domingo, 20 de fevereiro de 2011

GANHADORES DO LIVRO

Adorei os textos encaminhados por nossos escritores na promoção da semana passada. Foi difícil escolher os ganhadores, já que todos os textos são muito bons. Até poema saiu!
Mas pelo critério de "adequação à proposta" feita, ou seja, uma história pessoal sobre chuva, as duas vencedoras são:


SYLVIA SENY


E RITA LAVOYER

Obrigado ao Massato Ito e à Neida Rocha pelos lindos textos enviados.


CONTINUEM PARTICIPANDO E DIVULGANDO ESTE BLOG PARA SEUS CONTATOS.

ANTONIO LUCENI

ABAIXO, TODOS OS TEXTOS:

Choveu de espumar
Sylvia Seny

O causo é verídico.
Estava em plena adolescência, na fase em que os hormônios e o coração dançam no mesmo ritmo. Éramos  bons amigos até então. Bom, nem tão amigos assim...!
Eu já tinha uma quedinha por ele, e ele era um tanto tímido.
Numa conversa no ônibus, (que eu pegava propositalmente no mesmo horário que ele) na volta do trabalho, marcamos um cinema para o sábado próximo.
Só que o passeio não aconteceu porque ele tinha que ser guia turístico para a mãe que acabara de chegar a São Paulo e queria visitar uns parentes.
Mas, o programa não foi frustrado totalmente, eu fui insistente, remarquei o compromisso pro domingo.
Bem, o encontro para ir ao cinema em Santo André seria no bairro onde minha irmã morava. Fui dormir na casa dela no fim de semana. No entanto, as dificuldades estavam apenas começando. Minha irmã saiu no domingo e eu estava jogando vôlei na rua, tive que pular a janela pra tomar banho e trocar de roupa.
Só que esqueci minha bolsa no quarto dela e, como ele costumava ficar trancado, não tinha hidratante de pele, nem perfume à vista. Tive que improvisar.
Uma amiga, na época do ginásio, tinha o costume de molhar o sabonete e passar a espuma na pele. Ela dizia que isso hidratava. Eu acreditei! Quase toda dura de sabonete, penteei o cabelo, vesti a roupa de minha irmã que estava à mão e fui ao cinema assistir "Uma cilada para Roger Rabbit".
Mal sabia eu que a cilada era para eu mesma!
Toda tímida, pegamos o ônibus rumo ao centro de Santo André. No caminho caiu o maior toró, eu já estava apreensiva porque achava que ele observava muito as moças dentro do ônibus. Pensei: “Isso não vai virar nem um beijo, quanto mais namoro".
Quando chegou no ponto pra desembarcar, a chuva apertou mais e começamos a correr. Eu mantinha a cabeça baixa e, apavorada, vi que de dentro da moleca de pano que eu usava nos pés começou a sair espuma. Meu pé parecia emanar sabonete conforme eu ia correndo.
Meu paquera apertava minha mão gritando algo que eu nem sequer pensava em ouvir. Achava que ele estava vendo a enxurrada de espuma que escorria da sapatilha. Aí ele parou, girou nos calcanhares de frente pra mim, bem em cima do viaduto onde a chuva teimava em ficar mais intensa. Segurou meus ombros baixou a cabeça e gritou bem alto:
¾ Quer namorar comigo?
Pois é, eu também não acreditei! Que se danasse a espuma! Fiquei na ponta dos pés e danei-lhe um beijo!
Bom, eu só contei pra ele isso dez anos depois. Bendita chuva!


Cerca elétrica
Rita Lavoyer

Na semana passada, fui levar minha sobrinha para dormir na casa da minha mãe, por sinal avó dela. Estava chovendo pacas!
Sai do carro e abri a sombrinha (claro que quem tinha que se molhar era eu). 
Abri a porta do passageiro como maior cuidado para que a princesa não se molhasse, protegendo-a debaixo da sobrinha, a única.
Com uma das mãos abri o portão com a chave que possuo, segurando a sombrinha com a outra, porque só tenho duas, fazer o quê? No vai que não vai, encostei o “raio” da sombrinha na cerca elétrica que, por azar, estava ligada no dia errado. A descarga foi tanta que as barbatanas daquele objeto vagabundo arrebitaram pra cima.
Descobri que eu devo ser feita de plástico, borracha ou qualquer material bem vagabundo, pois ainda estou viva, apesar do grande choque que eu levei.
A princesa, debaixo da chuva, morrendo de rir do feito disse:
¾ Tchau, tia... não precisa me levar lá dentro, não! Quero me molhar.
Entrei no carro até com medo de me olhar no espelho. Vai que a descarga refletiria no aço, quebrando-o.
O que diriam os que não sabiam da história?
A sombrinha? Joguei fora, uai! Quebrada, serve pra quê?

Chuva
Neida Rocha

Sinto gotas de chuva
em meu rosto.
Sinto saudade
de algo distante.
Quero ser molhada
pela chuva,
para lembrar
que sou feliz.


Um dia de chuva
Massato Ito


Mais uma noite de intensas chuvas.
O tanque de peixes de Kiyoshi já transbordava.  Araçá e Tuba, dois peixinhos desavisados, nadavam tranquilos rente à borda do tanque, contrariando os apelos  desesperados da mãe:
¾ Cuidado filhinhos, por Nossa Senhora das Águas do Tietê, cuidado!...
¾ Não se preocupe, mamãe!

