Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com
Hoje,
comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil. A data escolhida é em homenagem a
Monteiro Lobato, sem dúvida alguma, ainda o grande nome da produção literária
voltada para o público infantojuvenil.
Se
“um país é feito de homens e livros”, resta saber o que fazem dos homens e dos
livros em nosso País.
Os
números estão aí para quem quiser consultá-los. Não é um ou outro órgão ou
instituto, um ou outro especialista que diz, mas são várias as vozes, dos mais
diversos locais do mundo que atestam: o Brasil, de fato, conseguiu seu espaço
no cenário mundial. É respeitado por onde quer que passe e não é mais visto
como o “quintal do mundo”, um gigante tímido e adormecido debaixo do equador.
Agora,
é claro que há muitas injustiças – sobretudo as sociais – para serem diluídas
em no País. Há muita gente ainda dependendo de “favores” do Estado para poder
comer, vestir, transitar de um canto para o outro, morar, estudar etc... Não
poderia ser diferente: um País continental como o nosso, os problemas também
seguem esta proporção.
Falando
em livros, também podemos fazer algumas reflexões. Com relação ao preço, ainda
é um objeto caro. Em médio, um livro simples, com cento e poucas páginas, sem
muita cor nem nada, não sai por menos de quinze ou vinte reais. Portanto, para
uma esmagadora faixa populacional, que sobrevive com algo em torno de um
salário mínimo, nem pensar em colocar esse item na conta do mês.
Outro
aspecto que podemos destacar é o acesso ao livro. Apesar de termos evoluído
muito nos últimos 30 anos, momento em que começaram a pulular programas
governamentais que destinavam livros às bibliotecas públicas escolares, ainda é
muito complicado o contato com o livro. Há poucas – muito poucas – bibliotecas nas
cidades, a rigor, em áreas centrais, o que implica deslocamento e, com isso,
gastos para população mais carente; acervos defasados, com livros que não muito
interessam ao público infantil e jovem; bibliotecas escolares – quando há – que
se restringem ao empréstimo “caseiro”, sem funcionários ou equipamentos que
controlem a entrada e saída de exemplares do local, inibindo empréstimos etc.
etc. etc. Uma saída, talvez fosse o livro digital, mas teríamos outro problema
relacionado às máquinas e acesso à internet.
Há
uma lei (12.244), sancionada pelo presidente Lula em 2010, que determina a
criação de bibliotecas em instituições de ensino, públicas e privadas, de todo
País, com profissionais da área de biblioteconomia para fazer o atendimento ao
público. O prazo para o cumprimento da referida lei se encerra em 2020 e, até
onde observo, muito pouco está sendo feito.
Do
ponto de vista da produção nacional, o Brasil é celeiro farto de bons autores,
excelentes editores e editoras, material gráfico e impressão dos mais ricos.
Escritores como Ricardo Azevedo, Pedro Bandeira, Luís Camargo, Bartolomeu
Campos de Queirós, Ruth Rocha, Angela Lago, Ana Maria Machado, Mary e Eliardo
França, Ziraldo, entre outros são fortes exemplos de que nossa literatura
infantil nacional está muito bem representada, obrigado.
Aqui
por nossas terras, nomes como Marly Garcia, Lula, Yara Pedro de Carvalho, Rita
Lavoyer, Wilma Gottardi, Antonio Luceni – com a devida licença para me incluir
na lista – militam pelas belas letras voltadas para os pequenos.
Mas
ainda é pouco. De modo geral, nossas crianças e jovens não leem, não há um
programa sério que coloque o livro e a leitura como espinha dorsal nos
currículos escolares e professores que gostem e se estimulem num trabalho
diário com o livro; as livrarias – das poucas que há no País – são localizadas,
na maior parte, em grandes centros; ausência de eventos culturais ligados ao
livro (saraus, lançamentos, feiras de livro etc...), quando acontecem, são prestigiados
por uma “meia dúzia de esquisitos” etc...
No
Dia Nacional do Livro Infantil há que se comemorar, mas, a meu ver, há muito
mais para se fazer.
Antonio Luceni é mestre em Letras, jornalista e escritor.
Palestrante e professor de literatura nos sistemas públicos e particular de
ensino.
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