Antonio Luceni
─ Você vem?
─ Não sei... acho que sim... Vou ver com a Célia primeiro, depois eu te ligo.
─ Tá, jóia. Fico aguardando.
─ Bom dia.
─ Bom dia...
─ Então, tô querendo fazer um churrasquinho, hoje, na hora do almoço. Tá a fim de vir?
─ Peraí...
(Ô nega, tá a fim de ir para um churrasco na casa do Antonio?
─ Vamos, sim. O que precisa levar?
─ Ah, traga só o que vocês vão beber.
─ Oi, posso falar?
─ Fala.
─ É que tô pensando da gente fazer um churrasco agora para o almoço. Você vai viajar?
─ Acho que não. Ao menos até agora ninguém me disse nada.
─ Então, pode ser?
─ Tá. O que precisa levar?
─ Nada, não. Só a bebida.
─ Mãe? Tudo bem?
─ Tudo bem, filho. E você?
─ Jóia. Então, combinei com os meninos da gente fazer churrasco agora no almoço. Passo aí pra pegar vocês daqui uma meia hora. Tudo bem?
─ Tá jóia. Beijo...
(A vida vai e vem em todos os lugares. Em cada canto, para cada pessoa, em cada família o domingo é diferente. Enquanto alguns estão se levantando tardiamente, com seus olhos ainda embaçados pelas lágrimas noturnas – sim, porque a gente chora quando está dormindo com medo de não acordar –, outros já estão na luta há algum tempo. Enquanto listas de comidas são feitas e filas de supermercados compridas nas manhãs de domingo, outros se quer têm o que colocar na panela.
O domingo para alguns é comer, dormir e sonhar. Para outros, dia normal, dia besta, dia que não acaba nunca pra segunda começar e, diluídos pela rotina e pela mesmice, ao menos se sentirem úteis no mundo com o exercício de um ofício.
O domingo na maioria das casas é Domingão do Faustão, Construindo um sonho com o Gugu e partida de futebol, logo mais à tarde. Se o time vencedor for o meu, vou para o bar beber e comemorar. Caso tenha perdido, vou beber do mesmo jeito para afogar as mágoas.
Mas o pior mesmo do domingo é o final da tarde. Uma melancolia horrorosa, vontade de chorar, pular de precipício, ler matéria de jornal... Aí, cada qual para o seu canto, cheiro de gordura pela casa, sobras de carne assada, um pouco de maionese, mandioca ressequida e refrigerantes chocos na geladeira.)
─ E o pai, não vai por quê?
─ Ah, sei lá! Tô com um negócio ruim no corpo.
─ Esse velho não tem jeito. Não gosta de estar com a família dele.
─ Vamos embora, então, mãe. Deixa esse velho pra lá!
Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.
Sobra de carne: desfiar, misturar umas azeitonas, uma farinha meio chegada na pimenta, uns ovos cozidos, um tico de azeite , misturar bem e óia uma farofa supimpa.
ResponderExcluirVelho quando começa com....doce, tá querendo mais agrado, que a gente insista, valorize o passe. Aproveita, faça isso agora pra não se arrepender depois. O meu tem 99 anos e bate forte e colocado. Haja pac...não, haja amor filial.
kkkkkkkk Pode deixar que vou seguir a receita, Hamilton... obrigado por acompanhar.
ResponderExcluirAntonio