sábado, 30 de outubro de 2010

AMIGA DAS ALMAS


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

E vagava triste pelo mundo... Já estava enfadada, quase enjoada mesmo, no convívio com
aquela carcaça que lhe prendia. Na infância era mais gostoso. Sim, porque vivia para lá e para cá, como filha do vento. Subia em mangueiras e goiabeiras, fazia guerra de lama quando a chuva acabava, dormia e se esquecia dos problemas da vida... Aliás, os problemas não a incomodavam. Se a barriga estivesse cheia e houvesse um canto quente para se deitar, os problemas não existiam.
Na juventude também corria para lá e para cá, mas era uma corrida estranha, sem muita lógica, com horários pré-determinados pra tudo. Na verdade, esse tipo de corrida não tinha muita graça. A barriga quase sempre estava vazia (o almoço muitas vezes era substituído por um lanche rápido ao pé da mesa do trabalho ou num canto qualquer de um barzinho) e dormir era um luxo permitido somente em feriados prolongados ou aos domingos (isso quando não tinha que concluir trabalhos em casa).
A velhice chegou. As companhias costumeiras já não eram tão constantes assim. Ao contrário, passou a se relacionar diariamente com pessoas com as quais nunca tinha convivido e, certamente, não teria tempo para conviver. A barriga agora era cheia, não de comidas – até porque lhes tinham proibido quase tudo –, mas de remédios; se fosse seguir a dieta do médico tinha que comer vento e beber água de sobremesa.
Começou a flertar com ela. Começou a se relacionar transversalmente com ela porque não tinha coragem de lhe encarar no rosto, de lhe fitar nos olhos... Como dois namorados tímidos, trocaram insinuações, desejos proibidos, murmúrios solitários... E todos à sua volta percebendo algo estranho: “Pare com essas conversas bobas, mamãe... onde já se viu falar uma coisa dessas?”.
E a velha nem aí. Fazia-se de doida – a idade já lhe permitia dessas mazelas – e esboçava um quase-sorriso no canto da boca, olhando para o nada, para o vazio... (ou a estaria flertando novamente?).
Certa noite, combinaram algo: dormiriam juntinhas, uma afagando a outra. Trocariam segredos, diriam coisas tolas, as últimas palavras. Não fariam escândalo para não chamar a atenção de ninguém e assim também não dariam vazão para que interferissem nesse plano. Quando todos acordassem pela manhã, tudo já teria acontecido. Tudo estaria consumado.
Desse jeito foi feito. Passaram a noite se divertindo, uma despedida de solteiro (é certo que seria uma despedida; de solteiro, talvez não, mas até acharmos um nome adequado para o fato seria delongado demais... quem ficar por aqui que se dê o trabalho de achar um; há coisas mais importantes para fazer agora).
Não precisou amanhecer o dia para que a viagem acontecesse. Numa fração de segundo lá estava ela: solta, livre, correndo para cá e para lá novamente. Deixou para trás a armadura pesada e enferrujada que a prendia e estava a correr de novo pelos campos, a trepar em árvores, a chupar mangas e jabuticabas, a colher flores pelo caminho. Já não tinha mais preocupações, problemas não existiam, conseguira novamente ser quem realmente era.
No final do dia (o dia não acaba nunca lá!) estava de barriga cheia e até tinha um cantinho quente caso quisesse dormir, mas não queria. Queria mesmo era continuar brincando e correndo para lá e para cá, com o vento penteando os pelos de sua face.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região.

