domingo, 24 de outubro de 2010

Renata Junqueira de Souza e oficinas pedagógicas


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

O quinto e último dia do 1º Seminário da Leitura e Literatura Infantil e Juvenil contou com dois importantes momentos: A palestra da professora doutora Renata Junqueira de Souza da Unesp de Presidente Prudente e com as Oficinas Pedagógicas, ministradas pelos profissionais do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba, coordenadas pela professora Luciane Pavan, membro da Comissão Organizadora do Seminário.
Na palestra, a professora Renata Junqueira fez algumas abordagens sobre Estratégias de Leitura nas séries iniciais (Ensino Infantil e Fundamental), a partir da pesquisa de pós-doutorado dela nos Estados Unidos e na experiência de aplicação da referida proposta com cidades dos Estados Unidos, Presidente Prudente e Minho, em Portugal.
A pesquisa que foi publicada no livro: Ler e escrever, estratégias de leitura, Mercado de Letras, foi o objeto da palestra e teve seu lançamento no final dela.
Uma discussão bastante rica e interativa em que os professores e demais profissionais da educação que lá estiveram presentes puderam tirar dúvidas, tomarem consciências das mais atuais propostas no campo da leitura e da literatura em países desenvolvidos e nas principais colocações do PISA (programa internacional ligado à UNESCO que avalia diferentes países do mundo, entre as quais, na área da leitura).
Como não poderia ser diferente, também algo bastante significativo para Rede.
Com relação às oficinas pedagógicas, um primor. Os profissionais da nossa Rede deram um show na discussão e, principalmente, aplicação de propostas e sugestões de trabalho com o texto literário infantil. Não houve quem não saísse das oficinas entusiasmado e falando bem do que tinha aprendido nelas.
Gostaria de agradecer o empenho de todos que doaram parte de seu tempo na construção, tão rica, desse momento. Parabéns à Luciane Pavan e seus colaboradores que também se empenharam muito para que essa etapa tivesse o sucesso que teve.
Saio desse seminário como quem lava as mãos: alguns resíduos ainda estão nelas, o frescor é tão presente e marcante, a leveza e a suavidade do cheiro bem são satisfatórios.
Obrigado, Beatriz, por ter-me concedido essa oportunidade; obrigado Patrícia, Ana e equipe, Custódio e equipe, Maria Lúcia Terra e equipe, Raquel e equipe, Claudinha Sato, enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que esse Seminário tivesse o êxito que teve.
Meu muito obrigado....

Ezequiel Theodoro da Silva


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Quando o conheci, na pós-graduação da Unesp de Presidente Prudente, a primeira impressão que tive foi de um cara carrancudo, inacessível, que só estava alí "cumprindo tabela".
Ainda bem que me enganei.
O Ezequiel não é muito de sorrir, não. Ao menos em sala de aula. Mas isso não quer dizer que seja uma pessoa triste ou amargurada. Ele tem aquele humor seco e irônico dos intelectuais.
Parece mesmo um mineirinho, que quietinho e com seu jeitinho vai conquistando a todos. E foi exatamente assim que aconteceu na palestra do dia 22/10. Numa sexta-feira, sete e meia da noite ele seduziu a todos com suas piadas, com suas canções e, principalmente, com o seu saber com sabor.
Foi um momento bastante rico em que foram retomadas desde a importância da presença do professor na sala de aula como alguém com sentimento, com vida, com emoções e que, por esse motivo, também precisa trabalhar (e só um ser humano faz isso) com a diversidade presente em nossas escolas.
Propôs a leitura como algo emancipador, que nos tira do lugar comum e os faz ver o mundo à nossa volta com criticidade, com um olhar mais refinado. A leitura DESvela, DEScobre, DESnuda as coisas para que possamos enxergá-la além do trivial, além do que os olhos e a maioria das pessoas veem.
Foi muito bom tê-lo conosco, Ezequiel. Volte sempre.

Na imagem acima, da esquerda para direita: Raquel Pozelato, Ana Cláudia Vasconcelos, Patrícia Cardoso, Maria Lúcia Terra, Ezequiel Theodoro da Silva, Antonio Luceni e Cláudia Sato.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Entrevista para Folha da Região - Seminário de Leitura

O ENCANTADOR DE HISTÓRIAS


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

A terceira noite do 1º Seminário de Leitura e Literatura Infantil de Juvenil "Araçatuba Leitora" foi uma celebração à vida!
Conheci Francisco Gregório Filho num congresso internacional de leitura e literatura infantil e juvenil em Porto Alegre/RS. Foi paixão à primeira vista. Com seu entusiasmo explícito e sabedoria contida, cativou a todos os presentes com seu jeito aglutinador de ser, com sua voz mansa e tranquila e com muita, muita história para contar...
Ontem foi a vez de Araçatuba conhecê-lo. Cantando, contando, discorrendo sobre projetos que ele implantou por esse Brasil a fora, agradou gregos e troianos! Coisa difícil de acontecer, mas foi exatamente isso.
Os comentários foram dos mais diversos, mas todos eles convergindo num ponto: o encontro foi apaixonante.
Gregório demonstrou na prática o que significa se relacionar com literatura e poesia. No discurso envolvente personagens de nosso folclore, a mistura de raças e credos, a valorização da própria história, as muitas possibilidades de mergulhar num texto... Tudo estava lá, dito, posto e proposto...
E que venham os outros dias do Seminário.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mesa de discussão em leitura e literatura infantil e juvenil


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

20/10/10 - Mesa de discussão em leitura e literatura infantil e juvenil.

Palestrantes:
Profa. Dra. Cristiane Magalhães Bissaco
Profa. Ma. Patrícia Cardoso Soares
Prof. Me. Antonio Luceni
Profa. Esp. Maria Lúcia Terra
Profa. Ma. Marister Vasques Falleiros
Prof. Ma. Nara Leda Franco

Título da palestra: Rapsódia literária: aspectos da leitura e da literatura infantil, com o Grupo de Estudo em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Secretaria Municipal de Educação de Araçatuba.

Comentário: Pela característica da mesa de discussão, as apresentações feitas tiveram o tempo individual de 20 minutos cada uma em que os comunicadores abordaram um aspecto específico da leitura ou da literatura infantil. A professora doutora Cristiane Magalhães Bissaco expôs uma experiência feita em duas escolas municipais com crianças do Maternal sobre estímulos para ler, resultado de um estudo de caso feito a partir de discussões e propostas suscitadas no Grupo de Estudo; a professora mestra Nara Leda Franco discutiu sobre a presença da metáfora na obra de Chapeuzinho Vermelho como elemento colaborador para a manutenção do referido conto; a professora mestra Marister Vasques Falleiros fez várias abordagens sobre os objetivos e formas de leitura, as contribuições trazidas por métodos e formas adequados no ato da leitura e produção de textos; a professora mestra Patrícia Cardoso Soares discutiu sobre a presença do professor coordenador pedagógico como importante mediador na discussão, elaboração e construção de momentos e espaços que privilegiem a leitura e a literatura nas emebs do Sistema Municipal de Ensino, dando exemplos a partir de experiências da própria Rede; a professora especialista e diretora da equipe de supervisão, Maria Lúcia Terra, fez uma análise comparativa da presença da personagem "bruxa" ao longo da história da literatura infantil no mundo, discutindo a presença de arquétipos nessa personagem como forma de contribuição na formação intelectual e de caráter dos seus leitores. A mediação dos trabalhos da mesa foi feita por mim.

Palestra com Ricardo Azevedo


19/10/10 - Palestra de abertura do 1º Seminário de leitura e literatura infantil e juvenil.
Palestrante: Ricardo Azebedo: escritor e ilustrador paulista, é autor de mais cem livros para crianças e jovens, entre eles Um homem no sótão (Ática), Lúcio vira bicho (Cia. das Letras), Aula de carnaval e outros poemas (Ática), A hora do cachorro louco (Ática)e o Livro dos pontos de vista (Ática). Ganhou quatro vezes o prêmio Jabuti com os livros Alguma coisa (FTD), Maria Gomes (Scipione), Dezenove poemas desengonçados (Ática) e A outra enciclopédia canina (Companhia das Letrinhas), o APCA e outros. Tem livros publicados na Alemanha, Portugal, México, França e Holanda. Bacharel em Comunicação Visual pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado e doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Pesquisador na área de cultura popular. Professor convidado em cursos de especialização em Arte-Educação e Literatura. Tem dado palestras e escrito artigos, publicados em livros e revistas, abordando problemas do uso da literatura de ficção na escola.

Título da palestra: Sistema Cultural dominante, didatismo e literatura

Comentário: O escritor procurou estabelecer um contraste entre os textos técnicos (que disse terem a devida importância) e o texto estético, privilegiando o segundo como forte instrumento e HUMANIZAÇÃO. Buscou ainda, discutir sobre a falta de espaço que há nas escolas brasileiras para os textos de ficção e poesia. Problematizou o fato de cada vez mais os textos técnicos e pedagógicos terem espaço nos bancos escolares, COISIFICANDO o ser humano, justamente por serem (os textos técnicos e pedagógicos) dogmáticos, buscarem uma única e voz comum, por terem um fim específico etc. Propos que reolhássemos os textos literários e suas contribuições como elemento do inexplicável, da imaginação, da fantasia, do universal, da democracia e pluralidade de vozes etc.

IMAGEM: O escritor ladeado por este blogueiro e a professora Doutora Renata Junqueira de Souza, do CELLIJ/UNESP de Presidente Prudente, que veio daquela cidade para prestigiar o escritor.

