domingo, 27 de fevereiro de 2011

O BRASIL É UMA PIADA (DE MAU GOSTO)

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com


Quando soube da notícia, achei melhor não comentar. Afinal, muitos seriam motivados a fazê-lo. Então, seria como chover no molhado, estimular redundância, mais do mesmo... Mas não me contive. Cá estou a comentar. Lógico. Quantas vezes já não me pronunciei aqui por estas linhas (e em toda minha vida profissional, já que fiz opção pela carreira) da maneira como educação é tratada em nosso País.
O deputado federal Francisco Everardo Oliveira, eleito por São Paulo – o estado mais rico e um dos mais desenvolvidos do Brasil, será um dos membros da Comissão de Educação e Cultura da Câmara. E qual o problema? Bom, digamos que o referido deputado é ninguém menos que o Tiririca. Isso, o “abestalhado”.
Até que gosto do Tiririca, na tevê. Ele é daqueles tipos de personagens que não são muito inteligentes nas piadas, não tem a agilidade e a perspicácia de um showman, não seduz seu ouvinte por muito tempo, mas é engraçado nos poucos e suficientes minutos que lhe cabem. A própria imagem – de um “abestalhado” – já é suficiente para arrancar-nos um pouco de risos.
Mas é só isso. Nada além disso.
Claro que foi eleito sob votos de protesto. Ele mesmo não esperava tal votação. Aliás, chegou a declarar em uma entrevista que nem tinha esperança de ser eleito. Mas olha aí o que dá voto impensado: colhemos de volta em forma de aberrações.
Membro da Comissão de Educação e Cultura. Pois é: retrato exato de como estas duas áreas são tratadas em nosso País. Gente despreparada, eleita em forma de brincadeira (sim, porque são dois extremos: de um lado gente que não vale a pena porque rouba dinheiro público, ignora as razões da coletividade a qual representa... de outro, gente alienada com as questões políticas, pois se quer sabe o que dizer, o que pensar, como agir...).
Sou de origem pobre também. Como Tiririca, também sou nordestino. Mas, diferente dele, procurei estudar, vencer as adversidades da vida por meio do intelecto (desde cedo percebi que com braços simplesmente não conseguiria nada). Cada coisa em seu lugar. Se ele buscou vencer na vida por meio de sua arte, o humor, já estava muito bem, ao lado de importantes outros nomes do humor nacional, em emissoras grandes da tevê pública brasileira. O que tinha de se meter com política?
Pois é, em nível nacional um de nossos representantes na Educação e na Cultura é um cidadão que, depois de tanta polêmica para assumir o cargo sob suspeita de ser analfabeto, demonstrou um nível de leitura e escrita irrisória, no limite do analfabetismo funcional.
Depois falam em Educação (vamos deixar de comentar Cultura) como prioridade em nosso Brasil. Não é preciso o Tiririca pra nos fazer rir, não é mesmo?

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor de Integração Regional da União Brasileira de Escritores – UBE.

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