ENTREVISTA CONCEDIDA PARA FOLHA DA REGIÃO

domingo, 24 de outubro de 2010

O seminário de leitura foi um sucesso


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Na semana passada anunciei nesta coluna o cronograma de palestras do 1º Seminário de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil “Araçatuba Leitora”.
Hoje, deixo resumo das atividades da semana, a saber:
Dia 19/10, à tarde: O primeiro momento foi uma visita do escritor e palestrante de abertura do evento, Ricardo Azevedo, à EMEB Fausto Perri, no bairro Umuarama.
Havia meses os alunos daquela escola, sob orientação da diretora Maísa Bichir e seus colaboradores, estavam lendo e desenvolvendo atividades a partir das obras do escritor.
A culminância aconteceu com a visita dele, momento em que os alunos apresentaram pecinhas de teatro, declamaram poemas, teatro de fantoches e muito mais. Também tiveram oportunidade de ouvir, direto da fonte, algumas histórias e a própria história do escritor Ricardo Azevedo.
Dia 19/10, à noite: O escritor procurou estabelecer um contraste entre os textos técnicos (que disse terem a devida importância) e o texto estético, privilegiando o segundo como forte instrumento e HUMANIZAÇÃO. Buscou ainda, discutir sobre a falta de espaço que há nas escolas brasileiras para os textos de ficção e poesia. Problematizou o fato de cada vez mais os textos técnicos e pedagógicos terem espaço nos bancos escolares, COISIFICANDO o ser humano, justamente por serem (os textos técnicos e pedagógicos) dogmáticos, buscarem uma única e voz comum, por terem um fim específico etc. Propos que reolhássemos os textos literários e suas contribuições como elemento do inexplicável, da imaginação, da fantasia, do universal, da democracia e pluralidade de vozes etc.
Dia 20/10: Mesa de discussão com integrantes do Grupo de Estudo em leitura e literatura infantil e juvenil da Secretaria Municipal da Educação. Cada um dos membros da mesa fez uma abordagem de um aspecto diferente da leitura e da literatura, sendo: Maria Lúcia Terra, Patrícia Cardoso Soares, Nara Leda Franco, Cristiane Magalhães Bissaco e Marister Vasques Falleiros.
Dia 21/10: Cantando, contando, discorrendo sobre projetos que implantou por esse Brasil a fora, Francisco Gregório Filho agradou gregos e troianos! Coisa difícil de acontecer, mas foi exatamente isso. Os comentários foram dos mais diversos, mas todos eles convergindo num ponto: o encontro foi apaixonante. Gregório demonstrou na prática o que significa se relacionar com literatura e poesia.
Dia 22/10: Numa sexta-feira, sete e meia da noite, Ezequiel Theodoro da Silva seduziu a todos com suas piadas, suas canções e, principalmente, com o seu saber com sabor. Foi um momento bastante rico em que foram retomadas desde a importância da presença do professor na sala de aula como alguém com sentimento, com vida, com emoções e que, por esse motivo, também precisa trabalhar (e só um ser humano faz isso) com a diversidade presente em nossas escolas.
Dia 23/10: O quinto e último dia do Seminário contou com dois importantes momentos: A palestra da professora doutora Renata Junqueira de Souza da Unesp de Presidente Prudente e com as Oficinas Pedagógicas, ministradas pelos profissionais do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba. Em ambos os casos os participantes teceram muitos elogios pelas abordagens feitas e pelo encaminhamento dos mesmos.
Gostaria de agradecer vivamente todo apoio dado pelo prefeito Cido Sério e pela Secretária da Educação, Beatriz Soares Nogueira. Agradeço também a todos os membros da Comissão Organizadora, bem como os demais colaboradores da Secretaria que contribuíram para o sucesso deste evento. A ausência de nomes é na tentativa de não ser injusto com ninguém. Portanto, todos se considerem abraçados por mim.
E que venha o próximo Seminário de Leitura!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região, Coordenador Geral do 1º Seminário de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil “Araçatuba Leitora”.

Renata Junqueira de Souza e oficinas pedagógicas


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

O quinto e último dia do 1º Seminário da Leitura e Literatura Infantil e Juvenil contou com dois importantes momentos: A palestra da professora doutora Renata Junqueira de Souza da Unesp de Presidente Prudente e com as Oficinas Pedagógicas, ministradas pelos profissionais do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba, coordenadas pela professora Luciane Pavan, membro da Comissão Organizadora do Seminário.
Na palestra, a professora Renata Junqueira fez algumas abordagens sobre Estratégias de Leitura nas séries iniciais (Ensino Infantil e Fundamental), a partir da pesquisa de pós-doutorado dela nos Estados Unidos e na experiência de aplicação da referida proposta com cidades dos Estados Unidos, Presidente Prudente e Minho, em Portugal.
A pesquisa que foi publicada no livro: Ler e escrever, estratégias de leitura, Mercado de Letras, foi o objeto da palestra e teve seu lançamento no final dela.
Uma discussão bastante rica e interativa em que os professores e demais profissionais da educação que lá estiveram presentes puderam tirar dúvidas, tomarem consciências das mais atuais propostas no campo da leitura e da literatura em países desenvolvidos e nas principais colocações do PISA (programa internacional ligado à UNESCO que avalia diferentes países do mundo, entre as quais, na área da leitura).
Como não poderia ser diferente, também algo bastante significativo para Rede.
Com relação às oficinas pedagógicas, um primor. Os profissionais da nossa Rede deram um show na discussão e, principalmente, aplicação de propostas e sugestões de trabalho com o texto literário infantil. Não houve quem não saísse das oficinas entusiasmado e falando bem do que tinha aprendido nelas.
Gostaria de agradecer o empenho de todos que doaram parte de seu tempo na construção, tão rica, desse momento. Parabéns à Luciane Pavan e seus colaboradores que também se empenharam muito para que essa etapa tivesse o sucesso que teve.
Saio desse seminário como quem lava as mãos: alguns resíduos ainda estão nelas, o frescor é tão presente e marcante, a leveza e a suavidade do cheiro bem são satisfatórios.
Obrigado, Beatriz, por ter-me concedido essa oportunidade; obrigado Patrícia, Ana e equipe, Custódio e equipe, Maria Lúcia Terra e equipe, Raquel e equipe, Claudinha Sato, enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que esse Seminário tivesse o êxito que teve.
Meu muito obrigado....