ABERTURA DO 1º SEMINÁRIO DE LEITURA E LITERATURA INFANTIL E JUVENIL



"Deus quer, o homem sonha e a obra nasce", bem disse Fernando Pessoa.
Há tempos vínhamos gestando um espaço que privilegiasse a discussão da leitura literária em nosso Sistema Municipal de Ensino, em Araçatuba. E não era um sonho doido, desligado da realidade. Era o desejo de uma necessidade em discutir e propor ações que contribuissem para que o livro literário e a poesia tivessem o olhar que mereciam.
Pois é, a obra nasceu! Desde o dia 19 de outubro estamos envolvidos neste sonho. O primeiro momento foi uma visita do escritor e palestrante de abertura do evento, Ricardo Azevedo, à EMEB Fausto Perri, no bairro Umuarama.
Havia meses os alunos daquela escola, sob orientação da diretora Maísa Bichir e seus colaboradores, estavam lendo e desenvolvendo atividades a partir das obras do escritor.
A culminância aconteceu com a visita dele, momento em que os alunos apresentaram pecinhas de teatro, declamaram poemas, teatro de fantoches e muito mais. Também tiveram oportunidade de ouvir, direto da fonte, algumas histórias e a própria história do escritor Ricardo Azevedo.
A Secretária da Educação, Beatriz Soares Nogueira, e grande parte de sua equipe compareceram ao evento para prestigiar e mostrar de perto para o escritor parte do grande projeto para formar Araçatuba como uma cidade leitora.
Foi um momento bastante rico, particularmente para as crianças daquela escola, já que tinham a ideia de escritor como uma entidade quase inexistente.
Valeu, Ricardo!!!

domingo, 17 de outubro de 2010

ARAÇATUBA LEITORA


“Ler é muito mais do que decifrar palavras...”. É assim que começa o poema “Aula de leitura” do escritor Ricardo Azevedo.
Paulo Freire, renomado e importante educador brasileiro, também fez essa reflexão por meio de vários textos, sugerindo que somente lemos quando nossa leitura é algo maior, é a “leitura de mundo”.
Todos os dias e em todos os momentos estamos submetidos a ler. Procure observar tudo que está à sua volta: as pessoas, as coisas, as propagandas, os livros, a internet, o céu (será que vai chover?)... Verifique como seu marido, mulher, filho, pai ou mãe chegam do serviço ou da escola. Será que é hora de pedir alguma coisa pra ele ou ela? Ou é melhor deixar para mais tarde?
É por essa razão que a leitura e tão importante em nossas vidas. É por meio dela que nos relacionamos com as demais pessoas. É partir dela que entramos em contato com conhecimentos e vivências que certamente seria muito difícil (em alguns casos, impossível) não fosse pela leitura.
Hoje é o primeiro dia de outros quatro que se seguem do 1º Seminário de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil “Araçatuba Leitora”, organizado pela Secretaria Municipal da Educação e sob minha coordenação.
Serão dias de importantes discussões e reflexões (que virarão ações nas práticas das centenas de profissionais de nosso Sistema de Ensino) com o que há de melhor nessas áreas.
A palestra de logo mais à noite, na UNIP, é com o escritor Ricardo Azevedo, doutor pela USP e ganhador de diversos prêmios importantes de literatura, entre os quais vários Jabutis.
Amanhã é a vez do Grupo de Estudo em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Secretaria Municipal da Educação de Araçatuba, representado pelas professoras Maria Lúcia Terra, Cristiane Bissaro, Marister Falleiros, Patrícia Cardoso Soares, Nara Leda Franco e por mim, no auditório do SENAC, a partir das 19h30min.
Na quinta-feira é a vez do escritor, contador de histórias e Secretário da Leitura (imaginem só, já há no Brasil uma Secretaria da Leitura) de Nova Friburgo/RJ. Uma figuraça que tive o privilégio de conhecer num congresso internacional de leitura em Porto Alegre. Certamente, assim como eu, quem estiver presente vai se encantar com ele.
Na sexta-feira é a vez do professor doutor, e também escritor, Ezequiel Theodoro da Silva, da Unicamp. Um dos fundadores do COLE (Congresso de Leitura da Unicamp) que já está em sua 18ª edição. Também na UNIP, à noite.
Para encerrar o Seminário, no sábado pela manhã, UNIP, a professora doutora Renata Junqueira de Souza do Centro de Pesquisa em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Unesp/Presidente Prudente ministrará uma palestra que discutirá a leitura e a literatura no Ensino Infantil e Fundamental, além das oficinas pedagógicas que serão realizadas por profissionais da Rede.
Gostaria de agradecer publicamente ao prefeito Cido Sério e à Secretária de Educação, Beatriz Soares Nogueira, por serem sensíveis ao tema e proporcionado esse momento tão rico e importante para os profissionais do Sistema Municipal de Ensino.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A beleza de ser um eterno aprendiz...


A vida é uma grande escola, e todos nós sabemos disso: há lições que são aprendidas de modo mais prazeroso, causando-nos entusiasmo no aprender, no refletir às questões propostas por elas; outras, ácidas, áridas, desconfortantes...
Assim como na escola, há também na escola da vida a seriação: algumas pessoas estão mais adiantas (evoluídas?!) que as outras; outras, ainda estão no be-a-bá.
Assim como na escola, há os que ficam de recuperação em algumas matérias (solidariedade, respeito, fraternidade...), mesmo sendo aprovados em outras.
A verdade é que estamos todos nós aprendendo, ou, como diria Rosa, "de repente" aprendendo.
Minha vocação para ser professor estava no sangue. Minha mãe foi (e continua sendo) minha grande mestra. No interior do Ceará, no sítio da Pitombeira, ela já reunia vizinhos, irmãos e até o filho mais velho (meu irmão Lúcio) para, voluntariamente, encaminhar-lhes pelas primeiras letras. Quando veio para São Paulo, o ofício foi abandonado por falta de diploma. Entretanto, continua ensinando a todos nós.
Desde muito cedo (não vou falar pequeno porque ainda continuo a sê-lo) lembro-me sonhando com uma sala de aula, onde crianças, jovens e adultos ouviam com atenção aquilo que eu dizia. Quando terminei o 1º grau não tive dúvidas: "Vou fazer magistério".
Foi no CEFAM que iniciei nessa carreira que até hoje me sustenta física e intelectualmente. Também foi lá que tive contato com grandes mestres: Cleonice Guedes Pavan, Adilson Henriques, Kátia Nascimbeni, Giovanni e Ivone Baldan, Milka, Nilce, Bete, Zilda, Marquinhos, Osmarina, Júlia... só para citar alguns (e os outros que me perdoem).
O curso de Letras na Toledo, a pós-graduação na Unesp e o mestrado na UFMS renderam boas amizades e muito conhecimento. Desses lugares trago a amizade e o respeito pelos mestres Tito Damazo, Roseli Ibernom, Ester Mian, Patrícia Bertoli, Valdir Mendonça, Renata Junqueira, Ricardo Azevedo, Ezequiel Theodoro da Silva, Luís Camargo, José Batista de Sales, Belon, Sheila Maciel, Edgar Nolasco, Carlos Fantinati...
Gostaria de agradecer a todos meus mestres (os aqui lembrados e os que não citei) pelo tempo que dedicaram a mim e a meus colegas na comunhão do sabe(o)r das letras. Grande parte do que sou hoje (mesmo não sendo grande coisa) devo a vocês. Eternamente serão lembrados por mim com a reverência, respeito e admiração com que merecem ser.
Feliz dia dos professores.

Do discípulo,

Antonio Luceni

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Vinde a mim...


Dia 12 dia das crianças... E qual dia não o é, não é mesmo?!
Só quem tem criança em casa para se dar conta de que todo dia é dia delas. Se são recém-nascidas o choro não nos deixa esquecê-las por um minuto: num momento é cólica; noutro, fome; num outro, sono; num terceiro, cocô ou xixi incomodando-as.
Depois elas vão crescendo e aí você pensa que vai tudo ficar bem. Ledo engano: quando elas começam andar o desespero aumenta. Haja pernas para acompanhar aquelas perninhas que não param um só minuto no lugar. E, parece, sempre os piores lugares elas buscam para se enfiar. São verdadeiros suicidas (inocentes, é bem verdade, mas não o deixam de ser!).
Aí vem a adolescência: fase dos cabelos coloridos e esquisitos, aquelas roupas cheias de fluflu, a primeira paixão, os primeiros campeonatos e acampamentos fora de casa. As preocupações são redobradas.
Depois vem a faculdade, os estágios e, mesmo depois de formados, aqueles marmanjões dando despesas em casa e achando que ainda são crianças. Mas às vezes acho que são mesmo. Continuam sendo para os pais aqueles meninos e meninas dependentes (e a gente acaba nem achando tão ruim assim; basta estalarem os dedos que a gente está lá, prontos para socorrê-los).
Como diria Vinicius de Moraes: “Filhos, melhor não tê-los, mas se não tê-los como sabê-los”. A gente acaba sendo imortal neles, sabe. Talvez por isso os acolhamos sempre, nos importemos com eles... De certa forma é um egoísmo sacrossanto querer a perpetuação da nossa própria vida por meio da continuidade deles.
A verdade é uma só: onde tem criança há alegria, há energia, há graça, sinceridade, honestidade, verdade... Onde tem uma criança, mesmo as caras mais carrancudas se derretem, os corações mais angustiados encontram um momento – por mais efêmero que seja – de paz.
Não à toa Jesus pediu para que não impedissem de as crianças se aproximarem dele. Na própria visão do Mestre, as crianças eram – e portanto ainda são – a metáfora para quem quer chegar no céu.
Monteiro Lobato, também cansado das hipocrisias e discrepâncias dos adultos, encontra na imagem das crianças o lugar da esperança e é para elas que irá propor os seus diálogos, esperando na formação crítico-reflexiva de sua obra jovens e adultos mais adequados para transformar o mundo num lugar bom de se viver.
Que cada criança que há em nós seja cultivada diariamente e que a esperança sempre nos encontre de braços abertos para o que der e vier.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Yeda Pazian - uma artista



Primeiro me veio a educadora: Diretora da Rede Municipal de Ensino de Araçatuba, na EMEB Enoy Chaves, no bairro Panorama. Uma escola de Educação Infantil pra cima, alegre, colorida, com excelentes profissionais e com um jardim que é uma beleza.
Em seguida me veio a colega de trabalho: A partir do início do Grupo de Estudo em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Secretaria Municipal da Educação passamos a nos relacionar profissionalmente nas discussões do grupo, nas propostas e ações de leitura voltadas para as séries iniciais...
Por último, me veio a artista: Uma artista de mão cheia, ou melhor, de tela cheia. Cheia de cores, cheia de vida, cheia de alegria. Acho que um pouco (ou muito) da energia dessa artista, do olhar sensível e observador dela passam para as suas telas, para o seu trabalho.
Há em suas telas flores de todos os tipos (orquídeas, tulipas, strelízias, copos de leite...), tucanos, frutas, naturezas-mortas, paisagens... Tentam traduzir a vida, ou melhor, como diria, Van Gogh “a arte é o homem adicionado à natureza.”
Sua pintura não se propõe a ser um retrato fiel e literal da realidade. Não busca flertar com os academicismos prepotentes e aristocráticos; não há mais tempo para isso. Antes, vai na trilha das sensações, dos sentimentos, dos verdadeiros valores a que se propõem as artes de modo geral: sensibilizar as pessoas.
E quantas sensações são evocadas nas texturas de suas telas, nas pinceladas precisas, nas escolhas dos temas, nas dimensões das obras – quase próximas de painéis – na combinação de tons e matizes que, unidos, formam um conjunto harmônico e bom de se ver.
Como todo bom artista que se preocupara com a vida que está à sua volta, ela registra o Brasil de diferentes maneiras: nas paisagens litorâneas com barcos, encostas, peixes e pescadores; nas frutas várias e tropicais com todas as cores e texturas imagináveis: bananas, morangos, maçãs...; o campo está representado em seu acervo com cavalos, morros e riachos..; o experimental também tem vez: note-se aí uma provocação como o quadro “O pecado”, em que a silhueta de uma maçã é suporte para a discussão a que se quer despertar.
Yeda Pazian: a educadora, a mulher, a artista. Assim, vale a pena lembrar Joseph Beuys quando cita que "a criatividade não é monopólio das artes. (...) Quando eu digo que toda a gente é artista eu quero dizer que cada um pode concentrar a sua vida nessa perspectiva: pode cultivar a artisticidade tanto na pintura como na música, na técnica, na cura de doenças, na economia ou em qualquer outro domínio... A nossa ideia cultural é muitas vezes redutora. O dilema dos museus e das instituições culturais é que limitam o campo da arte, isolando-a numa torre de marfim (...). O nosso conceito de arte deve ser universal, terá que ter uma natureza interdisciplinar com um conceito novo de arte e ciência".
Certamente Yeda Pazian enquadra-se nessa perspectiva artística. E que venham outras telas.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e Diretor do Núcleo UBE Araçatuba e Região. (aluceni@hotmail.com)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Araçatuba chora seus filhos


Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente.” João 11. 25 e 26

Lembro-me de uma situação da infância que até hoje é muito marcante para mim. Final de tarde, minha mãe sentada à sala, fazendo alguma coisa com as mãos (se não me falha a memória, remendando alguma roupa velha para o trabalho diário) quando respondeu ao meu irmão mais velho: ─ Já vou. E, ao chegar no portão, não havia ninguém.
Naquele exato momento o Lúcio tinha caído de uma mangueira muito alta e estava sendo hospitalizado para ficar por lá, em estado grave, durante algum tempo. Foi um momento difícil para todos nós e, particularmente, para minha mãe. Ela já antecipava o ocorrido com seus ouvidos de mãe, antenados e 24 horas por dia ligados aos filhos e à família de modo geral.
Há tempos esperamos pela chuva. Estávamos numa situação difícil: crianças e idosos com graves dificuldades respiratórias, a boca seca, nos bairros sem asfalto aquela poeira danada entupindo e sujando tudo.
Quando a chuva veio, ficamos aliviados, respiramos melhor e até foi mais gostoso para dormir e comer.
Mas não foi uma chuva comum, não. A primeira chuva depois da longa seca a que estávamos submetidos foram lágrimas antecipadas de Araçatuba pela perda de seus filhos na Castelo Branco. Como mãe que é de todos nós, antecipava a triste notícia que nos cobriu de luto e que, certamente, ficará gravada em nossa memória.
Assim como minha mãe ouviu o grito de meu irmão antes mesmo que alguém desse a notícia, também Araçatuba já chorava seus filhos assim que a triste história se consumava.
Tal qual minha mãe, apreensiva e angustiada em saber notícias, também nossa cidade ficou inquieta em querer saber o que aconteceu, como foi que o acidente se deu, acolher os familiares, estar solidariamente presente...
Agradecemos a Deus (e Araçatuba fica feliz) pelos sobreviventes, pela catástrofe não ter sido maior ainda. Mas não deixaremos de chorar nossos mortos e não serão substituídos jamais.
Vão com Deus, descansem em paz!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e Diretor do Núcleo UBE Araçatuba e Região.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Olimpíada de Língua Portuguesa - Premiação Municipal


O período da tarde de quinta-feira (23) foi muito especial para 26 alunos das escolas municipais de Ensino Fundamental de Araçatuba. Afinal, não é todo dia que estudantes são premiados em uma olimpíada que não exige esforço físico, mas que aprofunda conhecimentos sobre a Língua Portuguesa. A olimpíada teve como público alunos da 4ª série, em que o desafio foi escrever poesias com o tema “O lugar onde eu vivo”.

Os alunos surpreenderam, pois muitos falaram com orgulho do bairro onde moram e descreveram Araçatuba como uma cidade maravilhosa para se viver. Dentre os assuntos citados nas poesias, eles destacaram o Rio Tietê, a produção da cana, a exposição agropecuária e o título de “Terra do Boi Gordo”, devido à força da pecuária na cidade. Os vencedores receberam a premiação no Teatro Municipal Paulo Alcides Jorge e os professores também foram homenageados.

O objetivo da premiação foi prestigiar o trabalho realizado nas escolas municipais durante os últimos meses, explica o coordenador da olimpíada Antônio Luceni. “Nós gostaríamos de homenagear as crianças pelo belíssimo trabalho, as professoras pelo apoio que deram aos alunos e as diretoras e coordenadoras por confiarem no nosso trabalho e apoiarem a ideia. Araçatuba foi uma das poucas cidades que aderiu em cem por cento. A nossa cidade foi citada como exemplo, o que nos enche de orgulho”, diz o professor.

A Olimpíada de Língua Portuguesa acontece em quatro fases (escolar, municipal, estadual e regional). Na fase nacional, 120 textos de todo o Brasil concorrerão. Em Araçatuba, quatro alunas foram classificadas para a fase estadual: Juliana Gonçalves Coluce, da EMEB Professor Lauro Bittencourt; Jéssica Gabriela da Rocha Vicente, da EMEB Fernando Gomes de Castro; Nikole dos Santos Garcia, da EMEB Professor Joaquim Dibo; e Paula Emanuelle Paixão Ferrarri, da EMEB Floriano Camargo Brasil.

“Nós precisamos comemorar, pois nossas crianças estão provando que são capazes. Nosso próximo passo é chegar à etapa nacional e nós acreditamos em nossos alunos”, afirma a secretária municipal de Educação Beatriz Soares Nogueira, que representou o prefeito Cido Sério. Além dela, estiveram presentes a secretária municipal de Esporte, Lazer e Recreação Cláudia Crepaldi; a chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação Patrícia Cardoso; a diretora do Departamento de Educação Municipal Ana Cláudia Vasconcellos; a diretora Ana Cláudia Marangon Donatoni, representando as diretoras da Rede Municipal; a coordenadora Marisa Matos, representante das coordenadoras; e a aluna Paula Emanuelle Paixão Ferrari, que representou os alunos participantes.


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Secretaria Municipal de Comunicação Social (SMCS)
Prefeitura Municipal de Araçatuba
(18) 3607-6603
www.aracatuba.sp.gov.br

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

60 anos da tevê aberta brasileira



Este ano a tevê aberta brasileira completa 60 anos. Tenho metade da idade dela, mas nesses últimos trinta anos já deu pra conhecê-la um pouquinho.
Nossa primeira televisão (no singular mesmo, porque só tínhamos uma) foi uma Philips preto e branco, acho que pouco mais de vinte polegadas. Imaginem só, uma família de sete pessoas defronte a uma tevê de vinte e poucas polegadas. Sentia-me como se fosse uma vaca (dizem que os bovinos enxergam em preto e branco). Anos depois, apareceu um vendedor daqueles que passam de casa em casa vendendo quinquilharias e meu pai comprou uma tela de acrílico em que tinha três cores: na parte superior o vermelho, na parte inferior o verde e, entre estas duas cores, uma faixa amarela que se fundia e sugeria o alaranjado em alguns momentos. Ficávamos com a “sensação” de víamos as imagens coloridas (tal qual eram realmente).
A disputa para ver esse ou aquele programa era outra comédia em casa. Os desenhos animados eram dirigidos para nós, crianças; já a hora das novelas era para minha mãe, e disso ela não abria mão. Tentávamos convencê-la de tudo quanto era forma para deixar no “Sítio do Picapau Amarelo”, mas nada. Por isso acabamos assistindo a “Roque Santeiro”, “Sassaricando”, “Amor com amor se paga”, entre outras das décadas de 1980 e 90.
É verdade que em todos os momentos da trajetória de nossa tevê aberta existiram programas idiotas e inúteis. Também é verdadeiro que nunca tivemos maiores opções de cultura, de educação, de entretenimento nas tevês públicas do Brasil, mas como hoje em dia, acho difícil.
Quanta baboseira, quanta bunda, meu Deus!, quanto sangue e violência nos programas de hoje. Salvam-se alguns poucos canais (bem poucos, acho que um ou dois) que têm em sua programação documentários interessantes, programas jornalísticos apartidários, programas infantis não-infantilizados, entrevistas e debates que fazem a gente crescer no final deles.
As tevês públicas são concessões que deveriam exigir logo de cara qualidade em suas produções. O brasileiro já é privado de tanta coisa que ao menos os programas televisivos – um dos poucos momentos de lazer a que o pobre tem acesso – deveriam ser de qualidade, voltados para esclarecer, instruir, orientar e divertir as pessoas de forma digna.
Do jeito que está aí não vale a pena nem gastar energia elétrica com o que passa na tevê. De pão e circo já estamos cheio. Queremos coisa mais encorpada, coisa mais saudável, coisa que valha a pena digerir.
É isso!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.

domingo, 12 de setembro de 2010

Mandinga pra chuva chegar


Sabe aquela história do “poder da atração”, da “conspiração a favor”, do “chama que vem”? Pois é, fiquei pensando nisso esse final de semana e resolvi fazer a “mandinga pra chuva chegar”.
O negócio é simples: a gente vai mentalizar algumas coisas que lembrem a chuva ou que a tenham como tema e repeti-las como um mantra? Não sabe o que é mantra? Não tem importância, fique pensando no barulho da chuva, cante músicas de chuva, faça a famosa dança da chuva... tudo isso repetidamente. Quem sabe não funcione? Porque o negócio tá brabo, não é mesmo? Que tempinho ruim! Como diria Maria Bethania: “Tinha que respirar, todo dia”.
Pra te dar uma ajudinha, aí vão algumas dicas:
Um clássico: “Chuva de prata que cai sem parar...”
Outro clássico (dá pra confundir com “jurássico” também!): “Chuva traga o meu benzinho...”.
Um gospel: “Faz chover a chuva serôdia sobre nós, faz chover a chuva temporã...”.
Outro gospel: “A chuva desce lá do céu como se fosse véu, de água corre o chão...”.
Vai de axé: “Quando a chuva passar...”.
Vai de romântica: “Cai a chuva que molha o meu amor...”.
Mais um amorzinho aí: “O amor não é como paixão que vai e vem feito chuva de verão...”.
Tem até pra criançada ajudar: “Chove, mas como chove: chuva, chuvisco, chuvarada, por que chove tanto assim?”.
E para os mais ligadinhos, tem até internacionais:
“I’m only happy when it rains...”.
“Singing in the rain…”.
“Rainy days and Mondays…”.
“I only want to see you laughing in the purple rain…”.
“Rain! Feet it on my finges tips, hear it on my window pane…”.
“If the rain comes theys run and hide thein heads…”
E: “It’s raining men, alleluia!...” Ops! Esta não tem muito a ver, não, mas não resisti!
Bom, é isso! Escolha uma e fique repetindo-a como se fosse um mantra, pensando positivo e, quem sabe, a chuva não vem e acaba com essa nossa agonia.
Mas, se de tudo, der errado, pegue uma mangueira e tome uma ducha... Assim, certamente, refrescará o seu calor!
Eu vou, mas semana que vem eu volto!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região.

domingo, 5 de setembro de 2010

Pátria amada...


