segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Plágio ou inspiração?

*Educadora musical e regente de coral, formada pelo Instituto Tatuí
Tanto na música, como nas demais artes, temos uma pergunta frequente: O que é realmente criação "pura"e o que é uma criação “inspirada”? Será que toda a criação está isenta de algum tipo de referência?

Enquanto conversamos vamos ouvir um concerto para piano de Sergei Rachmaninov - Concerto nº 2 in C minor, op.18. - II [Adagio sostenuto] = ao piano: Hélène Grimaud  sob a regência de Claudio Abbado: 


Há quem diga que não há como criar nada a partir de nada, e há os defensores da ideia de que a mente criativa é sim, capaz de criar coisas novas somente de sua imaginação. Será mesmo?

A verdade é que a nossa vida é construída a partir de referências!

Somos influenciados por pessoas, situações e experiências. A construção da nossa história é permeada de exemplos indicando intervenções em algum momento.

É impossível dizer que não somos afetados pelas coisas e pessoas que nos cercam. Nossa maneira de nos vestir, falar, escrever...  Nossas posições políticas, sociais...

Mesmo aquilo que nós criamos somente a partir de nossa imaginação é influenciada por uma série de fatores ligados à nossa cultura, experiência e sensibilidade. 

Os relacionamentos também são uma forte fonte de influência em nossas “criações”.  

Portanto, mesmo uma criação que seja inédita é também revestida de algum tipo de inspiração, mesmo que muito subjetiva. 

Um exemplo é o concerto que ouvimos acima, ou que você ainda está a ouvir enquanto lê  esse texto. 

Acredito que ao ouvi-lo você lembrou de “All by Myself” , uma conhecida balada de Eric Carmen de 1975, que teve várias regravações por outros artistas. A última a cantar foi Celine Dion.  

Celine Dion - All By Myself :


Você conseguiu identificar o concerto de Rachmaninov na “criação” de Eric Carmen? 

Pois é, todos os grandes e pequenos artistas: músicos, fotógrafos, artistas plásticos, poetas, escritores, bem como os demais artistas de uma maneira geral, dizem se inspirar nas mais diversas fontes existentes: em filmes, ilustrações, na natureza, em outros artistas etc.

Além das influencias já relacionadas, somos impactados com o contato visual do dia-a-dia.  Tudo aquilo que captamos é registrado em nossa mente e de alguma maneira interfere em nossa visão de mundo e conseqüentemente afetam as nossas “criações”. São inspirações, tanto negativas como positivas que em algum momento serão retratadas por nós durante nossa história. 

Há um vídeo que trabalha esse assunto, que não é novo: “All Creative Work is Derivative” (Todo trabalho criativo é derivado).  Esse vídeo mostra que há milhares de anos a inspiração vem sendo utilizada para criação de verdadeiras obras-primas.


Então, qual o limite da inspiração? A partir de que momento ela deixa de ser inspiração para se tornar um plagio, uma cópia literal? 

Com a internet, a consulta em busca de referências acontece por toda a parte do mundo. Houve um aumento do numero de plágios, não somente pelo maior volume de informações, mas pela maior facilidade em descobri-los. Por isso vemos tanta polêmica judicial por causa de plagio. 

Vocês se lembram do caso ocorrido com a cantora Rihanna e o fotógrafo de moda David LaChapelle? O fotógrafo acusava Rihanna de utilizar os conceitos de suas fotografias em um clipe.

À esquerda, imagens do clip de Rihanna e, à direita, as fotografias de La Chapelle
Temos também o caso de Bob Dylan em sua atuação como “pintor” e que plagiou fotografias:

Foto de Léon Busy de 1915              Tela "Opium!", de Bob Dylan

Plágio é quando a cópia vira crime. Wilson Mizner, cronista e dramaturgo, criticou uma vez: “Copiar de um autor é plágio; copiar de vários é pesquisa”.

Outro caso é do dramaturgo inglês Willian Shakespeare que foi acusado d éter plagiado Romeu e Julieta de outro autor. Na época havia cinco versões diferentes do drama com pequenas alterações e personagens diferentes. 

Um importante escritor espanhol, Miguel de Cervantes, autor de Dom Quixote, que chegou a escrever ao rei da Espanha contra cópias e versões que sua obra sofria.

Em nossa música temos inúmeros casos de processos judiciais envolvendo artistas e músicos famosos e nem o “rei” Roberto Carlos passou ileso dessa acusação.

Roberto Carlos foi acusado de plagio em uma canção sua e de Erasmo Carlos da jovem guarda. A música era “O Careta” que repetia os dez primeiros compassos da canção “Loucura de Amor”, obra do compositor Sebastião Braga. 

Veja esse vídeo do youtube em que mostra músicas supostamente plagiadas pelo “rei”. Vamos ver o que você acha.


Bem, fico por aqui hoje.

Uma ótima semana pra todos vocês, meus queridos. Ótimas inspirações para todos! 

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