Ezequiel Theodoro da Silva


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Quando o conheci, na pós-graduação da Unesp de Presidente Prudente, a primeira impressão que tive foi de um cara carrancudo, inacessível, que só estava alí "cumprindo tabela".
Ainda bem que me enganei.
O Ezequiel não é muito de sorrir, não. Ao menos em sala de aula. Mas isso não quer dizer que seja uma pessoa triste ou amargurada. Ele tem aquele humor seco e irônico dos intelectuais.
Parece mesmo um mineirinho, que quietinho e com seu jeitinho vai conquistando a todos. E foi exatamente assim que aconteceu na palestra do dia 22/10. Numa sexta-feira, sete e meia da noite ele seduziu a todos com suas piadas, com suas canções e, principalmente, com o seu saber com sabor.
Foi um momento bastante rico em que foram retomadas desde a importância da presença do professor na sala de aula como alguém com sentimento, com vida, com emoções e que, por esse motivo, também precisa trabalhar (e só um ser humano faz isso) com a diversidade presente em nossas escolas.
Propôs a leitura como algo emancipador, que nos tira do lugar comum e os faz ver o mundo à nossa volta com criticidade, com um olhar mais refinado. A leitura DESvela, DEScobre, DESnuda as coisas para que possamos enxergá-la além do trivial, além do que os olhos e a maioria das pessoas veem.
Foi muito bom tê-lo conosco, Ezequiel. Volte sempre.

Na imagem acima, da esquerda para direita: Raquel Pozelato, Ana Cláudia Vasconcelos, Patrícia Cardoso, Maria Lúcia Terra, Ezequiel Theodoro da Silva, Antonio Luceni e Cláudia Sato.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Entrevista para Folha da Região - Seminário de Leitura

O ENCANTADOR DE HISTÓRIAS


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

A terceira noite do 1º Seminário de Leitura e Literatura Infantil de Juvenil "Araçatuba Leitora" foi uma celebração à vida!
Conheci Francisco Gregório Filho num congresso internacional de leitura e literatura infantil e juvenil em Porto Alegre/RS. Foi paixão à primeira vista. Com seu entusiasmo explícito e sabedoria contida, cativou a todos os presentes com seu jeito aglutinador de ser, com sua voz mansa e tranquila e com muita, muita história para contar...
Ontem foi a vez de Araçatuba conhecê-lo. Cantando, contando, discorrendo sobre projetos que ele implantou por esse Brasil a fora, agradou gregos e troianos! Coisa difícil de acontecer, mas foi exatamente isso.
Os comentários foram dos mais diversos, mas todos eles convergindo num ponto: o encontro foi apaixonante.
Gregório demonstrou na prática o que significa se relacionar com literatura e poesia. No discurso envolvente personagens de nosso folclore, a mistura de raças e credos, a valorização da própria história, as muitas possibilidades de mergulhar num texto... Tudo estava lá, dito, posto e proposto...
E que venham os outros dias do Seminário.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mesa de discussão em leitura e literatura infantil e juvenil


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

20/10/10 - Mesa de discussão em leitura e literatura infantil e juvenil.

