terça-feira, 17 de setembro de 2013

BIBLIOTECAS E LIVRARIAS PARA QUÊ? (OU PARA QUEM?)

*Jornalista e escritor
Eu e meus moinhos de vento.

As duas últimas semanas foram de dias intensos com as ações da 5ª Jornada de Literatura de Araçatuba: lançamentos de livros, tarde de autógrafos, palestras, peças teatrais, visitas de autores em escolas públicas e particulares, uma feira do livro e a premiação do 26º Concurso de Contos “Cidade de Araçatuba”. E o povo, onde estava?

Com exceção das atividades nas quais os escritores visitaram as escolas, as demais não foram prestigiadas como deveriam, em minha opinião. Sempre os mesmos rostos, sempre o mesmo público que, a rigor, “não precisa” desses eventos porque, de algum modo, já está envolvido com livros em seu fazer artístico, em sua dinâmica de vida.

Aí fico pensando: Onde estão meus amigos que tanto clamam por livrarias e bibliotecas na cidade? Onde estão os que, em seus discursos, sentem-se gravemente indignados com a ausência de equipamentos ligados ao livro em Araçatuba? Onde estão aqueles que, na fala, precisam tanto da literatura, da poesia?

Estão em casa dormindo... “estão todos dormindo, profundamente!”.

Todos nós, escritores, quando lançamos livros, temos que sair com eles debaixo do braço, oferecendo-os a amigos, conhecidos, desconhecidos e, até, inimigos para que não fiquem encalhados na prateleira.

Por que o que produzimos é ruim? Não. Porque muito pouca gente quer comprar livros.

Não poucas vezes presencio mostruários de bijuterias, pacotes de sutiãs ou calcinhas, revistas de Avon, Jequiti, Hermes e outras expostos em salas de professores. As vendedoras têm, inclusive, cadernetas com contas perpétuas de professoras, coordenadoras, diretoras e funcionárias que, mensalmente, fazem com que esses produtos sejam infinitamente produzidos para mantê-las.

Nada contra sutiãs e bijuterias, mas porque não conseguimos, também, manter contas de livros em cadernetas? Por que nossas papelarias – até hoje não conseguimos ter uma livraria na cidade – não conseguem manter (ou angariar) um público cativo que compre livros mensalmente, que se interesse por lançamentos e encontros com autores, que faça do hábito de ler não somente um “artigo de luxo” ou de “finesse”, mas uma ação cotidiana e saudável para o cérebro, para ampliação de saberes e formas de ampliação de repertórios dos mais diversos?

A meu ver – e a experiência é que me garante isso – “gostar do livro” é algo “bonitinho”, politicamente correto e resposta pronta pra quem quer impressionar. Agora, relacionar-se com livro não é para qualquer um; tem que ter coragem, tem que ter vontade, tem que, de fato, pagar o preço por isso. Literalmente. Enquanto o livro for importante para a maioria somente no discurso, teremos esse cenário a que Araçatuba e muitas outras cidades de nossa região e do Brasil passam: uma sonolência literária.

E eu, continuo a lutar contra meus moinhos de vento.


Programação completa da Jornada: http://goo.gl/WY8jFc

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