Mais um 7 de setembro. Data festiva?
É verdade que o Brasil é privilegiado sob muitos aspectos. Vivemos num País continental que “em se plantando tudo dá”. Mas também, como disse o outro, há “pouca saúde e muita saúva".
É verdade que não temos guerras – ao menos do ponto de vista genérico, porque temos também nossos mortos diários em guerras que acontecem nas ruas, nos morros e favelas, na violência que corrói famílias inteiras por meio das drogas.
É verdade, também, que a natureza foi generosa conosco: não temos furacões, terremotos, tornados, vulcões e tantas outras catástrofes que acabam por assolar várias partes do mundo.
É verdade que por conta da nossa miscigenação somos mais receptivos e solidários. Nossa fama de hospitaleiros não é por acaso – apesar de, internamente, não tolerarmos as várias “espécies” humanas.
Mas precisamos de outras independências.
Independência financeira: não é possível que num País como o nosso, com as mais altas taxas de juros e arrecadações bilionárias, professores, policiais, servidores públicos (principalmente municipais e estaduais) sobrevivam – depois de três turnos de trabalho – com um salário que qualquer cidadão na informalidade e sem nenhum preparo em nível superior produz.
Independência da auto-estima: não dá pra sorrir feliz faltando dentes na boca, não é possível voltar para casa alegre e de bem com a vida depois de um dia de trabalho sob o sol, com as mãos calejadas e com um ovo (quando é possível tê-lo) na marmita (enquanto outros ociosos estão numa cela com cardápio cuidado por uma nutricionista e sempre variado durante a semana. Verdadeira inversão de valores).
Independência escolar: Por que as universidades públicas estão cheias de ricos abastados? Por que um pobre tem que ralar a vida toda numa escola pública, com ventiladores quebrados, sol atravessando as janelas e “rachando o coco” de crianças e adolescentes e, quando chega a hora de cursar uma universidade pública, não há vagas para eles?
Independência intelectual: Por que todos acham que a agente necessita de migalhas, esmolas e assistencialismo? Por que somos submetidos diariamente a quereres e a vontades escusas? Por que riem da nossa cara e acham que estão nos convencendo sobre isso ou aquilo?
Independência civil: Estamos em pleno movimento eleitoral, por que somos obrigados a votar se vivemos num País livre e democrático? Por que as propagandas eleitorais não são uniformes, afinal de contas, iremos escolher pessoas importantes para representarem nossas vidas em nível de estado e federação?
Ó Pátria amada, tão castigada, salve-nos, salve-nos?
Ó Brasil, celeiro da América, entre outras mil é a ti que amamos!
Independência? Morte!
Independência! Morte!
Independência.
Morte a tudo que não é para o crescimento do Brasil!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e Coodenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.

domingo, 29 de agosto de 2010

Vida, mina a ser explorada


Sempre tive pavor de lugares fechados. Não permiti que se instalasse em mim a claustrofobia, mas me incomoda muito a ideia de ficar fechado em qualquer lugar que seja: elevador, sala de escritório, sala de espera ou coisa assim.
Evitei por anos andar de avião. Esse negócio de coisa fechada, quinze mil metros de altura e mais de oitocentos quilômetros por hora é para super-heroi de histórias em quadrinhos.
Sempre que ouvia o nome do mais conhecido livro de Júlio Verne, Vinte mil léguas submarinas, ficava imaginando a cena. Aliás, a bem pouco tempo tivemos notícia de um submarino que teve problemas mecânicos e, infelizmente, levou à morte toda tripulação.
Dias atrás nos deparamos com a notícia dos trabalhadores de uma mina de ouro no Chile que se encontram na mesma situação. Presos numa profundidade de 700 metros – todos bem, graças a Deus – ficarão por lá por até 4 meses.
Que situação...
Enterrados vivos, buscam pela vida. Como no mito clássico de Platão, estão sob treva e desejam ver a luz. Noite? Dia? Não sabem... Mas o período é grande e devem restabelecer rotinas, driblar o medo, a angústia, a expectativa... Terão que tolerar uns aos outros. Unidos deverão permanecer para que, no apoio mútuo, consigam superar todas as intempéries.
As famílias, acampadas, esperam por notícias. Também em união dividem a dor da separação, tentam, mesmo fora e distantes dos entes queridos, transmitir energia, força, ânimo... Também tiveram que mudar suas rotinas. Tiveram que se adaptar à nova cena que lhes foi imposta.
Quanta coisa a aprender, não?
Quantas vezes não estamos afundados, também, em problemas e nas dificuldades diárias e precisamos nos apoiar uns nos outros para conseguirmos continuar caminhando? Quantos momentos estamos na escuridão e precisamos de uma ponta de luz, por menor que seja, mas que traga um pouco de esperança? Quantas famílias estão irmanadas por compartilharem dor semelhante?
Noutra ponta, o que é preciso acontecer para que nos juntemos para um bem comum? Quando tiraremos nosso traseiro da cadeira e nos colocaremos sob vigília para que alcancemos objetivos bons para a coletividade? O que será capaz de nos tirar da situação de comodismo e morbidez e nos encaminhar para acampamentos de solidariedade, fraternidade e justiça? O que será preciso acontecer para que valorizemos as pessoas que estão à nossa volta e que, às vezes, passam como transparentes por nós?
A vida é ouro. Mina a ser explorada cotidianamente.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e região.

domingo, 22 de agosto de 2010

Eleição na floresta


Este ano é ano de eleição na floresta. Momento importante para todos definirem quem irá comandar o grupo nos próximos quatro anos. Uma assembleia foi convocada pelo Leão. E quem foi dar a notícia foi a D. Tartaruga, mas com ordens severas: apenas para alguns bichos, já que, por conta da lerdeza de D. Tartaruga “não daria” para convidar a todos.
Bichos reunidos, O Rei Leão passou a fala aos candidatos.
Quem primeiro se apresentou foi o Curupira. E não quis saber de brincadeira, não. Já saiu entoando bem alto o seu slogan para que todos o gravassem bem:
 Para a floresta continuar andando pra frente, Curupira presidente!
E todos aplaudiam, e todos festejavam... O candidato falava bem, era popular entre os habitantes da floresta. Mas alguém, lá no meio do povo, observou um detalhe: a natureza do Curupira era a de andar para trás. Por que estava dizendo aquelas coisas, então? E por que os outros bichos não prestavam atenção no que o candidato dizia e se levavam apenas pelo falatório?
Em seguida, veio uma candidata. Era novidade na floresta. Por muitos anos somente bichos do sexo masculino reinavam por ali. Ela tinha pressa, já que não podia ficar por muito tempo fora d’água.
 Vocês já me conhecem porque quem me ouve nunca mais me esquece. Um grito daqui, outro de lá, não adianta resistir porque eu vou te pegar! Meu canto é doce, minha boca também, Iara é meu nome, quero ser teu bem!
Uma voz sedutora, um canto sedutor. Assim, a Mulher-Iara já estava arrancando os corações dos marmanjões, quando o Saci se intrometeu.
 Vamos parar de ladainha, vamos parar de blá, blá, blá... nosso objetivo neste dia é escolher em quem melhor votar. Esse canto é lindo demais, eu também quase caio nele, mas como moleque levado que sou, não caio em qualquer converseiro.
Cheio de rimas para poder provocar, o Moleque Saci saiu a argumentar.
 Seu Curupira, não me leve a mal, mas essa sua conversa é tão mole que já tá fazendo o boi dormir. Onde já se viu? Querer o bem do Brasil não é somente falar, tem que mostrar serviço. Há tantos anos no poder, e o que o senhor fez? Sua única responsabilidade era proteger a floresta. E olha aí? Tá quase toda desmatada. Fiquei sabendo que o senhor anda de conversa com uns tais grileiros...
 E você, Mulher-Iara? Sei que é boa de conversa (e de outras coisinhas mais!), mas na hora do vamu vê, pula do barco e deixa a gente a ver navios.
E a assembléia começou a pegar fogo com a chegada do Saci. Sua fama de bagunceiro e arruaçador estava mais do que comprovada. Era réplica daqui, era tréplica de lá e ninguém queria saber de parar... Até que se ouviu um uivado no meio da floresta. Todos pararam e ficaram escutando. Quando de repente...
 Vamos parar com essa bagunça aqui. Quem é o mais corajoso da floresta? Quem é que deixa caçador e grileiro com os cabelos em pé? Quem é que se mistura com os humanos e passa despercebido e, à noite, à meia-noite, volta para colocar as coisas em ordem? Eu, é claro!
O Lobisomem não deixou por menos.
Depois, veio o Boitatá, que de cara foi chamado de mentiroso pelo grupo, já que de boi não tinha nada, era uma cobra! A Cuca quis se pronunciar, mas não teve a menor chance. Disseram que o lugar dela era no Sítio do Pica pau amarelo.
Depois de muita discussão, decidiram: a floresta era um lugar democrático, por isso todos podiam ser candidatos.
E a primeira a votar foi a Mula-sem-cabeça. Disseram que ela votou num determinado candidato só porque ele tinha lhe prometido um chapéu. É mole?!
Mas que ela vai ganhar um chapéu, ela vai! Ah, vai!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE, e diretor do Núcleo UBE Araçatuba e região.

