sábado, 14 de dezembro de 2013

ENTRE O BARBANTE E O MILHO: A POESIA INFANTIL

*Professora da Educação Básica e mestranda em Educação pela Unesp
Olá pessoal, tudo bem?
Esta semana não vou escrever texto próprio. Gostaria de resgatar um artigo publicado no jornal Folha da Região (Vida C2 12/12/13) pela professora Márcia Lorca, mestre em Letras pela Unesp de Assis, a respeito do livro Poesia, pipoca e pião, de meu amigo, e escritor, Antonio Luceni, porque vejo no que ela escreveu muito do que penso a respeito do trabalho dele, especialmente em relação aos textos voltados para o público infantojuvenil.

Não de agora, o Antonio milita nesta seara. Desde o magistério, era encantado pelo universo da literatura... talvez por isso, logo que se formou foi logo entrando no curso de Letras e, daí, vieram especialização e mestrado nesta área. A atuação nas redes de ensino das quais faz parte, bem como o encaminhamento do ensino da literatura nos cursos de graduação e pós-graduação, nos quais também atua, foi decorrência deste percurso. E, para não ficar somente na teoria, o danado lançou-se à prática, escrevendo histórias e poemas...

Vamos ao texto da professora Márcia Lorca, que tão bem ilustra o que disse acima:


Entre o barbante e o milho: a poesia infantil
Márcia Lorca

Para fechar esse ano eu quero deixar o espaço que tenho aqui dedicado a um escritor que acabou de lançar um livro de poesia infantil, Poesia, pipoca e pião, de Antônio Luceni. Sei que sempre me pautei em livros reconhecidos e premiados pela crítica literária, entretanto, desejo homenagear um colega da cidade de Araçatuba. O que me motiva a isso é a ideia de que precisamos aprender a valorizar nossas pratas-da-casa.

Uma vez entre as alunas do curso de Letras em que lecionava a disciplina de Literatura Infantil e Juvenil, resolvi organizar um estudo de levantamento das obras infantis e juvenis publicadas por autores araçatubenses e o resultado foi interessante: há vários escritores com bons livros, o problema é que ficam esquecidos por puro provincianismo e falta de amor autóctone. Assim, dê-me licença, meu caro Luceni, pois vou trilhar as páginas de sua recente publicação.

A obra Poesia, pipoca e pião é um convite ao universo da criança, das brincadeiras, da escola, das preferências e da família. Acredito ser um reflexo puro no que se pretende conceituar de mundo infantil, exatamente em um enfoque ingênuo dos olhos de uma criança. Ingênuo no sentido de que a nova crítica da literatura infantil deseja atuar, denominada de crítica criancista, segundo Peter Hunt, que analisa a obra livre das teorias de complexidade literária impostas pelo leitor-adulto, valorizando o quanto a obra em questão pode enriquecer a (possível falta de) experiência de leitores-crianças e do modo como representa o mundo em que tais leitores se inserem.

O primeiro poema, “Poesia”, é um convite ao leitor para se envolver e se embalar na música produzida pela poesia, metaforizada em “linda menina de tranças/que gosta de voar de carona com o vento”, afinal o eu poemático já se deixou ser conduzido por ela. Em seguida, vários poemas ilustram o cotidiano infantil, como se vê em “Na casa de minha vó”; “Férias”; “Material escolar”; “Bicharada”, “Algodão-doce”(só para citar alguns), além dos poemas que intitulam o próprio livro. Em “Giramundo”, a palavra adquire um sentido de imensa brincadeira em uma espécie de patchwork de cantigas de roda. Nele personagens e objetos se encontram em novas e inusitadas situações. 

Há também um intenso dialogismo do eu poemático com o leitor, o que contribui para que a posição de poeta-adulto dê espaço para um poeta também criança ou que ainda se vê marcado pelas aventuras da infância, como no poema “Cantiga antiga” (meu preferido). Para aguçar a curiosidade, termino por citar o poema “Um menino diferente”, acompanhado de uma ilustração comovente (perdoem-me as artistas, Wilma Gottardi, Duxtei Vinhas Ítavo e o próprio autor por não dedicar especial análise às ilustrações. Pura falta de espaço!), essa personagem que surge e que “Muitos insistiam:/Por que é assim?” encontra na musicalidade o conforto e alegria de viver.

Acredito que a recorrência da música – enquanto escolha de palavras, organização dos versos e rimas, a marcação em redondilhas ou mesmo como temática de boa parte dos poemas – coaduna a poesia à verdadeira essência poética: reportar o mundo através de ondulações sonoras, ou simplesmente trazer a alegria da música como espelho da verdadeira infância, sem mensagens subliminares ou imagens metafóricas complexas. Escrever é brincar com as palavras para se revelar! O livro aponta como a linguagem pode ser trabalhada para expressão de nossos sentidos, emoções e vivências, um bom recurso para o professor em sala de aula incentivar os alunos a encontrar na escrita tamanha função.

Boa leitura!

*Márcia Lorca é mestre pela Unesp de Assis, pesquisadora da área de Literatura Infantil e Juvenil e professora de Literatura do Ensino Médio em Araçatuba.

Capa do livro citado

Nenhum comentário:

Postar um comentário