olho, a martelada no pé.
Se preciso for, suportar o “pau-de-arara” de novo, ser exilado, viver sob a treva, nas frestas dos muros, mudar de nome, trocar de sexo, qualquer coisa que abra uma janela pra gente respirar.
Pra sair do sufoco é preciso se mexer, porque se não, fica assim, do jeito que está.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

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