domingo, 15 de agosto de 2010

21ª Bienal Internacional do Livro – um marco em minha vida



De 12 a 22 de agosto, em São Paulo, acontece a 21ª edição da Bienal Internacional do Livro, uma das mais importantes do mundo. O evento é integrado por diferentes ações, que vão desde palestras, mesa de discussão, apresentações culturais, lançamentos e compra de livros, além de contato com livreiros, editoras, escritores, ilustradores e muito mais.
Há espaços e atividades para os mais diferentes públicos: crianças, jovens, adultos, idosos, professores, gestores escolares, intelectuais das mais variadas áreas e gente simples, que curte uma boa leitura.
Sábado, dia catorze, estive com um grupo de colegas da Secretaria Municipal de Educação de Araçatuba e alunos dos cursos de Pedagogia e Artes Visuais da Faculdade Uniesp, Birigui. A maior parte presente pela primeira vez numa Bienal de Livros. No final, perguntei se gostaram, mas não era nem preciso perguntar. Todos estavam com sacolas cheias de livros e muitas histórias para contar.
Na ocasião, também, lancei dois de meus livros e, junto com as escritoras Marilurdes Martins Campezi (Lula) e a Wanilda Borghi (representada), tomamos posse do Núcleo da União Brasileira de Escritores – UBE em Araçatuba e região.
Foi um momento particularmente especial para mim. Eu que há muitos anos venho acompanhando a Bienal de Livros como visitante estive presente neste ano como colaborador do evento. Receber o crachá de escritor e ser empossado coordenador do Núcleo UBE em Araçatuba foi um dos melhores presentes que recebi até hoje.
Ficava feliz sendo acotovelado e “atropelado” nos corredores do Anhembi e nos estandes das editoras. Causava-me emoção ver tanta gente sentada, debruçada num balcão, em filas enormes de caixas para folhear, ler e comprar livros.
Fico feliz de verdade quando vejo tanta gente se alimentado de arte, se humanizando por meio da literatura, da música, do teatro, do cinema, da pintura... Isso significa que quanto mais acesso pudermos dar às pessoas para que usufruam de bens culturais, tão mais mergulharão nesse prazer.
“É no mundo possível da ficção que o homem se encontra realmente livre para pensar, configurar alternativas, deixar agir a fantasia. Na literatura que, liberto do agir prático e da necessidade, o sujeito viaja por outro mundo possível. Sem preconceitos em sua construção, daí sua possibilidade intrínseca de inclusão, a literatura nos acolhe sem ignorar nossa incompletude.”
É com as palavras do escritor Bartolomeu Campos de Queirós em seu “Manifesto por um Brasil literário” que gostaria de encerrar este artigo. Também na esperança de que TODOS e TODAS que trabalham com Educação, com Arte, com formação de pessoas entendam e deem valor ao trabalho com as artes de modo geral e, mais particularmente, com a literatura, isto é, a arte da palavra. Afinal, somos todos PALAVRAS.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores - UBE e Diretor do Núcleo UBE – Araçatuba e região.

domingo, 8 de agosto de 2010

Eu pratico leitura


Entre os dias 4 e 8 deste mês tivemos mais uma edição da Festa Literária Internacional de Paraty – FLIP, no Rio de Janeiro. Desde 2003, a FLIP tem recebido importantes nomes das literaturas brasileira e internacional para lançar livros, discutir ideias, propor situações diversas sobre os mais diferentes temas e interesses culturais, sociais, intelectuais e outros “ais”...
O nome já algo atraente, não é mesmo, estimado leitor? Perceber o contato com a literatura como uma “festa” – que de fato é! – traz uma série de outros pensamentos: antes da festa há que se organizar tudo: o cardápio, os convidados, o local para acomodar todo mundo, as cores, os sabores e os sons de tudo que vai estar na festa e, de forma mais objetiva, a festa, propriamente.
Ainda não tive oportunidade de participar de nenhuma edição da FLIP. Sempre que penso em estar lá, acabo envolvido com algum outro compromisso que me impede. (Coisas de escola). Fico como aquele cara ou menina que tá doido(a) pra se aproximar de uma paquera, mas só fica de longe, espiando... Uma hora o “beijo” acontece.
A partir do dia 12 e até 22 de agosto teremos a 21ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Dá uma alegria danada dizer este número, sabia? Ainda por cima sobre algo relacionado ao livro (impresso, principalmente).
Contrariando os catastrofistas e apocalípticos de plantão, o velho e gostoso livro impresso continua a fazer adeptos e a encher (do verbo fazer pensar diferente e melhor) nossos corações e mentes das mais fantásticas e inebriantes sensações... Rompendo fronteiras, quebrando tabus, intercambias culturas e pensares, propiciando encontros...
Da Bienal de São Paulo sou freguês antigo e comigo levo todos os anos amigos, alunos... Em muitos casos, pela primeira vez. E sabe o que acontece? Se encantam também. (E olhe que nem precisa de 25 de março no roteiro, hein?!).
Eu sonho (e parafraseando Mário Sérgio Cortella, não deliro) com livros invadindo as vidas das pessoas em todos os espaços por onde circulam: escolas, igrejas, praças, shoppings, centros comunitários... Eu sonho que, no lugar de uma arma ou cigarro de maconha e pedra de craque, nossas crianças e adolescentes carreguem livros sob os braços, que em cada semáforo, ao invés de pedirem esmolas, participem de campanhas voluntárias de distribuição de livros de literatura para os que ainda não tiveram acesso a eles. Eu sonho que o entusiasmo das ideias – e quantas delas estão nas páginas brancas ou coloridas de livros – possa substituir a maquinação e planejamento do mal (sequestros, assaltos, desvios de dinheiro público etc. etc. etc.).
E não só sonho, faço minha parte nas aulas que ministro, nas palestras que profiro, nos artigos que escrevo, como estou fazendo aqui. Espero, também, prezado leitor, que você pratique o verbo “ajudar alguém a se interessar por leitura”.
Caminhemos...

domingo, 25 de julho de 2010

Vó Janoca e Vô Neuzim


Amanhã é dia dos avós. Aproveitando o embalo da data, decidi dedicar o espaço de hoje aos nossos queridos velhinhos. Parabéns àqueles que contribuíram para com nossa vinda ao mundo. Sintam-se abraçados por mim.
Quero falar, também, da minha relação com meus avós. Vó Júlia e vô Mocim são os pais de meu pai. Com a vó Júlia, eu e meus irmãos, tivemos algum contato. Bem pouco. Éramos muito crianças e o máximo que fizemos foi atormentá-la, coitada, com diabrices. Na ocasião, estava em São Paulo para cirurgia de catarata. Já o vô Mocim, quase não nos relacionamos. Só meu irmão mais velho, o Lúcio, construiu uma afetividade mais profunda com ele. Os dois, hoje, descansam em paz.
Já os pais de minha mãe são nossos segundos pais. Desde que nos entendemos por gente temos contato com eles. Já chegamos a morar um tempo na mesma casa, na saudosa Chácara Piloto, no Jardim TV. Que tempo bom foi aquele. Trepar em mangueiras, goiabeiras e comer fruta do pé. Moer e tomar caldo de cana escondido. Chupar jabuticaba e comer caquis geladinhos, guardados por minha vó.
A vó Janoca e o vô Neuzim sempre estiveram presentes em nossas vidas, nos abençoando e contribuindo com nossa formação. Quantos apertos passamos na infância e esses velhinhos lá, nos ajudando. Criamos uma relação bastante forte. Acho que vamos continuar ligados sempre. Não vai ter nada que nos separe.
Adoro ouvir meu avô contando os causos dele. São história lindas que, se tiver oportunidade, irei escrevê-las um dia. Minha avó, sempre ali do ladinho dele, interrompendo-o para corrigir-lhe um nome ou data equivocada (não sei como ela guarda tanta informação e de modo tão preciso).
Já carregaram tantas coisas nas costas... lenha, lata d’água, trouxas de roupas ora para mudanças repentinas arrumadas pelo meu avô, ora para um açude ou poço próximo para serem lavadas, quaradas e estendidas em alguma cerca de pau sob o sol escaldante que rapidamente secava tudo.
Mas carregaram outras coisas também. Uma família inteira. Até hoje dão guarida para este ou aquele filho que precisar. Casa de fartura, sempre que alguém chega já lhe é oferecido um café, uma bolacha, um pão...
Já disse antes e não canso de repetir: amo vocês, vó Janoca e vô Neuzim. Deus os abençoe sempre.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

Vó Janoca e Vô Neuzim

Hoje é dia dos avós. Aproveitando o embalo da data, decidi dedicar o espaço de hoje aos nossos queridos velhinhos. Parabéns àqueles que contribuíram para com nossa vinda ao mundo. Sintam-se abraçados por mim.
Quero falar, também, da minha relação com meus avós. Vó Júlia e vô Mocim são os pais de meu pai. Com a vó Júlia, eu e meus irmãos, tivemos algum contato. Bem pouco. Éramos muito crianças e o máximo que fizemos foi atormentá-la, coitada, com diabrices. Na ocasião, estava em São Paulo para cirurgia de catarata. Já o vô Mocim, quase não nos relacionamos. Só meu irmão mais velho, o Lúcio, construiu uma afetividade mais profunda com ele. Os dois, hoje, descansam em paz.
Já os pais de minha mãe são nossos segundos pais. Desde que nos entendemos por gente temos contato com eles. Já chegamos a morar um tempo na mesma casa, na saudosa Chácara Piloto, no Jardim TV. Que tempo bom foi aquele. Trepar em mangueiras, goiabeiras e comer fruta do pé. Moer e tomar caldo de cana escondido. Chupar jabuticaba e comer caquis geladinhos, guardados por minha vó.
A vó Janoca e o vô Neuzim sempre estiveram presentes em nossas vidas, nos abençoando e contribuindo com nossa formação. Quantos apertos passamos na infância e esses velhinhos lá, nos ajudando. Criamos uma relação bastante forte. Acho que vamos continuar ligados sempre. Não vai ter nada que nos separe.
Adoro ouvir meu avô contando os causos dele. São história lindas que, se tiver oportunidade, irei escrevê-las um dia. Minha avó, sempre ali do ladinho dele, interrompendo-o para corrigir-lhe um nome ou data equivocada (não sei como ela guarda tanta informação e de modo tão preciso).
Já carregaram tantas coisas nas costas... lenha, lata d’água, trouxas de roupas ora para mudanças repentinas arrumadas pelo meu avô, ora para um açude ou poço próximo para serem lavadas, quaradas e estendidas em alguma cerca de pau sob o sol escaldante que rapidamente secava tudo.
Mas carregaram outras coisas também. Uma família inteira. Até hoje dão guarida para este ou aquele filho que precisar. Casa de fartura, sempre que alguém chega já lhe é oferecido um café, uma bolacha, um pão...
Já disse antes e não canso de repetir: amo vocês, vó Janoca e vô Neuzim. Deus os abençoe sempre.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Vou lançar livro lá!!



Prezados,

é com muita alegria que anuncio minha participação na Bienal Internacional do Livro desse ano com lançamento das obras Com quantos chapéus se faz um Chapeuzinho e Júlia à procura da consciência perdida.

O lançamento acontecerá no dia 14/08/10, sábado, às 13h, no estande da UBE - União Brasileira de Escritores. Os que puderem comparecer, ficarei feliz!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Para lá e para cá


Para lá: a saudade de uma parte da gente que, ao longo do tempo, acabou nos cativando com risos e ransos, com delicadezas e rudezas, com saliva, com hormônios, com verdade e mentiras...

