segunda-feira, 20 de setembro de 2010

60 anos da tevê aberta brasileira



Este ano a tevê aberta brasileira completa 60 anos. Tenho metade da idade dela, mas nesses últimos trinta anos já deu pra conhecê-la um pouquinho.
Nossa primeira televisão (no singular mesmo, porque só tínhamos uma) foi uma Philips preto e branco, acho que pouco mais de vinte polegadas. Imaginem só, uma família de sete pessoas defronte a uma tevê de vinte e poucas polegadas. Sentia-me como se fosse uma vaca (dizem que os bovinos enxergam em preto e branco). Anos depois, apareceu um vendedor daqueles que passam de casa em casa vendendo quinquilharias e meu pai comprou uma tela de acrílico em que tinha três cores: na parte superior o vermelho, na parte inferior o verde e, entre estas duas cores, uma faixa amarela que se fundia e sugeria o alaranjado em alguns momentos. Ficávamos com a “sensação” de víamos as imagens coloridas (tal qual eram realmente).
A disputa para ver esse ou aquele programa era outra comédia em casa. Os desenhos animados eram dirigidos para nós, crianças; já a hora das novelas era para minha mãe, e disso ela não abria mão. Tentávamos convencê-la de tudo quanto era forma para deixar no “Sítio do Picapau Amarelo”, mas nada. Por isso acabamos assistindo a “Roque Santeiro”, “Sassaricando”, “Amor com amor se paga”, entre outras das décadas de 1980 e 90.
É verdade que em todos os momentos da trajetória de nossa tevê aberta existiram programas idiotas e inúteis. Também é verdadeiro que nunca tivemos maiores opções de cultura, de educação, de entretenimento nas tevês públicas do Brasil, mas como hoje em dia, acho difícil.
Quanta baboseira, quanta bunda, meu Deus!, quanto sangue e violência nos programas de hoje. Salvam-se alguns poucos canais (bem poucos, acho que um ou dois) que têm em sua programação documentários interessantes, programas jornalísticos apartidários, programas infantis não-infantilizados, entrevistas e debates que fazem a gente crescer no final deles.
As tevês públicas são concessões que deveriam exigir logo de cara qualidade em suas produções. O brasileiro já é privado de tanta coisa que ao menos os programas televisivos – um dos poucos momentos de lazer a que o pobre tem acesso – deveriam ser de qualidade, voltados para esclarecer, instruir, orientar e divertir as pessoas de forma digna.
Do jeito que está aí não vale a pena nem gastar energia elétrica com o que passa na tevê. De pão e circo já estamos cheio. Queremos coisa mais encorpada, coisa mais saudável, coisa que valha a pena digerir.
É isso!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.

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