sábado, 9 de novembro de 2013

Criar um texto - mais que escrever, é um gesto.

*Professora de Língua Portuguesa e escritora
Estive relendo um belo e esclarecedor livro, indicado por minha guia das artes, Renata Madeira. De autoria da iluminada de Cecília Almeida Salles, foi editado pelaAnnablume Editora-Comunicação (esta, 3ª edição, de 2007). O título do Livro, já nos informa muito sobre o processo de criação artística: GESTO INACABADO. Assim será meu gesto ao passar informações sobre a obra para você, que lê o pouco que escrevo, já que o livro é tão denso que não poderia informar tudo sobre ele. Também não é este nosso propósito, pois como percebem, a chamada deste artigo é para que você o tenha em suas mãos e se delicie com as considerações importantes da autora.

Ela fala sobre o processo criativo em geral, mas percorre os caminhos da criação dos cineastas, dos escritores, dos artistas plásticos de maneira mais intensiva.

Quero destacar aqui um ponto que me tocou profundamente, levando-me a refletir sobre você, leitor: o movimento da criação sob o ponto de vista da comunicação, quando pensamos: “Quem serão meus leitores”? O trecho a que me refiro fala sobre o receptor.Nele, a autora cita uma fala de Borges (1987) sobre o leitor da obra: ”O texto é o resultado da estreita colaboração entre um autor e um leitor. Se é certo que não existe texto sem autor, não é menos certo (e tautológico) que não existe autor sem leitor”. 

Ela ainda cita outro autor que disse algo sobre o assunto:Duchamp (1986). Não vou apresentar essa fala aqui, porque o importante desses pensamentos é a mensagem de uma verdade à qual todo escritor ou artista deve estar atento: toda obra de arte necessita de um receptor, e se estamos falando do processo criativo como ato comunicativo, não podemos fazer concessões, de modo que a urgência do mercado afete nossas produções. Não podemos deixar que interesses outros violem o direito de nos expressarmos de acordo com nossa capacidade criativa, interferindo em nosso processo de criação.

Disse alguém que “escrever é um ato solitário”. Mas se nos colocarmos diante de um escrito que vai ser lido por outro, poderemos perceber sua presença conosco durante o ato da criação de um texto. Isso não significa que ao escrevermos, temos um leitor em nossa mente, mas sim que é como um companheiro solidário, cuja presença se manifestará em algum momento futuro.

Fica, porém, uma pergunta: porque Gesto Inacabado?

A resposta é simples: todo texto produzido só estará terminado, completo, finalizado quando for lido por alguém. É o leitor que vai terminar seu texto! 

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