Para cá: sustento, dinâmica de vida, círculo de amizades (e desafetos também!), patrimônio (não muito porque o leão deixa pouco), outra parte da gente, apesar do convívio diário, procuramos não deixar virar rotina porque, como sabemos, esta nos cega.

Para lá: vez ou outra (uma ou duas vezes ao ano, no máximo), entre escapadas quase-férias, lacunas no corre-corre de ações que não param nunca... Novidades, nomes e pessoas desconhecidas, comidas e temperos diferentes (imaginem que um dia comi uma “cereja traveco”, feita de mamão).

Para cá: quase um GPS. Itinerários gravados, rotas praticamente automáticas, paisagens repetidas feitas figurinhas a serem trocadas, sabores e cores já vistos, as mesmas vozes, as mesmas queixas, as mesmas provocações...

Lá: uma utopia.

Cá: o mundo real.

Lá ou cá?
Os dois. Precisamos de ambos para o equilíbrio da vida.

O cá às vezes é o lá de alguém (ora bom ora ruim). E vice e versa, entende?



Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

domingo, 11 de julho de 2010

Família


antonio luceni
aluceni@hotmail.com

A Espanha é a campeã 2010 da Copa do Mundo. Pra não dizer que não falei...
Há algumas semanas estamos sendo bombardeados por, pelo menos, duas notícias que, no mínimo, servem para que pensemos em várias coisas; entre as quais: família.
Estou me referindo aos casos “Mércia” e “Eliza”. Nos dois casos, a família é o eixo da discussão. E se não é o centro, passa-se por ela. No caso “Mércia”, uma família presente, dedicada e corroborativa para pensar e elucidar o assassinato da advogada. No caso “Eliza”, famílias truncadas e, até certo ponto, desequilibradas, tanto por parte do algoz quanto da vítima.
A grande falência social, a meu ver, passa pelo âmbito familiar. E não estou defendendo aqui a forma tradicional de se enxergar ou se constituir família. Não. Estou propondo o (re)pensar de uma microssociedade familiar que pode (e pragmaticamente tem) optar por várias nuanças, sob múltiplas possibilidades...
Fui criado numa família muito simples, entre cinco irmãos e meus pais. Passamos por muitas dificuldades na vida: moramos sempre nas periferias das cidades onde vivemos, ganhávamos roupas e calçados, era comum reaproveitarmos cadernos e outros materiais escolares de um ano para outro, às vezes na mesa não tínhamos variedade para comer, ficávamos com o singular alimento que nos era oferecido.
Na contramão do cenário acima, sempre fomos muito unidos (e até hoje é assim). Tínhamos as discussões de praxe que todas as crianças e adolescentes têm, mas sempre nos respeitávamos muito. Herança que nos foi deixada desde cedo pelo meu pai Cícero e minha mãe Maria.
Em meio às adversidades da vida e a possibilidade de debandarmos para o lado ruim da sociedade – e os exemplos aqui são desnecessários – sempre optamos pelo caminho da honestidade, do caráter, da fraternidade. Talvez você pense, prezado leitor, que estou falando de sacrossantos humanos que beiram a angelical parcela privilegiada de escolhidos d’outro mundo. Talvez alguém ache um exagero falar de altruísmo, seriedade, ombridade e tantas outras coisas “fora de moda” e por vezes “piegas” nessa sociedade tão desconfortante (na ausência de adjetivo mais claro!).
Mas existem, sim. São importantes, sim. É possível, sim. Nós devemos acreditar que, para além das aberrações a que somos submetidos diariamente nos telejornais, é viável criar e educar filhos e pessoas num caminho de retidão e de gente de boa fé.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

domingo, 4 de julho de 2010

De volta ao mundo real


Tudo parecia um sonho: arquibancadas cheias, gente também cheia de energia. Um pedaço de couro inflado. Homens de um lado para o outro sob uma perseguição sem fim, atrás de um objeto não muito valioso (ao menos do ponto de vista financeiro) como se estivessem a correr atrás de um frango para matar a fome (lembro-me da cena inicial do Cidade de Deus).
Por algumas semanas foi assim. Mudaram toda nossa rotina: bancos fechando ou abrindo mais tarde, ruas congestionadas em horário que nem era de pico ainda, buzinhas infernais (apelidadas de um nome que mais parecia o diminutivo de uma matriarca) e estouros que ora nos faziam saltar da cadeira.
Os comentários eram sempre os mesmos: “Você viu, a gente vai chegar lá!”, “Nossa, foi chorado, mas valeu!”; e outros nem tão animadores assim: “Pura sorte!”, “Com um time desse, até eu ganharia!”...
O sonho que até essa altura era azul, agora estava ficando mais, digamos assim, alaranjado. E ele se tornou realidade. No começo: animação, entusiasmo, força... Depois, a verdade: o amarelo invadiu nossa gente. Todo mundo amarelou de medo. Então foi assim: azul x laranja = azul (1º tempo). Azul x laranja = amarelo de medo (2º tempo). Azul x laranja = laranja (final).
Laranja na final? Todo mundo passou mal! Todo mundo de cá, porque de lá(ranja), só alegria. Alegria geral, alegria na geral, alegria fatal! Ora(nge)nte! Tá com sede? Bebeu água? Não? Tomou guaraná? Suco de caju? Não! Suco de laranja!
Murchos, coitados, nem quiseram falar. Cada um voou para seu lugar. Comemorar o quê? A gente até quis torcer, né? Mas já sabia, ou não sabia, minha gente?
Ficou pra outra vez. Quem sabe, aqui no Brasil? Mas com gente séria, que tá a fim de jogar. Se não: não dá!
Nosso consolo: los hermanos! Foi a glória. De 4 a zero. Não poderia ser melhor! E as expressões? E as feições no final do jogo? E que jogo! Os branquinhos incansáveis, correndo atrás da bola. 3 a zero, jogo ganho? Não! Correram mais, até o último segundo: luta.
Nessa tal de globalização e numa festa como essa em que as nações se enfrentam para uma guerra do bem, acho que temos muito a aprender com outros países.
Bem-vindos de volta ao mundo real!

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Tsunamis mundiais!



Cala boca, Galvão!, enchetes no nordeste, 0 x 0 Portugal/Brasil, 3 x 1 Argentina/México. É, as últimas semanas foram realmente sufocantes para muita gente do Brasil e do mundo.
Primeiro, acho feio esse termo “cala a boca”. Coisa de gente sem educação, na minha opinião. Há várias maneiras de se fazer a mesma coisa, não é mesmo? Por exemplo, ao invés de mandar o Galvão calar a boca há uma pecinha bastante antiga entre nós chamada “controle remoto”. O mecanismo é simples: não estou satisfeito com esse ou aquele programa, aperto uma das teclas (normalmente em inglês channel) para frente ou para trás e... pronto! Problema resolvido. Aí, não precisariam ser tão grosseiros.
Saiu uma matéria extensa na Veja desta semana analisando, sob muitos aspectos, a catástrofe que abalou parte de Alagoas e Pernambuco nos últimos dias. Vale a pena lê-la. O pior: um acidente presumível, mas que pouco foi feito para evitá-lo. Quase uma ironia do destino: uma região no País tão sofrida por causa da seca, morrer tanta gente afogada.
Não sei se já comentei com você, prezado leitor, mas não estou assistindo aos jogos dessa Copa. Desde a palhaçada (com perdão dos profissionais de circo) da Copa na França, prometi para mim mesmo não gastar mais nem uma gotinha (não sei se pode ser medida assim!) da minha adrenalina por causa de futebol. Mas quem aguenta, né?! 0 a 0 Brasil e Portugal. Que jogo feio. Que futebol arte? Onde estava Cristiano Ronaldo? E o Kaká, onde está?
Agora, 3 a 1 Argentina e México... que foi aquilo, minha gente?! Para os argentinos sempre há quem dê uma mãozinha, bandeiradazinha, roubadinha... Aliás, esses juízes e bandeirinhas estão loucos. Primeiro na partida da manhã um gol impedido da Inglaterra. À tarde, aquela coisa louca em benefício do hermanos. Como diria o outro: assim não pode, assim não dá!
Parece que as más notícias estão vindo para nós, brasileiros, como tsunamis mundiais.
Tomara que essa onda passe!


Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

domingo, 20 de junho de 2010

Saramago para o corpo e a alma









Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

José de Sousa Saramago nasceu em Portugal em 1922. Era para ter sido registrado com o mesmo nome do pai, mas o tabelião acrescentou o apelido que o deixaria conhecido no mundo todo: Saramago, que também dá nome a uma planta que serve de alimento para os pobres em tempos difíceis. Aí, as disgressões de sempre:
a) Desde o início estava fadado a agir do lado mais fraco, o lado da precariedade da vida. Se saramago era ração para pobres, Saramago também o foi. Eu que sou plebeu, que não tenho pedigree, vira-lata cultural e intelectual. A mim me interessa a piadinha do boteco de esquina aos mais cátedros níveis intelectuais. Saramago serviu para matar minha fome.
b) Meu Deus! Mais uma vez essa: literatura como alimento para famintos. Lembro-me de seu Ensaio sobre a cegueira. Quase fiz par com a multidão de zumbis do livro, tal forte e eficaz a estrutura do texto sem paragrafações, travessões ou quaisquer outros artifícios linguisticos que contribuissem para uma leitura às “claras”. Mas a esperança apareceu no final do túnel (vindo de um amuado, um final surpreendente).
c) Na possibilidade de os menos afortunados se colocarem na vida e se fazerem escutar por meio da literatura. Assim como milhões de brasileiros, Saramago era de origem humilde, quase não pode cursar uma faculdade e seu primeiro livro, segundo informações ventiladas na mídia, conseguiu aos 19 anos, com dinheiro emprestado de um amigo. Quanta demora para um encontro com algo que faria parte da sua vida e morte (ele estava lá, nas mãos de alguns em meio à multidão, se despedindo de seu criador. Agora, é a criatura que irá continuá-lo).
d) Um comunista, um revolucionário que usou de uma arma tão eficaz a ponto de censurá-lo em seu próprio país e, mesmo não sendo formal a postura, o exílio foi sua melhor opção. É, a palavra é penetrante e eficaz como uma espada de dois fios. Livros seus foram proibidos (mas o homem escrevia ficção, minha gente). Quem tem medo de lobo mau?!
Fiquei pensando nessas coisas. Fiquei pensando o quanto saramago faz bem pra gente. Fiquei pensando o quanto Saramago teria deixado falta se não passasse por aqui. Agora, está noutra parte do universo provocando, observando tudo, quem sabe escrevendo um novo livro? De uma coisa podemos estar certos: vai continuar alimentando muita gente.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

CARTA-RESPOSTA ÀS ALUNAS DO 6º TERMO DE PEDAGOGIA


Prezadas,

é com grande alegria que recebo notícias de vocês. Meu sentimento com relação ao nosso percurso deste semestre é muito parecido, principalmente no que se refere ao aprendizado.
Nossa vida é assim mesmo, costurada por diferentes sentimentos que se intercalam e fazem a gente viver as várias emoções necessárias para a formatação do que chamamos vida. É por meio dos contrastes - amor/ódio, alegria/tristeza, esperança/desilusão... - que conseguimos valorizar nossas experiências. Afinal, o "viver feliz para sempre" só funciona em contos de fadas, não é mesmo?
Gostaria também de desejar-lhes sucesso nessa caminhada que se aproxima do final (será?!). Que vocês levem em vossos corações - e que seja extensivo às vossas salas de aula - todo esse esforço em querer fazer as coisas bem feitas, o gás que faz com que acordemos e encontremos motivos para continuar a caminhada.
Mais uma vez tudo de bom e que Deus as abençoe.