Palestrantes:
Profa. Dra. Cristiane Magalhães Bissaco
Profa. Ma. Patrícia Cardoso Soares
Prof. Me. Antonio Luceni
Profa. Esp. Maria Lúcia Terra
Profa. Ma. Marister Vasques Falleiros
Prof. Ma. Nara Leda Franco

Título da palestra: Rapsódia literária: aspectos da leitura e da literatura infantil, com o Grupo de Estudo em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Secretaria Municipal de Educação de Araçatuba.

Comentário: Pela característica da mesa de discussão, as apresentações feitas tiveram o tempo individual de 20 minutos cada uma em que os comunicadores abordaram um aspecto específico da leitura ou da literatura infantil. A professora doutora Cristiane Magalhães Bissaco expôs uma experiência feita em duas escolas municipais com crianças do Maternal sobre estímulos para ler, resultado de um estudo de caso feito a partir de discussões e propostas suscitadas no Grupo de Estudo; a professora mestra Nara Leda Franco discutiu sobre a presença da metáfora na obra de Chapeuzinho Vermelho como elemento colaborador para a manutenção do referido conto; a professora mestra Marister Vasques Falleiros fez várias abordagens sobre os objetivos e formas de leitura, as contribuições trazidas por métodos e formas adequados no ato da leitura e produção de textos; a professora mestra Patrícia Cardoso Soares discutiu sobre a presença do professor coordenador pedagógico como importante mediador na discussão, elaboração e construção de momentos e espaços que privilegiem a leitura e a literatura nas emebs do Sistema Municipal de Ensino, dando exemplos a partir de experiências da própria Rede; a professora especialista e diretora da equipe de supervisão, Maria Lúcia Terra, fez uma análise comparativa da presença da personagem "bruxa" ao longo da história da literatura infantil no mundo, discutindo a presença de arquétipos nessa personagem como forma de contribuição na formação intelectual e de caráter dos seus leitores. A mediação dos trabalhos da mesa foi feita por mim.

Palestra com Ricardo Azevedo


19/10/10 - Palestra de abertura do 1º Seminário de leitura e literatura infantil e juvenil.
Palestrante: Ricardo Azebedo: escritor e ilustrador paulista, é autor de mais cem livros para crianças e jovens, entre eles Um homem no sótão (Ática), Lúcio vira bicho (Cia. das Letras), Aula de carnaval e outros poemas (Ática), A hora do cachorro louco (Ática)e o Livro dos pontos de vista (Ática). Ganhou quatro vezes o prêmio Jabuti com os livros Alguma coisa (FTD), Maria Gomes (Scipione), Dezenove poemas desengonçados (Ática) e A outra enciclopédia canina (Companhia das Letrinhas), o APCA e outros. Tem livros publicados na Alemanha, Portugal, México, França e Holanda. Bacharel em Comunicação Visual pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado e doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Pesquisador na área de cultura popular. Professor convidado em cursos de especialização em Arte-Educação e Literatura. Tem dado palestras e escrito artigos, publicados em livros e revistas, abordando problemas do uso da literatura de ficção na escola.

Título da palestra: Sistema Cultural dominante, didatismo e literatura

Comentário: O escritor procurou estabelecer um contraste entre os textos técnicos (que disse terem a devida importância) e o texto estético, privilegiando o segundo como forte instrumento e HUMANIZAÇÃO. Buscou ainda, discutir sobre a falta de espaço que há nas escolas brasileiras para os textos de ficção e poesia. Problematizou o fato de cada vez mais os textos técnicos e pedagógicos terem espaço nos bancos escolares, COISIFICANDO o ser humano, justamente por serem (os textos técnicos e pedagógicos) dogmáticos, buscarem uma única e voz comum, por terem um fim específico etc. Propos que reolhássemos os textos literários e suas contribuições como elemento do inexplicável, da imaginação, da fantasia, do universal, da democracia e pluralidade de vozes etc.

IMAGEM: O escritor ladeado por este blogueiro e a professora Doutora Renata Junqueira de Souza, do CELLIJ/UNESP de Presidente Prudente, que veio daquela cidade para prestigiar o escritor.

ABERTURA DO 1º SEMINÁRIO DE LEITURA E LITERATURA INFANTIL E JUVENIL



"Deus quer, o homem sonha e a obra nasce", bem disse Fernando Pessoa.
Há tempos vínhamos gestando um espaço que privilegiasse a discussão da leitura literária em nosso Sistema Municipal de Ensino, em Araçatuba. E não era um sonho doido, desligado da realidade. Era o desejo de uma necessidade em discutir e propor ações que contribuissem para que o livro literário e a poesia tivessem o olhar que mereciam.
Pois é, a obra nasceu! Desde o dia 19 de outubro estamos envolvidos neste sonho. O primeiro momento foi uma visita do escritor e palestrante de abertura do evento, Ricardo Azevedo, à EMEB Fausto Perri, no bairro Umuarama.
Havia meses os alunos daquela escola, sob orientação da diretora Maísa Bichir e seus colaboradores, estavam lendo e desenvolvendo atividades a partir das obras do escritor.
A culminância aconteceu com a visita dele, momento em que os alunos apresentaram pecinhas de teatro, declamaram poemas, teatro de fantoches e muito mais. Também tiveram oportunidade de ouvir, direto da fonte, algumas histórias e a própria história do escritor Ricardo Azevedo.
A Secretária da Educação, Beatriz Soares Nogueira, e grande parte de sua equipe compareceram ao evento para prestigiar e mostrar de perto para o escritor parte do grande projeto para formar Araçatuba como uma cidade leitora.
Foi um momento bastante rico, particularmente para as crianças daquela escola, já que tinham a ideia de escritor como uma entidade quase inexistente.
Valeu, Ricardo!!!

domingo, 17 de outubro de 2010

ARAÇATUBA LEITORA


“Ler é muito mais do que decifrar palavras...”. É assim que começa o poema “Aula de leitura” do escritor Ricardo Azevedo.
Paulo Freire, renomado e importante educador brasileiro, também fez essa reflexão por meio de vários textos, sugerindo que somente lemos quando nossa leitura é algo maior, é a “leitura de mundo”.
Todos os dias e em todos os momentos estamos submetidos a ler. Procure observar tudo que está à sua volta: as pessoas, as coisas, as propagandas, os livros, a internet, o céu (será que vai chover?)... Verifique como seu marido, mulher, filho, pai ou mãe chegam do serviço ou da escola. Será que é hora de pedir alguma coisa pra ele ou ela? Ou é melhor deixar para mais tarde?
É por essa razão que a leitura e tão importante em nossas vidas. É por meio dela que nos relacionamos com as demais pessoas. É partir dela que entramos em contato com conhecimentos e vivências que certamente seria muito difícil (em alguns casos, impossível) não fosse pela leitura.
Hoje é o primeiro dia de outros quatro que se seguem do 1º Seminário de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil “Araçatuba Leitora”, organizado pela Secretaria Municipal da Educação e sob minha coordenação.
Serão dias de importantes discussões e reflexões (que virarão ações nas práticas das centenas de profissionais de nosso Sistema de Ensino) com o que há de melhor nessas áreas.
A palestra de logo mais à noite, na UNIP, é com o escritor Ricardo Azevedo, doutor pela USP e ganhador de diversos prêmios importantes de literatura, entre os quais vários Jabutis.
Amanhã é a vez do Grupo de Estudo em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Secretaria Municipal da Educação de Araçatuba, representado pelas professoras Maria Lúcia Terra, Cristiane Bissaro, Marister Falleiros, Patrícia Cardoso Soares, Nara Leda Franco e por mim, no auditório do SENAC, a partir das 19h30min.
Na quinta-feira é a vez do escritor, contador de histórias e Secretário da Leitura (imaginem só, já há no Brasil uma Secretaria da Leitura) de Nova Friburgo/RJ. Uma figuraça que tive o privilégio de conhecer num congresso internacional de leitura em Porto Alegre. Certamente, assim como eu, quem estiver presente vai se encantar com ele.
Na sexta-feira é a vez do professor doutor, e também escritor, Ezequiel Theodoro da Silva, da Unicamp. Um dos fundadores do COLE (Congresso de Leitura da Unicamp) que já está em sua 18ª edição. Também na UNIP, à noite.
Para encerrar o Seminário, no sábado pela manhã, UNIP, a professora doutora Renata Junqueira de Souza do Centro de Pesquisa em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Unesp/Presidente Prudente ministrará uma palestra que discutirá a leitura e a literatura no Ensino Infantil e Fundamental, além das oficinas pedagógicas que serão realizadas por profissionais da Rede.
Gostaria de agradecer publicamente ao prefeito Cido Sério e à Secretária de Educação, Beatriz Soares Nogueira, por serem sensíveis ao tema e proporcionado esse momento tão rico e importante para os profissionais do Sistema Municipal de Ensino.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A beleza de ser um eterno aprendiz...


