domingo, 6 de maio de 2012

Estou farto

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Dias atrás estava pensando sobre algumas cobranças ou questionamentos que muitas pessoas fazem, mas da boca pra fora. Por exemplo, ouço muito gente falar que não gosta de falsidade, que detesta pessoas mentirosas e que prefere a verdade. Aí, quando você é sincero ou diz o que tem que dizer, é censurado. “Ah, mas você é um grosso... Onde já se viu falar isso?”; “Você poderia dizer isso, mas não do modo como disse. Assim você acaba machucando as pessoas...”.
Também fico vendo gente fazer campanha contra corrupção, apadrinhamento, nepotismo, aumento de salário dessa ou daquela categoria, entre tantas outras coisas que, é verdade, precisam ser questionadas e, em alguns casos, repugnadas e extirpadas de nosso meio, mas a primeira oportunidade que tem usa logo do jeitinho brasileiro: “Ah, mas são só cinco minutinhos... deixa eu entrar, vai... a prova nem começou ainda”; “Eu sei que o trabalho era para ser entregue na aula passada, mas é que eu tive que viajar e aí não deu pra entregar... quebra esse galho, vai?”; “É rapidinho, não vou demorar nada... se algum deficiente físico chegar você me avisa que eu saio”, entre tantas outras formas de corrupção, falta de ética e respeito para com o próximo que está no mesmo nível daqueles para os quais aponta o dedo.
Há um modelo de ser humano almejado por muitos que beira o endeusamento. Há um tipo de ser humano que vivem buscando nos outros (sempre nos outros) que faria desse nosso planeta, sem dúvida alguma, o melhor lugar do mundo para se morar, plantar árvores, escrever livros, ter e criar filhos. Mas como disse, isso só serve para os outros. Se eu tiver que praticar o que digo, respeitar as cobranças que faço, logo arrumo um jeito de abrir exceções, minimizar as críticas, diminuir a acidez das palavras.
Cada dia mais estou saturado de pessoas que só sabem cobrar, se queixar, encontrar defeito em tudo, mas que não têm coragem de encarar seus próprios erros, assumir que também são humanas, que precisam aprender com os outros, ser mais solidárias com os deslizes alheios.
A vida toda escutei queixumes das pessoas. Não poucas vezes – isso desde o primário – colegas meus de sala chegavam todos inflamados, senhores da razão, mártires de revolução, querendo mudar o mundo, bater de frente com quem sei lá que fosse, pedindo meu apoio e colaboração, mas na hora “h” pulavam fora e deixavam o bestão aqui sendo o vilão da história. Perdi a conta das vezes em que peitei patrão ou chefe na tentativa de pleitear este ou aquele benefício para categoria, mas no “estalar dos ovos” meus pares diminuíam o tom da voz, baixavam a guarda e, para o primeiro “basta” do algoz, se emudeciam e se submetiam novamente aos desmandos e à burrice das ordens.
Estou farto dos frouxos, dos medrosos, dos conformados com o mundo. Estou farto dos revolucionários de facebook, de abaixo assinados, de assembleias e conselhos, de sindicatos e associações. Estou farto das pessoas que se acomodam com a desgraça a que são submetidas diariamente e que baixam a cabeça para os abutres de plantão.
Estou em busca de gente que honre o que diz, que sofra as consequências de suas ações, mas que não busque subterfúgios ou “jeitinhos” quaisquer para se livrar da palmatória. Estou querendo estar ao lado dos que sabem dizer “não” quando têm que dizer “não” e dos que, haja o que houve, doa a quem doer, estejam certos de suas convicções.
Quem vem comigo?

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Membro e Diretor de Integração Nacional da União Brasileira de Escritores – UBE.

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