terça-feira, 24 de setembro de 2013

LIVROS DO PROFESSOR E VALE-CULTURA

*Jornalista e escritor

Na semana passada, comecei uma discussão sobre a presença de bibliotecas e livrarias nos municípios, externando um pouco do meu desconforto em relação ao discurso de uma parcela de profissionais que reclama da ausência desses equipamentos públicos nas cidades, mas que participa muito pouco do que é oferecido nessa área. Há, por exemplo, os que não se importam em pagar 200 ou 300 reais numa peça de roupa, mas que não tiram 20 ou 30 reais do bolso para comprar um livro por mês. Isso em se tratando de literatura, sem mencionar outras artes, como concertos, peças teatrais, obras de arte etc...

E se for de graça? Você acha que, ainda assim, a “criatura” aceita o livro? E se eu disser que “não”? Vai achar exagero? Pois bem, recentemente passei por uma experiência assim e fiquei “de cara”. A Secretaria de Estado da Educação tem um programa muito legal que envia livros de literatura e poesia para todos os estudantes e professores da Rede Estadual de Ensino.

Imagine receber obras de Clarice Lispector, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Dalton Trevisan, João Ubaldo Ribeiro, Luis da Câmara Cascudo, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Luis Borges, Lygia Fagundes Teles, Cecília Meireles, entre tantos outros nomes importantes e enriquecedores do panteão nacional e universal e, algumas delas, ir para o... lixo. Isso mesmo. Para o lixo.

Muitos alunos chegam pra gente e oferecem: “Quer pro senhor, professor?”, mesmo a gente insistindo para que eles fiquem com o livro, falando sobre a importância de se ler obras em casa, dividir daquele saber com a família e tal. Aí, talvez para não nos contrariar, de pronto, ficam; mas é só dar um giro em volta da escola, ou olhar sob carteiras em sala, que lá tem um exemplar novinho, com o vinco da capa ainda por ser dobrado.

Ficou assustado, prezado leitor? Então é melhor você se sentar para não cair no chão: não é só aluno que faz isso, não. Já vi professor preterindo livro “porque não gosta de poesia”, “porque não é um livro ou autor que me interesse”. Há alguma coisa que justifique abandonar um livro? A meu ver, não. Sobre o mesmo assunto, ouvi uma colega dizer, certa vez, que preferia a parte dela em dinheiro a receber livros do governo. Certamente, caso recebesse em dinheiro, não seria usado para comprar livros.

Recentemente, foi aprovado pelo Ministério da Cultura o “vale-livro”. Várias empresas já aderiram ao sistema que consiste na emissão de um cartão magnético que poderá ser utilizado para compra de livros, CDs, DVDs, peças de artesanato, entradas em shows, peças de teatro e outros. Do mesmo modo que no caso citado antes com os livros, acontecerá de alguns o recusarem ou doarem para alguém que “goste de cultura”.

Apesar disso tudo, creio que esse ainda é um caminho razoável para quem quer consumir cultura, mas não tem “coragem de gastar” seu dinheiro com “algo secundário".

Não adianta – insisto nisso – ficar reclamando pelos cantos que o governo não faz isso, que a gente precisa daquilo, que essa cidade não tem nada e tantas outras “carranquices” que não contribuem efetivamente na melhoria do quadro.

Nesta terça-feira (24), teremos mais uma oportunidade de cultura com qualidade em nossa cidade, Araçatuba. Um quarteto de cordas fará apresentações, por meio do Projeto Instrumental Clássico do Estado de São Paulo, a partir das 20h, no Teatro Municipal Castro Alves. Os ingressos serão trocados por um quilo de alimento não-perecível.

Não perca!

2 comentários:

  1. Bravo!! É bem por aí mesmo. Vivemos num país onde a ignorância prepondera. Inadmissível que professores não incentivem seus alunos a viajar sem sair do lugar e explorar mundos diferentes dos jogos de games que instiga a violência. Não podemos desanimar. Livro na moçada. Parabéns pelo excelente texto!

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  2. Obrigado, Inês por acompanhar o blog e pelas palavras gentis. Forte abraço.

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