quinta-feira, 7 de março de 2013

Já que puseram a raposa para cuidar do galinheiro, que venha a revolta das galinhas.


Já que puseram a raposa para cuidar do galinheiro, que venha a revolta das galinhas.
Por Antonio Luceni

aluceni@hotmail.com

Gostaria de começar declarando que não tenho nada contra o senhor pastor Marco Feliciano. Aliás, acho saudável a diferença de opiniões; e, por valorizar a “diferença”, é que não podemos aceitar qualquer postura ou ação que objetive a uniformidade, o monopólio, a massificação do que quer que seja. Somos unos, indivíduos, portanto, por natureza, DIFERENTES.
Faço duas distinções, antes de prosseguir: o MARCO FELICIANO pastor e o MARCO FELICIDANO deputado federal.
Com relação ao MARCO FELICIANO PASTOR, não me intrometo. Cada um segue a religião que quiser, funda a que quiser, faz a interpretação que quiser da Bíblia, como bem achar direito. E, mesmo com relação às interpretações pessoais, tudo é muito questionável, já que são visões humanas. Se fosse o caso de entrar no debate bíblico, teológico, hermenêutico, eclesiástico, como queiram chamar, elencaria vários tópicos que desmontariam o “preconceito de Deus” (diga-se, dos homens que falam em nome Dele) com relação aos gays, já que Deus é amor e esse grande amor, conforme afirmado em João 3:16, é para TODOS AQUELES QUE CREEM EM DEUS. Não é dado por homens, portanto, ninguém fica na dependência ou aval humanos.
Agora, do ponto de vista do MARCO FELICIANO DEPUTADO FEDERAL, temos todo o direito de interferir, já que ele não representa – ou ao menos não deveria representar – uma categoria social, uma determinada classe religiosa, um grupo específico do Brasil. Antes, é um homem público e representa o povo brasileiro. Nesse sentido, qualquer representante do Estado brasileiro deve manter-se fiel ao princípio de dialogar com a sociedade de forma isenta e responsável, sem fazer com que seus interesses – ou do grupo que representa secularmente na sociedade – imperem sobre os anseios do País, ou seja, de nós, brasileiros.
O DEPUTADO MARCO FELICIANO já deu mostras públicas sobre o que pensa das minorias no Brasil. Em março de 2011, em defesa do também controverso e preconceituoso deputado Jair Bolsonaro, afirmou que a raça negra é resultado de uma maldição imposta sobre Canãa, neto de Noé e que, por serem amaldiçoados, os negros africanos passam por tantos problemas, como as doenças e a miséria que os afligem. Com os homossexuais, a postura não foi muito diferente: “A podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, à rejeição. Amamos os homossexuais, mas abominamos suas práticas promíscuas”.
Talvez não tenha falado nada sobre a população indígena porque esta já “está se acabando mesmo”, porque não tenha relação direta em seu dia a dia ou porque não constituam “ibope” suficiente para polêmica...
Talvez a opinião do DEPUTADO MARCO FELICIANO em relação às mulheres é que “devem ser submissas a seus maridos” e que, por terem sido tiradas da costela do homem, cabe a elas serem colaboradoras, companheiras, coadjuvantes, já que “por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher”.
E por aí vai...
O que poderíamos pensar de um homem – HOMEM PÚBLICO – que faz declarações tão desumanas e vis publicamente? O que esperar do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias se, antecipadamente, declara não ter a menor preocupação com as minorias, ou seja, com o ser humano? (Ou será que o referido deputado não considera humanos gays e negros? Se for isso, justifica sua postura, mas não o credencia para ocupar uma pasta que justamente pretende resgatar o direito de igualdade de oportunidades e tratamento reservados A TODOS pela constituição brasileira).
Indiferente das respostas, indiferente das “defesas”, indiferente dos “argumentos” que o DEPUTADO MARCO FELICIANO venha a utilizar para “justificar” sua presença na Comissão, não é coerente que se coloque alguém para responder por uma Comissão tão importante quanto a de Direitos Humanos e Minorias que tenha, publicamente, tais atitudes. É hora de dizer basta, é hora “das galinhas se revoltarem contra raposa”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário