quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O IMPORTANTE É CINEMAR...

*Professora universitária e mestre em Mídia Digitais
Durante muito tempo no Brasil, assistir a um filme estrangeiro significava se preparar para uma longa sessão de leitura, pois os filmes eram legendados. Com exceção dos filmes infantis e algumas produções de desenhos animados, os filmes dublados só eram encontrados na televisão aberta. Porém, nos últimos anos, a prática começou a mudar.

A estreia de alguns sucessos na tela mostra essa nova realidade, como Os Vingadores (2012), que teve mais de 1.150 cópias lançadas no Brasil e, destas, aproximadamente 673 eram dubladas. O filme foi um sucesso e superou as expectativas nas telas brasileiras. A superprodução da saga para adolescentes, Crepúsculo: Amanhecer Parte 1 (2011), também seguiu a estratégia para conseguir conquistar o público, e quase dois terços das cópias lançadas eram dubladas; e pasmem, elas faturaram mais que as legendadas.

Por esse motivo, e para atrair um público maior, o cinema tem investido muito nas sessões dubladas, e já está ficando difícil encontrar uma sessão de filme legendado.


Só para se ter uma ideia, no filme Os Vingadores, há muitas cenas de violência e pouca conversa; mesmo assim contém em torno de 50 mil caracteres de legenda; equivalente a 30 páginas de um livro. O público brasileiro, que não está acostumado, acha muita leitura para duas horas de filme; imagine os filmes que contém mais cenas de diálogos... preferem nem assistir.

Nessa nova fase do cinema, a voz triunfa sobre a escrita (legenda) e já reflete uma nova demanda de espectadores, aonde, segundo pesquisas do Instituto Datafolha, 56% do público preferem os filmes dublados. 

Talvez a justificativa seja o novo perfil da classe média, que passou a frequentar mais o cinema e traz junto com ela o hábito de assistir a filmes dublados na tevê aberta. Outra forte justificativa é que, sem ter que prestar atenção na leitura, o espectador consegue observar mais detalhes durante o filme, como a expressão corporal e facial do personagem, o figurino, a fotografia, o cenário e até consegue se identificar mais com a trilha sonora; isso porque, ao assistir a um filme, é preciso se concentrar em todos os elementos que a produção oferece.

Em alguns países como Alemanha e Itália, prevalece a dublagem nos filmes e, na Espanha, a escolha pela dublagem foi decisão política para defender o idioma; a lei caiu, mas o hábito ficou.

A produção brasileira de dublagem ajuda. Ao contrário dos hispânicos, que carregam no drama latino na interpretação dos personagens, os brasileiros procuram interpretar com naturalidade, e isso é um grande diferencial quando chega aos nossos ouvidos. As novas tecnologias também ajudam muito, pois hoje é possível apenas substituir a faixa da voz,  o som ambiente permanece o mesmo, antigamente se perdia muito do som do filme de maneira geral. A preferência também cegou aos canais de tevê por assinatura, mas com uma vantagem: a disponibilidade da opção de legenda pelo controle remoto.

Como tudo tem os dois lados, os amantes dos filmes legendados não estão felizes com essa tendência e já começam a reclamar. Por esse motivo, as produtoras precisam ter muito cuidado ao selecionar um dublador, pois não é nada fácil dublar Mery Streep, Sean Penn ou Al Pacino sem causar prejuízo à sua interpretação. 

O cuidado deve ser o mesmo também na seleção de artistas famosos para a dublagem, porque ninguém merece ouvir um personagem e imaginar outro. A voz muito conhecida no meio artístico pode trazer um enorme prejuízo para a dublagem.


Mas não tem jeito, a necessidade de mudar está aí e não tem como passar batido. O público pede, e cabe à indústria cinematográfica se profissionalizar para oferecer o melhor serviço de dublagem possível e tomar o máximo de cuidado para que a dublagem inadequada e sem qualidade  não espante o público das salas.

Como nem tudo está perdido, a opção para quem prefere os filmes legendados em pouco tempo, será as salas longe dos shoppings e com o foco de atender a esse público que, em breve, será específico. Não vamos esquecer, com voz ou com legenda, tanto faz, o importante é cinemar...

Boas escolhas e até a próxima semana!

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