domingo, 14 de julho de 2013

DIRETAMENTE DA FONTE

*Professor universitário e mestre em Turismo e Hotelaria
Nada como provar um produto puro de origem! Esta semana tive a oportunidade de ir mais uma vez ao nordeste brasileiro e apreciar da sua rica diversidade gastronômica. A culinária nordestina recebeu influência das culturas portuguesa, indígena e africana. Esta boa mistura foi sendo formada, como na preparação de um delicioso bolo, passo a passo, ao longo do período colonial e do povoamento da região semiárida.

Os pratos típicos nordestinos caracterizam-se por temperos marcantes e apimentados. A moqueca, o vatapá, buchada de bode, acarajé, sarapatel, sururu, tapioca, cuscuz, baião de dois, arrumadinho, arroz de leite etc. A carne de sol ou jabá, como é por lá conhecida, os peixes, camarões, lagosta e frutos do mar são presenças quase sempre obrigatórias nesta culinária. A variedade da farinha de macaxeira ajudam a compor as preparações dos pratos, assim como, a manteiga de garrafa e o queijo de coalho coroam a maioria das receitas, acompanhadas por feijão de corda. A rapadura fica para o final, adocicando o paladar após uma substanciosa refeição.

As frutas tropicais (manga, caju, abacaxi, acerola, coco, banana, limão, cajá, melão, melancia...) são muito usadas na produção de doces (compotas) e também consumidas em sucos ou in natura.

Tradicionalmente às quintas-feiras, na cidade de Fortaleza, o costume dos moradores e dos muitos turistas que visitam a capital cearense é comer caranguejo à noite. O cardápio dos lugares é variado de receitas que levam o crustáceo, tais como: arroz, caldo, pastel, fritada e o caranguejo tradicional, cozido com cheiro verde, cebola e leite de coco. A quinta do caranguejo - como ficou famosa - surgiu na Praia do Futuro, porém atualmente alcançou bares, restaurantes e pizzarias nos mais diferentes bairros da cidade.

Quem comanda este mercado por lá é Chico do Caranguejo, um estabelecimento da Praia do Futuro. É ele quem fornece caranguejo para mais de 100 restaurantes em Fortaleza, somando, aproximadamente, um consumo de 32 toneladas por mês. Grande parte deste montante provém do manguezal do Delta do Parnaíba, no estado do Piauí; divisa com o Maranhão. Um caminhão por semana é transportado para Fortaleza. Chico está neste ramo de atividade há 20 anos e se preocupa fazendo um trabalho preventivo de conscientização dos catadores de Carnaubeiras, o que lhe conferiu o selo "caranguejo verde".

Já no município de Parnaíba, todos os dias são quintas-feiras. Comer caranguejo na beira do Rio Igaraçu, no “Caranguejo Expresso” de dona Francisca Maria, um restaurante bem simples, porém aconchegante pela hospitalidade com a qual é recebido pelas senhoras que atendem as mesas colocadas ali mesmo, na calçada. A sequência servida é: de entrada, uma casquinha muito bem preparada, de tempero suave e saboroso. É servida na própria carapaça do crustáceo.

A segunda pedida são as cordas de caranguejo. Cada corda vem com quatro unidades; eles são colocados em bacias e levados à mesa, após cozido, e você recebe uma pedra de mármore e um martelinho; com estes utensílios que você quebrará o esqueleto do bicho e matará sua fome com a carne branquinha, saborosa e delicada.


O prato principal é a famosa torta de caranguejo. A receita leva caranguejo refogado, ovos, cebola e tomate. É como um suflê, bem leve e com um tempero único que jamais comi algo igual em toda minha vida. A torta vem estufada e é servida em um refratário alto, preparada na hora. Acompanhada por baião de dois, farinha, maionese de batata e cenoura, azeite e molho de pimenta a gosto do freguês.


Outro prato-símbolo da cozinha do Piauí é o arroz de capote (nome dado à galinha d’Angola por lá). De origem africana, a ave trinchada dá um sabor bastante peculiar ao arroz. Assemelha-se a uma apetitosa galinhada. Entre idas e vindas, lugares, histórias e companhias, praticar o turismo gastronômico enriquece o conhecimento cultural e emocional; afinal, de tudo o que vivenciamos em uma viagem só nos restaráão inesquecíveis lembranças.

2 comentários:

  1. Perfeito!!!!!! Adorei a experiência e o conhecimento compartilhado com esse novo amigo e companheiro de trabalho durante nossa visita a Parnaíba/PI. Nossa viagem foi bem produtiva em aprendizado e troca de experiências...O texto é leve e instigante e traduz tudo que vivemos nesses dias de muito trabalho e de excelentes vivências gastronômicas. Que venham mais comissões e mais trabalhos juntos. Grande abraço!!!! Heloisa Fonseca - Fortaleza/CE

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  2. Tradução perfeita de sabores tão peculiares. Parabéns professor por retratar com maestria a culinária do PI. Nestes rincões do país, além de comidas de temperos fortes, existe uma gente de hospitalidade ardente! Todos serão sempre bem vindos! Um grande abraço professores Helerson e Heloísa. Só não peçam um bauru - aqui é diferente do paulista. Rsss
    Matar um leão por dia é fácil, difícil é desviar das antas! Rsss. Jakson Ricarte - PARNAÍBA- PI

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