Prof. Antonio

PS - Deixe um comentário logo abaixo para validar seu texto da sala.

CARTA-RESPOSTA AOS ALUNOS DO 1° TERMO DE ARTES VISUAIS


Estimados alunos,

É com grande alegria que recebo as mensagens de vocês e fico muito feliz com os comentários feitos.
Também para mim foi muito prazeroso o trabalho desenvolvido ao longo do semestre e, assim como descrevem em vossos relatos, aprendi bastante em nossas aulas com cada um de vocês.
Quando se referem à antipatia que sentiam sobre nossa Língua Portuguesa, infelizmente, não é algo só de vocês. Muitas vezes o contato dos alunos - e das pessoas de modo geral - com gramática, literatura e produção de textos é algo truncado e cheio de problemas. Quando dizem que, de certa forma, pude resgatar esse contato de vocês com a Língua de forma positiva, fico bastante feliz. Inclusive, entre vocês, de alunas que já estão com intenção de se matricularem num curso de Português. Isso é muito bom.
Com relação ao lado mais "humanizador" de nossas aulas (no resgate de histórias da vida de vocês, nas reflexões de escrita a partir de elementos do cotidiano e de fatos próximos da gente etc.) é assim mesmo! Tudo na escola deve - e isso é muito particular - pensar a vida e contribuir com nossa relação com ela.
Bem, prezados, fico por aqui e espero que tenham ótima férias.
Um forte abraço,

Prof. Antonio

P.S. Deixe um comentário logo abaixo dessa carta e valide seu trabalho de sala.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Meus oito anos


Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar - é lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Infância


Carlos Drummond de Andrade

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Vai que é tua, Brasil!


Gol de letras

Antonio Luceni

A bola
(bela bola)
pula e salta
pelas pernas
pontas a dentro
do gol.
Bom de pulo,
bom de peito,
bota fora o desespero
ao ver entrar
no vácuo gradil
todo drama,
todo trama
e gritar
gooool!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

GRUPO DE ESTUDO EM LEITURA E LITERATURA INFANTO-JUVENIL DA SECRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO DE ARAÇATUBA - UMA ALTERNATIVA PARA FORMAÇÃO CONTINUADA

Antonio Luceni dos Santos (SME/Araçatuba/SP)

Ninguém educa ninguém,
Ninguém se educa sozinho.
Os homens se educam em comunhão,
Mediatizados pelo mundo.

Paulo Freire

Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata,
Mas com gente é diferente.

Geraldo Vandré

RESUMO
O trabalho busca refletir sobre formas de formação continuada a partir de experiência desenvolvida na Secretaria Municipal da Educação no município de Araçatuba junto a diretoras, coordenadoras pedagógicas e professoras da Rede Municipal. Com o intuito de discutir algumas questões relacionadas ao universo do texto estético dirigido para crianças e adolescentes e, nesse viés, propor um encaminhamento de leitura tendo por base o texto literário, contribuir e dar forma à nova Proposta Político Pedagógica da cidade de Araçatuba. Fazer de Araçatuba uma cidade leitora a começar desde as séries iniciais na Educação Infantil, com várias ações que atinjam os diferentes espaços da infância.
Palavras-chave: Grupo de estudo, Formação continuada, leitura, literatura infanto-juvenil

INTRODUÇÃO
Há muito tempo, quando se pensava num curso de graduação, é recorrente a ideia de que apenas a conclusão do curso superior era suficiente não só para garantia de vaga no mercado de trabalho, mas também como forma de exprimir um certo status quo com relação ao pensamento intelectualizado, concluso e definitivo portanto. Na última década, entretanto, essa condição de imutabilidade das coisas foi colocada em xeque e entende-se que, concluída a graduação, é imprescindível a continuidade na formação profissional como forma – no mínimo – de manter-se atualizado e condizente com as realidades propostas pelo nosso cotidiano, marcado cada vez mais por mídias tão velozes e volúveis quanto seu próprio tempo (pensemos, por exemplo, na internet e todas as micromídias nela presentes como chats, orkut, twitter, e-mails, blogs etc., etc. etc...).
Para Nóvoa (1995) : “O aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente”. Para esse estudioso português, a formação continuada se dá de maneira coletiva e depende da experiência e da reflexão como instrumentos contínuos de análise.
Visto sob este aspecto é importante pensarmos no professor e demais agentes escolares (diretor, coordenador pedagógico, principalmente) como agentes-pesquisadores (professor-pesquisador, coordenador-pesquisador, diretor-pesquisador) e não somente como agentes repetidores de ações ou repassadores de “recados” para o alunos, como uma “cascada-burocrática-engessadora” que deságua na sala de aula, no aluno por assim dizer.
Ainda para Nóvoa, uma melhor educação depende, em muito, do enriquecimento da qualidade e continuidade da formação de professores, com práticas pedagógicas e atividades diferenciadas que incluam a observação, a análise e a responsabilidade por atividades docentes.
Em se tratando do profissional da Educação Básica, séries iniciais, essas questões de formação continuada e de professor-pesquisador parecem revestir-se de uma maior responsabilidade, haja vista o tratamento dispensado às crianças ao longo da história da humanidade e, no recorte aqui feito, de modo particular na escola, isto é, a criança como alguém vazio, sem nenhuma experiência que pudesse contribuir com seu próprio aprendizado e dos colegas e, principalmente, com o professor. É bom pensarmos, também, que até bem pouco tempo, antes da LDB 9394/96, para se atuar numa sala de aula do Ensino Infantil e Fundamental de 1ª a 4ª série bastava ter apenas um curso técnico, Magistério.
O professor deve ser capaz de levantar dúvidas sobre seu trabalho. Não apenas ensinar bem a fazer algumas contas de Matemática ou a ler um conto. É preciso ir mais fundo, saber o que acontece com o aluno que não consegue desenvolver essa ou aquela atividade, por que aprende esse ou aquele conceito. Nesse sentido, o grande laboratório para a continuidade da formação docente será sempre sua sala de aula, com todas as suas nuanças, suas particularidades e suas especificidades. O professor deve ser, também, um grande provocador para que o aluno sinta-se curioso e estimulado a buscar novos conhecimentos, elaborar novos conceitos e rever os já cristalizados, convencionalizados pelo tempo.
Quando o professor faz isso corretamente, o aluno aprende a gerir seu estudo, dificilmente ele será alguém que só decora, porque o mestre insere nele estratégias de interrogação e busca formá-lo como um indivíduo autônomo.

Discutindo um pouco sobre alguns aspectos da leitura
Pensar em leitura no Brasil é, sem dúvida alguma, propor-se a um grande desafio. A começar pelos altos preços ainda cobrados pelos livros, pensar na grande ausência de bibliotecas nos bairros e nas próprias escolas e por aí vai. Pensar em leitura para a criança é maximizar ainda mais esse desafio já que esta depende quase que exclusivamente de um adulto para a iniciativa de ler para ou por ela, quer seja o pai ou a mãe, um professor ou bibliotecário, e assim por diante.
Os dados acima, somados aos muitos outros que não nos cabe aqui relatar, afunilam e caracterizam o baixo nível de desempenho que nossos alunos têm atingido em avaliações sejam em nível municipal, estadual ou federal e até internacional, como é o caso do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, órgão ligado à UNESCO), em que o Brasil atingiu em 2006 a 52ª posição, num total de 57 países avaliados, ficando atrás apenas do Quirziquistão, Catar, Azerbaijão, Tunísia e Colômbia, países em condições sociais e econômicas bem mais inferiores que as de nosso País.
Um outro aspecto da leitura é que ela ocorre nas diferentes fases de nossa vida. Desde que nascemos somos “forçados a ler”. Essa leitura dá-se por meio dos diferentes sentidos: a) No olfato, quando o bebê sente o cheiro dos seios fartos para se alimentar ou, mesmo adulto, ao chegar para o almoço e consegue adivinhar o cardápio já do portão; b) Na visão, profícua leitora de gestos, paisagens, pinturas e esculturas, das letras, dos pentagramas e tudo mais; c) Na audição, na sensibilidade do choro, do grito de socorro, do ronco do motor, da sirene... d) No paladar que se inicia a procurar os vários níveis do amargo e doce, do ardido e suave, do cremoso e do crocante...; e) No tato da pele do pêssego e do figo, das rugas e calos das mãos do trabalhador, da pele d’água e tudo mais... Ou tudo isso combinado, juntos, num mix de sensações.
Pensando que há diferentes tipos de textos e leituras não podemos encará-los e nos relacionarmos com eles da mesma maneira, isto é, se temos diversidade de textos, logo, teremos diferente tipos de leitura. Para Ana Maria Kaufman:
Os textos, enquanto unidades comunicativas, manifestam diferentes intenções do emissor: procuram informar, convencer, seduzir, entreter, sugerir estados de ânimo etc., em correspondência a estas intenções, é possível categorizar os textos, levando em conta a função da linguagem que neles predomina. Kaufman (1995)
Tendo em vistas essas diferentes intencionalidades dos textos nossa relação com eles terá menos ou mais eficácia na medida em que conseguirmos perceber como se estruturam, como se propõem, como dialogam conosco. E esse processo de leitura é algo que dura a vida toda, conforme afirma Maria Helena Martins: “... o homem lê como em geral vive, num processo permanente de interação entre sensações, emoções e pensamentos”. E quais textos presentes na escola trabalham tanto com sensações, emoções e pensamentos mais do que o texto literário? Para Ricardo Azevedo:
É preciso, a meu ver, que dentro do processo educacional, ao lado das matérias oficiais, seja criado espaço para inferências mais amplas: que apresentem a existência humana na sua complexidade, como um processo subjetivo inevitavelmente contraditório (fazemos projetos futuros e sabemos que vamos morrer); mostrem que as relações com o Outro são também essencialmente contraditórias (só podemos enxergar o Outro a partir de nossa experiência e esta não consegue englobar a experiência do Outro, que é singular e única); lembrem que todos os seres humanos, independentemente de faixas etárias, são aprendizes; assinalem que é difícil, por vezes impossível, separar realidade e ficção e o que chamamos de “realidade” é uma construção sócio-cultural. (AZEVEDO, 2005)


