domingo, 21 de junho de 2009

A GENTE FICA?

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com


No domingo comemorou-se o Dia de Santos Reis. Os reis curvando-se ao Rei de todos os reis. Adequado para pensarmos que toda autoridade é submetida à outra. Pensarmos, ainda, que a autoridade deve ser exercida com simplicidade, com inteligência, com verdade... Não à toa, o adulto curvou-se ao infantil; o rico curvou-se ao humilde; o estrangeiro curvou-se ao nativo; a razão curvou-se à fé.
Hoje, Dia do Fico. Momento importante em que o Imperador decidiu-se pelo Brasil. Para felicidade geral da nação. Felicidade geral? Da nação? Vieram para cá, corridos, fugidos da França. Mais uma vez os franceses nos fizeram bem. Bem? Sim, não sejamos de todo ingratos... Graças à família real, tivemos aqui importantes inaugurações, inserções culturais, artísticas, literárias, culinárias...
Não sei se vou ou se fico... acabaram ficando.
Hoje, continuam ficando. Mas ficam de outra maneira.
Ficar. Uma palavra carregada, atualmente, de descompromisso, de aventurismo, de experimentação... Os meninos e as meninas ficam uns com os outros. O tempo do ficar varia de pessoa para pessoa. Depende do percurso da “ficada”. Se a “ficada” for boa, pode ser estendida para duas ou três semanas, um ou dois meses, mas mais do que isso, é consenso, vira namoro.
Pois é. Parece que a idéia de Portugal era ficar com o Brasil. Provavelmente, não tinha pretensão de namoro – mesmo que a “ficada” e as “fincadas” de D. Pedro com Domicila tenham ultrapassado o tempo proposto do ficar, aquilo nunca pareceu um namoro.
O problema está exatamente nisso. Sempre os relacionamentos no Brasil ficam no “Fico”. Nessa coisa do “não é namoro”, “não é nada sério”... e, por essa razão, ficamos todos a ver navios (portugueses!) sempre. E descem das caravelas, invadem nossa praia, bolinam com nossas índias, mexem com nossas negras na senzala e ficam... só ficam. Não assumem nada sério. Não pedem a menina em namoro. Não a recebem no casamento. Só querem festa. Só querem ficar.
E a gente fica. Fica a ver navios...

Antonio Luceni é professor universitário e escritor, membro da União Brasileira de Ecritores – UBE.

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