domingo, 4 de julho de 2010

De volta ao mundo real


Tudo parecia um sonho: arquibancadas cheias, gente também cheia de energia. Um pedaço de couro inflado. Homens de um lado para o outro sob uma perseguição sem fim, atrás de um objeto não muito valioso (ao menos do ponto de vista financeiro) como se estivessem a correr atrás de um frango para matar a fome (lembro-me da cena inicial do Cidade de Deus).
Por algumas semanas foi assim. Mudaram toda nossa rotina: bancos fechando ou abrindo mais tarde, ruas congestionadas em horário que nem era de pico ainda, buzinhas infernais (apelidadas de um nome que mais parecia o diminutivo de uma matriarca) e estouros que ora nos faziam saltar da cadeira.
Os comentários eram sempre os mesmos: “Você viu, a gente vai chegar lá!”, “Nossa, foi chorado, mas valeu!”; e outros nem tão animadores assim: “Pura sorte!”, “Com um time desse, até eu ganharia!”...
O sonho que até essa altura era azul, agora estava ficando mais, digamos assim, alaranjado. E ele se tornou realidade. No começo: animação, entusiasmo, força... Depois, a verdade: o amarelo invadiu nossa gente. Todo mundo amarelou de medo. Então foi assim: azul x laranja = azul (1º tempo). Azul x laranja = amarelo de medo (2º tempo). Azul x laranja = laranja (final).
Laranja na final? Todo mundo passou mal! Todo mundo de cá, porque de lá(ranja), só alegria. Alegria geral, alegria na geral, alegria fatal! Ora(nge)nte! Tá com sede? Bebeu água? Não? Tomou guaraná? Suco de caju? Não! Suco de laranja!
Murchos, coitados, nem quiseram falar. Cada um voou para seu lugar. Comemorar o quê? A gente até quis torcer, né? Mas já sabia, ou não sabia, minha gente?
Ficou pra outra vez. Quem sabe, aqui no Brasil? Mas com gente séria, que tá a fim de jogar. Se não: não dá!
Nosso consolo: los hermanos! Foi a glória. De 4 a zero. Não poderia ser melhor! E as expressões? E as feições no final do jogo? E que jogo! Os branquinhos incansáveis, correndo atrás da bola. 3 a zero, jogo ganho? Não! Correram mais, até o último segundo: luta.
Nessa tal de globalização e numa festa como essa em que as nações se enfrentam para uma guerra do bem, acho que temos muito a aprender com outros países.
Bem-vindos de volta ao mundo real!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

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