A vida é uma grande escola, e todos nós sabemos disso: há lições que são aprendidas de modo mais prazeroso, causando-nos entusiasmo no aprender, no refletir às questões propostas por elas; outras, ácidas, áridas, desconfortantes...
Assim como na escola, há também na escola da vida a seriação: algumas pessoas estão mais adiantas (evoluídas?!) que as outras; outras, ainda estão no be-a-bá.
Assim como na escola, há os que ficam de recuperação em algumas matérias (solidariedade, respeito, fraternidade...), mesmo sendo aprovados em outras.
A verdade é que estamos todos nós aprendendo, ou, como diria Rosa, "de repente" aprendendo.
Minha vocação para ser professor estava no sangue. Minha mãe foi (e continua sendo) minha grande mestra. No interior do Ceará, no sítio da Pitombeira, ela já reunia vizinhos, irmãos e até o filho mais velho (meu irmão Lúcio) para, voluntariamente, encaminhar-lhes pelas primeiras letras. Quando veio para São Paulo, o ofício foi abandonado por falta de diploma. Entretanto, continua ensinando a todos nós.
Desde muito cedo (não vou falar pequeno porque ainda continuo a sê-lo) lembro-me sonhando com uma sala de aula, onde crianças, jovens e adultos ouviam com atenção aquilo que eu dizia. Quando terminei o 1º grau não tive dúvidas: "Vou fazer magistério".
Foi no CEFAM que iniciei nessa carreira que até hoje me sustenta física e intelectualmente. Também foi lá que tive contato com grandes mestres: Cleonice Guedes Pavan, Adilson Henriques, Kátia Nascimbeni, Giovanni e Ivone Baldan, Milka, Nilce, Bete, Zilda, Marquinhos, Osmarina, Júlia... só para citar alguns (e os outros que me perdoem).
O curso de Letras na Toledo, a pós-graduação na Unesp e o mestrado na UFMS renderam boas amizades e muito conhecimento. Desses lugares trago a amizade e o respeito pelos mestres Tito Damazo, Roseli Ibernom, Ester Mian, Patrícia Bertoli, Valdir Mendonça, Renata Junqueira, Ricardo Azevedo, Ezequiel Theodoro da Silva, Luís Camargo, José Batista de Sales, Belon, Sheila Maciel, Edgar Nolasco, Carlos Fantinati...
Gostaria de agradecer a todos meus mestres (os aqui lembrados e os que não citei) pelo tempo que dedicaram a mim e a meus colegas na comunhão do sabe(o)r das letras. Grande parte do que sou hoje (mesmo não sendo grande coisa) devo a vocês. Eternamente serão lembrados por mim com a reverência, respeito e admiração com que merecem ser.
Feliz dia dos professores.

Do discípulo,

Antonio Luceni

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Vinde a mim...


Dia 12 dia das crianças... E qual dia não o é, não é mesmo?!
Só quem tem criança em casa para se dar conta de que todo dia é dia delas. Se são recém-nascidas o choro não nos deixa esquecê-las por um minuto: num momento é cólica; noutro, fome; num outro, sono; num terceiro, cocô ou xixi incomodando-as.
Depois elas vão crescendo e aí você pensa que vai tudo ficar bem. Ledo engano: quando elas começam andar o desespero aumenta. Haja pernas para acompanhar aquelas perninhas que não param um só minuto no lugar. E, parece, sempre os piores lugares elas buscam para se enfiar. São verdadeiros suicidas (inocentes, é bem verdade, mas não o deixam de ser!).
Aí vem a adolescência: fase dos cabelos coloridos e esquisitos, aquelas roupas cheias de fluflu, a primeira paixão, os primeiros campeonatos e acampamentos fora de casa. As preocupações são redobradas.
Depois vem a faculdade, os estágios e, mesmo depois de formados, aqueles marmanjões dando despesas em casa e achando que ainda são crianças. Mas às vezes acho que são mesmo. Continuam sendo para os pais aqueles meninos e meninas dependentes (e a gente acaba nem achando tão ruim assim; basta estalarem os dedos que a gente está lá, prontos para socorrê-los).
Como diria Vinicius de Moraes: “Filhos, melhor não tê-los, mas se não tê-los como sabê-los”. A gente acaba sendo imortal neles, sabe. Talvez por isso os acolhamos sempre, nos importemos com eles... De certa forma é um egoísmo sacrossanto querer a perpetuação da nossa própria vida por meio da continuidade deles.
A verdade é uma só: onde tem criança há alegria, há energia, há graça, sinceridade, honestidade, verdade... Onde tem uma criança, mesmo as caras mais carrancudas se derretem, os corações mais angustiados encontram um momento – por mais efêmero que seja – de paz.
Não à toa Jesus pediu para que não impedissem de as crianças se aproximarem dele. Na própria visão do Mestre, as crianças eram – e portanto ainda são – a metáfora para quem quer chegar no céu.
Monteiro Lobato, também cansado das hipocrisias e discrepâncias dos adultos, encontra na imagem das crianças o lugar da esperança e é para elas que irá propor os seus diálogos, esperando na formação crítico-reflexiva de sua obra jovens e adultos mais adequados para transformar o mundo num lugar bom de se viver.
Que cada criança que há em nós seja cultivada diariamente e que a esperança sempre nos encontre de braços abertos para o que der e vier.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Yeda Pazian - uma artista