(São Pedro, distraído, lá do céu, esquece as torneiras abertas e provoca um estrago cá embaixo...).
O nível das águas do tanque, que estavam a um “cabelésimo” de entornarem, transbordam, enleando os pobres peixinhos, que gritam a todos os pulmões:
¾ Socorro mamãe, socoooooorrrroooo!!!...

A mãe dos peixinhos ainda consegue entoar aquela conhecida musiquinha da Roberta Miranda:
¾ Vá com Deus!...Tcharararam...Vá com Deus!...Tcharararam... Vá com Deus!....

Morro abaixo, a muitos quilômetros de distância, Stela, uma menina pobrezinha, que sempre quisera ter peixinhos em seu aquário – sem jamais ter podido comprá-los – naquela manhã, brinca de pescaria, com uma tela de arame fina,  que encontrara.
Sua mente fantasiosa imagina a enxurrada como um enorme rio, e atira a tela às águas desse “rio”.  Ao retirá-la, constata que pescara dois reluzentes peixinhos dourados, exaustos, aterrorizados e com algumas escoriações.
Nada que uma boa noite de sono num aquário de águas limpas, carinhosamente decorado de algas e pedregulhos não os fizessem, no dia seguinte, amanhecerem sãos,  salvos, alegres e saltitantes...



Dia de chuva
Otília Spacki da Silva

Quando criança, a chuva me encantava e também me intrigava. Como pode a água cair do céu em gotas? Por que não existe chuva quentinha? Por que não tem um dispositivo para acioná-la nos momentos em que a quiséssemos?
A chuva no inverno sempre era muito gelada, motivo pelo qual a detestava.  A do verão, um eterno convite para correr na grama e sentir as gotas refrescantes no rosto. Modelar o barro, após a chuva, era brincadeira prazerosa. 
No sítio, apreciava o vento que acompanhava a chuva e fazia as árvores se curvarem como em reverência. O riozinho da propriedade transbordava e suas águas ficavam agitadas. Quando a chuva dava uma trégua, corria na maior alegria até a margem do rio com vários barquinhos de papel. Lançava-os na correnteza do rio e acompanhava-os até desaparecerem na primeira curva. Os barquinhos não iam vazios. Iam abarrotados de personagens fascinantes frutos da minha imaginação. Depois, retornava para casa um pouco enlameada, um pouco molhada, mas muito feliz!
Hoje contemplo a chuva e recordo das boas sensações que ficaram gravadas na minha memória e que me remetem novamente à minha infância.


 Obstáculos da vida
Katiuscia Boni Barreto

Após uma semana de descanso no sítio, chegou o dia de voltarmos para casa. O fim das férias já estava próximo e precisávamos retornar ao nosso cotidiano.
A estrada que levava ao sítio era cheia de obstáculos: morros escorregadios, curvas sinuosas, rios imensos com pontes perigosas, mas tudo isso fica ainda pior quando o dia amanhece chuvoso. E este foi um desses dias. O tempo amanheceu fechado. Chovera durante toda a noite; mesmo assim lotamos nossa caminhonete e saímos rumo à nossa casa na cidade.
Após uns sete quilômetros de viagem, nos deparamos com o primeiro obstáculo: um imenso morro escorregadio que era antecedido por uma ponte que metia medo. A chuva persistia, mas neste momento estava branda, embora o tempo demonstrasse que a grande chuva chegaria logo.
Atravessamos a ponte e iniciamos a subida no morro.
Meu pai sempre fora um motorista experiente, por isso depositei toda minha confiança nele, no entanto o problema era maior do que se esperava. Nossa caminhonete começou a patinar no morro e não conseguia finalizar a subida. Percebendo a dificuldade, meu pai viu que seria necessário voltar com a caminhonete para trás e iniciar novamente a subida, porém num erro de cálculo o automóvel voltou demais e acabou ficando com umas das rodas fora da ponte, por um fio para cair dentro do rio.
A grande chuva estava cada vez mais próxima. Tentamos de todas as maneiras tirar a caminhonete dali, mas nossas forças não eram suficientes, até que de repente surge o inesperado: um belo homem montado em um belo cavalo que logo se dispôs a nos ajudar.
Amarramos o cavalo à caminhonete e, sem muito esforço, ele conseguiu puxá-la tirando-a da ponte e levando-a até o topo do morro. Para nossa alegria, passados cinco minutos após concluirmos a subida, a chuva caiu fortemente.
Mas se você pensa que a história acabou está totalmente enganado!  Continuamos viagem: eu, meu pai, minha mãe, meu irmão e dois tios que, por acaso, estavam brigados. E pra completar trazíamos ainda minha cadelinha Dhessy acompanhada de dois filhotinhos biológicos e mais um que ela havia adotado no sítio.
Nesse dia ainda tivemos mais um contratempo, o pneu da caminhonete furou e ficamos durante quase uma hora parados. A viagem que deveria ter sido de umas duas horas, durou naquele dia cinco horas, mas o melhor dessa história foi à reconciliação dos meus tios que já não se falavam há anos. A necessidade fez com que precisassem se unir para transpor os obstáculos.                                                          

2 comentários:

  1. Antonio, estou super contente com a sua proposta de incentivar a leitura e a escrita. Assim você divulga escritores de todo lado. Os textos das ganhadoras são bem legais. Espero que apreciem O Balé da Chuva.
    Grande abraço.

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  2. Legal, Marilza... vou pedir que postem aqui o que acharam do texto... Acompanhe o blog sempre... vamos, juntos, formar um país de leitores.

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