sexta-feira, 21 de junho de 2013

FOCO, POR FAVOR!

*Graduando em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie

As recentes manifestações que reanimaram a população brasileira em favor da diminuição das tarifas de ônibus em diversas capitais, mostram que, de um modo geral, a população está insatisfeita com a administração pública, e com as decisões tomadas pelas autoridades ao longo dos 21 anos que nos separam das últimas manifestações populares de proporções semelhantes. Antes de entrar no tema de hoje, gostaria de ressaltar meu repúdio à Polícia Militar do estado de São Paulo que agiu de forma violenta na quinta-feira, enquanto eu e alguns amigos participávamos do protesto na capital paulista.

É válido ressaltar a falta de vergonha da própria polícia e de órgãos como o Datafolha em afirmar que as manifestações em São Paulo movimentaram apenas 65mil pessoas. Ou a polícia desaprendeu a contar, ou acredita que nós não sabemos fazê-lo. Quando há passeatas como a Passeata Gay, que toma a avenida paulista por inteira, a polícia divulga um público de 1 milhão de manifestantes, da mesma forma como acontece com outras manifestações como a Marcha para Jesus ou similares. Na noite de segunda-feira, a população paulistana tomou a Avenida Faria Lima desde o Largo da Batata até além Avenida Berrini, num percurso maior e mais largo do que a Avenida Paulista. Fora estes protestos na zona sul, uma multidão de manifestantes concentrava-se na Brigadeiro Luís Antônio e na própria Avenida Paulista.

A multidão de manifestantes na capital paulista

Ora, ninguém aqui é estatístico, mas não precisa ter muita habilidade matemática para enxergar que sem nenhuma dúvida, as manifestações só em São Paulo mobilizaram mais de 1 milhão de pessoas. O que dizer então das manifestações em outras capitais como o Rio de Janeiro e cidades do interior do estado como a querida Araçatuba? Enquanto jornais como a “Falha” de São Paulo publicaram que cerca de 250 mil pessoas foram às ruas do País protestar, eu prefiro ver a realidade e acreditar que só em  São Paulo, esse número ultrapassa 1 milhão de manifestantes e pode chegar a 4 milhões em todo País. De qualquer modo, estes dois últimos parágrafos foram somente um protesto particular e não têm relação direta com o tema da postagem. Mesmo assim, gostaria somente de expressar minha indignação diante do que é reproduzido por aí sem qualquer senso crítico.

Voltando ao tema, é necessário lembrar que o grupo que começou estes protestos, Movimento Passe Livre, tem defendido o discurso de que o cerne do protesto é somente e tão somente contra o aumento das tarifas do transporte público. Qualquer protesto de insatisfação diante da saúde ou educação é muito bem vinda, entretanto não representa o objetivo central dos protestos. As manifestações contra a Copa das Confederações vêm ganhando força nas capitais que recebem os jogos e, particularmente, acredito ser um protesto legítimo e necessário. Desde o quarto protesto na quinta-feira, fiz questão de engrossar o coro que gritava “Copa do mundo, eu abro mão! Quero dinheiro pra saúde e educação!”. Pena que a polícia não gostou e mandou bala de borracha e gás lacrimogêneo em nós. Entretanto, temo que a dispersão dos temas crie um movimento de nacionalismo vulgar e descaracterize o que une o grupo. 

Entre patricinhas de olho azul e rastas de olho vermelho, almofadinhas pró PSDB e pseudoesquerdistas pró PT, os coros que se espalhavam pela avenida partiam de: “Fora Alckmin”, passando por “Enfia o dinheiro no SUS” e “Brasil, vamos acordar, um professor vale mais do que o Neymar”, até “Acabou o amor, isso aqui vai virar Turquia” e “Ei, Haddad, vai tomar busão! Alckmin também, vai andar de trem!”. Se por um lado é interessante ver que a insatisfação popular é generalizada, por outro é preocupante. Qualquer dissonância política ou ideológica dentro do grupo pode criar forças contrárias que passem a brigar por atenção e desfoquem o sentido original das  manifestações. 

É de urgente importância que nós protestemos contra a vergonha da nossa educação e a nojeira de nosso sistema de saúde, mas que criemos outro movimento com uma identidade particular e com pautas de discussão bem definidas para que não haja cisões. Precisamos de FOCO! Sou a favor de todas as reivindicações feitas, mas elas precisam acontecer uma por vez, ou ninguém irá escutar. Pelo bem da manifestação, não podemos deixar que isso vire uma micareta fora de época.

Ontem, durante o protesto na Avenida Paulista, o que vi me deixou bastante chateado. A avenida parecia um grande carnaval, cada um gritando o que queria, reclamando de todas suas insatisfações. Concordo que o protesto vai além dos 0,20 centavos, mas, nessa hora, precisamos ter foco para conseguirmos aquilo que realmente queremos, e não passear como grupos de dança, ficar bebendo até cair ou fumando maconha pela cidade. Isso é um protesto, uma manifestação, e não uma grande festa. Que  festa seja, sim, mas após conseguirmos o que tanto queremos. Daqui a pouco, vão distribuir abadás, e criar carro alegórico! 

Vamos manifestar contra a situação do nosso País, mas o mínimo de organização é necessário! Depois que conseguirmos abaixar o valor das tarifas, vamos criar outro movimento por um outro motivo justo. Não acredito que deveríamos abandonar os gritos e cartazes que apontam para outros problemas, mas em nenhuma hipótese devemos atropelar o objetivo principal deste protesto! Que as outras indignações sirvam para mostrar às autoridades que depois que a tarifa abaixar, nós vamos colocar outro assunto em pauta, protestar e parar a cidade. E enquanto estivermos protestando pelo próximo assunto, que os cartazes e gritos de qualquer outro tema não ofusquem o objetivo principal, mas apenas apontem para o próximo motivo. 

No próximo artigo, pretendo falar sobre mobilidade urbana e o sistema de transporte público de Araçatuba e São Paulo, afim de reforçar as críticas que o Movimento Passe Livre já vem levantando. Como urbanista, este tema me interessa, e acredito poder contribuir para a reflexão. Assim, aos poucos, de protesto em protesto, com a paciência histórica que Lenin nos ensinou, não podemos nos retirar da luta. Em meio a protestos pessoais, indignações sociais diversas, anarquistas, oportunistas despolitizados, trotskystas, cidadãos comprometidos com o futuro do País e vândalos cheios de razão, vamos em frente lutando pelas causas justas, uma de cada vez, com foco e determinação.

No primeiro texto publicado aqui no blog, eu apontei minhas questões sobre: o que é falar de arquitetura e urbanismo, ou qual o papel do arquiteto e, até mesmo, o que é arquitetura e urbanismo? Agora, em meio a tudo isso, acredito que ser arquiteto é também falar e lutar pelas cidades e causas sociais.

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