terça-feira, 12 de abril de 2011

Como se soubesse de onde vinha, simplesmente veio.


Poema: Antonio Luceni
Ilustração: Wemerson Dhamaceno
(Sem título, técnica mista s/ papel, 21 x 29,7 cm, 2008)


Como se soubesse de onde vinha, simplesmente veio.


Em projeção, no infinito, veio.
Não disse nada, não anunciou nada.
Nada no nada. Veio.
Em sutis movimentos
Em caladas horas. Veio.
Subiu a serra
Subiu os vales
Subiu...
Mas havia serra?
Tinha vales?
Veio.
No começo, quase-semente
(Afinal, no princípio sempre é assim: tudo é semente)
Depois, uma raiz que se erguia
Insinuando copa
(Não tinha copa, não tinha nada)
Quase uma espinha dorsal
(Era uma espinha dorsal)
Para segurar tudo aquilo.
Mas que tudo aquilo?
Não era nada?
Nada no nada?
Mas até mesmo no nada
há algo
Afinal, tudo antes de existir não era o nada?


O que antes apenas se esboçava
foi adquirindo corpo,
foi adquirindo cor
foi
veio
do nada.
O que antes
silêncio
O que antes
esboço
O que antes
insinuação
Veio
E se fez
Folha
Flor
Fruto
tornou-se carne
palatável
em coração
em cor.
E, então,
todos o viram,
todos o aplaudiram,
e o ficaram paparicando.
Agora,
que era coisa
Agora,
que era cor
Agora,
que poderiam comê-lo.
Mas antes?
No nada?
Quando ainda esboço?
Quando ainda quase?

Ora, abutres de plantão
Quebrem o preconceito
E acreditem.
Ainda que seja no nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário