sábado, 22 de junho de 2013

QUANDO TUDO MUDA UM POUCO

*Jornalista e Turismólogo

Hoje, peço licença para citar uma obra literária e falar da vida, mesmo sendo apenas um leitor mediano. Acontece que tenho uma relação muito estranha e divertida com a obra “Cem anos de solidão”, de Gabriel Garcia Márquez. A primeira afinidade é pela qualidade do texto: indiscutível.  A segunda, é por algo bem curioso e particular: todas as vezes que me atrevo a relê-lo, minha vida, assim como a dos moradores da pequena Macondo, também muda.


Como diz a canção de Chico Buarque, a roda viva vida sempre me envolve e me leva para outro lugar quando pego o livro e começo a acompanhar a vida dos Arcádio Buendia. E foi em uma destas ventanias provocadas pelo livro que vim parar em Araçatuba, há oito anos. Ao tentar reler esta obra-prima que aconteceu. Começou com uma proposta profissional, em um telefonema no final da tarde, e acabou, de repente, em uma mudança de "mala e cuia", com direito a criança chorando e esposa apreensiva. Saímos de Andradina e, desde então, só voltamos para lá pontualmente. 

Assim, a vida muda de uma hora pra outra, mas, quando olhamos com atenção, os cenários são outros e a essência dos personagens são quase sempre as mesmas. Há uma frase que ouvi do escritor Mário Prata que nunca mais saiu da minha cabeça. 

Em uma entrevista que fiz com ele via Folha da Região, perguntei o que sentia quando viajava para Lins, sua cidade de infância. Ele fez uma pausa, pensou e fez uma confissão. Ele me disse que quando voltou à cidade, anos depois, achou que muita coisa havia mudado. Depois, com o tempo, notou que, na realidade, nada tinha mudado.

E assim acaba sendo a vida da gente. Parece que tudo mudou, mas as mutações não são tão céleres como acreditamos. O ser humano demora um pouco mais para se formar em outro, pois a revolução tem que vir de dentro, e isso demanda, além de tempo, disponibilidade. Assim como está escrito no “Cem anos de solidão”, o mundo avança, mas dando voltas ao redor do sol. Se não nos reinventarmos, apenas vamos andar em círculos, seguindo o curso do mundo, que vai e volta ao mesmo ponto.

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