sexta-feira, 23 de setembro de 2011

PALESTRA: Pais e filhos, leitura e livro: um diálogo possível


Palestra dirigida aos pais e professores do Colégio Nossa Senhora Aparecida de Araçatuba na VII Feira do Livro

Araçatuba 23.09.2011

Ontem, quinta-feira, o Prof. Antonio Luceni ministrou uma palestra dirigida aos pais e educadores do Colégio Nossa Senhora Aparecida a partir da relação formação de leitores x família e escola.

Entre as várias abordagens feitas, discutiu-se a importância da família como grande colaboradora do "letramento familiar", com ações práticas do cotidiano que corroboram para a aproximação das crianças e livros de forma mais harmônica, prazerosa e estimulante.

Para o professores, a questão fundamental discutida foi a de o professor também ser um bom leitor, já que para ensinar a ler é preciso gostar de ler.

Abaixo, os principais tópicos discutidos:

“As pessoas aprendem a ler antes de serem alfabetizadas, desde pequenos, somos conduzidos a entender um mundo que se transmite por meio de letras e imagens. O prazer da leitura, oriundo da acolhida positiva e da receptividade da criança, coincide com um enriquecimento íntimo, já que a imaginação dela recebe subsídios para a experiência do real, ainda quando mediada pelo elemento de procedência fantástica.” (ZILBERMAN, 1984)

AULA DE LEITURA

Ricardo Azevedo

A leitura é muito mais do que decifrar palavras/ Quem quiser parar pra ver pode até se surpreender/ vai ler nas folhas do chão se é outono ou verão;/ nas ondas soltas do mar se é hora de navegar;/ e no jeito da pessoa se trabalha ou se é à-toa/ na cara do lutador, quando está sentindo dor;/ vai ler na casa de alguém o gosto que o dono tem;/ e no pêlo do cachorro, se é melhor gritar socorro;/ e na cinza da fumaça, o tamanho da desgraça;/ e no tom que sopra o vento, se corre o barco ou se vai lento;/ e também no calor da fruta,/ e no cheiro da comida,/ e no ronco do motor,/ e nos dentes do cavalo,/ e na pele da pessoa,/ e no brilho do sorriso,/ vai ler nas nuvens no céu,/ vai ler na palma da mão,/ vai ler até nas estrelas,/ e no som do coração./ Uma arte que dá medo é a de ler um olhar,/ pois os olhos tem segredos difíceis de decifrar.

In: 19 poemas desengonçados, Editora Ática.

“A leitura é uma amizade.”
Marcel Proust

“O desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes da leitura é um processo constante, que principia no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora.” (BAMBERGER, 2000)

“O homem é um ser simbólico.”
Ernst Cassirer

“... somos nós que plasmamos o mundo com nossa atividade simbólica, somos nós que criamos e fazemos mundos em nossas experiências.” (MOURA, 2000)

“A linguagem sempre foi reconhecida com um intermediário entre o homem e as coisas. (...) ... é o mais importante processo simbólico, sendo que ela distingue os homens dos demais seres.” (MOURA, 2000)

“A linguagem por essência é metafórica e incapaz de descrever as coisas diretamente, consequentemente, remete-se, então, às formas de descrição simbólicas.” (MOURA, 2000)

PONTOS RELEVANTES SOBRE LEITURA:

1. Fenômeno recente: surge na Europa no séc. XVIII – produção de livros em escala;
2. Valorização da família e a presença do livro nos lares (principalmente das mulheres e filhos);
3. A prática da leitura é considerada como algo importante em sociedade;
4. Esse novo modelo familiar (burguês) será responsável pela formação de leitores em âmbito doméstico;
5. A leitura em casa deve estar ligada ao lazer, ao deleite, à gostosura;
6. Hábito de leitura (repetição mecânica, repetição de sinais) x ato de ler (ancorado no exercício, articulação do pensar, agir e do modo de escolha) - Paulo Freire;
7. A família constitui-se como grande contribuidora no âmbito do letramento familiar. De que modo?:
a) contando histórias na hora de dormir;
b) ensinando canções e cantigas de roda às crianças;
c) no próprio exemplo dos pais lendo;
d) no possibilitar o acesso aos bens escritos (jornais, revistas, e-books);
e) em visitas a livrarias e bibliotecas;
f) presenteando com livros;
g) estimulando e ouvindo as histórias que as crianças têm para contar a respeito de sua rotina diária, incluindo a escolar;
h) Além de muitas outras ações que podem (e devem) ser inseridas nas práticas diárias de convívio família e livro;
Dentre os muitos benefícios trazidos, o estreitamento de laços e aproximação entre filhos e pais serão consequência de tais ações.
8. Toda leitura vale a pena, mesmo as consideradas mais banais. Como diria Mindlin, “o importante é ler de tudo”;
9. As leituras devem ser desafiadoras e, paulatinamente, mais complexas e instigantes. Comece por HQ , passe por autoajuda e chegue até os clássicos e contemporâneos;
10. Crianças que têm acesso aos livros e outras mídias literárias desde cedo, no lar, com a família, têm maior propensão a se tornarem leitores mais eficazes e assíduos;
11. “Comunidade de leitores” – Róger Chartier – família como uma comunidade privilegiada pelos laços que tem, pela livre troca de experiências, pelo tempo por que passam juntos seus membros etc;

Por que literatura?

“Quem começa pela Menina da capinha vermelha pode acabar nos Diálogos de Platão, mas quem sofre na infância a ravage dos livros instrutivos e cívicos, não chega até lá nunca. Não adquire o amor da leitura.” (LOBATO, 1964)

“Não se pode pensar numa infância a começar logo com a gramática e retórica: narrativas orais cercam a criança da Antiguidade, com as de hoje. (...) mitos, fábulas, lendas, aventuras, poesia, teatro, festas populares, jogos e representações variadas ocupam no passado, o lugar que hoje concedemos ao livro infantil.” (MEIRELES, 1984)

PONTOS RELEVANTES SOBRE LEITURA LITERÁRIA:

1. Desempenha o papel de transcendência literária. Propõe experiências internas no ato da leitura que ajudam e clarificam questões do mundo real;

2. O maniqueísmo presente em alguns textos literários (ex.: contos de fadas) facilita a compreensão de valores básicos da conduta humana e do difícil convívio social;

3. No mundo encantado dos heróis, a criança, inconscientemente, se identifica e resolve sua situação pessoal trazendo para o seu mundo exterior e experimentando equilíbrio de ação.

4. Vivemos tempos diferentes, com mudanças de valores e filosofias de vida. Existe um movimento de desconstrução e adaptação das histórias clássicas. Uma bruxa pode ser boa e uma fada má, ou as duas ao mesmo tempo.

Referências bibliográficas:
 
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.
LOBATO, Monteiro. Conferências, artigos e crônicas. São Paulo: Brasiliense, 1964.
MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil: livro, leitura, leitor. In. A produção Cultural para a criança. São Paulo: Mercado das Letras, 1984.

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