domingo, 15 de maio de 2011

TALVEZ



Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com




Por que cada um não cuida da sua vida e todos, juntos, cuidam para que a vida seja algo melhor? Por que a diferença incomoda tanta gente e precisemos falar por meio de metáforas aquilo que deveria ser dito abertamente? Por que não nos preocupamos com coisas mais importantes e deixamos as menos relevantes para uma hora em que tudo de mais urgente é passado?
Volto a ouvir, ver e a sentir os rumores dos intolerantes, das mentes desgastadas pelo ranço da hipocrisia, da individualidade, do egocentrismo. Talvez se fosse uma questão que de fato merecesse tanta polêmica, talvez se fosse algo que atingisse a “honra” e a integridade da instituição família (mesmo que houvesse somente um tipo dela), talvez, quem sabe, justificasse tamanha latrina.
Mas não... algo de foro íntimo, da individualidade de cada um. Ou por acaso alguém quer saber o que se passa entre seu pai e sua mãe na noite anterior, dentro de quatro paredes? Penso que não... Então, por que querer saber ou se meter na vida de quem quer que seja?
Aí vai um deputado, um tal de Bolsonaro, e uma cambada de hipócritas, como autoproclamados senhores da razão e estandartes sociais, senhores ilibados – os mesmos que traem suas esposas e ofendem, aí sim, a moral familiar – querendo apontar dedos e mais dedos pra gente que, nada mais, só quer ser feliz.
Essa discussão sobre aceitar ou não aceitar a homossexualidade é coisa ultrapassada. Ninguém tem que aceitar nada, ela existe, os gays existem, estão por aí, ao entorno de nós – muitas vezes somos nós mesmos – servindo-nos das mais diferentes formas: cortando cabelos, fazendo roupas, construindo casas, selecionando cores e formas para nós, cortando cana, cuidando de doentes, pilotando aviões... Ué, achou estranho? Por quê? É isso mesmo, gay é gente. E assim como tem hétero que presta e os que não prestam, assim também com gays: há os que valem a pena e os que não valem também.
Aí que está toda diferença: todos somos seres humanos. Todos merecemos respeito. Por aquilo que somos. E o fato é esse: ninguém escolhe ser gay, assim como ninguém escolhe ser hétero. Nós somos o que somos, com nossas virtudes e defeitos, com nossas potencialidades.
Há que se dizer BASTA para toda e qualquer intolerância. Já não há mais espaço em nossa sociedade para a hipocrisia. Aliás, taí uma “moda” que deveria chegar logo: a moda contra a intolerância. Deveríamos começar, o quanto antes possível, torcer o nariz para a intolerância, seja ela qual for: religiosa, racial, social, sexual...
Parece que a gente só se compadece com algum problema quando passamos por ele. Será que só daremos atenção para as dificuldades das crianças e pessoas com necessidades especiais quando tivermos uma dentro de casa? Será que só iremos olhar para o mais necessitado quando formos destratados num aeroporto ou restaurante chique por ser preterido por alguém mais rico? Será que só nos importaremos com a angústia por que passa um adolescente ou jovem gay quando tivermos um na família?
Basta à intolerância. Basta à hipocrisia. Basta a tudo quanto faz com que o ser humano seja diminuído, humilhado, menosprezado. Gente é pra viver, gente é pra ser feliz.
Talvez quando encararmos as coisas de frente, sem preconceito, elas se tornem mais fáceis. Talvez quando gays forem aceitos em suas famílias como seres humanos (que são, não nos esqueçamos disso), talvez quando as pessoas forem medidas pelo seu caráter, por aquilo que são, o mundo seja melhor, as famílias, de fato, sejam famílias. Talvez quando a diferença for aplaudida e não hostilizada tenhamos um mundo melhor para todos e não somente para uma meia dúzia de hipócritas.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

4 comentários:

  1. Valeu mestre, pelo fim do preconceito.

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  2. ...é verdade Luceni...gasta-se muito tempo "cuidando" da vida do outro, afinal ele quem é diferente...rss e o que é pior..nesse vai e vem de "falações" os valores vão sendo invertidos...e a sociedade cada vez mais medíocre...também fico triste com isso...aliás penso sempre que essa meia dúzia de hipócritas são capazes de se engasgarem com mosquitos mas conseguem engolir um camelo...triste não???!!!!

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  3. Muito triste, prezados... e pior que isso: nocivo. Mas é com ações que iremos acabar com isso... Viva a diferença, viva o respeito e NÃO ao preconceito.

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  4. Eu ñ poderia de deixar de comentar, adorei o comentario sou uma pequena leitora sua e admiradora tb;
    Acho que devemos ñ nós preocupar com o que as pessoas vão dizer de nós.Sejamos autêntico e ajindo obedecendo as vontades e impulsos.
    Nós seres humanos somos livre para ser como realmente é.

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