domingo, 19 de junho de 2011

VIVER A VIDA

Antonio Luceni

Quantas coisas são necessárias para que percebamos a vida por inteiro? Aliás, seria isso possível? Se não, como vivê-la intensamente, então?
Há muitas respostas para estas perguntas. Algumas mais simples, outras tão complexas quanto as próprias questões. Algumas podem ser respondidas por um vizinho nosso, amigo mais próximo, pastor, padre, monge... Mas há as que não serão respondidas nunca e, por mais que nos queiram convencer de algo, a dúvida vai permanecer.
Nossa! Mas esse assunto está estranho, não é mesmo? Um tanto quanto subjetivo, arenoso, até desagradável em certo ponto... Vamos pra algo mais prático, então!
O que estou tentando dizer, entre outras coisas, é que mantemos uma relação com a vida, com a nossa rotina que, por vezes, está longe daquilo que imaginamos como viver a vida. Tem gente que fica numa ação insana de fazer sucesso, de ser bem sucedido com o que quer que seja, a todo custo, aparecer, se destacar. Aí vêm as frustrações, as decepções pessoais, os despropósitos... Sabe por quê? Porque essa coisa de sucesso, de ser bem sucedido é um movimento interno, num primeiro momento, para, depois, tornar-se visível. É a habilidade de se bem resolver, de se coordenar a si mesmo (aristotélico, não é?) que desencadeia tudo.
Tem gente que acha que viver a vida da melhor maneira é vivê-la racionalmente o tempo todo, ser técnico demais (alguns até confundem isso com o chamado “profissionalismo”), antenado em tudo que acontece, às últimas novidades do mercado etc., etc., etc... Esquecem-se de que também o caos e a desordem são elementos necessários para a criatividade, para a imaginação, para a novidade.
Há os que pensam que literatura, teatro, cinema, pintura, artesanato etc... são coisas para se “passar o tempo”, coisa de “gente que não tem o que fazer”, atividade “recreativa”. Não conseguem enxergar (coitados!), na ignorância que os cega, o quanto estas atividades imateriais, subjetivas são importantes para esse processo de autoconhecimento, de complementariedade.
É lógico que não há receitas para uma vida feliz. Também é óbvio que seria um tédio “viver feliz para sempre”. Tudo na vida é feito de bem e mal (os elétrons e prótons são negativos e positivos, não é?), de erros e acertos, dia e noite, quente e frio... E a gente só percebe um e outro por conta desse contraste.
Portanto, minha gente, viver a vida é percebê-la (e há que se ter olhos pra ver e ouvidos pra ouvir) sob seus mais múltiplos aspectos. É ambicionar, sim, coisas grandes e grandeloquentes, mas também é sorvê-la em seus momentos mais simples, mais delicados e pessoais, dando a devida importância a eles.
Nesse sentido, é preciso que se lembre: não é um “favor” dedicar um tempo para brincar com um filho, almoçar com a família, falar besteira com os amigos. Tão importante quanto construir pontes monumentais, fazer uma cirurgia complicada, realizar uma operação perigosa é abraçar, é amar, é partilhar das dores do seu irmão ao lado.
Cada qual deve identificar a sua receita de viver a vida. Mas em todas elas um ingrediente é imprescindível: não desprezar nada.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

2 comentários:

  1. Antonio Luceni é mestre em Letras, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e escritor.
    E que escritor!
    Como sabe traduzir sua emoção!
    Cria neologismos...

    Linda crônica, Antonio.
    Parabéns!

    Wanilda Borghi.

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  2. elainefantunes@yahoo.com.br20 de junho de 2011 às 04:26

    Maravilhoso!!!!! Adorei! És um escritor adorável, que nos encanta e desperta nossa emoções, sentimentos, que relutamos em demonstrar.

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