Como vemos, estamos sempre com um pé na realidade e outro na ficção. E isso é muito mais do que necessário, é espontâneo. Precisamos da ficção para viver. Desde que existimos (é só lembrarmos dos nossos antecessores nas cavernas) pintamos e desenhamos, esculpimos, construímos artefatos para os mais diferentes fins, cantamos, dançamos, erguemos monumentos e construções, escrevemos e lemos...
Bartolomeu Campos Queirós, respeitado escritor brasileiro, em seu Manifesto por um Brasil literário, declara o seguinte:
É no mundo possível da ficção que o homem se encontra realmente livre para pensar, configurar alternativas, deixar agir a fantasia. Na literatura que, liberto do agir prático e da necessidade, o sujeito viaja por outro mundo possível. Sem preconceitos em sua construção, daí sua possibilidade intrínseca de inclusão, a literatura nos acolhe sem ignorar nossa incompletude. É o que a literatura oferece e abre a todo aquele que deseja entregar-se à fantasia. Democratiza-se assim o poder de criar, imaginar, recriar, romper o limite do provável. Sua fundação reflexiva possibilita ao leitor dobrar-se sobre si mesmo e estabelecer uma prosa entre o real e o idealizado. A leitura literária é um direito de todos e que ainda não está escrito. (QUEIRÓS, 2009).

Conforme afirmado acima, é no texto literário que teremos oportunidade de nos pronunciar, de problematizar e questionar as verdades cristalizadas e convencionadas, é o nosso “confecionário” em que podemos nos declarar sem pudor, sem receio do ridículo ou do “errado”. Aliás, o errado, o não-possível, o inusitado e não-existente têm razão de ser, de se apresentarem.
Por outro lado, de modo geral, o que vemos em nossas escolas – sejam elas particulares ou públicas – é uma quase ausência de procedimentos e ações mais direcionados e voltados para o texto estético, conforme afirma Maria Alice Faria:
Geralmente, em trabalhos com a leitura e a elaboração de textos narrativos ou poéticos, costuma-se solicitar dos alunos que produzam textos espontâneos, como se eles dominassem instintivamente todos os elementos básicos na construção de narrativas ou de poemas. Essa é uma idéia muito corrente na escola, a de acreditar que a criatividade das crianças já é suficiente para elaborar (criar) suas histórias e pequenos poemas. Mas a aquisição dessas competências passa de início pela leitura e audição de narrativas e poemas. (FARIA, 2004)
Tendo em vista o exposto, notamos que, mesmo o texto literário/estético aparecendo de forma pontual e muito tímida na sala de aula, quando é trabalhado não atende ou cumpre com as metas e/ou características intrínsecas a ele.
Somado a esta deficiência há outra, igualmente grave que precisa ser diluída ou, pelo menos, minimizada: a formação dos profissionais da educação e, mais especificamente, das unidades escolares, isto é, diretores, coordenadores pedagógicos, professores, recreacionistas etc... Ainda para Maria Alice Faria:
Daí a grande importância de o professor ter uma formação literária básica para saber analisar os livros infantis, selecionar o que pode interessar às crianças num momento dado e decidir sobre os elementos literários que sejam úteis para ampliar o conhecimento espontâneo que a criança já traz de sua pequena experiência de vida. (FARIA, 2004).

Mas como ter elementos para análise, seleção e indicação de obras literárias infantis se esta área do saber é algo razoavelmente recente, tendo sido incluída nas grades curriculares dos cursos superiores somente nas últimas duas décadas, praticamente e, por esse motivo, nossos educadores não terem tido acesso a ela? Como falar de gosto pela literatura infantil se nós mesmos, quando crianças, não lemos ou ouvimos literatura infantil, não conhecemos autores e obras? Estas e outras questões contribuíram – somado aos outros elementos já citados anteriormente – para que, dentro da Coordenadoria de Projetos de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Secretaria Municipal de Educação de Araçatuba – fosse proposto um Grupo de Estudo em Leitura, tendo como eixo básico e como fio condutor a leitura de textos estéticos/literários dirigidos para crianças e adolescentes.

O Grupo de Estudo da Secretaria de Educação e seu foco de interesse
A proposta de formar um Grupo de Estudo voltado para pensar leitura e literatura infantil e juvenil, como dito antes, foi no sentido de propiciar para os professores da Rede Municipal de Araçatuba um momento de reflexão e estudo sobre essas áreas de conhecimento. Também, dentro de uma proposta maior, estimular a presença de obras de caráter estético-literárias no cotidiano escolar de nossas crianças, sob forma de convite aos educadores.
O convite deu-se na primeira reunião de Diretoras do mês de agosto deste ano e, durante um mês, foram recebidas as inscrições. De um universo de aproximadamente 600 professores da Rede Municipal, apenas cinco professoras fizeram inscrição. Em contrapartida, o que num primeiro momento não era público alvo, acabou caracterizando o grupo: a adesão de quase um terço das diretoras da Rede Municipal.
Problematizado o porquê de não abrir espaço para que também as diretoras e coordenadoras pedagógicas participassem do grupo de estudo, não vimos razão para não fazê-lo e, desde o primeiro encontro do grupo, em 09 de setembro de 2009, o Grupo de Estudo em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil ficou constituído da seguinte forma: 23 integrantes, sendo: 14 diretoras (12 do Ensino Infantil e 2 do Ensino Fundamental I), 03 coordenadoras pedagógicas, 04 professoras, 01 supervisora de ensino e a Diretora de Educação e Ensino da Secretaria de Educação.
Esta situação trouxe duas reflexões, pelo menos, para rever a proposta:
1) Por que razão os professores da Rede Municipal não se interessaram em participar do grupo de estudo? e,
2) O que motivou as diretoras a quererem participar do referido Grupo?
Ouvindo os participantes no primeiro encontro, procuramos esclarecer tais questões. Sobre a primeira, o grupo entendeu que pelo fato de muitos professores dobrarem período e, por os encontros acontecerem somente durante as tardes e em horário de expediente, muitos ficaram prejudicados na participação. Houve ainda quem sugerisse certo descaso ou desinteresse, mesmo.
Com relação à segunda pergunta, o fato de o contato ser diretamente com as interessadas, isto é, diretoras e coordenadoras na maioria, ficou fácil determinar as razões do interesse na participação. Segundo elas, há poucas oportunidades de cursos e ações voltadas para capacitação e atualização dos gestores da Rede sendo que as que surgem são bem aproveitadas. Além disso, segundo elas, o tema foi atraente.
Estas reflexões todas são válidas e merecem nossa ponderação, entretanto, é comum observarmos na formação de nossos educadores de modo geral a perspectiva e a sensação de que o curso da graduação é suficiente para a formação e atuação em sala de aula. A título de exemplo podemos mencionar o grande número de professores inscritos nos cursos de graduação do País logo imediatamente à aprovação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 9394/96. Isto porque a referida Lei determinava que todos os professores que não tivessem um curso superior teriam um prazo de dez anos, a partir da aprovação da Lei, para que cursassem um, sob risco de perderem seus cargos caso não o fizessem, o chamado “decênio” da LDB.
Sobre isso, Freire (1996) afirma que: “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática”. Também, retomando o relatório para UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, Educação, um tesouro a descobrir, no seu quarto capítulo sobre os pilares da educação, o “Aprender a conhecer” deve ser algo constante no cotidiano de qualquer área do conhecimento, sendo a Educação uma delas:
Esse tipo de aprendizagem que visa não tanto a aquisição de um repertório de saberes codificados, mas antes o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento por ser considerado, simultaneamente, como um meio e como uma finalidade da vida humana. Meio, porque se pretende que cada um aprenda a compreender o mundo que o rodeia, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para viver dignamente, para desenvolver as suas capacidades profissionais, para comunicar. Finalidade, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir. (UNESCO, 1997).
Como observamos, pensar numa educação continuada é, principalmente, pensar numa melhor qualidade de vida, numa relação com o mundo de forma mais eficaz e dinâmica, é extrair o que há de melhor nas relações sociais, é contribuir para um pensamento crítico e reflexivo mais apurado, ou pelo simples fato de absorver o saber com sabor, pela satisfação em conhecer o novo, em ter contato com descobertas nas várias relações com o mundo.

CONCLUSÃO

Tendo em vista as considerações levantadas anteriormente e, ainda, questões que ficam em aberto com relação à formação do professor, os meios, oportunidades e condições propiciadas para que esse profissional possa colocar em prática a Formação Continuada e traga à consciência sobre a importância de colocar sua prática pedagógica nesse processo contínuo em busca da construção do saber, o que significa a constituição de uma conduta de vida profissional; sobre a importância dessa mudança na prática pedagógica e na implicação da releitura da função do professor como profissional reflexivo e da escola em conhecer o novo, em ter contato com descobertas nas várias relações como organização promotora do desenvolvimento do processo educativo, entre outras questões que não cabem ser discutidas nesse momento, é preciso dar-se conta de que esse processo de constante atualização e levantamento de novas questões educacionais para busca de soluções para velhos problemas presentes na escola e até fora dela relacionados à Educação além de necessário é imprescindível para uma sociedade mais justa, igualitária, democrática e oportunizadora. Para formação de cidadãos atuantes como sujeitos e não apenas como indivíduos. Cremos, nesse sentido, que as reflexões trazidas pelo Grupo de Estudo da Secretaria da Educação de Araçatuba nos campos da Leitura e Literatura Infantil contribuem para atingir esses objetivos.

BIBLIOGRAFIA

• AZEVEDO, Ricardo. Aspectos instigantes da literatura infantil e juvenil, site do autor www.ricardoazevedo.com.br, 2005.
• DELORS, Jacques. Trad. José Carlos Eufrázio. Um tesouro a descobrir - relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. CORTEZ. UNESCO. MEC. Ministério da Educação. São Paulo: Cortez, 1997.
• FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
• FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
• MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1982.
• NÓVOA, Antonio. (coord). Os professores e sua formação. Lisboa-Portugal, Dom Quixote, 1997.
• QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Manifesto por um Brasil literário. www.brasilliterario.com.br, 2009.
• KAUFMAN, Ana Maria e RODRIGUEZ, Maria Helena. Escola – leitura e produção de texto. Porto Alegre: ArtMed, 1995.