sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Arquitetura e a mulher: uma discussão feminista sobre Arquitetura

*Arquiteto e urbanista pelo Mackenzie

As pesquisas sobre Arquitetura, a partir da segunda metade do século XX, trouxeram discussões que introduzem questões da Filosofia e Ciências Sociais. Um exemplo disso são as conexões entre os estudos em Arquitetura, Urbanismo, Design e Gênero. Os grupos de pesquisa sobre Arquitetura e Gênero ainda são poucos no Brasil, e conduzem pesquisas que ainda sofrem com a dificuldade pela falta de informações, preconceitos e histórias mitificadas.

Pritzker Prize - o maior prêmio da arquitetura mundial
A figura do arquiteto homem, como figura máxima de um escritório de arquitetura, é muito divulgada entre o meio. Os arquétipos que fizeram história na arquitetura moderna, quase sempre, são evocados como arquitetos homens, gênios criativos, solitários e únicos responsáveis pelo projeto produzido em seus escritórios, ateliês ou estúdios. Mas todos sabemos que nunca existiu e não existirá algum arquiteto de visibilidade internacional que tenha trabalhado sozinho.

Um dos meios mais comuns de se propagar esses mitos são os prêmios internacionais de Arquitetura que premiam os heróis da arquitetura, desconsiderando seus parceiros e, muitas vezes, pelo fato de serem esses, arquitetas mulheres. Lilly Reich, por exemplo, foi por muito tempo apagada dos livros de História da Arquitetura, e quase não se fala sobre suas influências no projeto do Pavilhão de Barcelona. O interior do pavilhão foi, em grande parte, pensado e desenhado pela designer, mas pouco se sabe sobre isso.

Da mesma forma, quase não se fala sobre a obra de Anny Tyng, arquiteta que colaborou de forma intensiva no projeto de Louis Kahn, enquanto o arquiteto passava um ano estudando na Itália. Alguns autores apontam que muitos projetos que são apresentados como obras de Kahn, foram totalmente projetados por Tyng. Outro caso, bastante polêmico, é sobre o Casal Robert Venturi e Scott Brown, que ainda segue em discussão.

Venturi e Brown trabalharam juntos depois de formados, projetaram juntos e escreveram juntos um dos clássicos da Arquitura Pós-Moderna: Aprendendo com Las Vegas, entretanto, em 1991, apenas Venturi recebeu o Prêmio Pritzker. Isso colocou Brown em um papel coadjuvante, enquanto na verdade, ela também deveria assumir o papel de protagonista. Algo bastante retrógrado para a década de 1990.

Prova de que as mulheres ainda são vistas como uma classe inferior na arquitetura, é o número de mulheres premiadas. Das 34 edições desde 1979, apenas 2 mulheres receberam o Pritzker Prize, sendo Zaha Hadid e o casal SANAA. Se olharmos outras premiações como o Mies van Der Rohe ou o Riba, também encontraremos essa mesma situação.

Zaha Hadid e o Casal  Sanaa
Enfim, não é o objetivo desse texto, travar uma guerra dos sexos e convocar as arquitetas para uma fogueira de sutiãs em praça central, nos moldes das reivindicações sociais da década de 1960, entretanto, é importante destacar que os mitos continuam alimentando as desigualdades de gênero em Arquitetura e Urbanismo. Colocar as mulheres num papel coadjuvante como decoradora, ou paisagista de modo pejorativo, como se essas funções fossem "menores", sempre é um grande engano e falta de clareza histórica.

Meu respeito a todas as arquitetas que fizeram história no Brasil e no mundo. 

Um comentário:

  1. Olá, Márcio.
    Bacana sua iniciativa em escrever esse post. Não podemos continuar ignorando mulheres, e a violência que é feita a nós em nos negar espaço e voz em nossos ambientes de trabalho e em todos os demais ambientes.
    Você teria algum material para me indicar sobre o assunto?
    Obrigada!

    ResponderExcluir