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*Professor universitário e mestre em Hotelaria e Turismo |
Com
o corre-corre agitado dos dias atuais, pouco tempo nos resta para realizar uma
alimentação de qualidade. Quase sempre comemos algo ali mesmo, na lanchonete da
esquina, na padaria do bairro ou próximo ao trabalho, na cantina da escola ou no
carrinho de lanches em frente à faculdade, até mesmo durante o trânsito uma
barrinha de cereais encontrada no fundo da bolsa que converta o estresse em
energia para aguentar o expediente até o fim.
Esta
rotina gerou uma categoria no mercado de alimentação conhecida por “fast food” (comida rápida), oriunda dos
Estados Unidos da América. Padronizada na forma, finalizada de maneira rápida e,
muitas veze,s na frente do cliente, que aguarda a entrega do produto salivando
ao ser bombardeado pelos estímulos visuais presentes subliminarmente nos
cardápios, folhetos e banners. Pasteurizada, com sabor insosso e constante,
quantidade satisfatória para lotar o estômago e com altíssimo teor calórico,
este tipo de alimentação conquistou a preferência de muitos e elevou, consideravelmente,
o sobrepeso da população, hipertensão arterial e outros problemas de saúde
consequentes da má alimentação oferecida.
As
cadeias de restaurantes fast food encontraram
no sistema de franquias a fórmula administrativa ideal para gerenciar e
expandir os negócios mundialmente. Este fato tornou a alimentação globalizada, com
quase nenhuma identidade local e nem, tampouco, absorvendo a produção
agropecuária regional, o que induziu o uso intensivo de gêneros
industrializados com excessos de conservantes e acidulantes, o qual exigiu uma
produção rural acelerada e amparada pelo uso de defensivos agrícolas para
manter as grandes plantações, e hormônios para estimular o crescimento dos animais
criados em regime de confinamento.
O hambúrguer,
a batata frita e os refrigerantes são os principais representantes deste enredo,
embora haja franquias de massas, doces e comida internacional chinesa,
japonesa, árabe, mexicana, italiana etc. O fato é que, mediante este
crescimento da demanda de gêneros alimentícios, não houve tempo suficiente para
o desenvolvimento de pesquisas agroindustriais que garantissem uma produção com
qualidade nutricional adequada ao consumo humano dos alimentos. Saiba mais
sobre este assunto assistindo ao documentário “Super size me” (2004), vertido para o português como “A dieta do palhaço”,
que conta a experiência de um cidadão que resolveu fazer todas as refeições
(café da manhã, almoço e janta) na mais difundida cadeia de restaurante fast food durante um mês, para autoconstatar
as alterações corporais decorrentes desta absurda dieta. Para tanto, ele
realizou uma bateria de exames clínicos antes e após a experiência. O resultado
você já pode imaginar: 11 quilos a mais e um estado de saúde deficiente que, para
sua total recuperação, demorou nove meses.
Na contramão
desta tendência, resgatando o hábito de sentar-se à mesa com mais calma e tempo
para degustar o alimento, saber sua procedência, história, significado é que vem
o “Slow food” (comida lenta) – não
necessariamente na sua forma de preparo, mas na trajetória percorrida desde sua
origem, preferencialmente orgânica e sustentável, valorizando o pequeno
produtor, os alimentos locais, a herança cultural, o sabor e o saber atrelados
a eles.
Este
movimento surgiu em 1986, na Itália, e em meados de 1989 tornou-se uma
associação internacional com a filosofia de promover o alimento bom, limpo e justo. Bom nutricionalmente
falando e, sobretudo no sabor; limpo na maneira de cultivo, sem
prejudicar o ambiente e a saúde de quem os cultiva ou consome e justo,
social e economicamente na valorização do produtor rural e artesanal. Ainda
neste sentido, pronunciam que somos coprodutores e não meramente consumidores
da produção alimentícia, uma vez tendo a informação de como são cultivados os
alimentos, elaborados e efetivamente incentivando um consumo responsável e
sustentável, nos tornamos parceiros nesta cadeia produtiva onde todos tem o
direito fundamental ao prazer de comer bem e a consequente responsabilidade de
defender a herança culinária, as tradições e culturas que tornam possível o
prazer da alimentação saudável.
Não devemos forçar
o ritmo da vida induzindo uma produção agropastoril acelerada! A arte de viver
consiste em aprender a dar o devido valor e tempo às coisas em sua ordem
natural e harmônica, capaz de conjugar o prazer e alimentação com a consciência
e responsabilidade. Para tanto, a associação promove diferentes atividades,
projetos, campanhas, manifestos que visam defender a biodiversidade, incentivar
a cadeia de distribuição alimentar no mundo, difundir a educação do gosto e
aproximar os produtores dos consumidores de alimentos, especialmente por meio
dos eventos e iniciativas que o promovem. Você pode obter maiores informações sobre
o Slow food na página web do
movimento .
Mesmo que as
franquias de fast food tentem mostrar,
por meio de propagandas e promoções ou incorporando ao cardápio alimentos in natura - tais como saladas e frutas
frescas, a mea culpa ainda não as
redime nem ameniza o impacto causado pelas consolidação e mudança dos hábitos
alimentares gerados na população. O que podemos fazer é nos policiarmos e
buscarmos um tempo durante o dia para fazer uma refeição com qualidade, capaz
de realmente nos restabelecer, restaurar e suprir nossas necessidades, não
somente as nutricionais, mas também as de informação, arte e cultura. Fica a
dica e um até mais, pessoal!
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