Primeiro me veio a educadora: Diretora da Rede Municipal de Ensino de Araçatuba, na EMEB Enoy Chaves, no bairro Panorama. Uma escola de Educação Infantil pra cima, alegre, colorida, com excelentes profissionais e com um jardim que é uma beleza.
Em seguida me veio a colega de trabalho: A partir do início do Grupo de Estudo em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Secretaria Municipal da Educação passamos a nos relacionar profissionalmente nas discussões do grupo, nas propostas e ações de leitura voltadas para as séries iniciais...
Por último, me veio a artista: Uma artista de mão cheia, ou melhor, de tela cheia. Cheia de cores, cheia de vida, cheia de alegria. Acho que um pouco (ou muito) da energia dessa artista, do olhar sensível e observador dela passam para as suas telas, para o seu trabalho.
Há em suas telas flores de todos os tipos (orquídeas, tulipas, strelízias, copos de leite...), tucanos, frutas, naturezas-mortas, paisagens... Tentam traduzir a vida, ou melhor, como diria, Van Gogh “a arte é o homem adicionado à natureza.”
Sua pintura não se propõe a ser um retrato fiel e literal da realidade. Não busca flertar com os academicismos prepotentes e aristocráticos; não há mais tempo para isso. Antes, vai na trilha das sensações, dos sentimentos, dos verdadeiros valores a que se propõem as artes de modo geral: sensibilizar as pessoas.
E quantas sensações são evocadas nas texturas de suas telas, nas pinceladas precisas, nas escolhas dos temas, nas dimensões das obras – quase próximas de painéis – na combinação de tons e matizes que, unidos, formam um conjunto harmônico e bom de se ver.
Como todo bom artista que se preocupara com a vida que está à sua volta, ela registra o Brasil de diferentes maneiras: nas paisagens litorâneas com barcos, encostas, peixes e pescadores; nas frutas várias e tropicais com todas as cores e texturas imagináveis: bananas, morangos, maçãs...; o campo está representado em seu acervo com cavalos, morros e riachos..; o experimental também tem vez: note-se aí uma provocação como o quadro “O pecado”, em que a silhueta de uma maçã é suporte para a discussão a que se quer despertar.
Yeda Pazian: a educadora, a mulher, a artista. Assim, vale a pena lembrar Joseph Beuys quando cita que "a criatividade não é monopólio das artes. (...) Quando eu digo que toda a gente é artista eu quero dizer que cada um pode concentrar a sua vida nessa perspectiva: pode cultivar a artisticidade tanto na pintura como na música, na técnica, na cura de doenças, na economia ou em qualquer outro domínio... A nossa ideia cultural é muitas vezes redutora. O dilema dos museus e das instituições culturais é que limitam o campo da arte, isolando-a numa torre de marfim (...). O nosso conceito de arte deve ser universal, terá que ter uma natureza interdisciplinar com um conceito novo de arte e ciência".
Certamente Yeda Pazian enquadra-se nessa perspectiva artística. E que venham outras telas.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e Diretor do Núcleo UBE Araçatuba e Região. (aluceni@hotmail.com)