sábado, 21 de setembro de 2013

REESCREVER SEMPRE É BOM

*Professora de Língua Portuguesa e escritora

Reli o conto “A CHINELA TURCA”, de Machado de Assis, editado, pela primeira vez, em 1875. Temos ali um bom enredo e de fim inesperado, como os contos desse mestre na arte de narrar histórias e no uso perfeito da Língua Portuguesa.

Embora não seja a análise do conto o mais importante para este texto que escrevo para vocês, posso resumi-lo em poucas palavras: Duarte, um bacharel, estava apaixonado por uma bela moça e ia a uma festa para dançar com ela. Uma visita inesperada impediu-o de ir. Era o major Lopo Alves, que intimou o rapaz a ouvir uma composição literária que fizera para teatro, de cento e oitenta páginas. Ao ouvi-lo, Duarte adormeceu e teve um sonho, mas isso só é revelado ao leitor no final do conto.

A história é muito interessante, mas os detalhes de sua composição o são mais ainda. Machado de Assis o compõe de falas do romantismo quebradas pelo realismo da narrativa e de "deixas" que derrubam qualquer vestígio de “melosidade” dos escritores românticos.

O trecho que vai nos interessar mais é a descrição da moça pela qual nosso herói está apaixonado. Vejam: 

Duarte estremeceu, e tinha duas razões para isso. A primeira era ser o Major, em qualquer ocasião, um dos mais enfadonhos sujeitos do tempo. A segunda é que ele preparava-se justamente para ir ver, em um baile, os mais finos cabelos louros, e os mais pensativos olhos azuis, que este nosso clima, tão avaro deles, produzira. Datava de uma semana aquele namoro. Seu coração, deixando-se prender entre duas valsas, confiou aos olhos, que eram castanhos, uma declaração em regra, que eles, pontualmente,  transmitiram `a moça, dez minutos antes da ceia, recebendo favorável resposta logo depois do chocolate.  Três dias depois, estava a caminho a primeira carta, e pelo jeito que levavam as cousas, não era de admirar que, antes do fim do ano, estivessem ambos a caminho da igreja.

A visão romântica da moça, de seus cabelos louros, seus raros olhos azuis já diferem muito de qualquer descrição atual que um apaixonado faz de sua amada, se você estiver atento aos valores de beleza exigidos para as mulheres de hoje. 

O processo da conquista também está muito longe do utilizado em nossos dias (talvez a única coisa com imagem atualizada seja o período que os dois levaram para se apaixonarem).

Quanto à comunicação, olhares e cartas, hoje só permanece a primeira, embora de jeito diferente; a comunicação via internet também se diferencia da via usada pelo nosso herói.

Finalmente, o vocabulário, com palavras não mais utilizadas no dia a dia de nosso povo, merece especial atenção do leitor: cousas, louros... 

E daí? A que chegamos?  A minha proposta: vamos reescrever esse texto machadiano com se fosse uma história dos dias de hoje? Eis o desafio. Envie-nos seu texto. Prometo que no próximo artigo exponho o meu.

Um abraço,  Marilurdes.

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