terça-feira, 27 de agosto de 2013

Grafite: uma linguagem subversiva

Jornalista e escritor
A Praça Abano Ventura, também conhecida como “Praça da Juventude” ou “Praça do Skate” é um dos lugares mais frequentados pela população araçatubense e região, não somente nos finais de semana – quando fica mais cheia, mas também ao longo da semana. É comum passar pelo local as dez ou onze horas da noite e encontrar jovens por lá, com seus skates, pendurados ao vento, em manobras radicais.

Passei lá por esses dias e vi alguns grafites sendo iniciados na pista. Gosto muito da linguagem “street” de arte: a expressividade das formas, a inquietude/protesto intrínseco a ela, as cores fortes e vibrantes, a mistura de técnicas de pintura a óleo e látex, o grafismo que imiscui legibilidade e codificação, sugerindo o clandestino e enigmático da arte que lhe deu origem.

O que antes era tido como “marginal” – no sentido pejorativo da palavra –, hoje é objeto de admiração de muitos, inclusive do chamado “primeiro mundo”, que escancarou as portas de galerias e museus renomados para acomodar nomes como “Os gêmeos” (dupla de gêmeos formada pelos paulistanos Otávio e Gustavo), Trans (Inglaterra), Daim e Belin (Alemanha), Aryz (Espanha), Eric Grohe (EUA), Smag (Escócia) e, aqui em Araçatuba e região, artistas como Fella, Cogumelo, Tass Dias, entre outros.

Veio-me, também, ao contemplar a cena, o episódio ocorrido há alguns meses em nossa cidade, em que ordens expressas foram dadas para cobrir uma pintura em grafite, nos muros do Instituto Educacional (I.E.), sob o argumento de estimular essa ou aquela atitude inadequada nos jovens.

Mesmo que o grafite, hoje, passe por um processo de “aceitação” é natural que se guarde o substancial dessa linguagem, ou seja, o questionamento, a indignação, o contraditório etc... Ou será que até as artes passam por esse processo de “aburguesamento” e alienação? (peguemos a trajetória do teatro e da música clássica como exemplos disso).

Vejo com bons olhos os caminhos pelos quais a arte vai trilhando através dos tempos. Mas também enxergo com ressalva determinados ditames impostos à expressão artística, seja sob o argumento do “patrocínio”, seja sob o álibi da “boa vizinhança”. Toda e qualquer expressão de arte, por mais “burguesa” que seja, a meu ver, tem que exprimir o contraditório, tem que elevar seus fruidores a um patamar de reflexão diferente dos que estão acostumados e submetidos. É desse modo que músicas, pinturas, peças, formas arquitetônicas etc. se perpetuam e sempre têm algo para “dizer”, seja a que geração for.

Que os meninos da “Praça do Skate” continuem com suas irreverências, com seu modus operandi de ser. Que a linguagem que usem por lá - seja em forma de manobras radicais ou de grafites - promova a reflexão da sociedade na qual vivemos. Para o bem ou para o mal.

2 comentários:

  1. Antônio, esse seu artigo é muito bom

    viva a arte urbana.

    Vc conhece a obra do Bansky?

    Abs

    Márcio Fontão

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