domingo, 22 de agosto de 2010

Eleição na floresta


Este ano é ano de eleição na floresta. Momento importante para todos definirem quem irá comandar o grupo nos próximos quatro anos. Uma assembleia foi convocada pelo Leão. E quem foi dar a notícia foi a D. Tartaruga, mas com ordens severas: apenas para alguns bichos, já que, por conta da lerdeza de D. Tartaruga “não daria” para convidar a todos.
Bichos reunidos, O Rei Leão passou a fala aos candidatos.
Quem primeiro se apresentou foi o Curupira. E não quis saber de brincadeira, não. Já saiu entoando bem alto o seu slogan para que todos o gravassem bem:
 Para a floresta continuar andando pra frente, Curupira presidente!
E todos aplaudiam, e todos festejavam... O candidato falava bem, era popular entre os habitantes da floresta. Mas alguém, lá no meio do povo, observou um detalhe: a natureza do Curupira era a de andar para trás. Por que estava dizendo aquelas coisas, então? E por que os outros bichos não prestavam atenção no que o candidato dizia e se levavam apenas pelo falatório?
Em seguida, veio uma candidata. Era novidade na floresta. Por muitos anos somente bichos do sexo masculino reinavam por ali. Ela tinha pressa, já que não podia ficar por muito tempo fora d’água.
 Vocês já me conhecem porque quem me ouve nunca mais me esquece. Um grito daqui, outro de lá, não adianta resistir porque eu vou te pegar! Meu canto é doce, minha boca também, Iara é meu nome, quero ser teu bem!
Uma voz sedutora, um canto sedutor. Assim, a Mulher-Iara já estava arrancando os corações dos marmanjões, quando o Saci se intrometeu.
 Vamos parar de ladainha, vamos parar de blá, blá, blá... nosso objetivo neste dia é escolher em quem melhor votar. Esse canto é lindo demais, eu também quase caio nele, mas como moleque levado que sou, não caio em qualquer converseiro.
Cheio de rimas para poder provocar, o Moleque Saci saiu a argumentar.
 Seu Curupira, não me leve a mal, mas essa sua conversa é tão mole que já tá fazendo o boi dormir. Onde já se viu? Querer o bem do Brasil não é somente falar, tem que mostrar serviço. Há tantos anos no poder, e o que o senhor fez? Sua única responsabilidade era proteger a floresta. E olha aí? Tá quase toda desmatada. Fiquei sabendo que o senhor anda de conversa com uns tais grileiros...
 E você, Mulher-Iara? Sei que é boa de conversa (e de outras coisinhas mais!), mas na hora do vamu vê, pula do barco e deixa a gente a ver navios.
E a assembléia começou a pegar fogo com a chegada do Saci. Sua fama de bagunceiro e arruaçador estava mais do que comprovada. Era réplica daqui, era tréplica de lá e ninguém queria saber de parar... Até que se ouviu um uivado no meio da floresta. Todos pararam e ficaram escutando. Quando de repente...
 Vamos parar com essa bagunça aqui. Quem é o mais corajoso da floresta? Quem é que deixa caçador e grileiro com os cabelos em pé? Quem é que se mistura com os humanos e passa despercebido e, à noite, à meia-noite, volta para colocar as coisas em ordem? Eu, é claro!
O Lobisomem não deixou por menos.
Depois, veio o Boitatá, que de cara foi chamado de mentiroso pelo grupo, já que de boi não tinha nada, era uma cobra! A Cuca quis se pronunciar, mas não teve a menor chance. Disseram que o lugar dela era no Sítio do Pica pau amarelo.
Depois de muita discussão, decidiram: a floresta era um lugar democrático, por isso todos podiam ser candidatos.
E a primeira a votar foi a Mula-sem-cabeça. Disseram que ela votou num determinado candidato só porque ele tinha lhe prometido um chapéu. É mole?!
Mas que ela vai ganhar um chapéu, ela vai! Ah, vai!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região.

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