Estive a reler poesias de Cecília Meireles e, mais ou menos pela décima vez, mergulhei no “Quarto motivo da rosa”, encontrado em seu livro “Mar Absoluto e outros Poemas”.
Tenho em mãos um volume da Editora Aguilar, impresso em
1987, no qual Darcy Damasceno faz comentários sobre a obra da referida Poeta.
Devo confessar que a página 265 continua marcada pela fita de seda já se
desintegrando, mostrando-me o quanto aquele poema afetou minha sensibilidade.
Segundo o comentarista, Cecília Meireles, do seu ponto de
vista, achava a existência efêmera. O tempo era pintado por cores cinzentas e,
para ela, ele era tão fugaz que se achava impossibilitada de reter os frutos
dos instantes, o que gerava a nostalgia de muitos dos seus versos.
Confesso que reli o “Quarto Motivo da Rosa”, tentando
encontrar outros ângulos de interpretação do texto que não fossem a fugacidade
da vida, o consolo para quem encara a existência como efêmera e sem valor e tem
dúvidas sobre o que vai deixar para a posteridade. E encontrei tudo isso em
minha releitura.
E o que mais me sensibilizou neste poema? É que a Poeta
dissecou a rosa do nosso jardim pessoal, sem tirar sua essência, seu perfume,
seus espinhos. Deixa, nesses versos a missão de condutor dessa faina do existir,
para o vento, que não deixa perder-se a vida, mesmo após a morte.
Neste ponto, devo revelar que encontrei a Cecília
espiritualista. Por isso a empatia com essa autora de tantas obras belas.
A utilização da rosa no poema citado conduz as metáforas
durante toda sua construção poética.
Essa flor tocou meu coração de mulher quando a autora desse
belo texto (e de muitos outros belos textos) elaborou uma dança com as palavras
certas, trançadas de maneira que o resultado fosse um chamamento para nossa
sensibilidade.
Para os que ainda não
leram este poema, transcrevo-o, na esperança de que vocês busquem outros
olhares para tão rico texto de Cecília Meireles.
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
Marilurdes Campezi (Lula) é escritora, membro da União Brasileira de Escritores - UBE e acadêmica da Academia Araçatubense de Letras - AAL.
Muito bom o texto !
ResponderExcluirhttp://www.sateliteaovivo.com/