sábado, 11 de maio de 2013

Sensibilidade: uma perspectiva interna da vida humana


Estive a reler poesias de Cecília Meireles e, mais ou menos pela décima vez, mergulhei no “Quarto motivo da rosa”, encontrado em seu livro “Mar Absoluto e outros Poemas”.


Tenho em mãos um volume da Editora Aguilar, impresso em 1987, no qual Darcy Damasceno faz comentários sobre a obra da referida Poeta. Devo confessar que a página 265 continua marcada pela fita de seda já se desintegrando, mostrando-me o quanto aquele poema afetou minha sensibilidade.

Segundo o comentarista, Cecília Meireles, do seu ponto de vista, achava a existência efêmera. O tempo era pintado por cores cinzentas e, para ela, ele era tão fugaz que se achava impossibilitada de reter os frutos dos instantes, o que gerava a nostalgia de muitos dos seus versos.

Confesso que reli o “Quarto Motivo da Rosa”, tentando encontrar outros ângulos de interpretação do texto que não fossem a fugacidade da vida, o consolo para quem encara a existência como efêmera e sem valor e tem dúvidas sobre o que vai deixar para a posteridade. E encontrei tudo isso em minha releitura.

E o que mais me sensibilizou neste poema? É que a Poeta dissecou a rosa do nosso jardim pessoal, sem tirar sua essência, seu perfume, seus espinhos. Deixa, nesses versos a missão de condutor dessa faina do existir, para o vento, que não deixa perder-se a vida, mesmo após a morte.

Neste ponto, devo revelar que encontrei a Cecília espiritualista. Por isso a empatia com essa autora de tantas obras belas.

A utilização da rosa no poema citado conduz as metáforas durante toda sua construção poética.
Essa flor tocou meu coração de mulher quando a autora desse belo texto (e de muitos outros belos textos) elaborou uma dança com as palavras certas, trançadas de maneira que o resultado fosse um chamamento para nossa sensibilidade. 

Para os que ainda não leram este poema, transcrevo-o, na esperança de que vocês busquem outros olhares para tão rico texto de Cecília Meireles.

Não te aflijas com a pétala que voa:

também é ser, deixar de ser assim.


Rosas verá, só de cinzas franzida,

mortas, intactas pelo teu jardim.


Eu deixo aroma até nos meus espinhos

ao longe, o vento vai falando de mim.


E por perder-me é que vão me lembrando,

por desfolhar-me é que não tenho fim.

Marilurdes Campezi (Lula) é escritora, membro da União Brasileira de Escritores - UBE e acadêmica da Academia Araçatubense de Letras - AAL.                                                                           

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