terça-feira, 20 de agosto de 2013

Muito autor pra pouca música

*Jornalista e escritor

“Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê,/ Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê, berê ./ Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê,/ É o (...)* Fazendo bará, berê ./ Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê,/ Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê, berê .”

Não, não é a terceira lição da cartilha Caminho Suave. Se bem que poderia, sem dificuldade alguma, sê-lo. Também não é a transcrição fonética das primeiras palavras disparadas por um infante em uma tentativa de comunicar-se com seus pais, que o casal, enamorado pela situação, resolveu registrá-las para posteridade. 

Trata-se, na verdade, de um excerto de música – dessas tipo “chiclete”, que gruda na mente da gente, e  a gente fica repetindo o dia todo sem mesmo querer.

Sapeando os canais de televisão neste domingo, deparei-me com a polêmica envolvendo esta música. Quem é o autor ou autores dela? A disputa está na justiça, porque cada um dos envolvidos quer lograr dos lucros que o sucesso dela está trazendo.

Aí fiquei pensando na raiz do problema; no cerne da questão. Quem é o autor da música? Não. Os que provocaram o sucesso dela e, consequentemente, o surgimento da polêmica sobre o “pai da criança”.

Os que abrem os ouvidos e o coração para o “bara berê” é que são os culpados disso. Cada um dos que alimentam o cenário musical popular de tais peças musicais é que estimulam esse tipo de disputa e, o pior, a produção e continuidade desse tipo de prestação de serviço.

Não tenho preconceito de espécie alguma – ao menos procuro não ter –, mas esse não deveria ser o tipo de música a ocupar com tanta dimensão e espaço a grade de programação de canais abertos, tevê pública, diga-se de passagem. “Bara berês”, “Leque leques” e outros tipos de tartamudeados deveriam ser, a meu ver, diluídos entres canções de Chico e Milton Nascimento, entre acordes de Beethoven e Mozart, entre poesias de Bob Dylan e John Lennon...

Quem dera as disputas nos tribunais brasileiros, que versam sobre arte, tivessem em suas citações algo mais poético para ser lido. Fico imaginando os advogados fazendo a defesa de seus clientes nesse caso: “Meritíssimo, gostaria de ler um trecho da música em disputa para que o senhor avaliasse que, o que aqui se demonstra, é resultado de profunda reflexão noturna e que traduz todo cabedal cultural de meu cliente: 

‘Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê,/ Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê, berê ./ Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê,/ É o (...)* Fazendo bará, berê ./ Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê,/ Bará, bará, bará,/ Berê, berê, berê, berê’”. Ao que, no final, o juiz profere a sentença:

“Culpados. Todos são culpados pela existência dessa m**da na cancioneiro brasileiro”. 

* No referido espaço, aparecem os nomes da dupla ou, no caso de solo, do cantor que entoa a referia canção. Nesse caso, deixei em aberto em razão da polêmica citada.

2 comentários:

  1. Inversão de valores... Toda porcaria está na mídia, toda porcaria está na televisão aberto para o povo, com a desculpa de que o povo precisa de diversão, no rádio, usando letras apelativas de compositores que não está e nem sabe fazer um arranjo musical de qualidade, mesmo porque o que interessa mesmo é o quanto é rentável para ele e para o empresário. Enfim... viva a decadência musical. Mesmo porque, o povo só quer mesmo o rebolativo?!?!?!

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  2. ... de volta ao pão e circo... se é que algum dia saimos dele!
    muita bolsa disso e daquilo com trilha sonora da pior qualidade e que além de nada agregar tira-nos a paz!

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