Francisco, Chico
Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com
Era pra eu me chamar Francisco também. Lá em casa, todos o são, Francisco. Uma
Francisca, a Linda, minha irmã. Promessa de minha vó Joana: “Se esse menino
sobreviver, todos terão o nome de São Francisco”. E assim o foi: Francisco
Lúcio, Francisco Lindomar, Francisco Lucivan e Francisca Lindalva. Só eu fiquei
fora da história porque, na hora do nascimento, estava com o cordão umbilical
envolto ao pescoço. Daí, licença pra um santo e homenagem pra outro: Santo
Antônio.
Como todos são “Francisco” e o segundo nome de cada um deles não é tão comum,
também todos preferiam ser chamados de “Francisco”. “O Francisco está?”, e a
pergunta inevitável: “Qual?”. O coitado ou a coitada do outro lado da linha não
sabia o que dizer.
Mas na verdade todos somos “Chico”, gente do povo mesmo. Vivemos uma vida
franciscana, mesmo sem fazer opção por ela. Desde muito cedo sabemos o que é
sofrer, o que é ser marginalizado, o que é padecer com falta de roupa, comida,
moradia, saúde e essas coisas todas que, infelizmente, para a maioria dos povos
da Terra são artigo de luxo.
Agora temos um “Francisco” que está chamando a atenção do mundo todo. Um
“Francisco” que, ao que tudo indica, tenderá para uma postura mais de “Chico”,
isto é, de alguém que dialogue com os simples, que fale de forma acessível, que
se faça compreender pela maioria.
Nossa família é cheia de “Franciscos”. Cada um deles com seu modo particular de
ser: O “Francisco Lúcio”, naquele jeitão calado dele, mais observador, paizão
de todos nós. O irmão mais velho que desde cedo contribuiu para com o sustento
da família. A “Francisca Lindalva”, com seu jeito mais sisudo, mas que se
mostra um ser humano incrível na educação dos filhos e como mulher dedicada à
família. O “Francisco Lindomar” é o mais divertido e envolvente de todos os
“Franciscos”; sem ele os encontros não são os mesmos. O “Francisco Lucivan”, o
menino-homem, responsável, dedicado e dinâmico.
Todos eles, repito, “Chicos”, porque são simples, gente humilde, batalhadora e
desprovida de altivez, arrogância, prepotência e ostentação. Não são santos,
não. Têm as falhas como humanos que são. Mas, honestamente, as virtudes são
mais fortes.
O mundo todo olha pra um “Francisco”, agora. Um “Francisco” que se propõe a ser
“Chico”. Lá em casa, temos muitos “Franciscos”; todos eles “Chicos”.
Senhor, fazei do Chico um instrumento de sua paz!
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