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*Formada pelo Instituto Tatuí de Música, professora e regente de coral |
Hoje eu falarei com vocês sobre algo que acompanha minha rotina: a escrita musical. De maneira abrangente, apresentarei a forma como me comunico musicalmente de modo escrito.
Conversaremos sobre a origem da escrita musical e sua importância para a comunicação e documentação da criação musical dos povos.
Da mesma maneira como, através dos tempos, o alfabeto é a forma como a comunicação da linguagem escrita dos povos aconteceu, na música não é diferente. Ao longo dos séculos desenvolveram-se grafias, linguagens para que a música fosse compreendida por diversos povos e também fosse registrada para a perpetuação e desenvolvimento musical.
Então vamos lá.
A maior parte das culturas desenvolveu seu próprio sistema musical; nem todas, no entanto, atribuíram grande importância à escrita musical. Boa parte da música não ocidental, bem como parte da música ocidental, é transmitida de pessoa para pessoa simplesmente pela tradição oral, isto é, ouvida e repetida entre familiares, comunidades etc. Dessa forma, a música pode tornar-se mais viva e mais vibrante. Entretanto, o fato de algumas peças musicais terem ficado somente na oralidade ocasionou, infelizmente, o desaparecimento de muitas delas.
Durante muito tempo a música foi cultivada por transmissão oral, até que se inventou um sistema de escrita. Por volta do século IX apareceu, pela primeira vez, a pauta musical. O monge italiano Guido D’Arezzo sugeriu o uso de uma pauta de quatro linhas. O sistema ainda é usado até hoje no canto gregoriano. As notas são dispostas na pauta indicando as alturas da melodia e o texto do canto é escrito sob elas.
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Escrita musical em Neumas (notação musical da Idade Média) |
Posteriormente, Guido acrescentou na quinta linha, criando assim o conhecido pentagrama que usamos até hoje:
É o método mais conhecido para a escrita da música (notação ocidental).
A escrita das notas nessa pauta de cinco linhas e quatro espaços, também chamada de pentagrama, acontece da seguinte forma: as notas são dispostas mais para cima (indicando os sons agudos) ou mais para baixo (indicando os sons graves).
Há outros símbolos que representam o valor das notas ou das pausas (silêncio) e que indicam a sua duração no tempo bem como o ritmo da música (a pulsação). Também temos expressões e sinais mostrando ao músico como deve tocar: se mais forte ou mais fraco, com vigor ou com serenidade etc.
Você deve estar se perguntado: “Tudo bem, entendi como aconteceu a escrita musical, mas e as notas musicais, de onde vieram os seus nomes?”. Essa é uma curiosidade da maioria de meus alunos.
Pois bem, esse foi outro feito do monge italiano. Criou o sistema silábico para dar nome às notas. Ele encontrou inspiração, para tanto, nas sílabas iniciais de cada verso da primeira estrofe do antigo e popular hino ao padroeiro dos músicos, São João Batista. As notas musicais: Do, Re, Mi, Fa, Sol, La e Si nasceram da primeira sílaba de cada linha da letra do hino:
Ut queant laxis,
Resonare fibris
Oh, São João!”
Mira gestorum,
Famuli tuorum,
Solve polluti,
Labii reatum
Sante Iohannes
Tradução aproximada: “Para que os vossos servos possam cantar livremente as maravilhas dos vossos feitos, tirai toda mácula do pecado dos seus lábios impuros. Oh, São João!”
= Mais tarde, a palavra Ut foi substituída pela sílaba Dó, porque ela era difícil de ser falada. O Si foi formado da união da primeira letra de Sancte e da primeira de Iohannes.
Aqui temos o hino cantado para vocês apreciarem:
A partir de Guido D’Arezzo o sistema da escrita musical foi se desenvolvendo e mais sinais e grafias foram sendo criados até chegar à notação que temos hoje dentro da música popular, erudita e sacra.
Todas usam o mesmo sistema de escrita musical, sendo que em cada área, além da grafia universal, tem-se as indicações para expressões e execução específica da área ou do instrumento musical.
Na próxima semana conversaremos um pouco mais sobre escrita musical, mostrando a vocês a escrita musical para deficientes visuais – partituras em braile.
Até lá!
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